terça-feira, 10 de junho de 2008

"As Sete Ciências Liberais”

Autor:Jeffson Magnavita Barbosa Filho

As “Sete Ciências Liberais” da Antiguidade e sua significação Maçônica e, a Reminiscência Monástica Introduzida na Maçonaria.
Na Maçonaria se mencionam muito as sete ciências liberais da antiguidade: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Os pedreiros-livres medievais enalteciam essas artes, nos seus regulamentos, envolvendo-as de lendas “secretas”. Numa época de menor divulgação da cultura, anterior à deste século, os maçons, ingenuamente, acreditavam também que essa arcaica seriação de ciências e artes fosse um mistério incomunicável a profanos, quer porque tivesse relação com o número sete, quer porque, de acordo com a opinião de “entendidos”, podiam representar os degraus que levam o maçom até o trono do Oriente, desde a Grade, como também poderiam ser o significado de certas escadas simbólicas.
A verdade é que as “sete ciências” ou “ artes” eram tudo quanto conheciam os antigos, ainda que os gregos se tivessem referido à física, à filosofia (Pitágoras) e a química fosse desconhecida, pois era praticada já no antigo Egito.
Ocorreu que Boécio (470-525), poeta e filosofo, secretário de Estado ou ministro do monarca ostrogodo Teodorico e, por ordem deste rei, condenado e decapitado, criou a divisão “trivium et quadrivium”, estabelecendo a seriação pela qual as três primeiras ciências deveriam ser a Gramática, a Retórica e a Lógica, e as quatro restantes a Aritmética, a Geometria, a Música e a Astronomia.
Boécio foi autor da “Consolação da Filosofia”, na qual ensinava a vencer as paixões, para conquistar a paz de espírito, a felicidade e a comunhão com Deus. Seu contemporâneo, o macróbio Cassiodoro (468-561 ou mais), depois de ser ministro de Teodorico, retirou-se para um convento que resolvera fundar numa sua propriedade da Apúlia, na Itália, e ordenou aos monges que passassem a copiar os manuscritos antigos e a estudar e praticar as “sete artes liberais”.
Essa prática passou a ser seguida pelos beneditinos, monges da Ordem de São Bento, fundada em 529, em Monte Cassino, cujo célebre mosteiro viria a ser destruído pelos lombardos, em 580.
Os beneditinos foram os principais divulgadores da cultura na Europa medieval. Dedicavam-se ao arroteamento de terras e a vários ofícios e, ao mesmo tempo, entregavam-se aos estudos e à religião. Construíam seus próprios conventos e assim a constituir a Maçonaria monástica (ver nota, mais adiante).
Quando passaram, em parte, a dedicar-se às construções, os beneditinos disseminaram a arte romântica. Depois criaram a própria arte beneditina. Congregando como irmãos (“frates”), nas oficinas que dirigiam os profissionais leigos da arte da construção, chegaram a monopolizar a edificação até o advento da arquitetura gótica, preferida para as catedrais.
A Ordem beneditina criou outras corporações monásticas.
Em 910, beneditinos dispostos a recuperar a severidade monástica, então em decadência, fundaram a célebre abadia de Cluny.
E, 1098 foi fundada a Ordem de Cister, no retiro de Dijon, perto de Citeaux, na França. Entre os monges cistercienses haveriam de surgir operosos construtores e seguidores do exemplo dos beneditinos, seus antecessores e fundadores. Ainda hoje há exemplos de monastérios construídos pelos atuais cistercienses, entre os quais há o Irmão Arquiteto.
Porém, os artistas leigos da construção, seguidores de uma profissão nobre e de velhíssima origem, não ficariam muito tempo sob a total dependência dos monásticos.
Entretanto, quando passaram a construir a Maçonaria-Livre, os profissionais da construção, católicos de religião, haveriam de conservar vários ensinamentos monásticos. Desse modo, as sete artes liberais continuaram a figurar nos seus códigos e regulamentos.
Quanto às sete artes, a Maçonaria atual conserva o simbolismo moral e disciplinar que a elas emprestavam os obreiros medievais.
A Gramática, sistematização dos fatos da linguagem, a Retórica, arte da boa expressão e norma de eloqüência, e a Lógica, ciência do método, ou da investigação da Verdade, ensinam que o maçom deve aperfeiçoar-se no falar e escrever, manifestar-se de maneira clara e dizer sempre a Verdade. Em suma, o maçom deve falar pouco e dizer muito.
A Aritmética, ciência das propriedades dos números e a Geometria, medida da extensão, ensinam ao maçom o dever de contar e medir as próprias ações e palavras. Essa regra se aplica principalmente àqueles obreiros que comparecem às Lojas para mostrar os seus dotes oratórios e cansarem a assistência com os seus discursos carregados de rançoso lirismo. Entre esses maçons há aqueles que se entregam a dar conselhos que ninguém pede e a recomendar aos aprendizes o dever de freqüentar as sessões. A Maçonaria não é qualquer instituição acaciana e, muito menos, uma ordem que precisa mendigar o comparecimento de seus obreiros.
A Música lembra, em primeiro lugar, a harmonia que deve reinar entre os obreiros e os acordes de consonância. Lembra, mais, que o som afinado corresponde a uma freqüência exata ou número certo de vibrações por segundo.
A Astronomia demonstra, antes de tudo, a perfeição da obra do Grande Arquiteto do Universo. Ensina, mais, o movimento aparente dos astros, a rotação e a translação da Terra, a lei da atração universal (Newton) e tudo quanto mais a ciência dos astros possa proporcionar ao simbolismo e ensinamentos maçônicos.
Nota – Fundação da Ordem de São Bento.
Fundada por São Bento, em 529, a Ordem Beneditina teve por berço o afamado mosteiro de Monte Cassino, na Itália. A própria Ordem construiu o mosteiro que em 580 viria a ser destruído, pela primeira vez, pelos lombardos.
A cultura medieval é, de um modo geral, privativa das ordens monásticas, principalmente a dos beneditinos, havidos como os “únicos eruditos” da Idade Média.
Os beneditinos mais versados sempre se distinguiram nas letras e nas ciências e depois nas artes, inclusive a de construir. Os demais se dedicavam ao arroteamento de terras e ao plantio.
Foram os beneditinos que transcreveram, traduziram e interpretaram as obras gregas e romanas, bem como escritos e documentos do Oriente. Disseminaram a cultura medieval européia e serviram de exemplo a outras ordens religiosas que surgiriam posteriormente. Encarregaram-se da missão de converter “pagãos” por toda a Europa. Na arte de construção, passaram a monopolizar e a dirigir a maçonaria operativa. Começaram pelo estilo românico. Depois implantaram na arquitetura as próprias características beneditinas e, mais tarde, também se dedicaram à Arquitetura Gótica. Associados aos pedreiros e canteiros fundaram autênticas organizações fraternais, as quais, por ordenamentos, costumes e certas cerimônias, seriam uma espécie primitiva de Lojas maçônicas.
Foi em 597 que os beneditinos se dirigiram à Inglaterra, (chamada Ilha dos Santos) e fundaram a abadia (não a catedral gótica) de Cantuária (Canterbury). No século VII, espalhando-se pela Alemanha, fundaram a abadias de Ettenheim, Lauresheim, Prüm, Monse, Hirschfeld, Fulda e outras. Da Alemanha passaram à Dinamarca, depois à França, pátria do estilo gótico e, enfim a quase toda Europa.
OS CISTERCIENSE – A Ordem de Cister, instituída, em 1098, foi fundada pelo abade De Molésme, no retiro de Citeaux, perto de Dijon, França. A princípio os cistercienses, como os beneditinos, seus inspiradores, se dedicaram ao ensino gratuito e à agricultura. Posteriormente, por seus mestres e arquitetos, passaram a erigir grandes catedrais e grandes construções, seguindo o exemplo dos beneditinos, seus mestres e fundadores.
AS CATEDRAIS – Na Idade Média a catedral não era uma simples sede religiosa ou uma igreja comum. Era realmente o centro das comunicações. Quase sempre abrangia uma escola gratuita, biblioteca e até uma sede de câmara municipal. O povo contribuía para a construção de grandes igrejas e havia, entre os habitantes de várias cidades, a emulação no sentido de construir catedrais maiores, mais altas e mais imponentes do que as outras.
Nota ao Aprendiz – Na Maçonaria atual ainda se preconiza o exemplo das antigas catedrais. Recomenda-se às Lojas para que se esforcem no sentido de se tornarem o centro social de todos os assuntos de seu “Oriente”.
USOS, COSTUMES, TRADIÇÕES E ANTIGAS OBRIGAÇÕES DA MAÇONARIA MEDIEVAL RELEMBRADOS NA MAÇONARIA ATUAL.
Entre os maçons medievais, o segredo era norma respeitada e sujeita à juramentos sobre a Bíblia ou os Evangelhos. O mesmo se dava com a promessa de não revelar a estranhos os sinais, toques e palavras de reconhecimento mútuo entre os companheiros. O compromisso envolvia a obrigação de cumprir os regulamentos, as tradições e as regras de fraternidade exigidas pela agremiação.
Quando as corporações medievais chegaram a adquirir maior importância política e econômica, até as representações teatrais passaram aos seus domínios. Os dramas da época, as antigas peças gregas, por vezes mal traduzidas, outras deturpadas, eram representadas para os associados. Os temas referentes a cada profissão eram enaltecidos ao gosto dos congregados e assistentes levados ao sentido épico. Até os antigos “mistérios” eram declamados ou encenados, ao lado das narrativas e passagens de religião.
Cada corporação tinha o seu santo padroeiro e protetor. Os maçons operativos veneravam São João Batista, ou este santo e João Evangelista, aos quais dedicavam reuniões e festas especiais.
Os obreiros de Estrasburgo se chamavam Irmãos de S. João.
Nota ao Aprendiz – A Maçonaria operativa ignorava a existência de São João de Jerusalém, ou S. João Esmoler ou Hospitaleiro, lendária figura de príncipe, filho do rei de Chipre, no tempo das Cruzadas. Conta-se que ele teria renunciado aos seus direitos de herdeiro do trono, com o propósito de se dedicar à caridade, socorrer guerreiros e peregrinos. Teria fundado também um hospício.
A figura desse lendário santo foi levada à Maçonaria especulativa por maçons que quiseram impor a idéia de que a Sublime Instituição seria originária dos Cruzados. O Barão de Tschoudy viria a adotar S. João de Jerusalém, no seu Rito Adoniramita.
Outros maçons passaram a identificar S. João Hospitaleiro com S. João d’Escócia, figura que jamais existiu, embora seja sempre referida em rituais do escocismo, por diversas conjeturas.
Maçons do passado, magoados com os insultos e perseguições clericais, principalmente partidas dos jesuítas, repeliam a norma de se admitir João, o Batista, como padroeiro da Sublime Instituição. A verdade é que estavam a repelir a realidade histórica e uma tradição haurida dos antigos Pedreiros-Livres e Canteiros.
Essa represália pouco adiantou. João, o Batista, continua sendo o padroeiro, com o seu par tradicional, que é João Evangelista. E em toda parte do mundo o dia 24 de junho é uma data maçônica e o verdadeiro dia da Instituição.
A Maçonaria operativa medieval possuía também os Quatro Coroados, santos da profissão, os quais eram Severo, Severiano, Carpóforo e Vitorino. Contava-se que esses quatro santos teriam sido mortos a vergastadas, por ordem de Diocleciano, eis que se teriam recusado a esculpir imagens destinadas à adoração pagã. A Igreja chegou a confundi-los com outros cinco mártires – Cláudio, Castor, Sinforiano, Simplício e Nicostrato, artistas que teriam repelido a imposição do mesmo imperador, que encomendara a imagem de um ídolo. Os cinco artífices, por esse motivo, teriam sido condenados e asfixiados dentro de um barril carregado de material pesado e atirados ao mar (ano de 237).
Outras lendas de enaltecimento da profissão eram contadas pelos maçons medievais e havidas como patrimônio da corporação.
Como ensina a psicologia social, todo agrupamento humano definido tende a ser enaltecido por seus próprios componentes. Os maçons medievais, naquela época, pouco esclarecidos, não fugiram à regra. Acreditavam que a Maçonaria vinha dos tempos de Adão e que este havia ensinado a Geometria a seus filhos. Mal fundados em vários textos da Bíblia e maus conhecedores da história, fantasiavam uma complicada narrativa da profissão, envolvendo reis, patriarcas, sábios, filósofos e geômetras. Desse modo, chamavam de “maçons” a Abraão, a Nemrod, o rei caçador, a Nabucodonosor, a Pitágoras (“Peter Gower”, como diziam), a Euclides e outros. Até as épocas das narrativas eram desencontradas.
Nota ao Aprendiz – Ainda hoje há irmãos maçons que costumam sustentar mitos semelhantes, pretendendo levar a origem da Maçonaria a tempos imemoriais. Outros procuram convencer que toda e qualquer personalidade ilustre seja ou tenha sido maçom.
Já no século passado, os estudos de Findel e outros abalaram todos os mitos pelos quais a Maçonaria seria originária do Egito, da Grécia, do Templo de Salomão, dos Essênios, dos cretenses e de outras fontes “antiguíssimas”.
A maioria dos Corpos Maçônicos deste século já não admite as supostas “derivações” da Maçonaria, muitas delas engendradas pelos “maçons aceitos” de quando iniciou a Maçonaria especulativa.
Por esse motivo, e também por apresentarem como “segredos” muitas lições vulgares da história da filosofia, muitas instruções anexas a rituais foram abolidas.
A regra a cumprir, para com os maçons iludidos ou mitômanos, é a tolerância, mas sem prejuízo do constante esclarecimento.
A par de tais lendas que liam para os recipiendários, os maçons operativos mantinham seus regulamentos profissionais e tradições.
As “obrigações” (“old charges”) deviam ser integralmente respeitadas, bem como os preceitos da ética do oficio. Várias dessas obrigações se conservaram até na Maçonaria especulativa e se tornaram “landmarks” ou lindeiros. A palavra “landmark” significa limite entre países ou territórios, mas entre os maçons veio a significar marco ou regra instransponível e imutável.
A legitimidade das antigas obrigações foi revelada mediante referências históricas, leis, bulas, papeis, inclusive decretos governamentais e clericais que tinham por escopo perseguir os maçons e proibir as reuniões das Lojas. Além desses recursos da história, havia os antigos “manuscritos”. Vários desses documentos eram reproduções ou cópias de escritos mais antigos. Outros eram realmente falsificados. A “velha Constituição de York, do ano de 925”, outorgada numa Convenção convocada pelo príncipe Edwin, filho do rei Athelstan, não passou de mistificação, que o maçom Findel e outros viriam a desmascarar. Porém, por esse fato não há que negar os maçons operativos narravam a lenda de Athelstan e seu filho Edwin. Essa lenda consta, por exemplo, do livro conhecido por “Poema Régio”, mas cujo nome verdadeiro e “Hic Incipiunt Constitutiones Artis Geometriae Secundum Euclydem” (aqui principiam as constituições da arte da geometria, de acordo com Euclides, ou Princípios Constitucionais da Arte etc). James O. Halliwel, 1840, encontrou esse livro, escrito em pergaminho, na Real Biblioteca, do “Brstish Museum”. Atribui-se a obra ao século XV. Trata-se de uma “constituição” à maneira adotada pelas fraternidades e organizações profissionais da época. O poema contém 794 versos, nos quais se constam as lendas da fraternidade de pedreiros, as regras morais da “boa geometria”, os deveres dos companheiros nas suas relações mútuas e para com os senhores e proprietários. Euclides, “por inspiração de Cristo”, teria ensinado as sete ciências e, certa vez, teria sido contratado para ensinar a Geometria aos jovens da nobreza do Egito. A “arte” se espalharia pelo mundo e teria chegado à Inglaterra (Ilha dos Santos). Certa vez, o rei-arquiteto Athelstan teria promovido uma convenção, na qual se teriam promulgado quinze principais artigos e quinze pontos fundamentais. O documento menciona o martírio dos “Quatro Coroados”, santos conhecidos por essa denominação que, por sua vez, viria a ser um atributo da “arte” (“Ars Quatuor Coronatorum”). Seguem-se as lendas da Torre de Babel, “construída muito depois do dilúvio e, em certa ocasião, dirigida pelo rei Nabucodonosor”. “Os construtores da torre se tornaram tão vaidosos que o Senhor os castigou, enviando-lhes um anjo que lhes confundiu a linguagem”. Consta do documento os significados morais das sete ciências e as regras da fraternidade.
Outro documento relevante, embora de tradução infiel, é o dos regulamentos profissionais da Fraternidade de Pedreiros (talhadores e escultores de pedra) de Estrasburgo. Esses estatutos teriam sido aprovados em Spira, em 1464 e ratificados em Ratisbona cinco anos depois, trata-se de uma verdadeira constituição da Ordem, na qual se consignam as regras de ética profissional, a admissão dos aprendizes, o tempo de aprendizado, o respeito aos planos e aos contratos de obra. Na confraria só podiam ser admitidos homens livres e de boa formação moral e familiar. Era proibido aos mestres confiar trabalhos aos companheiros que viesse amancebado ou passasse “a viver desregradamente com mulheres”, ou fosse jogador a tal ponto que dele se pudesse dizer “que havia apostado as próprias vestes”.
O dever religioso, inclusive os de confessar e comungar, era imposto aos obreiros.
Outro “documento”, a chamada “Carta de Colônia”, atribuída ora aos jesuítas, ora a Frederico de Nassau, não passa de mistificação.
Entre os demais documentos citados pelos historiadores maçônicos, podem mencionar-se a lei do Conde de Santo Albano (1663), o manuscrito Harley (1670), existente no Museu Britânico e escrito por Randle Holmes e o “Velho Manuscrito”, assinado por William Bray e escrito por Robert Cleark (1686).
Os Estatutos Shaw, da Maçonaria Escocesa, foram publicados no final do século XVI (1598-1599).
Do confronto de todos os documentos e regulamentos e, mais, do que se pode concluir das referências históricas, resulta uma síntese de várias regras que se impunham aos maçons, entre as quais:
I – a de cumprir os mandamentos da Igreja, respeitar os sacramentos e confessar e comungar periodicamente;
II – a de respeitar as leis e as autoridades constituídas e de nunca tomar parte em sedições;
III – a de seguir os preceitos da “moral da boa Geometria”, de modo a viver de acordo com os bons costumes, a não se entregar ao jogo e a outros vícios, a mulheres de vida fácil, ao adultério e ao concubinato;
IV – a de somente admitir nas corporações e confrarias candidatos livres, de boa família (no sentido moral) e de bons costumes e boas referências (“good reports”);
V – a de não se admitirem jamais candidatos portadores de defeitos físicos ou doentes;
VI – a de os obreiros cumprirem os contratos de construção, de modo a contentar os proprietários e senhores, seguindo-lhes as ordens e condições combinadas e cuidando de terminar e entregar a obra no tempo ajustado;
VII – a de não se admitirem novos companheiros sem a licença do mestre da circunscrição e sem prévia comunicação às lojas da região, mediante a fixação de um pergaminho a uma prancha ou tábua colocada de modo ostensivo;
VIII – a de dar conhecimento à assembléia geral dos fatos que interessavam à fraternidade, inclusive admissões;
IX – a de comparecer periódica ou anualmente à assembléia geral, para tomar conhecimento das resoluções e receber conselhos e instruções sobre a Arte, sobre os salários a serem pagos e sobre a maneira de bem servir aos mestres, aos senhores e aos proprietários;
X – a de eleger mestres entre os companheiros mais experimentados e mais versados na Arte;
XI – a de cumprir as regras de fidelidade e fraternidade entre os companheiros e reservar “troncos” para os necessitados;
Nota – De certos regulamentos se vislumbra que o “tronco” se referia também a honorários pagos na conclusão das obras.
XII – a de os aprendizes serem sujeitos a prestar serviços aos mestres durante um determinado número de anos (na Alemanha se exigiam cinco anos e na Inglaterra sete); e a de os companheiros (aspirantes) praticarem o ofício em várias obras (três, pelo menos) e viajarem, antes de conseguirem a plenitude de seus direitos.
Nota – Referências históricas demonstraram cabalmente que esses prazos não eram iguais em todos os lugares e que a habilidade profissional era levada em consideração, de modo a se encurtarem os “interstícios”. Porém, houve época em que os mestres das diferentes profissões artísticas prolongavam, a seu bel-prazer, o tempo de aprendizado e faziam outras exigências, aproveitando-se da situação privilegiada de que desfrutavam como principais contratantes nas encomendas, e das condições regulamentares para aprovar a concessão, de cartas, licenças ou franquias. Certos regulamentos exigiam que o companheiro, para ser admitido ao trabalho, exibisse ainda a carta de apresentação de mestres e companheiros experimentados.
Por outro lado, revela considerar a tradição universitária que a Maçonaria herdou no que tange ao seu humanismo e à sua filosofia. Os estudantes da Idade-Média também se reuniam em corporações. Pagavam os professores, contratavam os mestres e os despediam. Desse modo é que fundaram as universidades.
Na Itália, na Espanha e no sul da França, as universidades seguiam o padrão de Bolonha. Nessas instituições se ensinavam o “trivium” (Gramática, Retórica ou Dialética e Lógica) e o “quadrivium” (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), mais ou menos na seriação secular instituída por Boécio. Para o estudante conseguir a carta de “mestre” era exigido um curso que durava sete anos ou pouco mais, pois o “trivium” exigia quatro ou cinco anos e o “quadrivium” o tempo restante.
As sete ciências, porém, não tinham o sentido atual. O seu ensinamento era filosófico e humanístico, isto é, mais ou menos como ocorre na Maçonaria.
As sociedades secretas estudantis resultam de tradições das universidades. A Maçonaria, por sua vez, contém muita coisa das tradições das universidades, quer por se inspirar nas práticas dos antigos Pedreiros-Livres, para os quais a Geometria era também uma ciência moral, quer porque os maçons mais versados do passado, e depois os “aceitos”, cuidariam de manter os melhores princípios das corporações, inclusive os das universidades.
Essa conclusão resulta de qualquer livro de história, como, por exemplo o de McNall Burns, 1º vol., Parte 4.
Constituída a Grande Loja Inglesa, em 1717, os seus principais fundadores cuidaram de reunir os velhos regulamentos, as lendas e tradições dos maçons e as antigas “obrigações” (old charges).
Em 1718 Jorge Payne é eleito Grão-Mestre da Grande Loja e manda consolidar os regulamentos, usos e obrigações constantes de velhas cópias. Em 1719 é eleito Grão-Mestre o reverendo João Teófilo Desaguliers, que ao lado de James Anderson, fora um dos principais fundadores da Grande Loja.
George Payne, novamente eleito para o grão-mestrado em 1720, manda completar as compilações iniciadas em 1718. Surgem e se definem, por conseguinte, as Trinta e Nove Regras Gerais (“General Regulations”) condensadas nos conhecidos Regulamentos Gerais.
No mesmo ano, por motivos que se ignoram, foram queimados preciosos manuscritos da antiga Maçonaria. O fato foi lamentável, embora existissem velhas cópias nos museus e velhos documentos nas Lojas que ainda não pertenciam à Grande Loja Inglesa.
Nota – Vários maçons autênticos, inclusive os que não eram católicos, atribuíram essa queima de documentos à preocupação de se ocultar a origem clerical da Maçonaria, pois os fundadores da Grande Loja Inglesa eram protestantes, na sua maioria. Não há muito fundamento em tal suposição. No mais, seria impossível ocultar que os Pedreiros-Livres e Canteiros eram católicos e que a primeira fase da Maçonaria operativa medieval pertencia aos monásticos. Isso não quer dizer que a Maçonaria seja uma derivação de Igreja Católica, eis que releva ponderar muito mais as tradições das corporações e fraternidades do que as circunstâncias em que essas organizações vicejaram.
O ilustre maçom autêntico Albert Lantoine, autor de “Lês Societés Secretes actuelles em Europe et en Amérique” (Paris 1940), é um dos que abonam a insinuação.
As Regras gerais viriam a ser aprovadas na data de S. João de 1721.
Aos 17 de janeiro de 1723 foi aprovado pela Grande Loja Inglesa o tradicional LIVRO DAS CONSTITUIÇÕES, impropriamente conhecido por Constituição de Anderson, pelo fato de este fundador da Grande Loja haver-se dedicado ao projeto e compilado as velhas lendas, usos, costumes e “antigas obrigações”, tudo acrescido às “Regras Gerais”.
Do confronto histórico resulta que o trabalho de Anderson não foi muito fiel a tudo quanto revelaram as velhas cópias. As lendas do passado, mais ou menos alteradas, se acrescentaram outras, principalmente aquelas inspiradas na Bíblia, como conviria a bons ministros e pastores protestantes.
Contudo, a modificação foi salutar, pois a Bíblia é um dos maiores monumentos morais do mundo.
A chamada Constituição de Anderson se impôs como padrão de qualquer organização maçônica regular, isto é, fundada nos princípios da Maçonaria Universal, da qual a Grande Loja da Inglaterra é a “alma mater”.
Cumpre lembrar que no tempo de Anderson ainda havia uma corrente católica, mais ligada à antiga Maçonaria Escocesa. Essa corrente era também política, pois era partidária dos Stuarts.
O Cavaleiro Ramsay pertencia a essa corrente.
Mais tarde se operou a unificação da Maçonaria inglesa.
O atestado mais definido dessa unificação é o tradicional RITO DE YORK, condensado num livro denominado “Landmarks”, Leis Básicas e Cerimônias dos Três Graus Simbólicos da Arte Maçônica, chamada, às vezes, RITO DE IORQUE, por terem compiladas, elaboradas e organizadas por representantes de todas as Lojas consideradas regulares reunidas na cidade de Iorque, na Inglaterra, em 1815, tais como foram aprovadas, confirmadas e sancionadas pela Grande Loja da Inglaterra, em 1815. O ritual também é, chamado de Ritual dos Maçons Antigos, Livres e Aceitos.
Em 1813 já havia ocorrido a formal unificação da Maçonaria inglesa, com a constituição da Grande Loja Unida (27 de dezembro de 1813, data de S. João Evangelista). A união das Grandes Lojas inglesas governadas pelos duques de Kent e de Sussex tinham sido preparadas desde o começo daquele ano. O duque de Kent renunciou ao grão-mestrado, para facilitar a unificação. Assim se consumou a união de “Antigos” e “Modernos”.
Já então a Maçonaria se havia espalhado pelo mundo, com suas Lojas, algumas abraçando regras mistas e outras seguindo ou escolhendo entre regras da Grande Loja da Escócia e as regras da Grande Loja Inglesa.
Surgiram, por sua vez, vários ritos e rituais.
A Grande Loja da Escócia foi fundada aos 15 de outubro de 1736, em Edimburgo.
O Grande Oriente de França foi fundado oficialmente aos 24 de dezembro de 1772, mas a Maçonaria francesa já existia desde muito antes, quer sob a égide da Grande Loja Inglesa, quer de maneira independente. Sabe-se que em 1730 já existia a “Grande Loja Inglesa de França”. Em Paris havia a “Ordem dos Franco-Maçons do reino de França”, fundada aos 27 de dezembro de 1735.
Na Alemanha, as Lojas trabalhavam sob o sistema da Grande Loja da Inglaterra. Em, 1766, um mágico profissional hábil, prestidigitador, artista genial e homem culto de nome Schröder, funda o “Capítulo de Antigos e verdadeiros Franco-Maçons” e, depois, cria o belíssimo rito que tem o seu nome, com os três graus do simbolismo e mais quatro para a ciência da magia, da alquimia e da filosofia (teosofia), sob o nome de “Rito Retificado de Rosa-Cruz”.
Em suma, a Maçonaria se pratica por vários ritos ou métodos.
De um modo geral, esses métodos conduzem o maçom ao mesmo resultado de aperfeiçoamento moral. Como afirmava Pascal, os homens se aperfeiçoam e conquistam a verdade seguindo os ritos.
As Lojas do mundo os congregam em Grandes Orientes ou Grandes Lojas, governadas pelos respectivos Grão-Mestres. Por sua vez, esses Altos Corpos se relacionam como as nações, por meio de troca de representantes, correspondências, tratados de amizade e confirmações de relacionamento mútuo. Não há poder maçônico internacional. As reuniões universais se efetuam por meio de Congressos e Convenções.
O TEMPLO DOUTRINÁRIO DA MAÇONARIA – Dir-se-ia, pois, que o Templo Maçônico foi erguido com o melhor material produzido pela humanidade. Ergueu-se com os alicerces da História. Suas paredes foram levantadas com tijolos e pedras iguais, que representariam a manifestação do espírito humano e o denominador comum de todas as crenças. Todos os componentes do edifício maçônico se entendem ligados com a argamassa da comunhão universal. Enfim, os ornamentos do Templo completariam a síntese de todas as idéias dirigidas para um mundo melhor.
E o melhor paradigma para o Templo Maçônico não podia ser outro que não o Templo de Salomão.
A Davi, que manchara as mãos de sangue, não fora concedido erguer o Templo (Crônicas, 28/3), de cuja obra possuía os projetos (Crônicas, 28/11 a 21 e Cap. 29). A tarefa haveria de caber a seu filho Salomão, que apelou para Hirão, rei de Tiro, monarca suzerano e aliado a Davi.
O rei Hirão enviou a Salomão o artífice, metalista e arquiteto Hirão Abi, filho de uma viúva da tribo de Neftáli (Reis, I, caps. 5, 6 e 7 e Crônicas ou Paralipômenos, caps, 2, 3 e 4).
Observação: No Rito Adoniramita (Adon-Hiramita) é preferido Adonirão e Hirão-Abi (V. I-Reis, 5/14).
Assim, foi edificado o Templo de Jerusalém, com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de metal se ouviram na casa, enquanto a construíam (I, Reis, 6/7).
O mesmo se dá com a Loja maçônica dedicada à construção do mundo melhor. O seu trabalho não se ouve lá fora.
Bibliografia:
Ritual do Aprendiz Maçom
Edição de junho/2006.
Curso de Maçonaria Simbólica – (I Tômo)
Theobaldo Varoli Filho
Editora – A Gazeta Maçônica
Jeffson Magnavita Barbosa Filho

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