quarta-feira, 17 de outubro de 2012

OS GRAUS ALÉM DO 3

Os mitos maçônicos, Parte 5
José Maurício Guimarães
Desta vez o mito não está em dizer que "existe", mas em dizer "que não existe".
Explico: os Graus além do 3 existem sim e não foram inventados ontem.
Se pesquisarmos com seriedade o "segredo dos Escoceses" (dentre outros Ritos) descobriremos que havia entre os maçons dos séculos quinze e dezesseis operativos e especulativos que traziam um cordão vermelho nos paramentos, em forma de escudo, para representar os vários graus além do "Master Craft", Mestre de Obras ou Grau de Mestre.
A informação está num livro de 1744: "Le Parfait Maçon ou les Véritables Secrets des Quatre Grades d'Apprentis Compagnons, Maîtres Ordinaires et Écossais de la Franche Maçonnerie” - Imprimé cette année 1744" (O Perfeito Maçom ou Verdadeiros Segredos dos Quatro Graus de Aprendizes Companheiros e Mestres Regular da Franca-maçonaria Escocesa").
Palavras textuais do livro que neste instante está aberto diante de mim: "Há entre os maçons vários graus além do Grau de Mestre (...qu'il y a encore plusieurs degrés au-dessus des maîtres dont je viens de parler) os chamados maçons Escoceses que reivindicam o Quarto Grau (...ceux qu'on appelle maçons Écossais, prétendent composer le Quatrième Grade, etc...)
Das duas, uma: ou negamos toda a ligação do simbolismo com a História do Templo, ou aprendemos e passamos a praticar os cânones tradicionais em sua inteireza. (Entendamos a palavra cânone como maneiras de agir, modelo ou padrão.)
Em se tratando de coerência, meia conversa é o mesmo que meia verdade; e meia-verdade é o mesmo que mentira.
Prossigamos:
- Todos mundo sabe que após os setenta anos de cativeiro na Babilônia, Ciro, o Grande permitiu que os israelitas reconstruíssem o Templo (de Salomão). Zorobabel, descendente de David, foi encarregado de reconduzir seu povo para a cidade santa onde colocaram a pedra fundamental do novo Templo.
"No segundo ano do rei Dario, no dia vinte e um do sétimo mês, a palavra do Senhor foi dirigida por meio do profeta Ageu nestes termos: “Fala, pois, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador da Judéia, e a Josué filho de Josedec, Sumo Sacerdote, e ao resto do povo assim: Quem é entre vós o sobrevivente que viu este templo em seu primitivo esplendor? E como o vedes agora? Não vos parece um nada? Agora, pois, sê forte, Zorobabel. A glória futura deste templo será maior do que a passada, e neste lugar eu concederei a paz Mas agora, tomai bem a peito a partir deste dia e para o futuro." (Bíblia, Livro de Ageu.)
- Por que os apologistas de uma Maçonaria de três Graus nunca falam disso?
Se esses fatos foram posteriores ao Templo de Salomão - pois o Templo original foi destruído em 586 a.C. por Nabucodonosor - a tradição operativa não terminou com o primeiro Templo, mas prosseguiu no de Zorobabel (515 a.C.), no Templo de Herodes (20 a.C.) e na reconstrução Templária fundada no Concílio de Troyes em 1.129 da era cristã (minha palestra de 2007: Origens Templárias da Maçonaria do Rito Escocês).
Foi a partir desses eventos que os maçons Escoceses "desdobraram" os Graus Azuis (Simbólicos I, II e III) na progressão dos Graus Superiores com a história, as alegorias, lendas e explicações sobre a verdadeira natureza do Templo primitivo e dos Grandes Construtores: Salomão, Rei de Israel, o Rei Hiram de Tiro e o excelente artífice Hiram Abif.
Assim como o de Zorobabel, o novo Templo foi construído sobre os fundamentos das antigas edificações erigidas pelas três Luzes da Maçonaria Simbólica:
- No Rito Escocês Antigo e Aceito: Lojas de Perfeição (Graus Inefáveis), Capítulo Rosa Cruz, Conselho Kadosch (ou Graus Filosóficos) e Consistório.
- No Rito York: Mestre Maçom da Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre, Maçom do Arco Real, Graus Crípticos, Graus de Cavalaria (todos já instituídos com êxito no Brasil).
Cito apenas o Escocês e o York porque passei pelos Graus desses Ritos e não me sinto autorizado a falar de outros. Mas sabemos que há também esses Graus Superiores no Rito Adhoniramita, no Rito Brasileiro e assim por diante.
Portanto, a história, a tradição e as instruções aos maçons prosseguem além daquilo que, em determinada época, foi permitido dar a conhecer aos maçons dos Graus Simbólicos. Enganaram-se os que apregoavam a plenitude do conhecimento em determinado Grau. Onde permitiam uma "plenitude", limitavam-na aos direitos maçônicos, sem considerar que até o começo do século XX exigia-se o Grau 18, Marca ou Past Master para os que desejassem se candidatar ao cargo de Venerável Mestre de uma Loja.
Hoje essa exigência está posta de lado em algumas Potências onde foi substituída apenas pela entronização mediante um cerimonial "além do 3" - que alguns desinformados suspeitavam ser "Grau 3,5" - mas, na verdade é um ritual autônomo de "instalação" (posse solene de uma dignidade num cargo) com origem bem fundamentada em remotas tradições da Maçonaria.
Finalizando: Quem é entre vós que viu este templo em seu primitivo esplendor? E como o vedes agora? Não vos parece um nada? Agora, pois, sê forte, Zorobabel. A glória futura deste templo será maior do que a passada!!
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