Ir.: Yasha Beresiner, M. I., M.R.A.
(Tradução de J. W. Kreutzer-Bach)
Em dezembro de 1996, tive o prazer de assistir, como um dos muitos fundadores, a consagração da Loja Montefiore Nº 78, a primeira Loja de Mestres Instalados da Grande Loja do Estado de Israel. O evento ocorreu num ambiente único, de 3.000 anos de idade: as pedreiras do Rei Salomão, no centro de Jerusalém. Conduzido pelo então Grão Mestre, Irm. Ephraim Fuchs, foi assistido por mais de 300 Irmãos de 24 Obediências, um reflexo da influência dos membros fundadores fora do Estado de Israel, especialmente da Inglaterra. Anos depois, estamos ainda discutindo sobre o que venha a ser uma Loja de Mestres Instalados. Entre os fundadores incluíam-se muitos Irmãos que participavam ativamente da Euclid Lodge of Installed Masters (Loja Euclides de Mestres Instalados) Nº 7464, sob a Grande Loja Unida da Inglaterra. Pudemos assim discorrer sobre o fenômeno das Lojas de Mestres Instalados, que começou na Inglaterra, mais para o final do século XIX. Em Israel, como na Inglaterra, surpreendentemente, as Lojas de Past Masters ou de Installed Masters não são mencionadas na Constituição. Esses títulos são usados de forma indiferente, embora existam diferenças. Enquanto uma Loja de Mestres Instalados admite Veneráveis e Past Masters, a Loja de Past Masters é constituída apenas de Irmãos que completaram seus termos como Veneráveis de suas respectivas Lojas. As Lojas de Past Masters são freqüentemente criadas por uma razão oucom um fim definidos.
Past vs. Instalados
A mui prestigiosa Gand Stewards´ Lodge (Loja dos Grandes Mordomos), que hoje figura no topo da lista de Lojas da Grande Loja Unida da Inglaterra e não tem número, é um exemplo clássico de uma Loja de Past Masters. Aqueles que, por alguns anos, haviam servido a Grande Loja como Stewards (Mordomos) reuniram-se como uma Loja pela primeira vez em junho de 1735, ainda sem Carta Constitutiva. Ela foi ratificada, três anos depois, no segundo Livro das Constituições, de Anderson, de 1738. Onovo Artigo XXIII estabelecia: “A pedido daqueles que tenham sido Stewards, a Grande Loja, em consideração a seus serviços prestados e futuros préstimos, ordena”:“1. Que se constituam numa Loja de Mestres, a ser chamada Stewards Lodge, a ser registrada como tal nos livros da Grande Loja e em suas Listas impressas, com a hora e o lugar de suas reuniões. [...]” .Inicialmente foi dado o número 117 à Loja. Em 1792, recebeu o nome de Grand Stewards´ Lodge e colocada no topo da lista das Lojas, sem ter um número. Ela manteve a mesma posição na época da União, em dezembro de 1813, e ali continua até hoje.Seus membros, hoje, permanecem sendo aqueles que ocuparam o cargo de Grande Mordomo, que, por sua vez , devem ter sidoPast Masters de uma das chamadas Red Apron Lodges (Lojas de Avental Vermelho). Essas são as dezenove Lojas que detêm o privilégio muito especial de indicar um de seus membros para ser nomeado Grand Steward pelo Grão-Mestre. De 1731 em diante, os aventais e colares usados pelos Grand Stewards e Past Grand Stewards são vermelhos, daí a referência a Lojas de Avental Vermelho. Dois outros exemplos de Lojas de Past Masters são as Lojas de Promulgação e de Reconciliação, especialmente criadas pela Primeira Grande Loja como preparação para a União das Grandes Lojas de Antigos e Modernos, em 1813. A Lodge of Promulgation foi formada em 1809 e consistia do Venerável Mestre, Vigilantes e 23 Maçons de posição, incluindo diversos Grão-Mestres Provinciais e Grandes Primeiros Vigilantes. Tinha por missão promulgar os antigos landmarks da Ordem entre os Irmãos e assegurar a uniformidade e a concórdia entre as Grandes Lojas dos Antigos e Modernos. A Lodge of Reconciliation foi formada em 7 de dezembro de 1813, poucos dias antes da União, que aconteceria em 27 do mesmo mês. O Duque de Sussex, indicado para ser o primeiro Grão-Mestre da recém-formada Grande Loja Unida da Inglaterra, estava bem a par dos problemas que enfrentaria entre eles a reconciliação dos trabalhos ritualísticos dos dois Corpos rivais. Assim, a Loja de Reconciliação foi formada, reunindo nove Irmãos experientes de cada uma das duas Grandes Lojas. A eles coube formular o Juramento e a Cerimônia de Instalação do Grão-Mestre. As Lojas de Past Masters freqüentemente tinham vida curta. As Lojas de Promulgação e de Reconciliação foram dissolvidas tão logo cumpriram suas missões. Lojas mais permanentes, como a Grand Stewards´s Lodge, a Scrutator Lodge (do latim, significando pesquisador. Investigador) nº 9379 e outras semelhantes, não trabalham a ritualística. Como os membros são convidados ou nomeados, não há cerimônias de Iniciação ou de Elevação de Grau, somente a de Instalação anual de um novoVenerável Mestre.Como dissemos, uma Loja de Mestres Instalados é um conceito novo, sendo a evidência mais antiga uma tentativa fracassada de estabelecer uma Loja nesses moldes na Província de Derbyshire, por volta da década de 1870. Hoje, as Lojas de Mestres Instalados desfrutam de um sucesso excepcional na jurisdição inglesa. Irmãos experientes e abertos reunim-se para ouvir palestras e discutir aspectos da Maçonaria que julgam importantes. As reuniões, sempre descontraídas e amigáveis, são o meio ideal para disseminar conhecimentos e informações às outras Lojas. As Lojas de Mestres Instalados têm proporcionado uma audiência cativa de Irmãos interessados, ideal para palestras e discussões dos mais variados assuntos de interesse maçônico.
Lojas de Mestres
Entretanto, muito antes, em nossa história, há evidências de um tipo similar de Lojas, as Masters´ Lodges (Lojas de Mestres). Uma antiga lista de Lojas, encontrada na Biblioteca Bodleian, em Oxford, e compilada, em 1733, pelo Dr. Richard Rawlinson, menciona a Loja Nº 116 (que abeteu Colunas em 1736), referindo-se a ela como uma Loja de Mestres. Nem uma Loja de
Mestres Instalados nem uma Loja de Past Masters, mas uma Loja de Mestres. Rawlinson era um Maçom ativo e Fellow da Royal Society, que deixou uma grande e importante coleção de documentos, muitos relacionados à Franco-Maçonaria, para a Bodleian Libracy, em 1755. Muita pesquisa foi feita para entender o significado dessas Lojas de Mestres, mas ainda não se chegou à conclusão de quais pudessem ter sido suas funções. A primeira listagem que temos das Lojas Maçônicas na Inglaterra aparece no primeiro Livro das Constituições, de Anderson, publicado em abril de 1723. Ao final do Regulamento Geral, uma listagem de duas páginas termina com os nomes do Grão-Mestre, Deputado do Grão-Mestre, Grandes Vigilantes e “os Mestres e Vigilantes de Lojas particulares”. A listagem tem vinte itens, com numeração em algarismos romanos, sem, entretanto, citar quais os locais de reunião, impedindo assim a identificação das Lojas, a não ser pelos nomes dos Veneráveis e Vigilantes das Lojas. A Primeira Grande Loja começou a publicar uma listagem separada dos locais de reunião das várias Lojas sob sua jurisdição,em diversas partes do mundo, as Engraved Lists of Lodges (Listas Gravadas de Lojas). Eram chamadas listas gravadas para diferenciá-las das listagens comuns, impressas tipograficamente, com tipos móveis. Cada Loja tinha seus dados gravados em placas de cobre individuais.(1)Este sistema permitia ao editor das lista, geralmente um gravador qualificado, acrescentar desenhos em miniatura dos letreiros e nomes das diversas tavernas em que as Lojas se reuniam e que lhes davam os nomes por que eram conhecidas naqueles primórdios. As Engraved Lists of Lodges foram as predecessoras imediatas dos almanaques Maçônicos ingleses, o primeiro dos quais apareceu em 1756. Em 1777, apareceram os calendários da Grande Loja – que desde 1908 têm sidos publicados como Masonic Year Books (Livros do Ano Maçônico), distribuídos a cada Loja inglesa, anualmente. Somente nas Listas Gravadas de 1729 apareceu a numeração das Lojas. Na Lista de 1733, como vimos, apareceu a Loja Nº 116, mencionada antes na lista de Rawlinson. Está também mencionada a Loja Nº 117, que se reunia na taverna King´s Arms(Armas do Rei). Essas duas eram Lojas de Mestres, como também a Loja Nº 120, que se reunia na Oate´s Coffee House.Essas Lojas de Mestres e muitas outras citadas em edições posteriores das Listas são, invariavelmente, afiliadas a uma Loja. Não eram Lojas independentes. Em outras palavras, a Lista Gravada, depois de fornecer os dados de uma Loja, declara, de passagem. “Domingos de Lojas de Mestres”. Diferentes das Lojas a que estavam afiliadas, estas invariavelmente se reuniam aos domingos. E com razoável freqüência. Não há registros de que uma Loja de Mestres tenha jamais sido constituída como uma entidade separada, nem tampouco de qualquer carta constitutiva em separado para uma delas. As Lojas de Mestre sempre fizeram parte de uma Loja Simbólica. Tanto assim que foram mencionadas como uma Loja dentro de outra. Poucas atas de Lojas de Mestre foram descobertas. As atas identificadas como tal referem-se apenas às relações entre elas e as Lojas simbólicas que lhes davam abrigo. Nem há qualquer referência ou qualquer detalhe acerca do trabalho ritualístico nelas executado.
Surge o Terceiro Grau
Julgando pelas aparências, a função mais óbvia de uma Loja de Mestres seria conferir o Terceiro Grau. Isso, aliás, parece ter suporte no fato de que as Lojas de Mestres apareceram na mesma época em que a Lenda de Hiram emergiu como um terceiro Grau em separado. Embora não saibamos nada do trabalho ritualístico das Lojas antes de 1730, pode-se afirmar que, até aquela
data, somente dois Graus eram praticados, o de Entered Apprentice (Aprendiz Registrado), como primeiro Grau, e Fellow of fhe Craft (Companheiro de Ofício) ou Master Mason (Mestre Maçom), como segundo.(2) Somente em 1730, com a publicação da famosa inconfidência de Samuel Prichard, Maçonaria Dissecada, é que um terceiro Grau – a Lenda de Hiram – algo semelhante ao que praticamos hoje, exceto pelo seu estilo de catecismo, apareceria como parte separado do ritual. O que fica muito claro, nesse período inicial de nossa história, é que a maioria dos Irmãos trabalhava um sistema de dois Graus e que estavam bem satisfeitos com isso. Ser um Companheiro do Ofício tinha um status de respeitabilidade, permitindo que o Irmão se tornasse Mestre de sua Loja, além de garantir-lhe muitos outros privilégios, incluindo qualificação para os postos na Grande Loja. Com o aparecimento e a lenta integração de um terceiro e novo Grau, dentro do sistema que até então somente tinha dois, a maioria das Lojas não estavam habilitadas a conferi-lo, simplesmente porque não tinham conhecimento ritualístico prático. O número de membros qualificados, capazes de trabalhar o Terceiro grau era mínimo e insuficiente para que as Lojas o conferissem. Assim, especula-se com alguma propriedade, foram criadas Lojas de Mestres especiais, dentro da estrutura de algumas das Lojas já existentes, cuja composição de Mestres Maçons experimentados lhes permitisse a missão de conferir esse Terceiro Grau a Irmãos devidamente qualificados. Mas, por mais razoável que seja essa teoria, não há nada em que ela possa se apoiar. Uma possibilidade, um tanto irônica, é que o sucesso da inconfidência de Prichard, Maçonaria Dissecada, (teve três edições em onze dias), publicado como um ataque aos Maçons, tenha acontecido porque os próprios Maçons compraram cópias do panfleto. Embora o suposto objetivo fosse permitir a não Maçons o acesso às reuniões Maçônicas, pela divulgação das cerimônias e dos alegados segredos da Ordem, o panfleto foi uma bênção para os Mestres Maçons contemporâneos, encarregados de conferir o novo Terceiro Grau. Aqui estava o equivalente de um ritual, com o Grau completo, acessível e impresso! As Lojas de Mestres constantes nas Listas Gravadas são relacionadas anualmente até 1737. Há, ainda, uma breve menção a elas, sem maiores comentários, na segunda edição (1738) do Livro das Constituições. Daí por diante, cessam abruptamente as referências a essas Lojas especiais. Uma explicação lógica para o desaparecimento das Lojas de Mestres das Listas é que, lá por volta de 1737-1738, uma década depois da adoção da Lenda de Hiram como um Terceiro Grau distinto, as maiorias das Lojas já dispunham de Mestres Maçons suficientes para conferir o Grau elas mesmas, sem necessitar de Lojas de Mestres em separado. E assim elas foram descartadas. Esse é o encadeamento lógico, ainda que sem comprovação definitiva, dos que acreditam que o propósito exclusivo das Lojas de Mestres tenha sido elevar os Companheiros ao terceiro e sublime Grau de Mestre Maçom. Mas não é o fim da história. Reaparecimento Depois de um lapso de 12 anos e, por assim dizer, sem aviso, as Lojas de Mestres aparecem novamente nas Listas Gravadas de 1750, continuando então ininterruptamente até a época da União, em 1813. Por que essa necessidade de reviver as Lojas de Mestres após 1750? Os argumentos baseados na utilidade delas para conferir o Terceiro Grau já não fazem sentido. Uma das respostas plausíveis é que o reaparecimento delas teria ocorrido para acomodar a recente e crescente popularidade doReal Arco. Não há indicação de quando ou mesmo onde começou a Maçonaria do Real Arco. A primeira evidência que temos está num panfleto datado de 1744, intitulado A Serious and Impartial ENQUIRY Into the Cause of the present Decay of Freemasonry In the Kingdom of Ireland (Uma investigação Séria e Imparcial das Causas da presente Decadência da Franco-Maçonaria no Reino da Irlanda), do Dr. Fifield Dassigny.(3) A partir de 1750, há indícios de atividades no Real Arco em Londres, individualmente, por Maçons pertencentes à Primeira Grande Loja, apesar das objeções da Obediência em reconhecer o Real Arco(Sistema Inglês))como uma Ordem adicional e separada. Em que tenham pesado essas objeções, reuniões da nova Ordem parecem ter sido levadas a cabo tanto em Lojas Simbólicas quanto em Capítulos do Real Arco, especialmente convertidos. Entrementes, como conseqüência de uma considerável e geral insatisfação com a Franco-Maçonaria, uma rival, a nova Grande Loja dos Antigos, foi formada em 1751, que logo contaria com os serviços de Grande Secretário muito dinâmico, Laurence Dermott. Dentro de pouco tempo, a nova Grande Loja incorporou formalmente o Real Arco, como parte integral da Antiga Maçonaria. Esse acontecimento inesperado colocou os Irmãos que eram Maçons do Real Arco e que pertenciam à Primeira Grande Loja num dilema. Sua própria Grande Loja recusava-se a reconhecer ou aceitar qualquer Grau ou Ordem além dos três Graus da Maçonaria Simbólica, enquanto os Irmãos da rival Grande Loja dos Antigos estavam praticando o Real Arco livremente, como um Grau separado, formal e reconhecido.
Chapter of Compact
São essas as circunstâncias que devem ter levado ao restabelecimento das Masters´Lodges depois de 1750; um lugar para osCompanheiros(4) da Primeira Grande Loja para praticar o Real Arco além das vistas, por assim dizer, da sua própria Grande Loja. Novamente encaramos uma teoria viável e possível, mas também sem qualquer evidência. Essa teoria quanto à função das Lojas de Mestres, depois de 1750, de acomodar a prática do Real Arco, às escondidas, por membros da Primeira Grande Loja, ainda que plausível, gera tantas novas perguntas quanto as que resolvem. Por exemplo, a Sociedade dos Maçons do Real Arco (Society of Royal Arch Masons) foi formada sob a autoridade do Excelente Grande e Real Capítulo (The Excellent Grand and Royal Chapter), em 10 de julho de 1765. Um ano depois, em 22 de julho de 1766, o Charter
of Compact (Carta do Acordo) foi assinado por Lord Blayney e pelos membros mais graduados do Real Arco. Este foi um golpe de mestre dos partidários do Real Arco. Lord Blayney que se tornou o Primeiro Grande Principal e encabeçou o Corpo recém formado, era também Grão-Mestre da Primeira Grande Loja na época da assinatura do Chapter of Compact. Se considerarmos as objeções que a Primeira Grande Loja(5) fazia abertamente ao Grau, foi um feito extraordinário para os Maçons do Real Arco obter o apadrinhamento do Grão-Mestre de sua própria Grande Loja.Agora, finalmente, os membros da Primeira Grande Loja poderiam praticar aberta e formalmente, sem obstáculos, a Maçonaria do Real Arco. Sob essas novas circunstâncias, caso a função das Lojas de Mestres tivesse sido encobrir a prática do Real Arco por Maçons da Grande Loja dos Modernos, tais Lojas não mais seriam necessárias com o advento do Supremo Grande Capítulo.Ainda assim, as Master´s Lodges continuam a aparecer como Lojas ativas, relacionadas, como anteriormente, até bem depois de 1766. O ministério permanece e continua. Que novas funções teriam as Lojas de Mestres que justificassem sua contínua existência de 1766 a 1813? Nós não sabemos.
Além do Simbolismo
Pode-se, teoricamente, concluir que as Lojas de Mestre foram estabelecidas para permitir a prática de outros Graus e Ordens além do Simbolismo – Ordens que tinham ainda que ser formalmente reconhecidas e organizadas. Tal teoria é possível, mas falha, porque, se esse fosse o caso, não há razões para não terem continuado suas atividades após a União de 1813. Repentinamente, as Lojas de Mestre cessaram por completo, imediatamente antes de se consumar a União, em dezembro de 1813. Um bom exemplo é a Old Fortitude and Cumberland Lodge, hoje com o número 12, a terceira das quatro Lojas de Tempos Imemoriais. Ela tinha sua própria Loja de Mestres, trabalhando de 1803 a 1813. Daí para diante, não há registros ou evidências de qualquer reunião aos domingos. As Ordens além do Simbolismo(6) continuaram suas atividades variadas depois da União, a despeito da tentativa de suprimi-las pelo Duque de Sussex. Tivessem elas exercendo essa função de praticar os Graus além do Simbolismo, sua utilidade após a União seria imensa. Todavia, nenhuma Loja declarar ter tido uma Loja de Mestres após a União. Assim, fica sem suporte a teoria de que as Lojas de Mestres teriam servido para a prática dos Graus e Ordens além do Simbolismo. Uma última teoria, talvez a mais viável, é que as Lojas de Mestres continuaram, depois de 1750 até 1813, para conferir um único
e muito especial tipo de Grau, o de Constructive Master (Mestre Construtivo). Hoje, somente os três Principais de um Capítulo do Arco Real (inglês) precisam ser Past Masters de uma Loja Simbólica. Mas, antigamente, este não era o caso. Tanto os membros da Grande Loja dos Antigos quanto os do Supremo Grande Capítulo (assim chamado só após de 1816) exigiam que todos os Maçons do Arco Real fossem Past Masters em Lojas Simbólicas. Isto causou um grande problema: simplesmente não havia Maçons qualificados para tornarem-se membros do Real Arco. Para resolver o problema e aumentar o número de Maçons do Real Arco, foi inventado o Grau de Mestre Construtivo ou Virtual. Aqueles que fossem Mestres Maçons, mas que não tivessem ainda sido conduzidos à Cadeira de Salomão, eram feitos Past Masters numa sessão curta, abreviada, durante a qual eram simbolicamente instalados, sendo conduzidos à cadeira do Mestre por um breve momento. (7) A cerimônia, embora não lhes garantisse o status de um Venerável de Loja, permitia-lhes entrar para o Real Arco. Esta pode ter sido a cerimônia realizada nas Lojas de Mestre no período até a União. Em várias jurisdição, notavelmente nos
Estados Unidos, a cerimônia de Mestre Virtual ainda é praticada hoje. Esta teoria também não tem evidência alguma que a suporte. O que podemos deduzir é que, logo após a União das Duas
Grandes Lojas, as práticas no Real Arco foram padronizadas, abolindo a necessidade da cerimônia do Mestre Virtual e, assim, também das Lojas de Mestres após 1813. Ou será que a ausência das Lojas de Mestres, depois dessa data, seja apenas devido a terem mudado seus nomes originais ou adotado outros? Eis aí mais uma especulação a acrescentar nesse trecho, inacabado e fascinante, da história de nossos primórdios.
Bibliografia
Cryer, Revd. Neville Barker: The Master´s Part: a re-appraisal, in (1997) AQC 110:21
Hughan, W J: The Old Charges of British Freemasons, 1872 (2nd edn. 1895)
Hutton, B P: Masonic Year Book in The Masonic Square, June 1976, v2 p-45
Jones, B E: Masters´Lodge and their place in Per-Union History, in (1954) AQC 67
Lane, John: Masters´Lodges, in (1886-1888) AQC 1:167
Notas
(1) Hoje, para fazer um trabalho semelhante ao das Engraved Lists, você senta no seu micro, digita o texto e edita. Aí,
se não sabe desenhar, escaneia (ou chupa, na linguagem dos micreiros...) de algum impresso ou da net, insere no seu
arquivo, salva e pronto. Tecla print e sua impressora deskjet faz quantas cópias você queira de um trabalho que pode
ter, se você levar jeito para a coisa, uma aparência profissional.
Voltando à época das Engraved Lists, os desenhos só podiam ser reproduzidos de duas formas. Na xilogravura, o
desenho era copiado para um bloco de madeira, onde as partes que não seriam impressas eram escavadas, para deixar
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em relevo apenas os traços do desenho. Na gravura em metal, o desenho era copiado para uma placa de cobre, onde era
escavado com a ponta de um buril, tanto desenho como texto.
Como na xilogravura os desenhos estavam em relevo, podiam ser impressos simultaneamente com o texto, num
sistema conhecido por tipografia, tal como Gutemberg o fez. Entintava-se as superfícies em relevo e imprensava-se
sobre elas a folha de papel.
Na gravura, a folha de papel também era imprensada sobre a matriz de cobre, mas a tinta ficava depositada dentro da
cavidades aberta pelo buril. Assim, o impressor passava a tinta e limpava a matriz, para então imprensar a folha
branca sobre ela. A impressão da gravura dava muito mais trabalho, mas permitia soluções criativas, impossíveis de
obter com xilogravura e tipos de chumbo.
Quando você sentar-se no seu micro, com as imensas facilidades que o progresso colocou à sua disposição, renda uma
pequena homenagem àqueles predecessores que realizaram o mesmo trabalho diante de imensas dificuldades.
(2) Por não estar habituados à cultura medieval, muitos desconhecem o título completo do Maçom no Primeiro Grau:
Entered Apprentice, que podemos traduzir, ao pé da letra, como Aprendiz Registrado. Conta Harry Carr, em seu
Freemason at Work (A Lewis, 1989), que “em Edinburgh, era a regra que todo aprendiz devia ser registrado no livro de
Registro de Aprendizes da cidade, ao início de seu contrato (indenture)”. Os registros de 1813 para cá ainda existem.
Na Maçonaria especulativa, o termo completo aparece apenas na década de 1720. Os Graus Simbólicos ingleses são
abreviados como E. A. (Entered Apptrentice), F. C. (Fellow of the Craft) e M. M. (Máster Mason).
(3) Veja você há quanto tempo se diz que a Maçonaria está decadente... Se Bastos Tigre tivesse sido Maçom,
certamente teria dito: “Veja, ilustre passageiro / O Maçom sério e faceiro / Que está bem ao seu lado. / No entanto,
acredite, / Quase morreu de bronquite. / Salvou-o o Rhum Chreosoto”... (desculpem a blague, mas foi irresistível...)
(4) O título Companheiro, dado ao Maçom do Real Arco, não tem a raiz etimológica ou o significado intrínseco do
Companheiro do Simbolismo. O termo Companheiro do Segundo Grau Simbólico vem do inglês Fellow of the Craft, que
significa colega ou camarada de ofício. Companheiro, no Real Arco, vem da raiz latina – cum panis, com pão, aquele
com quem se reparte o pão.
(5) A essa época, a Primeira Grande Loja já havia sido desdenhosamente apelidade de Grande Loja dos Modernos por
Laurence Dermott.
(6) Beyond the Craft (Além do Simbolismo). Este é o termo pelo qual a Franco-Maçonaria inglesa designa todos os
Altos Graus, incluindo o Rito Escocês Antigo e Aceito. O Arco Real inglês, entretanto, foi amarrado, na União de 1813,
nos Graus Simbólicos. Essa solução política, que permitiu unificar as duas Grandes Lojas, colocou-o numa situação
peculiar, diferente da ordenação racional do sistema americano.
(7) No Real Arco americano, que é Maçonaria Capitular, isto é, faz parte dos Graus além dos Simbolismo, o Grau de
Past Master é o segundo dos quatro Graus, todos relacionados à lenda de Hiram. O primeiro, Mestre de Marca,
origina-se do Grau de Companheiro no Simbolismo, onde, entre outras tradições, revive-se o pagamento dos Obreiros
ns pedreiras. O Grau de Past Master é justamente o que permite que o Mestre Maçom, feito Mestre Virtual, possa
testemunhar a terminação e a dedicação do Templo do Rei Salomão, o que ocorre no Grau seguinte, Mui Excelente
Mestre. O último Grau, Maçom do Real Arco, semelhante ao seu homônimo inglês, trata da reconstrução do Templo.
Autor: Irm. Yasha Beresiner, M. I., M.R.A., publicado na Revista Cultura Maçônica “ENGENHO & ARTE” na Maçonaria
Universal, nº 11, Primavera 2002, págs. 26 a 30.
N.E.: Artigo enviado pelo Ir.: ROBERTO GOMES
(Tradução de J. W. Kreutzer-Bach)
Em dezembro de 1996, tive o prazer de assistir, como um dos muitos fundadores, a consagração da Loja Montefiore Nº 78, a primeira Loja de Mestres Instalados da Grande Loja do Estado de Israel. O evento ocorreu num ambiente único, de 3.000 anos de idade: as pedreiras do Rei Salomão, no centro de Jerusalém. Conduzido pelo então Grão Mestre, Irm. Ephraim Fuchs, foi assistido por mais de 300 Irmãos de 24 Obediências, um reflexo da influência dos membros fundadores fora do Estado de Israel, especialmente da Inglaterra. Anos depois, estamos ainda discutindo sobre o que venha a ser uma Loja de Mestres Instalados. Entre os fundadores incluíam-se muitos Irmãos que participavam ativamente da Euclid Lodge of Installed Masters (Loja Euclides de Mestres Instalados) Nº 7464, sob a Grande Loja Unida da Inglaterra. Pudemos assim discorrer sobre o fenômeno das Lojas de Mestres Instalados, que começou na Inglaterra, mais para o final do século XIX. Em Israel, como na Inglaterra, surpreendentemente, as Lojas de Past Masters ou de Installed Masters não são mencionadas na Constituição. Esses títulos são usados de forma indiferente, embora existam diferenças. Enquanto uma Loja de Mestres Instalados admite Veneráveis e Past Masters, a Loja de Past Masters é constituída apenas de Irmãos que completaram seus termos como Veneráveis de suas respectivas Lojas. As Lojas de Past Masters são freqüentemente criadas por uma razão oucom um fim definidos.
Past vs. Instalados
A mui prestigiosa Gand Stewards´ Lodge (Loja dos Grandes Mordomos), que hoje figura no topo da lista de Lojas da Grande Loja Unida da Inglaterra e não tem número, é um exemplo clássico de uma Loja de Past Masters. Aqueles que, por alguns anos, haviam servido a Grande Loja como Stewards (Mordomos) reuniram-se como uma Loja pela primeira vez em junho de 1735, ainda sem Carta Constitutiva. Ela foi ratificada, três anos depois, no segundo Livro das Constituições, de Anderson, de 1738. Onovo Artigo XXIII estabelecia: “A pedido daqueles que tenham sido Stewards, a Grande Loja, em consideração a seus serviços prestados e futuros préstimos, ordena”:“1. Que se constituam numa Loja de Mestres, a ser chamada Stewards Lodge, a ser registrada como tal nos livros da Grande Loja e em suas Listas impressas, com a hora e o lugar de suas reuniões. [...]” .Inicialmente foi dado o número 117 à Loja. Em 1792, recebeu o nome de Grand Stewards´ Lodge e colocada no topo da lista das Lojas, sem ter um número. Ela manteve a mesma posição na época da União, em dezembro de 1813, e ali continua até hoje.Seus membros, hoje, permanecem sendo aqueles que ocuparam o cargo de Grande Mordomo, que, por sua vez , devem ter sidoPast Masters de uma das chamadas Red Apron Lodges (Lojas de Avental Vermelho). Essas são as dezenove Lojas que detêm o privilégio muito especial de indicar um de seus membros para ser nomeado Grand Steward pelo Grão-Mestre. De 1731 em diante, os aventais e colares usados pelos Grand Stewards e Past Grand Stewards são vermelhos, daí a referência a Lojas de Avental Vermelho. Dois outros exemplos de Lojas de Past Masters são as Lojas de Promulgação e de Reconciliação, especialmente criadas pela Primeira Grande Loja como preparação para a União das Grandes Lojas de Antigos e Modernos, em 1813. A Lodge of Promulgation foi formada em 1809 e consistia do Venerável Mestre, Vigilantes e 23 Maçons de posição, incluindo diversos Grão-Mestres Provinciais e Grandes Primeiros Vigilantes. Tinha por missão promulgar os antigos landmarks da Ordem entre os Irmãos e assegurar a uniformidade e a concórdia entre as Grandes Lojas dos Antigos e Modernos. A Lodge of Reconciliation foi formada em 7 de dezembro de 1813, poucos dias antes da União, que aconteceria em 27 do mesmo mês. O Duque de Sussex, indicado para ser o primeiro Grão-Mestre da recém-formada Grande Loja Unida da Inglaterra, estava bem a par dos problemas que enfrentaria entre eles a reconciliação dos trabalhos ritualísticos dos dois Corpos rivais. Assim, a Loja de Reconciliação foi formada, reunindo nove Irmãos experientes de cada uma das duas Grandes Lojas. A eles coube formular o Juramento e a Cerimônia de Instalação do Grão-Mestre. As Lojas de Past Masters freqüentemente tinham vida curta. As Lojas de Promulgação e de Reconciliação foram dissolvidas tão logo cumpriram suas missões. Lojas mais permanentes, como a Grand Stewards´s Lodge, a Scrutator Lodge (do latim, significando pesquisador. Investigador) nº 9379 e outras semelhantes, não trabalham a ritualística. Como os membros são convidados ou nomeados, não há cerimônias de Iniciação ou de Elevação de Grau, somente a de Instalação anual de um novoVenerável Mestre.Como dissemos, uma Loja de Mestres Instalados é um conceito novo, sendo a evidência mais antiga uma tentativa fracassada de estabelecer uma Loja nesses moldes na Província de Derbyshire, por volta da década de 1870. Hoje, as Lojas de Mestres Instalados desfrutam de um sucesso excepcional na jurisdição inglesa. Irmãos experientes e abertos reunim-se para ouvir palestras e discutir aspectos da Maçonaria que julgam importantes. As reuniões, sempre descontraídas e amigáveis, são o meio ideal para disseminar conhecimentos e informações às outras Lojas. As Lojas de Mestres Instalados têm proporcionado uma audiência cativa de Irmãos interessados, ideal para palestras e discussões dos mais variados assuntos de interesse maçônico.
Lojas de Mestres
Entretanto, muito antes, em nossa história, há evidências de um tipo similar de Lojas, as Masters´ Lodges (Lojas de Mestres). Uma antiga lista de Lojas, encontrada na Biblioteca Bodleian, em Oxford, e compilada, em 1733, pelo Dr. Richard Rawlinson, menciona a Loja Nº 116 (que abeteu Colunas em 1736), referindo-se a ela como uma Loja de Mestres. Nem uma Loja de
Mestres Instalados nem uma Loja de Past Masters, mas uma Loja de Mestres. Rawlinson era um Maçom ativo e Fellow da Royal Society, que deixou uma grande e importante coleção de documentos, muitos relacionados à Franco-Maçonaria, para a Bodleian Libracy, em 1755. Muita pesquisa foi feita para entender o significado dessas Lojas de Mestres, mas ainda não se chegou à conclusão de quais pudessem ter sido suas funções. A primeira listagem que temos das Lojas Maçônicas na Inglaterra aparece no primeiro Livro das Constituições, de Anderson, publicado em abril de 1723. Ao final do Regulamento Geral, uma listagem de duas páginas termina com os nomes do Grão-Mestre, Deputado do Grão-Mestre, Grandes Vigilantes e “os Mestres e Vigilantes de Lojas particulares”. A listagem tem vinte itens, com numeração em algarismos romanos, sem, entretanto, citar quais os locais de reunião, impedindo assim a identificação das Lojas, a não ser pelos nomes dos Veneráveis e Vigilantes das Lojas. A Primeira Grande Loja começou a publicar uma listagem separada dos locais de reunião das várias Lojas sob sua jurisdição,em diversas partes do mundo, as Engraved Lists of Lodges (Listas Gravadas de Lojas). Eram chamadas listas gravadas para diferenciá-las das listagens comuns, impressas tipograficamente, com tipos móveis. Cada Loja tinha seus dados gravados em placas de cobre individuais.(1)Este sistema permitia ao editor das lista, geralmente um gravador qualificado, acrescentar desenhos em miniatura dos letreiros e nomes das diversas tavernas em que as Lojas se reuniam e que lhes davam os nomes por que eram conhecidas naqueles primórdios. As Engraved Lists of Lodges foram as predecessoras imediatas dos almanaques Maçônicos ingleses, o primeiro dos quais apareceu em 1756. Em 1777, apareceram os calendários da Grande Loja – que desde 1908 têm sidos publicados como Masonic Year Books (Livros do Ano Maçônico), distribuídos a cada Loja inglesa, anualmente. Somente nas Listas Gravadas de 1729 apareceu a numeração das Lojas. Na Lista de 1733, como vimos, apareceu a Loja Nº 116, mencionada antes na lista de Rawlinson. Está também mencionada a Loja Nº 117, que se reunia na taverna King´s Arms(Armas do Rei). Essas duas eram Lojas de Mestres, como também a Loja Nº 120, que se reunia na Oate´s Coffee House.Essas Lojas de Mestres e muitas outras citadas em edições posteriores das Listas são, invariavelmente, afiliadas a uma Loja. Não eram Lojas independentes. Em outras palavras, a Lista Gravada, depois de fornecer os dados de uma Loja, declara, de passagem. “Domingos de Lojas de Mestres”. Diferentes das Lojas a que estavam afiliadas, estas invariavelmente se reuniam aos domingos. E com razoável freqüência. Não há registros de que uma Loja de Mestres tenha jamais sido constituída como uma entidade separada, nem tampouco de qualquer carta constitutiva em separado para uma delas. As Lojas de Mestre sempre fizeram parte de uma Loja Simbólica. Tanto assim que foram mencionadas como uma Loja dentro de outra. Poucas atas de Lojas de Mestre foram descobertas. As atas identificadas como tal referem-se apenas às relações entre elas e as Lojas simbólicas que lhes davam abrigo. Nem há qualquer referência ou qualquer detalhe acerca do trabalho ritualístico nelas executado.
Surge o Terceiro Grau
Julgando pelas aparências, a função mais óbvia de uma Loja de Mestres seria conferir o Terceiro Grau. Isso, aliás, parece ter suporte no fato de que as Lojas de Mestres apareceram na mesma época em que a Lenda de Hiram emergiu como um terceiro Grau em separado. Embora não saibamos nada do trabalho ritualístico das Lojas antes de 1730, pode-se afirmar que, até aquela
data, somente dois Graus eram praticados, o de Entered Apprentice (Aprendiz Registrado), como primeiro Grau, e Fellow of fhe Craft (Companheiro de Ofício) ou Master Mason (Mestre Maçom), como segundo.(2) Somente em 1730, com a publicação da famosa inconfidência de Samuel Prichard, Maçonaria Dissecada, é que um terceiro Grau – a Lenda de Hiram – algo semelhante ao que praticamos hoje, exceto pelo seu estilo de catecismo, apareceria como parte separado do ritual. O que fica muito claro, nesse período inicial de nossa história, é que a maioria dos Irmãos trabalhava um sistema de dois Graus e que estavam bem satisfeitos com isso. Ser um Companheiro do Ofício tinha um status de respeitabilidade, permitindo que o Irmão se tornasse Mestre de sua Loja, além de garantir-lhe muitos outros privilégios, incluindo qualificação para os postos na Grande Loja. Com o aparecimento e a lenta integração de um terceiro e novo Grau, dentro do sistema que até então somente tinha dois, a maioria das Lojas não estavam habilitadas a conferi-lo, simplesmente porque não tinham conhecimento ritualístico prático. O número de membros qualificados, capazes de trabalhar o Terceiro grau era mínimo e insuficiente para que as Lojas o conferissem. Assim, especula-se com alguma propriedade, foram criadas Lojas de Mestres especiais, dentro da estrutura de algumas das Lojas já existentes, cuja composição de Mestres Maçons experimentados lhes permitisse a missão de conferir esse Terceiro Grau a Irmãos devidamente qualificados. Mas, por mais razoável que seja essa teoria, não há nada em que ela possa se apoiar. Uma possibilidade, um tanto irônica, é que o sucesso da inconfidência de Prichard, Maçonaria Dissecada, (teve três edições em onze dias), publicado como um ataque aos Maçons, tenha acontecido porque os próprios Maçons compraram cópias do panfleto. Embora o suposto objetivo fosse permitir a não Maçons o acesso às reuniões Maçônicas, pela divulgação das cerimônias e dos alegados segredos da Ordem, o panfleto foi uma bênção para os Mestres Maçons contemporâneos, encarregados de conferir o novo Terceiro Grau. Aqui estava o equivalente de um ritual, com o Grau completo, acessível e impresso! As Lojas de Mestres constantes nas Listas Gravadas são relacionadas anualmente até 1737. Há, ainda, uma breve menção a elas, sem maiores comentários, na segunda edição (1738) do Livro das Constituições. Daí por diante, cessam abruptamente as referências a essas Lojas especiais. Uma explicação lógica para o desaparecimento das Lojas de Mestres das Listas é que, lá por volta de 1737-1738, uma década depois da adoção da Lenda de Hiram como um Terceiro Grau distinto, as maiorias das Lojas já dispunham de Mestres Maçons suficientes para conferir o Grau elas mesmas, sem necessitar de Lojas de Mestres em separado. E assim elas foram descartadas. Esse é o encadeamento lógico, ainda que sem comprovação definitiva, dos que acreditam que o propósito exclusivo das Lojas de Mestres tenha sido elevar os Companheiros ao terceiro e sublime Grau de Mestre Maçom. Mas não é o fim da história. Reaparecimento Depois de um lapso de 12 anos e, por assim dizer, sem aviso, as Lojas de Mestres aparecem novamente nas Listas Gravadas de 1750, continuando então ininterruptamente até a época da União, em 1813. Por que essa necessidade de reviver as Lojas de Mestres após 1750? Os argumentos baseados na utilidade delas para conferir o Terceiro Grau já não fazem sentido. Uma das respostas plausíveis é que o reaparecimento delas teria ocorrido para acomodar a recente e crescente popularidade doReal Arco. Não há indicação de quando ou mesmo onde começou a Maçonaria do Real Arco. A primeira evidência que temos está num panfleto datado de 1744, intitulado A Serious and Impartial ENQUIRY Into the Cause of the present Decay of Freemasonry In the Kingdom of Ireland (Uma investigação Séria e Imparcial das Causas da presente Decadência da Franco-Maçonaria no Reino da Irlanda), do Dr. Fifield Dassigny.(3) A partir de 1750, há indícios de atividades no Real Arco em Londres, individualmente, por Maçons pertencentes à Primeira Grande Loja, apesar das objeções da Obediência em reconhecer o Real Arco(Sistema Inglês))como uma Ordem adicional e separada. Em que tenham pesado essas objeções, reuniões da nova Ordem parecem ter sido levadas a cabo tanto em Lojas Simbólicas quanto em Capítulos do Real Arco, especialmente convertidos. Entrementes, como conseqüência de uma considerável e geral insatisfação com a Franco-Maçonaria, uma rival, a nova Grande Loja dos Antigos, foi formada em 1751, que logo contaria com os serviços de Grande Secretário muito dinâmico, Laurence Dermott. Dentro de pouco tempo, a nova Grande Loja incorporou formalmente o Real Arco, como parte integral da Antiga Maçonaria. Esse acontecimento inesperado colocou os Irmãos que eram Maçons do Real Arco e que pertenciam à Primeira Grande Loja num dilema. Sua própria Grande Loja recusava-se a reconhecer ou aceitar qualquer Grau ou Ordem além dos três Graus da Maçonaria Simbólica, enquanto os Irmãos da rival Grande Loja dos Antigos estavam praticando o Real Arco livremente, como um Grau separado, formal e reconhecido.
Chapter of Compact
São essas as circunstâncias que devem ter levado ao restabelecimento das Masters´Lodges depois de 1750; um lugar para osCompanheiros(4) da Primeira Grande Loja para praticar o Real Arco além das vistas, por assim dizer, da sua própria Grande Loja. Novamente encaramos uma teoria viável e possível, mas também sem qualquer evidência. Essa teoria quanto à função das Lojas de Mestres, depois de 1750, de acomodar a prática do Real Arco, às escondidas, por membros da Primeira Grande Loja, ainda que plausível, gera tantas novas perguntas quanto as que resolvem. Por exemplo, a Sociedade dos Maçons do Real Arco (Society of Royal Arch Masons) foi formada sob a autoridade do Excelente Grande e Real Capítulo (The Excellent Grand and Royal Chapter), em 10 de julho de 1765. Um ano depois, em 22 de julho de 1766, o Charter
of Compact (Carta do Acordo) foi assinado por Lord Blayney e pelos membros mais graduados do Real Arco. Este foi um golpe de mestre dos partidários do Real Arco. Lord Blayney que se tornou o Primeiro Grande Principal e encabeçou o Corpo recém formado, era também Grão-Mestre da Primeira Grande Loja na época da assinatura do Chapter of Compact. Se considerarmos as objeções que a Primeira Grande Loja(5) fazia abertamente ao Grau, foi um feito extraordinário para os Maçons do Real Arco obter o apadrinhamento do Grão-Mestre de sua própria Grande Loja.Agora, finalmente, os membros da Primeira Grande Loja poderiam praticar aberta e formalmente, sem obstáculos, a Maçonaria do Real Arco. Sob essas novas circunstâncias, caso a função das Lojas de Mestres tivesse sido encobrir a prática do Real Arco por Maçons da Grande Loja dos Modernos, tais Lojas não mais seriam necessárias com o advento do Supremo Grande Capítulo.Ainda assim, as Master´s Lodges continuam a aparecer como Lojas ativas, relacionadas, como anteriormente, até bem depois de 1766. O ministério permanece e continua. Que novas funções teriam as Lojas de Mestres que justificassem sua contínua existência de 1766 a 1813? Nós não sabemos.
Além do Simbolismo
Pode-se, teoricamente, concluir que as Lojas de Mestre foram estabelecidas para permitir a prática de outros Graus e Ordens além do Simbolismo – Ordens que tinham ainda que ser formalmente reconhecidas e organizadas. Tal teoria é possível, mas falha, porque, se esse fosse o caso, não há razões para não terem continuado suas atividades após a União de 1813. Repentinamente, as Lojas de Mestre cessaram por completo, imediatamente antes de se consumar a União, em dezembro de 1813. Um bom exemplo é a Old Fortitude and Cumberland Lodge, hoje com o número 12, a terceira das quatro Lojas de Tempos Imemoriais. Ela tinha sua própria Loja de Mestres, trabalhando de 1803 a 1813. Daí para diante, não há registros ou evidências de qualquer reunião aos domingos. As Ordens além do Simbolismo(6) continuaram suas atividades variadas depois da União, a despeito da tentativa de suprimi-las pelo Duque de Sussex. Tivessem elas exercendo essa função de praticar os Graus além do Simbolismo, sua utilidade após a União seria imensa. Todavia, nenhuma Loja declarar ter tido uma Loja de Mestres após a União. Assim, fica sem suporte a teoria de que as Lojas de Mestres teriam servido para a prática dos Graus e Ordens além do Simbolismo. Uma última teoria, talvez a mais viável, é que as Lojas de Mestres continuaram, depois de 1750 até 1813, para conferir um único
e muito especial tipo de Grau, o de Constructive Master (Mestre Construtivo). Hoje, somente os três Principais de um Capítulo do Arco Real (inglês) precisam ser Past Masters de uma Loja Simbólica. Mas, antigamente, este não era o caso. Tanto os membros da Grande Loja dos Antigos quanto os do Supremo Grande Capítulo (assim chamado só após de 1816) exigiam que todos os Maçons do Arco Real fossem Past Masters em Lojas Simbólicas. Isto causou um grande problema: simplesmente não havia Maçons qualificados para tornarem-se membros do Real Arco. Para resolver o problema e aumentar o número de Maçons do Real Arco, foi inventado o Grau de Mestre Construtivo ou Virtual. Aqueles que fossem Mestres Maçons, mas que não tivessem ainda sido conduzidos à Cadeira de Salomão, eram feitos Past Masters numa sessão curta, abreviada, durante a qual eram simbolicamente instalados, sendo conduzidos à cadeira do Mestre por um breve momento. (7) A cerimônia, embora não lhes garantisse o status de um Venerável de Loja, permitia-lhes entrar para o Real Arco. Esta pode ter sido a cerimônia realizada nas Lojas de Mestre no período até a União. Em várias jurisdição, notavelmente nos
Estados Unidos, a cerimônia de Mestre Virtual ainda é praticada hoje. Esta teoria também não tem evidência alguma que a suporte. O que podemos deduzir é que, logo após a União das Duas
Grandes Lojas, as práticas no Real Arco foram padronizadas, abolindo a necessidade da cerimônia do Mestre Virtual e, assim, também das Lojas de Mestres após 1813. Ou será que a ausência das Lojas de Mestres, depois dessa data, seja apenas devido a terem mudado seus nomes originais ou adotado outros? Eis aí mais uma especulação a acrescentar nesse trecho, inacabado e fascinante, da história de nossos primórdios.
Bibliografia
Cryer, Revd. Neville Barker: The Master´s Part: a re-appraisal, in (1997) AQC 110:21
Hughan, W J: The Old Charges of British Freemasons, 1872 (2nd edn. 1895)
Hutton, B P: Masonic Year Book in The Masonic Square, June 1976, v2 p-45
Jones, B E: Masters´Lodge and their place in Per-Union History, in (1954) AQC 67
Lane, John: Masters´Lodges, in (1886-1888) AQC 1:167
Notas
(1) Hoje, para fazer um trabalho semelhante ao das Engraved Lists, você senta no seu micro, digita o texto e edita. Aí,
se não sabe desenhar, escaneia (ou chupa, na linguagem dos micreiros...) de algum impresso ou da net, insere no seu
arquivo, salva e pronto. Tecla print e sua impressora deskjet faz quantas cópias você queira de um trabalho que pode
ter, se você levar jeito para a coisa, uma aparência profissional.
Voltando à época das Engraved Lists, os desenhos só podiam ser reproduzidos de duas formas. Na xilogravura, o
desenho era copiado para um bloco de madeira, onde as partes que não seriam impressas eram escavadas, para deixar
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em relevo apenas os traços do desenho. Na gravura em metal, o desenho era copiado para uma placa de cobre, onde era
escavado com a ponta de um buril, tanto desenho como texto.
Como na xilogravura os desenhos estavam em relevo, podiam ser impressos simultaneamente com o texto, num
sistema conhecido por tipografia, tal como Gutemberg o fez. Entintava-se as superfícies em relevo e imprensava-se
sobre elas a folha de papel.
Na gravura, a folha de papel também era imprensada sobre a matriz de cobre, mas a tinta ficava depositada dentro da
cavidades aberta pelo buril. Assim, o impressor passava a tinta e limpava a matriz, para então imprensar a folha
branca sobre ela. A impressão da gravura dava muito mais trabalho, mas permitia soluções criativas, impossíveis de
obter com xilogravura e tipos de chumbo.
Quando você sentar-se no seu micro, com as imensas facilidades que o progresso colocou à sua disposição, renda uma
pequena homenagem àqueles predecessores que realizaram o mesmo trabalho diante de imensas dificuldades.
(2) Por não estar habituados à cultura medieval, muitos desconhecem o título completo do Maçom no Primeiro Grau:
Entered Apprentice, que podemos traduzir, ao pé da letra, como Aprendiz Registrado. Conta Harry Carr, em seu
Freemason at Work (A Lewis, 1989), que “em Edinburgh, era a regra que todo aprendiz devia ser registrado no livro de
Registro de Aprendizes da cidade, ao início de seu contrato (indenture)”. Os registros de 1813 para cá ainda existem.
Na Maçonaria especulativa, o termo completo aparece apenas na década de 1720. Os Graus Simbólicos ingleses são
abreviados como E. A. (Entered Apptrentice), F. C. (Fellow of the Craft) e M. M. (Máster Mason).
(3) Veja você há quanto tempo se diz que a Maçonaria está decadente... Se Bastos Tigre tivesse sido Maçom,
certamente teria dito: “Veja, ilustre passageiro / O Maçom sério e faceiro / Que está bem ao seu lado. / No entanto,
acredite, / Quase morreu de bronquite. / Salvou-o o Rhum Chreosoto”... (desculpem a blague, mas foi irresistível...)
(4) O título Companheiro, dado ao Maçom do Real Arco, não tem a raiz etimológica ou o significado intrínseco do
Companheiro do Simbolismo. O termo Companheiro do Segundo Grau Simbólico vem do inglês Fellow of the Craft, que
significa colega ou camarada de ofício. Companheiro, no Real Arco, vem da raiz latina – cum panis, com pão, aquele
com quem se reparte o pão.
(5) A essa época, a Primeira Grande Loja já havia sido desdenhosamente apelidade de Grande Loja dos Modernos por
Laurence Dermott.
(6) Beyond the Craft (Além do Simbolismo). Este é o termo pelo qual a Franco-Maçonaria inglesa designa todos os
Altos Graus, incluindo o Rito Escocês Antigo e Aceito. O Arco Real inglês, entretanto, foi amarrado, na União de 1813,
nos Graus Simbólicos. Essa solução política, que permitiu unificar as duas Grandes Lojas, colocou-o numa situação
peculiar, diferente da ordenação racional do sistema americano.
(7) No Real Arco americano, que é Maçonaria Capitular, isto é, faz parte dos Graus além dos Simbolismo, o Grau de
Past Master é o segundo dos quatro Graus, todos relacionados à lenda de Hiram. O primeiro, Mestre de Marca,
origina-se do Grau de Companheiro no Simbolismo, onde, entre outras tradições, revive-se o pagamento dos Obreiros
ns pedreiras. O Grau de Past Master é justamente o que permite que o Mestre Maçom, feito Mestre Virtual, possa
testemunhar a terminação e a dedicação do Templo do Rei Salomão, o que ocorre no Grau seguinte, Mui Excelente
Mestre. O último Grau, Maçom do Real Arco, semelhante ao seu homônimo inglês, trata da reconstrução do Templo.
Autor: Irm. Yasha Beresiner, M. I., M.R.A., publicado na Revista Cultura Maçônica “ENGENHO & ARTE” na Maçonaria
Universal, nº 11, Primavera 2002, págs. 26 a 30.
N.E.: Artigo enviado pelo Ir.: ROBERTO GOMES
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