terça-feira, 20 de novembro de 2012

A GEOMETRIA SAGRADA NO "ARQUEÔMETRO"

A GEOMETRIA SAGRADA NO "ARQUEÔMETRO"
José Maurício Guimarães

No Registro Nacional de Propriedades Industriais da França, encontra-se arquivada uma curiosa patente de número 333.393, datada de 26 de junho de 1903, propriedade de Joseph-Alexandre de Saint-Yves. Trata-se de um instrumento de precisão, catalogado pelo instituto de patentes entre os instrumentos matemáticos de pesos e medidas que o inventor chamou "Padrão Arqueométrico", um meio de aplicar as regras musicais à arquitetura, às belas-artes, às artes gráficas e a diversas profissões e ofícios.
Muito já se escreveu sobre a Geometria Sagrada e os supostos segredos que os construtores medievais ocultaram nos muros das catedrais. Saint-Yves não era um fantasista, mas acreditava num padrão ou proporção matemática implantada pelo Criador entre todas as coisas e fenômenos do Universo, assim como os antigos gregos ao estabelecerem o Número de Ouro ou Divina Proporção que é 1,618....
A ideia expandiu-se para a trajetória dos astros, os fenômenos astronômicos e os ciclos que ocorrem na Terra.
O "Padrão Arqueométrico" de Saint-Yves fez renascer as idéias dos pitagóricos de que "no princípio Deus geometrizou"; que o Universo foi criado com número e proporção. Estas idéias levaram os extremados a afirmarem que "Deus é um número".
Nos templos iniciáticos da antiguidade, segundo as conjecturas de Saint-Yves, predominava a lei astronômica dos Triângulos Celestes. O diagrama formulando essa "descoberta" aparece nas modernas instruções maçônicas e nos ensinamentos de outras ordens iniciáticas, deixando os adeptos boquiabertos:
Nossos remotos antepassados imaginavam que a Terra fosse o centro do Universo, o número 1. Contemplavam o céu, o horizonte e o Sol como se fossem a unidade se desdobrando na perigosa dualidade: o dia e a noite, o preto e o branco, o sim e o não. Estes, por sua vez, materializavam-se em quatro triângulos: as casas zodiacais 1, 5 e 9 sendo ígneas (elemento fogo); as casas 2, 6 e 10 correspondendo ao elemento terra; as casas 3, 7 e 11 formando o triângulo do ar e, finalmente, as casas 4, 8 e 12 pertencendo ao domínio das águas. E Saint-Yves acabou por reproduzir essa cosmogonia que alguns tentam explicar pela "quadratura do círculo", assim:
Os quatro primeiros algarismos constituem a tetractys pitagórica. O plano divino e o plano humano estão assim relacionados: o um se torna muitos; os muitos se unem outra vez na unidade, ou seja, 1+2+3+4=10 sendo que o 10 retorna à unidade, pois 1+0=1.
Parece complicado... e é mesmo, principalmente com a colaboração dos exotéricos extremistas que transformam o simples em complexo e o complexo no indecifrável.
Mas Saint-Yves não se limitou a reproduzir essas idéias. Levou-as mais longe no que se refere à correlação entre formas arquitetônicas, cores e os sons musicais nas catedrais góticas: um som é ANÁLOGO uma cor (vibração em oitavas superiores) e uma distância entre dois pontos.
A arte gótica, na interpretação de muitos é, na verdade, "ars gotica" ou "argot", uma linguagem secreta. Na mitologia grega, o navio de Ulisses chamava-se "Argos", e seus tripulantes "argonautas" - uma espécie de Loja - maçônica ou rosacruz - flutuando sobre as águas.
Com osconhecimentos que possuía, Saint-Yves aventurou-se na pesquisa da relação entre o significado dos sons do alfabeto watan, a escala musical e as medidas numa régua de três faces (watan seria a escrita primitiva que, segundo os videntes, originou-se na Atlântida e foi transmitida à Índia e ao Egito depois da catástrofe que fez desaparecer aquele continente). Nesse ponto da "pesquisa" o autor do Arqueômetro abriu concessões irreparáveis ao critério científico.
Porém, dessas andanças resultou uma intrigante descoberta das correspondências entre hieróglifos egípcios, o alfabeto hebraico, os números e a escala (musical) pitagórica. Noutras palavras: apontou no que julgava ver e acertou no que não viu (figura acima, mostrando as medidas de um cálice, as cores, os planetas e os sons).
Duas dessas importantes chaves aparecem na páginas 273 e 274 da edição espanhola de Luis Carmo-Madrid com o "tipo de armação musical do Estilo grego - Divisões musicais e Intervalos relacionados à corda sol dividida (em 96) - Número do Triângulo de JESUS (arqueômetro)". O nome Jesus foi escolhido como exemplo para o projeto de uma fachada. Numa primeira leitura dessas plantas baixa e recortes de fachadas o leitor desanima, pois tem de conhecer matemática e desenho geométrico além de sustentar-se em sólido conhecimento da teoria musical (o desenho acima reproduz a escala pitagórica que é impraticável para a composição musical e afinação dos instrumentos. O que usamos é o "sistema temperado" ou Wohltemperierte segundo Bach).
A primeira leitura que fiz do Arqueômetro data de 1990 quando fui presenteado com o livro. Confesso que fiquei tonto... apesar de ter sido bom aluno de Geometria, Geometria Descritiva de Gaspard Monge, ter passado bom tempo lendo sobre as tentativas de Gustav Fechner para validar a associação entre fenômeno humano e o número de ouro, etc., além - é claro - de minha formação profissional como instrumentista e professor de música. Mas nem esses conhecimentos me foram suficientes, apesar de, pacientemente ter separado os elementos imaginativos daquilo que pude contar e medir com o auxílio de uma lupa. Lá estavam (e ainda estão) as medidas, formas e cores demonstradas por Saint-Yves D'Alveydre.
Para os místicos, os povos da remota antiguidade sabiam correlacionar as energias telúricas e siderais com formas, cores e com um outro aspecto infelizmente perdido para nós: a música desses povos. Dizem que os antigos egípcios frequentavam lugares sagrados para entrarem em comunhão com as forças da natureza mediante formas sagradas, cores que eles geralmente atribuíam às vestes ritualísticas e sons sagrados que emitiam naqueles locais durante as cerimônias. As formas e as cores chegaram até nós. Os sons se perderam, pois, como já dissemos, só na Idade Média foram desenvolvidas novas técnicas de notação musical.
Foi na Idade Média que se desenvolveram as técnicas de notação musical. Guido d'Arezzo, que viveu de 995 a 1050, foi o inventor de inúmeras novidades musicais. Fez progredir o sistema de escrita das notas e deu os nomes dó-ré-mi-fá-sol-lá-si às sete notas dos sistema tonal com sílabas de um hino dedicado a São João, patrono dos construtores de catedrais, dos Templários e dos "monges construtores". Isso temos como verificar:
UT queant laxis = ut foi substituído pelo monossílabo DO;
REsonare fibris = nota RE (escala pitagórica = 9/8);
MIra gestorum = nota MI (escala pitagórica = 81/64);
FAmuli tuorum, = nota FA (escala pitagórica = 4/3);
SOLve polluti = nota SOL (escala pitagórica = 3/2);
LAbii reatum, = nota LA (escala pitagórica = 27/16);
Sancte Ioannes = S+I (ou si) (escala pitagórica = 243/128).
Traduzindo o hino, para que possa servir de interpretação daquilo que Guido d'Arezzo ocultou:
"Para que sejam soltos as vozes de teus servos num cântico que possam proclamar as maravilhas de vossas obras limpe a culpa dos lábios manchados, ó São João!"
Saint-Yves era também músico e estava atento a essa associação ao elaborar a teoria do Arqueômetro. Passou a "usar o watan" apenas como referência (mais para ocultar do que para revelar, como fazem os bons simbolistas). No momento de provar sua teoria, associou cada som das vogais e consoantes latinas à determinada nota e cor. Nas páginas 284, 285 e 286 (da Edição espanhola) ele exemplifica o Arqueômetro musical na línguas litúrgica, musicando o "Angelus dixit..." ou Saudação Angélica em conformidade com as leis numéricas (para coro, harpa baixo e órgão).
Disposto a recuperar o segredo dos antigos construtores e redescobrir os números e proporções capazes de orientar o homem moderno na construção de templos e na composição de cânticos adequados aos mesmos, inventou uma escala de medidas, cores e sons, uma extensa coleção de "réguas triplas" derivadas do sistema métrico decimal, da escala musical temperada em substituição ao sistemas musicais dos pitagóricos.
Em resumo: para Saint-Yves, as catedrais estão construídas nos cânones de arquitetura e sincronizadas com: 1) cores internas filtradas da luz solar pelos vitrais e rosáceas; 2) os cânticos religiosos; 3) o formato e tamanho do cálice utilizado durante as celebrações.
Cada catedral deveria, portanto, ter sua própria música e seus próprios cânticos. Seria preciso que cores específicas, refletidas internamente, estivessem em harmonia (ressonância) com o resto da construção, a música e a posição geométrica do templo.

As descobertas de Saint-Yves D'Alveydre estão condensadas, e de certo modo veladas, em seu livro "O Arqueômetro - Chave de Todas as Religiões e de Todas as Ciências da Antigüidade",(traduzido em português pela Madras) onde ele propõe uma reforma de todas as artes contemporâneas.
Evidentemente, trata-se de um livro de leitura difícil. Exige conhecimentos aprofundados de matemática, música e arquitetura. Mas sua teoria e suas demonstrações levam-nos a refletir sobre o conhecimento perdido e principalmente sobre o uso equivocado das artes atuais, especialmente no campo da música.

O Bode!!!


Dentro da organização maçonica, muitos desconhecem o nosso apelido de bode. A origem desta denominação data do ano de 1808.
Porém, para saber do seu significado temos necessidade de voltarmos no tempo. Por volta do II e III século d.C. vários Apóstolos saíram para o mundo a fim de divulgar o cristianismo. Alguns foram para o lado judaico da Palestina. E lá, curiosamente, notaram que era comum ver um judeu falando ao ouvido de um bode, animal muito comum naquela região. Procurando saber o porquê daquele monologo foi difícil obter resposta. Ninguém dava informação, com isso aumentava ainda mais a curiosidade dos representantes cristãos, em relação aquele fato.
Até que Paulo, o Apóstolo, conversando com um Rabino de uma aldeia, foi informado que aquele ritual era usado para expiação dos erros. Fazia parte da cultura daquele povo, contar alguém da sua confiança, quando cometia, mesmo escondido, as suas faltas, ficaria mais aliviado junto a sua consciência, pois estaria dividindo o sentimento ou problema. Mas por que bode?
Quis saber Paulo. É por-que o bode é seu confidente. Como o bode nado fala, o confesso fica ainda mais seguro de que seus segredos serão mantidos, respondeu-lhe o Rabino. A Igreja, trinta e seis anos mais tarde, introduziu, no seu ritual, o confessionário, juntamente com o voto de silêncio por parte do padre confessor - nesse ponto a história não conta se foi o Apóstolo que levou a idéia aos seus superiores da Igreja, o certo é que ela faz bem à humanidade, aliado ao voto de silêncio, 0 povo passou a contar as suas faltas.
Voltemos em 1808, na França de Bonaparte, que após o golpe dos 18 Brumários, se apresentava como novo líder político daquele país. A Igreja, sempre oportunista, uniuse a ele e começou a perseguir todas as instituições que não governo ou a Igreja. Assim a Maçonaria que era um fator pensante, teve seus direitos suspensos e seus Templos fechados; proibida de se reunir. Porém, irmãos de fibra na clandestinidade, se reuniram, tentando modificar a situação do país. Neste período, vários Maçons foram presos pela Igreja e submetidos a terríveis inquisições. Porém, ela nunca encontrou um covarde ou delator entre os Maçons. Chegando a ponto de um dos inquisidores dizer a seguinte frase a seu superior: - “Senhor este pessoal (Maçons) parece BODE, por mais que eu flagele não consigo arrancar-lhes nenhuma palavra”. Assim, a partir desta frase, todos os Maçons tinham, para os inquisidores, esta denominação: “BODE” - aquele que não fala, sabe guardar segredo.
By 1 Vig.HCSS.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Na Boa Companhia de HARRY CARR

NA BOA COMPANHIA DE HARRY CARR
José Maurício Guimarães
Harry Carr (foto) foi Iniciado em 1929, Venerável Mestre em 1943, Fundador e Venerável Mestre da Noble Brotherhood Lodge No. 6226. É um dos maiores eruditos da Maçonaria em todo o mundo. Membro, desde 1953, da Quatuor Coronati Lodge n º 2076 de Londres (a primeira do mundo); membro honorário de catorze lojas nos Estados Unidos, dez na Inglaterra, além de outras lojas do Canadá, França, Nova Zelândia e Escócia. Agraciado, em 1953 com o London Grand Rank, Past Assistant Grand Director of Ceremonies da Grande Loja Unida da Inglaterra em 1960, Past Junior Grand Deacon em 1969 e, em 1982 condecorado com a Grand Master's Order of Service to Freemasonry, devido às suas inúmeras contribuições para a cultura maçônica: vários livros e grande número de pesquisas na “Ars Quatuor Coronatorum”. Viajou pelo mundo proferindo palestras sobre a História da Maçonaria e temas correlatos do simbolismo e da filosofia iniciática.
Ufa!, vou parar por aqui para não cansar os leitores com o restante do currículo do Irmão Harry Carr.
- Vocês devem estar se perguntando o motivo dessa apresentação toda e deste modesto panegírico. Fiquem tranquilos – eu não sou candidato a nada; brother Harry Carr também não é. Nem pretendo aparecer abraçado com ele em fotografias.
- O motivo é bem outro: vou prosseguir no palpitante tema da Escada (foto) e seu Simbolismo no Painel do Grau de Aprendiz.
Uma plêiade de estudantes armou uma insigne encrenca (ou arenga) por causa dos meus dois artigos abordando esse assunto. A uns respondi; a outros, não... deixei passar algum tempo até a poeira abaixar...
Já que abaixou, aqui estou de volta – desta vez escudado no brother Harry Carr.
Transcrevo o texto do livro “O ofício do maçom”, editado pela Madras, tradução do Irmão Carlos Raposo (Maçom do Real Arco) e apresentado pelo meu amigo e Irmão João Guilherme Ribeiro (Deputy General Grand High Priest, Latin American RAM International, etc.etc...) A autorização para fazer a transcrição me foi dada pelo Irmão e também amigo Wagner Veneziani Costa, editor da Madras, Grão-Mestre da Grande Loja de Mestres Maçons da Marca do Brasil, Grão-Mestre do Grande Prioriado do Brasil das Ordens Unidas, Religiosas, Militares e Macônicas do Templo de São João de Jerusalém, Palestina, Rodes e Malta, etc.etc...).
Vamos à escada (espero que pela última vez!)
Os símbolos sobre a “Escada de Jacó” no Primeiro Painel - diz Harry Carr - não possuem significados uniformes, sendo praticamente certo que eles foram inserções que ocorreram na metade ou no final do século XVIII, pois não existem indícios deles nos rituais mais antigos. Um exame dos mais antigos Painéis a apresentarem esses símbolos revela pontos interessantes:
(1) Nos Painéis do Oficio, as Escadas estão algumas vezes desenhadas com apenas três degraus, mas elas são freqüentemente compridas, sendo que algumas têm três degraus extras, representando as três virtudes religiosas. A maioria dos desenhos mais conhecidos das Escadas mostra-as com seus degraus superiores desaparecendo entre as nuvens. Entretanto, a Escada não é puramente um símbolo do Oficio, podendo ser encontrada com vários degraus adicionais.
A lenda do sonho de Jacó e da “Escada, cujo ápice alcançava Céus”, encontra-se na Instrução sobre o Primeiro Painel, na Quarta Seção da Primeira Instrução, na qual se diz que a Escada tem “muitos degraus e voltas, os quais apontam para diversas virtudes morais, sendo as três principais Fé, Esperança e Caridade”.
Finalmente, essas três virtudes são descritas e interpretadas, sendo que costumamos dizer que a Escada vem do L:.L:. (na forma como se encontra na maioria das ilustrações do Primeiro Painel), porque ‘pela doutrina contida no Livro Santo, somos ensinados a acreditar na revelação da Divina Providência, cuja crença fortalece nossa Fé, permitindo-nos ascender ao primeiro degrau’.
(2) Os desenhos antigos designam as três virtudes, Fé, Esperança e Caridade, pelas letras iniciais F., E. e C., indicadas entre os degraus. O Irmão T. O. Haunch (em AQC – Ars Quatuor Coronati, vol. 75, pp. 190, 194) acredita que as letras iniciais vieram primeiro e que Josiah Bowring, um famoso desenhista de Painéis, circa 1785-1830, as tenha substituído por imagens femininas. Atualmente, essas imagens aparecem em muitos Painéis, a primeira segurando uma Bíblia, a segunda com uma Ancora e a terceira com crianças abrigadas em sua saia.
Vários desenhos da década de 1870 e posteriores omitiram as figuras, passando a apresentar uma Cruz, uma Ancora e um Cálice apontado por uma Mão. Presumivelmente, o Cálice e a Mão representam a Caridade, mas são ilustrações possivelmente oriundas de alguma mitologia religiosa, descrevendo o Santo Graal elevado ao Céu pela Mão de Deus.
Existem diferentes versões dos símbolos e da disposição deles, porém a maioria dos Painéis que contêm as três figuras também ilustra os anjos do sonho de Jacó, subindo e descendo a Escada.
(3) Se sete virtudes fossem simbolizadas, penso que as quatro adicionais seriam as Virtudes Cardeais, Sabedoria Superior, Justiça, Coragem e Temperança (segundo o Neoplatonismo), ou Prudência, Justiça, Força e Temperança (de acordo com Santo Ambrósio, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho), mas apesar de ter examinado um grande número de Painéis antigos, não me recordo de ter visto qualquer uma delas ser simbolizada além das outras três.
(4) A parte as três virtudes, existe mais um símbolo que regularmente aparece sobre a Escada ou próximo dela: uma “Chave”. Bowring, por muito boas razões, apresentou-a pendurada em um dos degraus. A “Chave” é um dos símbolos mais antigos da Maçonaria, sendo mencionada em nossos mais antigos documentos rituais, isto é, o Edinburgh Register House MS., de 1696, bem como em seus textos pares:
P. Qual é a chave de nossa Loja?
A. Uma linguagem bem elaborada.
Muitos dos textos antigos expandiram o simbolismo da “Chave-Linguagem”, dizendo que o mesmo se encontrava alojado na “caixa de osso” (isto é, a boca) e que isso era a chave dos segredos dos maçons. Porém, uma das melhores respostas a respeito dessa questão está em Sloane MS., circa 1700, o mais antigo documento ritual que contém as palavras “a linguagem de boa moda”, preservadas em nossos atuais rituais:
P. Do que são feitas as Chaves de vossa Loja?
R. Elas não são feitas de Madeira, Pedra, Ferro ou Aço, ou de qualquer outro tipo, senão de uma linguagem de boa moda, seja dita às costas, seja à frente de um Irmão
."
- Chamo a atenção para a afirmação de Harry Carr segundo a qual os símbolos sobre a "Escada de Jacó" foram inserções que ocorreram na metade ou no final do século XVIII, pois não existem indícios deles nos rituais mais antigos. Foi esse o raciocínio que adotei para escrever aqueles dois artigos versando sobre a questão. Agiram bem o Grão-Mestrado e a Comissão Ritualística da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais quando se decidiram pela remoção do objeto "escadeado" pendente do teto das lojas. A escada é um símbolo DO PAINEL e não da decoração das Lojas, uma vez que a Escada não é puramente um símbolo do Oficio.- A "Escada, cujo ápice alcançava Céus não passa de uma lenda bíblica inserida nas Instruções sobre o Painel da Loja de Aprendiz, mas não consta que noutros tempos, noutras lojas e noutras Obediências (seja no Brasil ou no exterior) haja qualquer coisa que se assemelhe a uma escada oscilando por uma cordinha sobre o Altar dos Juramentos. Se tudo o que vemos nos Painéis SIMBÓLICOS e ALEGÓRICOS tentarmos reproduzir na decoração das lojas... estaremos literalmente fritos!
- As imagens associadas às escadas aparecem em muitos Painéis oriundos de mitologias religiosas (vejam o texto de Harry Carr!) e no indevido "sincretismo" entre Maçonaria e a fé dos piedosos Santo Ambrósio, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.
Maçonaria não é religião. Nosso estudo e nossas práticas são eminentemente laicas.
- FINALIZANDO, nada melhor que a oportuna lição que encerra o texto de Harry Carr: A chave maçônica está no uso das palavras. A linguagem de bons modos não é feita de madeira, nem de pedra, nem de ferro ou aço, mas de Boa Ética, das palavras ditas à frente ou às costas de um Irmão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Primeiro Iniciado do Mundo

Por José Mauricio Guimarães
 
As pessoas adstritas ao simbolismo ou pouco versadas na simbologia debocham e riem do Reverendo James Anderson (1680-1739) atribuindo a ele a frase: "Adão foi o primeiro maçom, iniciado por Deus no paraíso". Se verificarmos o texto original de "The Constitution of The Fraternity of Accepted Free Masons" (Constituições de Anderson, 1723) veremos que Anderson escreveu o seguinte: "Adão, nosso primeiro Antepassado (first Parent), criado a partir da Imagem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, deve ter tido as Ciências Liberais, especialmente a Geometria, escritas em seu Coração (written on his Heart) pois mesmo desde a Queda, encontramos os Princípios dela nos Corações de seus descendentes e que nos processo do tempo (in process of time), têm sido depuradas em um conveniente Método de Proposições, pela observação das Leis das Proporções..."

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O estudo do simbolismo e a simbologia parecem ser a mesma coisa. Mas são diferentes, tanto pelo objetivo quanto pelo método. Os expertos (e espertos) em SIMBOlismo restringem-se à expressão e à interpretação de símbolos. Já a SIMBOLOGIA estuda esses mesmos símbolos pelo prisma aprofundado do humanismo. James Anderson era mestre em artes e doutor em teologia, quando redigiu a Constitution of Free Masons, Jean Théophile Desaguliers estava ao lado dele. Desaguliers era membro da Royal Society de Londres, assistente de Isaac Newton, professor de filosofia, inventor do planetário e terceiro Grão-Mestre da Grand Lodge of England, entre 1719 e 1720, e um dos pais da moderna maçonaria. Os textos atribuídos a James Anderson foram compilados sob a supervisão de Desaguliers. Rir de Anderson é um apanágio daqueles que se julgam à altura de rir da simbologia, dos graus acadêmicos M.A. e D.D. que o Reverendo possuía, do prestígio da Royal Society e da fundação da moderna maçonaria.

Partamos do princípio de que as ordens iniciáticas têm por objetivo despertar o potencial interior do ser humano e auxiliá-lo na redescoberta de sua relação com o Cosmos. Consideremos que cada pessoa seja portadora dos arquétipos que promovem sua evolução - arquétipos e leis escritos em seu Coração. Nada há de cômico ou risível na afirmação simbólica do Dr. James Anderson. Pelo contrário: é trágica a perspectiva de que o homem seja um vazio destituído de qualquer base sobre a qual possa sustentar seu templo interior. As etapas para se alcançar o conhecimento partem daquilo que vem antes ("a priori", em latim) e são, no caso da afirmação de James Anderson, uma anterioridade lógica sustentada nas noções de: 1) um Mestre primordial (Deus ou Imagem [representação] de Deus); 2) uma transmissão de potencialidades básicas (iniciação); 3) um recipiendário (Adão ou, se preferirem, nossos primeiros pais - first parent); 4) uma escola (templum - paraíso) preparado para aquele remoto cerimonial. Quem estuda SIMBOLOGIA reconhece na afirmação do Dr. James Anderson os quatro pontos necessários para a comunicação de um pensamento sob forma figurada - uma ciência livre (liberal science) em especial as justas e perfeitas proporções (Geometria) gravadas em seu íntimo (Coração). O Adão a que Anderson se refere é o admah hebraico ou "criatura feita da mãe-Terra". O Deus Iniciador é o (ainda) Desconhecido e Inefável. A comunicação alegórica (iniciação no paraíso) deve ser compreendida mediante vários aspectos: num primeiro estágio da inteligência, o objeto comunicado passa pelas funções psíquicas da percepção e do julgamento: vejo isso; isso é bom ou é mal! - alegoria da árvore do conhecimento do bem e do mal. No segundo estágio, mais evoluído, ocorre a decomposição do objeto através da razão - o que é isso? como é isso? No terceiro, há uma transcendência, pela contemplação e pela iluminação, daquilo que foi comunicado - é o daqui para onde. Se não conseguimos conceber o conhecimento primordial, a forma de transmissão havida "a priori" (tempo) e uma objetividade factual (espaço) é porque estamos formal e prematuramente iniciados. Se não temos a percepção, o julgamento e o raciocínio superior, não podemos contemplar em conformidade com os três estágios mencionados. O despertar daquele potencial interior torna-se impossível e o reencontro do homem com o transpessoal, uma utopia.

É verdade que convivemos com pessoas que, apesar de terem recebido a iniciação apenas formal, negam os princípios da transmissão primordial. Por causa disso o formalismo e o ritualismo tendem a suplantar o conteúdo filosófico nas Ordens e nas Lojas que as compõem. Por outro lado, é justamente nessa relação entre o Mestre primordial (D'us) e o recipiendário inocente (adão/adam/adamah) que reside a tradição judaica, os cânones da cabala e sua relação mais íntima com as iniciações (especialmente a maçônica). Vou além: mesmos as religiões - monoteístas ou politeístas – partem de princípios idênticos ao Bereshit hebraico seguido do Adam Kadmon - homem arquetípico ou anthropos - elementos cuja verdadeira compreensão e realização determinam o nível de evolução alcançado pelo discípulo, pelo aprendiz e pelos que almejam a maestria. Religiosos ou não, mesmo os mais radicais, céticos e materialistas admitem um process of time - processo do tempo nas palavras de Anderson, que equivale aos enunciados da evolução. Quando o Dr. James Anderson sugeriu que Adão fora o primeiro maçom, iniciado por Deus no paraíso, ele quis expressar a seguinte verdade: o homem traz dentro de si (written on his Heart) as ferramentas necessárias para construir uma relação harmoniosa com seus semelhantes (templo-outro), com o templo-planeta e o templo-universo. Todo aquele que bate nos portais da Iniciação é um Adão (Adamah) que retoma um lugar entre nós, na oficina do Cosmos, dispondo-se a utilizar os instrumentos de trabalho - "especialmente a Geometria", diz Anderson referindo-se alegoricamente à Moral das justas e perfeitas proporções entre o homem e seu meio.

De volta à Escada e à Abóboda do Templo

José Maurício Guimarães
Durante minhas andanças e pesquisas sobre a História das Grandes Lojas, encontrei os raríssimos rituais editados em 1928 pela Typographia “Delta, propriedade da Sociedade Anonyma Astréa, Rua Dias da Cruz, 123-A – Rio. Esses rituais foram registrados na Bibliotheca Nacional para "garantia dos direitos autoraes, de accôrdo com os dispositivos do Codigo Civil", segundo consta, na grafia da época, página 2 do referido volume reeditado em 1943.
Eis que, 'não mais que de repente', topei com uma descrição do Templo segundo nossos fundadores, que transcrevo em grafia atualizada:
O teto do Templo representa o céu. Do lado do Oriente, um pouco por cima do Altar do 1º Vigilante, a Lua e do 2º Vigilante uma Estrela de cinco pontas. Estes emblemas, pintados ou em relevo, poderão ficar pendentes do teto. No centro do teto, três estrelas da constelação Órion. Entre estas e o nordeste, ficam as Plêiades, Híadas e Aldebaran. A meio caminho, entre Órion e o nordeste, Regulus da constelação do Leão; ao norte, a Ursa Maior; a nordeste Arturus (em vermelho); a leste, a Spica, da Virgem; a oeste, Antares; ao sul, Fomalhaut. No Oriente, Júpiter; no Ocidente, Vênus; Mercúrio junto ao Sol, e Saturno, com seus satélites, próximo a Órion As estrelas principais são 3 de Órion, 5 Hiadas e 7 das Plêiades e da Ursa Maior. As estrelas, chamadas reais, são: Aldebaran, Arturus, Régulus, Antares e Fomalhaut”.
Vamos por partes:
1) A CONSTELAÇÃO ÓRION é fácil de ser contemplada a olho nu, pois dentre as estrelas que a compõem, destacam-se Mintaka, Alnilam e Alnitak, popularmente conhecidas como "As Três Marias", que formam o cinturão de Órion no centro desta constelação.
2) As PLÊIADES são um grupo de estrelas na constelação do Touro, visíveis a olho nu nos dois hemisférios.
3) As HÍADES (ou Híadas) são um aglomerado estelar também localizado na constelação de Touro.
4) ALDEBARAN é a estrela mais brilhante da constelação Touro.
5) REGULUS é a estrela mais brilhante da constelação de Leão.
6) A URSA MAIOR é uma grande constelação do hemisfério celestial norte.
7) ARTURUS, ARTURO, ARCTURO ou ARCTURUS é a estrela mais brilhante da constelação do Boieiro e a quarta estrela mais brilhante no céu noturno. O Boieiro (Boötes ou Boo) é uma constelação do hemisfério celestial norte.
8) ESPIGA ou SPICA é uma estrela da constelação de Virgem, a décima quinta mais brilhante do céu, e todos os maçons sabem (ou deveriam saber) o motivo de ela estar representada na abóboda.
9) ANTARES é a estrela gigante vermelha na constelação de Escorpião, a décima sexta estrela mais brilhante do céu noturno.
10) FOMALHAUT é a estrela mais brilhante da constelação de Peixe Austral (Piscis Austrinus), uma das quatro estrelas reais dos persas juntamente com Antares, Aldebaran e Regulus já citados anteriormente (e aqui está outro significado velado pelo símbolo na Abóbada dos Templos Maçônicos). QUE ME CORRIJAM OS ASTRÔNOMOS ONDE EU ESTIVER ENGANADO.
Os Planetas da abóboda citados no Ritual são Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno.
O Sol (estrela) e a Lua (satélite da Terra) são considerados "planetas" de acordo com os ensinamentos tradicionais oriundos da mitologia grega.
Dito isto, não aconselho consultarem um astrólogo sobre a abóboda do Templo Maçônico, pois eles confundirão ainda mais nossas cabeças. Prefiro recorrer aos professores dos cursos de extensão ou iniciação à Astronomia ministrados nas várias Universidades do país. Sempre que não sei alguma coisa, vou perguntar a quem sabe. Escrever ou pronunciar palestras sobre devaneios oníricos ocorridos nas as noites de verão só fica bem no "Midsummer Night's Dream" de Shakespeare. Em se tratando do Universo infinito, nossa ignorância é mais infinita ainda: quanto menos chute, melhor - ou as chuteiras entrarão em órbita.
Depreende-se dos textos do Ritual antigo que as únicas coisas que “poderão ficar pendentes do teto” são a Lua e uma estrela de cinco pontas, podendo ainda serem pintados ou em relevo. Em lugar algum encontrei, até agora, um documento que abone a prática (felizmente extinta) de se pendurar uma escada no centro da abóboda.
A escada do painel, que de forma alguma deve constar da decoração das Lojas, é uma alegoria referente à elevação moral do homem, e não à caminhada em direção à morada do Altíssimo ou ao Grau 33. Acrescento estas informações para aqueles que não leram meu artigo anterior e atendendo ao pedido de leitores sobre a decoração do Templo.
Ressalto o seguinte: os painéis dos Graus são instruções em forma de desenhos. Nem tudo o que está desenhado lá é para ser reproduzido na decoração do Templo. Se um dia toparmos com janelas desenhadas em painéis (ver as lustrações), ou determinado tipo de planta, isso não significa que tenhamos de quebrar as paredes do Oriente, do Sul e do Ocidente para instalarmos janelas (windows, fenêtres ou macarrônicas finestre) em sentido literal.
A tão festejada "escada de Jacó" é um dos temas mais fantasiosos do pseudo-simbolismo maçônico. Melhor dizendo: as interpretações dessa escada são mitos e sincretismo que passaram de geração em geração pelo fato de os instrutores confundirem alegoria, símbolo e signo - coisas completamente diferentes.
Antes de mais nada, precisamos saber quem foi Jacó e o que é uma escada em termos alegóricos. Jacó era filho de Isaac e conseguiu enganar o pai fazendo-se passar pelo irmão primogênito.
Eis a história: “Jacó saiu de Bersabéia e, ao se dirigir para Harã, alcançou um lugar onde se dispôs a passar a noite, pois o sol já se havia posto. Pegou uma das pedras do lugar, colocou-a como travesseiro e dormiu. Então, teve um sonho: Via uma escada apoiada no chão e com a outra ponta tocando o céu. Por ela subiam e desciam os anjos de Deus. No alto da escada estava o Senhor que lhe disse: ‘Eu sou o Senhor, Deus de teu pai Abraão, o Deus de Isaac. A ti e a tua descendência darei a terra sobre a qual estás deitado. Tua descendência será como o pó da terra e te expandirás para o ocidente e para o oriente, para o norte e para o sul. Em ti e em tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Estou contigo e te guardarei aonde quer que vás, e te reconduzirei a esta terra. Nunca te abandonarei até cumprir o que te prometi”. Ao despertar, Jacó disse consigo: “Como é terrível este lugar! Sem dúvida o Senhor está neste lugar e eu não sabia. Isto aqui só pode ser a casa de Deus e a porta do céu”. Atemorizado, levantou-se, tomou a pedra que lhe servira de travesseiro, e a erigiu em estela (monumento monolítico feito em pedra), derramando óleo por cima e chamando ao lugar de Betel (Casa de Deus). Jacó fez um voto, dizendo: “Se Deus estiver comigo e me proteger nesta viagem, dando-me pão para comer e roupa para vestir, e se eu voltar são e salvo para a casa de meu pai, então o Senhor será meu Deus. Esta pedra que erigi em estela será transformada em casa de Deus e dar-te-ei o dízimo de tudo que me deres”.Todas estas passagens estão no livro de Gênesis, podem conferir – não estou inventando nada.
Aí está a origem e o significado da escada “de Jacó” que não é escada, nem “de Jacó”. Foi uma visão, um sonho sobre algo apoiado no chão, com a outra ponta tocando o céu. Em sonhos - repito - Jacó percebeu anjos de Deus que subiam e desciam. Mas Jacó não subiu nem desceu pela escada, pois, como ele mesmo disse amedrontado, aquele lugar era terrível, sem dúvida a casa de Deus e a porta do céu. Todos conhecem o significado simbólico do "terribilis est locus iste" latino que faz parte da decoração de da igreja de Rennes-le-Château em Toulouse... mas isso é outra história. O certo é que Jacó não ousou prosseguir porta adentro nem subir escada acima. Apenas tomou a pedra que lhe servira de travesseiro e fez dela um altar comemorativo daquele acontecimento. E partiu dali ao encontro de Labão, “pai de Raquel serrana bela”.
Isto posto, pergunto aos meus botões: de onde os inventores de Maçonaria tiraram a interpretação de que a “escada de Jacó” significa a ascensão nos Graus? Que maçons ousam subir pela escada do local terrível, atravessarem a porta do céu, proeza da qual Jacó jamais pensou em realizar? Consta que Jacó lutou uma noite inteira com um anjo (Gênesis 33, 24 a 31), mas subir a escada... jamais!
Não pretendo escarafunchar toda a literatura maçônica para provar o que digo. Cito apenas o douto Irmão Joaquim Gervásio de Figueiredo em seu monumental Dicionário de Maçonaria (Editora Pensamento) que vê na escada uma representação da “hierarquia dos seres, potestades, mundos e reinos de vida”. A escada de catorze degraus em Maçonaria é outra coisa, assunto de outros ritos que não o escocês. E de outros Graus que não os simbólicos. Portanto, nem toda escada deve ser confundida com aquela do sonho de Jacó, por mais que insistam nisso alguns textos de instruções destinados exclusivamente à inspiração dos neófitos.
Para complicar ainda mais, uma indevida simbiose com a Teologia Católica misturou o sonho de Jacó (hebreu) com as Virtudes Teologais apregoadas, pela primeira vez na História, por Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho de Hipona, São Tomás de Aquino e São Roberto Belarmino. Essa interação entre simbolismo maçônico e elementos da fé Católica Apostólica Romana nasceu da tentativa dos padres Jesuítas em estabelecer um diálogo entre a fé e a razão. Mas não consta que esses Santos ou os piedosos Jesuítas tenham subido a escada “de Jacó”; nem que tenham sido iniciados na Maçonaria.
Sinto decepcioná-los. Continuar batendo nessa mesma tecla (ou nessa mesma escada) é andar em círculos por desconhecer a História e a própria Maçonaria. A escada que aparece num dos painéis do Grau não é a escada dos sonhos de Jacó, embora muitos artistas inflamados delirem ao desenhar anjos no topo da mesma.
A Maçonaria, não sendo uma religião, há de permanecer à margem de quaisquer sectarismos. Um muçulmano, por exemplo, não entenderá o Jacó hebreu numa escada; nem os judeus haverão de curvar-se diante das ideias de fé, esperança e caridade desenhadas no painel pelos artistas devotos de Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e São Belarmino. Um budista menos ainda! Mas todas as religiões entenderão a escada como elevação, valoração e crescimento humanos.
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O SÍMBOLO COMO ROTEIRO E COMO ARMADILHA

Os mitos maçônicos, Parte 4
José Maurício Guimarães

1 - O instinto leva o animal até o alimento. Mas uma isca - um anzol com minhoca na ponta - conduz a caça ou a pesca a ser capturada e morta. Pela boca morrem os peixes, bichos e homens.
2 - A mesma tomada onde ligamos as luminárias, o rádio, a tevê e os computadores podem produzir um choque, às vezes fatal, ao imprudente curioso que manipula a fiação.
3 - Pela boca, pelos olhos e pelo desejo intenso de bens materiais e poderes pessoais, sacrificam-se a informação, a inteligência e a sabedoria.
4 - A libertação começa na consciência e se efetiva na prática histórica.
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Os símbolos são alimentos para a alma, iscas para a mente e armadilhas fatais para a sabedoria. Tudo depende de como nos aproximamos deles.
A palavra símbolo, mesmo em outros idiomas – symbol, symbole, symbolum – tem origem no grego σύμβολο [syn-bállein] que significa lançar(bállein) junto(syn), apresentar coisas de tal forma que elas se conservem unidas ou re-unidas. Unidas COMO? reunidas EM QUE?
O sinbólico opõe-se ao diabólico [dia-bállein] que, por propriedade, dá a conhecer elementos de forma desagregada e sem direção.
Mas ocorre que a realidade é syn+bállein e não dia-bállein. Noutras palavras - o Cosmos ou ORDO (harmonia e beleza) prevalece sobre o CHAOS (desestruturação). É por isso que a divisa do Supremo Conselho da Maçonaria ostenta o lema ORDO AB CHAO, o sistema sobre e acima da a perturbação.
Se até este ponto este artigo pareceu difícil, sugiro que os Irmãos buscadores releiam cuidadosamente desde o início até aqui.

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O SÍMBOLO COMO ROTEIRO: Todos conhecem a velha e desgastada fórmula que diz: "A Maçonaria é uma escola baseada num sistema de ensinamentos velados por símbolos e alegorias". No afã de passar de uma grau a outro para adquirir custe o que custar algum prestígio e posições "elevadas" entre os Irmãos, a maioria dos maçons permanece no superficial - na casca - sempre impedidos de prosseguirem devido à barreira instransponível do Guardião do Umbral, o terrível véu do abismo. Esses descuidados poderão aumentar a cada dia sua coleção de medalhas, títulos e honras, mas jamais encontrarão o segredo nem as benesses materiais que julgavam encontrar na Maçonaria. Terminam seus dias dizendo que "a Maçonaria está morrendo", quando na verdade eles é que se transformaram em múmias, encharcadas de álcool em sarcófagos de luxo.
- Ilusão, "Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade" (leiam o Eclesiastes 12:8).
O SÍMBOLO COMO ARMADILHA: Os símbolos foram criados para velar (cobrir com véu, esconder ou ocultar) a filosofia maçônica e sua atuação social e mental. Se não fosse assim, não haveria a necessidade daquele enunciado: "um sistema velado por alegorias e símbolos” logo no pórtico à entrada de uma edificação destinada à escola iniciática. "A Maçonaria é um sistema de moralidade incutida através da ciência dos símbolos adotados para a segurança da sua identidade, diferindo-a de qualquer outra associação inventada pela engenhosidade humana, sendo esse simbolismo a causa de forma atrativa que lhe tem assegurado a fidelidade de seus adeptos e a sua perpetuidade", nas palavras de Albert Galatin Mackey - ou seja: os símbolos foram colocados onde estão para despistarem os que são admitidos na Ordem mas que não podem se transformar em Iniciados.
Todo o aparato das Lojas (dimensões, cores, colunas, ferramentas de trabalho, pavimento, abóboda, altares, etc.) assim como as alfaias (aventais, colares e jóias) compõem um ritualismo simples onde a forma mata o conteúdo na maioria das vezes. Uma palavra significa mais do que "na força" ou "em segurança"; um ângulo reto representa muito mais do que a justa esquadria do corpo ou o ajuste perfeito de uma Loja; os passos significam mais do que uma disciplina. Ao terminar o Grau I, o Aprendiz perfeito e apto para prosseguir deve distinguir essas diferenças pois, do contrário ainda necessitaria de mais 3 anos nos bancos da coluna do Norte até merecer uma elevação.
O mesmo se dá com os Companheiros e, de forma mais drástica e dramática, com aqueles "mestres" mal exaltados e investidos de falsas plenitudes.
Apesar disso, não faltam aplausos e elogios aos trabalhos apresentados para aumento de salário. Mesmo que todos da Loja não tenham gostado, aplaudirão o candidato por uma questão de cortesia para com o padrinho. Consequência: o "iniciado" é arrastado mecanicamente para o grau seguinte num completo despreparo, sem ideias próprias e incapaz de se tornar um líder.
- É nesse cenário medonho e pavoroso que as idiossincrasias substituem a reflexão individual: o cabalista vê Kabbalah em cada canto do Templo maçônico, em cada gesto ou palavra do ritual; o místico interpreta os golpes de malhete em ressonâncias de transcendência sobrenatural e devoção espiritual; os que "têm jeito" para alquimia procuram a coagulatio, calcinatio, sublimatio e mortificatio nos vários graus aos quais denominam "transmutação"; para os bíblicos a explicação precisa estar em sintonia com o Pentateuco e o Novo Testamento; os geômetras estabelecem medidas e proporções; os magos têm visões e sinais... é o caos.
CONCLUSÃO: A Maçonaria impõe-se pelo MISTÉRIO coberto com o espesso véu dos símbolos. Os demais interesses (principalmente os políticos e os projetos fundamentados num projeto de poder) não durarão mais que uma década.
A Maçonaria que os simplórios dizem "estar morrendo" sobreviverá à sanha psicopatológica daqueles que usam as Loja e as Potências com trampolins em sua escalada social. Parece que a Providência Divina cuida da Reflexão sobre os conteúdos da Iniciação e sua eficácia no progresso individual e coletivo que passam despercebidos pela grande maioria. O processo iniciático, a filosofia e o desenvolvimento histórico da organização permanecerão velados aos olhos dos "profanos de avental" que, iniciados em nossos mistérios, não serão lembrados pela próxima geração de maçons.
Só o debate permanente de nossas conclusões sobre os nossos estudos - tônica principal da maçonaria, onde mestres, companheiros e aprendizes dialogam e parcialmente esclarecem suas dúvidas e interrogações, pode resgatar a Maçonaria da estagnação que estamos vivenciando. (Eu não disse morte, mas estagnação.)
Para a ilusão desses pseudo-poderosos, são organizadas classes semanais em que prevalecem o dogma e a doutrina: de um lado o "instrutor" que define e explica cada símbolo, impondo sua interpretação canhestra ao rito maçônico; de outro os alunos (normalmente Aprendizes e Companheiros) sem o recurso do debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade.
Se o espírito vivifica, nestes casos o ritualismo mata. Estamos treinando robôs que reproduzem o drama iniciático sem a elevação gradativa da alma, sem o progresso das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias.
Dessa forma, o símbolo que deveria ser um meio – um roteiro – transforma-se numa armadilha destinada a abolir a evolução e o livre-pensamento.
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OS GRAUS ALÉM DO 3

Os mitos maçônicos, Parte 5
José Maurício Guimarães
Desta vez o mito não está em dizer que "existe", mas em dizer "que não existe".
Explico: os Graus além do 3 existem sim e não foram inventados ontem.
Se pesquisarmos com seriedade o "segredo dos Escoceses" (dentre outros Ritos) descobriremos que havia entre os maçons dos séculos quinze e dezesseis operativos e especulativos que traziam um cordão vermelho nos paramentos, em forma de escudo, para representar os vários graus além do "Master Craft", Mestre de Obras ou Grau de Mestre.
A informação está num livro de 1744: "Le Parfait Maçon ou les Véritables Secrets des Quatre Grades d'Apprentis Compagnons, Maîtres Ordinaires et Écossais de la Franche Maçonnerie” - Imprimé cette année 1744" (O Perfeito Maçom ou Verdadeiros Segredos dos Quatro Graus de Aprendizes Companheiros e Mestres Regular da Franca-maçonaria Escocesa").
Palavras textuais do livro que neste instante está aberto diante de mim: "Há entre os maçons vários graus além do Grau de Mestre (...qu'il y a encore plusieurs degrés au-dessus des maîtres dont je viens de parler) os chamados maçons Escoceses que reivindicam o Quarto Grau (...ceux qu'on appelle maçons Écossais, prétendent composer le Quatrième Grade, etc...)
Das duas, uma: ou negamos toda a ligação do simbolismo com a História do Templo, ou aprendemos e passamos a praticar os cânones tradicionais em sua inteireza. (Entendamos a palavra cânone como maneiras de agir, modelo ou padrão.)
Em se tratando de coerência, meia conversa é o mesmo que meia verdade; e meia-verdade é o mesmo que mentira.
Prossigamos:
- Todos mundo sabe que após os setenta anos de cativeiro na Babilônia, Ciro, o Grande permitiu que os israelitas reconstruíssem o Templo (de Salomão). Zorobabel, descendente de David, foi encarregado de reconduzir seu povo para a cidade santa onde colocaram a pedra fundamental do novo Templo.
"No segundo ano do rei Dario, no dia vinte e um do sétimo mês, a palavra do Senhor foi dirigida por meio do profeta Ageu nestes termos: “Fala, pois, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador da Judéia, e a Josué filho de Josedec, Sumo Sacerdote, e ao resto do povo assim: Quem é entre vós o sobrevivente que viu este templo em seu primitivo esplendor? E como o vedes agora? Não vos parece um nada? Agora, pois, sê forte, Zorobabel. A glória futura deste templo será maior do que a passada, e neste lugar eu concederei a paz Mas agora, tomai bem a peito a partir deste dia e para o futuro." (Bíblia, Livro de Ageu.)
- Por que os apologistas de uma Maçonaria de três Graus nunca falam disso?
Se esses fatos foram posteriores ao Templo de Salomão - pois o Templo original foi destruído em 586 a.C. por Nabucodonosor - a tradição operativa não terminou com o primeiro Templo, mas prosseguiu no de Zorobabel (515 a.C.), no Templo de Herodes (20 a.C.) e na reconstrução Templária fundada no Concílio de Troyes em 1.129 da era cristã (minha palestra de 2007: Origens Templárias da Maçonaria do Rito Escocês).
Foi a partir desses eventos que os maçons Escoceses "desdobraram" os Graus Azuis (Simbólicos I, II e III) na progressão dos Graus Superiores com a história, as alegorias, lendas e explicações sobre a verdadeira natureza do Templo primitivo e dos Grandes Construtores: Salomão, Rei de Israel, o Rei Hiram de Tiro e o excelente artífice Hiram Abif.
Assim como o de Zorobabel, o novo Templo foi construído sobre os fundamentos das antigas edificações erigidas pelas três Luzes da Maçonaria Simbólica:
- No Rito Escocês Antigo e Aceito: Lojas de Perfeição (Graus Inefáveis), Capítulo Rosa Cruz, Conselho Kadosch (ou Graus Filosóficos) e Consistório.
- No Rito York: Mestre Maçom da Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre, Maçom do Arco Real, Graus Crípticos, Graus de Cavalaria (todos já instituídos com êxito no Brasil).
Cito apenas o Escocês e o York porque passei pelos Graus desses Ritos e não me sinto autorizado a falar de outros. Mas sabemos que há também esses Graus Superiores no Rito Adhoniramita, no Rito Brasileiro e assim por diante.
Portanto, a história, a tradição e as instruções aos maçons prosseguem além daquilo que, em determinada época, foi permitido dar a conhecer aos maçons dos Graus Simbólicos. Enganaram-se os que apregoavam a plenitude do conhecimento em determinado Grau. Onde permitiam uma "plenitude", limitavam-na aos direitos maçônicos, sem considerar que até o começo do século XX exigia-se o Grau 18, Marca ou Past Master para os que desejassem se candidatar ao cargo de Venerável Mestre de uma Loja.
Hoje essa exigência está posta de lado em algumas Potências onde foi substituída apenas pela entronização mediante um cerimonial "além do 3" - que alguns desinformados suspeitavam ser "Grau 3,5" - mas, na verdade é um ritual autônomo de "instalação" (posse solene de uma dignidade num cargo) com origem bem fundamentada em remotas tradições da Maçonaria.
Finalizando: Quem é entre vós que viu este templo em seu primitivo esplendor? E como o vedes agora? Não vos parece um nada? Agora, pois, sê forte, Zorobabel. A glória futura deste templo será maior do que a passada!!
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DAS ATRIBUIÇÕES QUE LHE CONFEREM OS LANDMARKS

Por José Maurício Guimarães

Por que não somos estranhos uns aos outros?
Por que somos uma fraternidade iniciática?
Por que o maçom deve cultivar um perfeito controle de si próprio?
Por que devemos pautar nossos atos pelo comportamento digno, são e viril?
Por que só devemos admitir em nossas lojas homens de ilibada reputação, de honra, e de atitudes discretas?
As respostas encontram-se nas raízes da Arte Real, ou seja: nos antigos deveres do ofício (The Old Charges of Craft Freemasonry), na compilação da qual resultou a Constituição de Anderson e, mais tarde, nos Landmarks.
Todos os maçons conhecem bem os preâmbulos dos atos e decretos de suas Obediências que, invariavelmente começam com a proclamação: "O Grão-Mestre, no uso das atribuições que lhe conferem os Landmarks da Ordem, a Constituição de Anderson...etc".
Mas poucos são os maçons que conhecem os Landmarks; e pouquíssimos os que conhecem a Constituição de Anderson.
Como pode ser assim, se esses princípios se avultam em super-constituições?
Pode um homem que se diz LIVRE permanecer em Loja Livre sem conhecer as leis que regem sua filiação?
Acaso não será esse desconhecimento a principal causa de nossa estagnação e da pobreza de projetos que vem transformando nossas Lojas e Obediências em trampolins políticos?
Respirem fundo...
- Em primeiro lugar precisamos perguntar o que se entende por landmark, uma vez que a palavra é inglesa. Para simplificar o entendimento, tomemos landmark no sentido de LIMITE - ponto de referência, marco divisório ou fronteira.
Há quem prefira esquartejar a palavra: land (terra )+mark (marco ). Uma cerca de arame-farpado que separa o gado da propriedade de Thomas Morus das galinhas de seu vizinho Joe Dolittle é um marco divisório, uma fronteira, um limite ou landmark.
A Bíblia, de onde o conceito foi tirado, refere-se à cláusula pétrea "nolumus leges mutari", ou seja: Que essas leis não sejam alteradas, implícita no livro dos Provérbios, capítulo 22, versículo 28 (versão inglesa King James): "Remove not the ancient landmark which thy fathers have set" - não removas os marcos antigos que teus antepassados colocaram.
Vale a pena repetir em voz bem alta, por 300 vezes: não removas os marcos antigos que teus antepassados colocaram!
Em seu livro de 1772, "Illustrations of Masonry", o maçom Inglês, William Preston (1742-1818), usa "landmarks", como sinônimo de usos e costumes estabelecidos da Arte Real. Penso que esta acepção seja a mais correta (principalmente por ser a mais antiga), e uma vez que o Direito inglês é eminentemente consuetudinário. Além disso, a Grande Loja Unida da Inglaterra nunca enumerou uma lista de landmarks porque considera fundamental o único landmark possível: A crença na existência de um Ser Supremo.
Vocês acreditam na existência de um Ser Supremo?
O pesquisador inglês Harry Carr (1900-1983), Past Master e ex-secretário da Loja Quatuor Coronati Lodge nº 2076 de Londres, aponta dois pontos essenciais:
a - Um landmark deve ter existido desde os tempos imemoriais e não fabricados a partir de certo ponto;
b - Os landmarks são elementos de tal importância essenciais para a sociedade que a Maçonaria já não seria Maçonaria se algum deles fosse alterado.
Muitos autores têm questionado lista de Mackey. Um dos mais significativos foi Roscoe Pound (1870-1964), reitor da Harvard Law School. Pound propôs uma lista própria, mais curta, de sete landmarks... com a possibilidade de mais dois. Tomando esses nove landmarks possíveis, manteve, com algumas modificações, os de Mackey (III, X, XIV, XVIII, XIX, XX, XXI, XXIII e XXIV). eliminou, porém, os números I e II que muitos consideram fundamentais (os processos de reconhecimento e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus), além do polêmico landmark XXV (nenhuma modificação pode ser introduzida).
Quando falamos das atribuições que os landmarks conferem às Obediências, a quais landmarks nos referimos?, pois existem mais de uma “lista de landmarks” além dessas tentativas de Mackey e Pound.
A compilação de Albert Mackey, a mais conhecida, é apenas uma delas (americana, e não inglesa) e concentra-se nos poderes do Grão-Mestre. Mackey foi um médico norte-americano nascido em 1807. Publicou "The Principles of Masonic Law on the Constitutional Laws, Usages And Landmarks of Freemasonry" em 1856 onde ele mesmo define: "Várias definições foram dadas para landmarks. Alguns supõem terem sido constituídos a partir de todas as regras e regulamentos que estavam em vigor antes da revitalização da Maçonaria em 1717, confirmados e aprovado pela Grande Loja da Inglaterra naquela época. Outros, mais rigorosos, limitam essa definição aos modos de reconhecimento em uso na fraternidade. Eu proponho um meio termo, e considero landmarks todos os usos e costumes do ofício ritualístico, legislativo, cerimonial, e mesmo à organização da sociedade maçônica conforme os usos dos tempos imemoriais. E considero a alteração ou a supressão de algo que possa afetar o caráter distintivo da instituição como fator de destruição da sua identidade.”
Dito isso, Albert Mackey compilou os vinte e cinco landmarks, tidos como aceitos pelas Obediências do mundo, mas, evidentemente, aquele meio termo entre as visões ortodoxa e heterodoxa foi sinal verde de que alguma coisa foi mudada ou alterada nos antigos marcos que nossos antepassados colocaram; e que muitas viriam ao seu devido tempo. Pode parecer estranho, mas Mackey considera os landmarks uma generalidade e os regulamentos gerais e locais, como lei escrita, determinantes para as autoridades locais ou da Maçonaria. Afirma também, no mesmo diapasão da Quatuor Coronati Lodge de Londres, que um dos requisitos dos landmark é terem eles existido desde o tempo que a memória do homem possa alcançar - donde se deduz que os verdadeiros marcos são as leis morais ou o Direito Natural inscritos na mente e no coração dos homens.
A observação adequada dos Landmarks é fator primordial para a decisão do reconhecimento e regularidade de uma Obediência. Mas, de acordo com o Irmão Terence Satchell da Rushmore Lodge 220, Grande Loja de Dakota do Sul, EUA "determinar o que constitui os landmarks específicos da Fraternidade pode ser uma questão complicada"...
- E é mesmo.
Apresento, abaixo, a compilação de Albert Mackey (25 landmarks) e a versão que costumo denominar de "Doze Landmarks".
Chamo a atenção dos Irmãos para o "Landmark nº6 da lista dos "Doze Landmarks" que propõe uma Maçonaria de completa abstenção em seu seio das discussões políticas. Resta saber o que se entende por "discussões políticas".
Julguem por vocês mesmos os parâmetros de hoje comparados aos de ontem e... tirem suas conclusões.
No próximo artigo falaremos sobre a Constituição de Anderson.

A LISTA DE MACKEY:
I
- Os processos de reconhecimento são os mais legítimos e inquestionáveis de todos os Landmarks. Não admitem mudança de qualquer espécie; desde que isso se deu, funestas consequências posteriores vieram demonstrar o erro cometido.
II - A divisão da Maçonaria Simbólica em três graus - Aprendiz, Companheiro e Mestre - é um Landmark que, mais que qualquer outro, tem sido preservado de alterações apesar dos esforços feitos pelo daninho espírito inovador.
III - A lenda do terceiro grau é um Landmark importante, cuja integridade tem sido respeitada. Nenhum rito existe na Maçonaria, em qualquer país ou em qualquer idioma, em que não sejam expostos os elementos essenciais dessa lenda. As fórmulas escritas podem variar, e na verdade variam; a lenda do Construtor do Templo de Salomão, porém, permanece em essência. Qualquer rito que a excluir ou a altere substancialmente, deixará de ser um Rito Maçônico.
IV - O Governo da Fraternidade por um Oficial que é seu presidente, denominado Grão-Mestre, eleito pelo povo maçônico, é o quarto Landmark da Ordem Maçônica. Muitos pensam que a eleição do Grão-Mestre se pratica por ser estabelecida em lei ou regulamento, mas nos anais da Instituição, encontram-se Grão-Mestres muito antes de existirem Grandes Lojas, e se todos os Regulamentos e Constituições fosse abolidos, sempre seria mister a existência de um Grão-Mestre.
V - A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir todas as reuniões maçônicas, feitas onde e quando se fizerem, é o quinto Landmark. É em virtude dessa lei, de antiga usança e tradição, que o Grão-Mestre ocupa o Trono e preside todas as sessões da Grande Loja, assim como quando se ache presente à sessão de qualquer Loja subordinada à autoridade maçônica de sua obediência.
VI - A prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para conferir graus em tempos anormais, é outro importantíssimo Landmark. Os estatutos e leis maçônicas exigem prazos, que devem transcorrer entre a proposta e a recepção do candidato, porém o Grão-Mestre tem o direito de dispensar esta ou qualquer exigência, e permitir a Iniciação, a Elevação ou Exaltação imediata.
VII - A prerrogativa que tem o Grão-Mestre de dar autorização para fundar e manter Lojas, é outro importante Landmark. Em virtude dele, o Grão-Mestre pode conceder a um número suficiente de Mestres-Maçons o privilégio de se reunir e conferir graus. As Lojas assim constituídas chamam-se "Lojas Licenciadas". Criadas pelo Grão-Mestre só existem enquanto ele não resolva o contrário, podendo ser dissolvidas por ato seu. Podem viver um dia, um mês ou seis. Qualquer que seja, porém, o prazo de sua existência, exclusivamente ao Grão-Mestre a deve.
VIII - A prerrogativa do Grão-Mestre de criar Maçons por sua deliberação é outro Landmark importante. O Grão-Mestre convoca em seu auxílio seis outros Mestres-Maçons, pelo menos, forma uma Loja e sem uma forma prévia confere os graus aos candidatos, findo o que, dissolve a Loja e despede os Irmãos. As Lojas assim convocadas por este meio são chamadas "Lojas de Emergência" ou "Lojas Ocasionais".
IX - A necessidade de se congregarem os Maçons em Lojas é outro Landmark. Os Landmarks da Ordem prescrevem sempre que os Maçons deveriam congregar-se com o fim de entregar-se a tarefas operativas e que às suas reuniões fosse dado o nome de "Lojas". Antigamente, eram estas reuniões extemporâneas, convocadas para assuntos especiais e logo dissolvidas, separando-se os Irmãos para de novo se reunirem em outros pontos e em outras épocas, conforme as necessidades e as circunstâncias exigissem. Cartas Constitutivas, Regulamentos Internos, Lojas e Oficinas permanentes e contribuições anuais são inovações puramente moderna de um período relativamente recente.
X - O Governo da Fraternidade, quando congregada em Loja, por um Venerável e dois Vigilantes é outro Landmark. Qualquer reunião de Maçons congregados sob qualquer outra direção, como, por exemplo, um presidente e dois vice-presidentes, não seria reconhecida como Loja. A presença de um Venerável e dois Vigilantes é tão essencial para a validade e legalidade de uma Loja que, no dia de sua consagração, é considerada como uma Carta Constitutiva.
XI - A necessidade de estar uma Loja coberta, quando reunida, é outro importante Landmark que não deve ser descurado. O cargo de Guarda do Templo, que vela para que o local da reunião seja absolutamente vedado à intromissão de profanos, independe, pois, de qualquer Regulamento ou Constituição.
XII - O direito representativo de cada Irmão nas reuniões da Fraternidade é outro Landmark. Nas reuniões gerais, outrora chamadas "Assembléias Gerais", todos os Irmãos, mesmo os Aprendizes, tinham o direito de tomar parte. Nas Grandes Lojas, hoje, só tem direito de assistência os Veneráveis e Vigilantes, na qualidade, porém, de representantes de todos os Irmãos das Lojas. Antigamente, cada Irmão se auto-representava. Hoje são representados pelas Luzes de sua Loja. Nem por motivo dessa concessão, feita em 1817, deixa de existir o direito de representação firmado por este Landmark.
XIII - O direito de recurso de cada Maçom das decisões de sua Loja para a Grande Loja, ou Assembléia Geral dos Irmãos, é um Landmark essencial para a preservação da Justiça e para prevenir a opressão.
XIV - O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja é um inquestionável Landmark da Ordem. É o consagrado "Direito de Visitação", reconhecido e votado universalmente a todos os Irmãos que viajam pelo orbe terrestre. É a conseqüência do modo de encarar as Lojas como meras divisões da família maçônica.
XV - Nenhum Irmão desconhecido dos Irmãos da Loja pode a ela ter acesso como visitante sem que primeiro seja examinado, conforme os antigos costumes, e como tal reconhecido. Este exame somente pode ser dispensado se o Irmão visitante for conhecido por algum Irmão da Loja, o qual por ele será responsável.
XVI - Nenhuma Loja pode intrometer-se em assunto que diga respeito a outra, nem conferir graus a Irmãos de outros Quadros.
XVII - Todo Maçom está sujeito às leis e aos regulamentos da jurisdição maçônica em que residir, mesmo não sendo, aí, obreiro de qualquer Loja. A não filiação constitui, por si própria, uma falta maçônica.
XVIII - Por este Landmark, os candidatos à Iniciação devem ser isentos de defeitos ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade.
XIX - A crença no Grande Arquiteto do Universo é um dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação dessa crença é impedimento absoluto e irremovível para a Iniciação.
XX - Subsidiariamente à crença em um Ente Supremo, é exigida, para a Iniciação, a crença numa vida futura.
XXI - Em Loja, é indispensável a presença, no Altar, de um Livro da Lei, no qual supõe-se, conforme a crença, estar contida a vontade do Grande Arquiteto do Universo. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades da fé religiosa dos seus membros, o "Livro da Lei" pode variar conforme o credo. Exige, por isso, este Landmark que um "Livro da Lei" seja par indispensável das alfaias de uma Loja Maçônica.
XXII - Todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinção de prerrogativas profanas, de privilégios que a sociedade confere. A Maçonaria a todos nivela nas reuniões maçônicas.
XXIII - Este Landmark prescreve a conservação secreta dos conhecimentos havidos pela Iniciação, tanto os métodos de trabalho como suas lendas e tradições, que só devem ser comunicados a outros Irmãos.
XXIV - A fundação de uma ciência especulativa, segundo métodos operativos e uso do simbolismo e a explicação dos ditos métodos e dos termos neles empregados com o propósito de ensinamento moral, constitui outro Landmark. A preservação da Lenda do Templo de Salomão é outro fundamento deste Landmark.
XXV - O último Landmark é o que afirma a inalterabilidade dos anteriores, nada lhes podendo ser acrescido ou retirado, nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzida. Assim como de nossos antecessores os recebemos, assim os devemos transmitir aos nossos sucessores - Nolumus est leges mutari
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A LISTA DE DOZE LANDMARKS1. A Maçonaria é uma fraternidade iniciática que tem por fundamento tradicional a fé em Deus, Grande Arquiteto do Universo.
2. A Maçonaria refere-se aos "Antigos Deveres" e aos "Landmarks" da Fraternidade, especialmente quanto ao absoluto respeito das tradições específicas da Ordem, essenciais à regularidade da Jurisdição.
3. A Maçonaria é uma ordem, à qual não podem pertencer senão homens livres e de bons costumes, que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz.
4. A Maçonaria visa ainda, o aperfeiçoamento moral dos seus membros, bem como, de toda a humanidade.
5. A Maçonaria impõe a todos os seus membros a prática exata e escrupulosa dos ritos e do simbolismo, meios de acesso ao conhecimento pelas vias espirituais e iniciáticas que lhe são próprias.
6. A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.
7. Os Maçons tomam as suas obrigações sobre um volume da Lei Sagrada, a fim de dar ao juramento prestado por eles, o caráter solene e sagrado indispensável à sua perenidade.
8. Os Maçons juntam-se, fora do mundo profano, nas Lojas onde estão sempre expostas as três grandes luzes da Ordem: um volume da Lei Sagrada, um esquadro, e um compasso, para aí trabalhar segundo o rito, com zelo e assiduidade e conforme os princípios e regras prescritas pela Constituição e os Regulamentos Gerais de Obediência.
9. Os Maçons só devem admitir nas suas lojas homens maiores de idade, de ilibada reputação, gente de honra, leais e discretos, dignos em todos os níveis de serem bons irmãos, e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem e o infinito poder do Eterno.
10. Os Maçons cultivam nas suas Lojas o amor da Pátria, a submissão às leis e o respeito pelas autoridades constituídas. Consideram o trabalho como o dever primordial do ser humano e honram-no sob todas as formas.
11. Os Maçons contribuem pelo exemplo ativo do seu comportamento são, viril e digno, para irradiar da Ordem no respeito do segredo maçônico.
12. Os Maçons devem-se mutuamente, ajuda e proteção fraternal, mesmo no fim da sua vida. Praticam a arte de conservar em todas as circunstâncias a calma e o equilíbrio, indispensáveis a um perfeito controle de si próprio
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

De Campos Ribeiro comemora seu 28 aniversário com coquetel na Grande Loja

Fundanda no dia 13 de fevereiro de 1984 , a Augusta e Benemérita Loja Maçônica De Campos Ribeiro 51 comemora hoje no seu Templo seu aniversário de 28 anos de existência ,após a sessão haverá um coquetel para comemorar-mos. PARABÉNS!!!

Confraternização na casa do Nélio

Domigno, dia 05 de fevereiro, num delicioso almoço feito com muito esmero e carinho , comemoramos a posse de nosso novo Veneravel Mestre, Ir João Nélio Quaresma,com a presença animada das nossas cunhadas,amigos e nossos filhos, fica aqui nossos votos de uma administração profícua e de sucesso aos nossos irmãos da De Campos 51 , vejam alguns registros do evento: