quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O SÍMBOLO COMO ROTEIRO E COMO ARMADILHA

Os mitos maçônicos, Parte 4
José Maurício Guimarães

1 - O instinto leva o animal até o alimento. Mas uma isca - um anzol com minhoca na ponta - conduz a caça ou a pesca a ser capturada e morta. Pela boca morrem os peixes, bichos e homens.
2 - A mesma tomada onde ligamos as luminárias, o rádio, a tevê e os computadores podem produzir um choque, às vezes fatal, ao imprudente curioso que manipula a fiação.
3 - Pela boca, pelos olhos e pelo desejo intenso de bens materiais e poderes pessoais, sacrificam-se a informação, a inteligência e a sabedoria.
4 - A libertação começa na consciência e se efetiva na prática histórica.
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Os símbolos são alimentos para a alma, iscas para a mente e armadilhas fatais para a sabedoria. Tudo depende de como nos aproximamos deles.
A palavra símbolo, mesmo em outros idiomas – symbol, symbole, symbolum – tem origem no grego σύμβολο [syn-bállein] que significa lançar(bállein) junto(syn), apresentar coisas de tal forma que elas se conservem unidas ou re-unidas. Unidas COMO? reunidas EM QUE?
O sinbólico opõe-se ao diabólico [dia-bállein] que, por propriedade, dá a conhecer elementos de forma desagregada e sem direção.
Mas ocorre que a realidade é syn+bállein e não dia-bállein. Noutras palavras - o Cosmos ou ORDO (harmonia e beleza) prevalece sobre o CHAOS (desestruturação). É por isso que a divisa do Supremo Conselho da Maçonaria ostenta o lema ORDO AB CHAO, o sistema sobre e acima da a perturbação.
Se até este ponto este artigo pareceu difícil, sugiro que os Irmãos buscadores releiam cuidadosamente desde o início até aqui.

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O SÍMBOLO COMO ROTEIRO: Todos conhecem a velha e desgastada fórmula que diz: "A Maçonaria é uma escola baseada num sistema de ensinamentos velados por símbolos e alegorias". No afã de passar de uma grau a outro para adquirir custe o que custar algum prestígio e posições "elevadas" entre os Irmãos, a maioria dos maçons permanece no superficial - na casca - sempre impedidos de prosseguirem devido à barreira instransponível do Guardião do Umbral, o terrível véu do abismo. Esses descuidados poderão aumentar a cada dia sua coleção de medalhas, títulos e honras, mas jamais encontrarão o segredo nem as benesses materiais que julgavam encontrar na Maçonaria. Terminam seus dias dizendo que "a Maçonaria está morrendo", quando na verdade eles é que se transformaram em múmias, encharcadas de álcool em sarcófagos de luxo.
- Ilusão, "Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade" (leiam o Eclesiastes 12:8).
O SÍMBOLO COMO ARMADILHA: Os símbolos foram criados para velar (cobrir com véu, esconder ou ocultar) a filosofia maçônica e sua atuação social e mental. Se não fosse assim, não haveria a necessidade daquele enunciado: "um sistema velado por alegorias e símbolos” logo no pórtico à entrada de uma edificação destinada à escola iniciática. "A Maçonaria é um sistema de moralidade incutida através da ciência dos símbolos adotados para a segurança da sua identidade, diferindo-a de qualquer outra associação inventada pela engenhosidade humana, sendo esse simbolismo a causa de forma atrativa que lhe tem assegurado a fidelidade de seus adeptos e a sua perpetuidade", nas palavras de Albert Galatin Mackey - ou seja: os símbolos foram colocados onde estão para despistarem os que são admitidos na Ordem mas que não podem se transformar em Iniciados.
Todo o aparato das Lojas (dimensões, cores, colunas, ferramentas de trabalho, pavimento, abóboda, altares, etc.) assim como as alfaias (aventais, colares e jóias) compõem um ritualismo simples onde a forma mata o conteúdo na maioria das vezes. Uma palavra significa mais do que "na força" ou "em segurança"; um ângulo reto representa muito mais do que a justa esquadria do corpo ou o ajuste perfeito de uma Loja; os passos significam mais do que uma disciplina. Ao terminar o Grau I, o Aprendiz perfeito e apto para prosseguir deve distinguir essas diferenças pois, do contrário ainda necessitaria de mais 3 anos nos bancos da coluna do Norte até merecer uma elevação.
O mesmo se dá com os Companheiros e, de forma mais drástica e dramática, com aqueles "mestres" mal exaltados e investidos de falsas plenitudes.
Apesar disso, não faltam aplausos e elogios aos trabalhos apresentados para aumento de salário. Mesmo que todos da Loja não tenham gostado, aplaudirão o candidato por uma questão de cortesia para com o padrinho. Consequência: o "iniciado" é arrastado mecanicamente para o grau seguinte num completo despreparo, sem ideias próprias e incapaz de se tornar um líder.
- É nesse cenário medonho e pavoroso que as idiossincrasias substituem a reflexão individual: o cabalista vê Kabbalah em cada canto do Templo maçônico, em cada gesto ou palavra do ritual; o místico interpreta os golpes de malhete em ressonâncias de transcendência sobrenatural e devoção espiritual; os que "têm jeito" para alquimia procuram a coagulatio, calcinatio, sublimatio e mortificatio nos vários graus aos quais denominam "transmutação"; para os bíblicos a explicação precisa estar em sintonia com o Pentateuco e o Novo Testamento; os geômetras estabelecem medidas e proporções; os magos têm visões e sinais... é o caos.
CONCLUSÃO: A Maçonaria impõe-se pelo MISTÉRIO coberto com o espesso véu dos símbolos. Os demais interesses (principalmente os políticos e os projetos fundamentados num projeto de poder) não durarão mais que uma década.
A Maçonaria que os simplórios dizem "estar morrendo" sobreviverá à sanha psicopatológica daqueles que usam as Loja e as Potências com trampolins em sua escalada social. Parece que a Providência Divina cuida da Reflexão sobre os conteúdos da Iniciação e sua eficácia no progresso individual e coletivo que passam despercebidos pela grande maioria. O processo iniciático, a filosofia e o desenvolvimento histórico da organização permanecerão velados aos olhos dos "profanos de avental" que, iniciados em nossos mistérios, não serão lembrados pela próxima geração de maçons.
Só o debate permanente de nossas conclusões sobre os nossos estudos - tônica principal da maçonaria, onde mestres, companheiros e aprendizes dialogam e parcialmente esclarecem suas dúvidas e interrogações, pode resgatar a Maçonaria da estagnação que estamos vivenciando. (Eu não disse morte, mas estagnação.)
Para a ilusão desses pseudo-poderosos, são organizadas classes semanais em que prevalecem o dogma e a doutrina: de um lado o "instrutor" que define e explica cada símbolo, impondo sua interpretação canhestra ao rito maçônico; de outro os alunos (normalmente Aprendizes e Companheiros) sem o recurso do debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade.
Se o espírito vivifica, nestes casos o ritualismo mata. Estamos treinando robôs que reproduzem o drama iniciático sem a elevação gradativa da alma, sem o progresso das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias.
Dessa forma, o símbolo que deveria ser um meio – um roteiro – transforma-se numa armadilha destinada a abolir a evolução e o livre-pensamento.
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