quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A Maçonaria em Cuba (Crónica de Uma Descoberta)

Numa simples visita turística a CUBA e depois de ter almoçado num agradável restaurante perto da Plaza de la Catedral, dirigi-me a um empregado para lhe pedir uma informação sobre um mapa que levava comigo.Enquanto me explicava, não pude deixar de reparar num anel que o mesmo usava, pois a simbologia era maçónica. Perguntei-lhe se o anel era dele – disse-me que sim e que era maçon.Estranhando a sua abertura e não identificando a minha condição, perguntei-lhe então como era possível existir maçonaria em CUBA? – a sua resposta não podia ser outra – somos homens livres e não discutimos política, nem religião.Após algum diálogo e troca de identidade, aconselhou-me a visitar a Grande Loja de Havana, que ficava na Avenida Salvador Allende, num edifício que tinha um planeta terra.Aquela conversa, apesar da sua sinceridade e transparência, não deixou de me colocar imensas questões, ora não seja CUBA considerada um paradigma da censura à liberdade, em várias das suas vertentes. Por acaso eu até pretendia visitar a Plaza de la Revolución que fica naquela direcção, logo, decidi estar atento à eventual discrição e sobriedade do edifício.
Acabava de sair da Igreja de Sagrado Corazón de Jesus, quando reparei que no topo de um edifício de 11 andares em frente, estava um destacado planeta terra encimado por um esquadro e um compasso – Não havia dúvidas.Tendo decidido entrar, deparei com uma estátua de José Marti, o símbolo da independência cubana e da luta contra os colonizadores – Talvez estivesse aqui a chave do mistério... Um regime político como o cubano, baseado no povo e suas sinergias, no simbolismo da luta contra a opressão, nos princípios da integridade, educação e cultura, não poderia perseguir a instituição que desde sempre representou os valores da liberdade, igualdade e fraternidade, sob pena de se contradizer.Como poderia Fidel justificar o seu regime e a sua luta, se todos os símbolos humanos a que pudesse recorrer eram maçons ilustres (José Marti, Simón Bolivar, Salvador Allende e D. Pedro IV – Brasil)?O regime político cubano, opressivo e castrador de algumas das liberdades mais básicas como a de expressão, associação e circulação, não representa a Maçonaria nem os seus princípios, contudo, reconhece a sua importância, reconhece a sua obra social e reconhece o apoio que lhe deu contra o opressivo regime de Fulgêncio Baptista durante a Revolução.Nesse sentido, admitindo que daí não advirá qualquer oposição declarada porque a intervenção da Maçonaria não tem um cariz político, mas antes social, Fidel admite a sua existência e disseminação por toda a ilha (efectivamente, após algumas excursões pela ilha, acabei por encontrar inúmeros templos maçónicos), como sustentáculo de algum exercício do direito de liberdade de pensamento, de comunhão de princípios e organização de obras de beneficência.A este título é exemplificativo a própria Grande Loja, onde funciona um asilo para antigos maçons, uma biblioteca e um museu (que só pode ser visitado por maçons), para além de outras valências de carácter social.A própria biblioteca da Grande Loja de Havana, é amiúde visitada pelas escolas como pude comprovar, não só pelo seu espólio, mas também no intuito de cultivar o conhecimento e o respeito pelos símbolos da revolução do povo.Actualmente, a Grande Loja Cubana conta com mais de vinte mil maçons regulares, sendo reconhecida pelas Grandes Lojas de 38 Estados norte-americanos.»

N. FerreiraIn “Revista da Maçonaria”, número 3, Fevereiro de 2005