terça-feira, 9 de setembro de 2008

POLÍTICA E POLITICAGEM

Ir Valdemar Sansão - vsansao@uol.com.br
Política é o “uso legitimo do poder para alcançar o bem comum as sociedades” (João Paulo II)
O que é política? – Entende-se por esta palavra a ciência que trata do governo e também da arte de governar. Como ciência, a Política trata das relações do Estado e dos cidadãos, da legislação, das finanças, da administração interna, das relações dos povos entre si.
A verdadeira política tem como objetivo realizar, pelo governo de um Estado, a justiça e o interesse geral dos cidadãos.
“É a Arte e a técnica de dirigir e administrar corretamente o Estado, tanto no sentido da razão, como no da ética, com uma orientação fundamental: a Justiça”. (I Conferência Interamericana da Maçonaria Simbólica – Montevidéu, abril de 1947).
O que política NÃO é? A política não é a procura do “poder pelo poder” e das regalias que ele pode trazer; não é usar e abusar do povo para “crescer” e enriquecer; não é um “salvo conduto” para transformar a autoridade em autoritarismo; não é um jeito fácil de meter a mão no bolso do povo para encher o próprio bolso.
Política e politicagem são coisas distintas? Sim! Política é fazer do poder um instrumento para alcançar o bem comum; politicagem é instrumentalizar o poder em benefício próprio às custas do bem comum. Política é serviço; politicagem é crime.
Política é “coisa suja”? Não, nem todos dizem ou entendem que política é coisa suja. Há, de fato, muitos que dizem que fazem política quando, na verdade, não passam de “politiqueiros”. Se, contudo, tomarmos consciência de que a realidade mudará à medida que nós mudarmos, então tudo é possível. Por que não começarmos já, participando da política de forma consciente e madura? Se existe sujeira na política, é necessário e urgente eliminar a sujeira e corrigir as distorções existentes, pelo uso de armas silenciosas – como por exemplo o VOTO – para cassar os verdadeiros corruptos e mal intencionados e não a política!
Como podemos participar? Somos todos seres políticos por natureza, isto é, já nascemos políticos. Se buscarmos e lutarmos pelo bem comum, faremos política, mas, se só pensarmos em nosso próprio conforto, faremos politicagem. Podemos e devemos participar engajando-nos em associações, grupos, entidades e partidos que têm como finalidade e objetivo o bem de todas as pessoas, sem exceção. Se optarmos por ficar “na nossa”, deixando que tudo fique como está, estaremos dizendo “amém” (assim seja!) à situação e, portanto, indiretamente aderindo e colaborando com ela. Em política não há omissão; quem se omite está “dizendo” que tudo deve ficar como está!
E se eu não quiser me envolver? Você não tem como não se envolver. Se você está vivo, está fazendo política! Se você “lavar as mãos” ou “cruzar os braços”, colaborará para que tudo fique como está! Se você resolver “ficar na sua” e não se envolver na luta pelo bem comum, pelo direito e pela justiça, lembrará Pilatos (Mt 27.11-26) que para não se incomodar, também optou por “ficar na dele”...
Maçom pode fazer política? Não, não pode! DEVE! E deve fazer política de qualidade, buscando e defendendo o bem comum a partir dos “bons costumes”, com Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Se temos um Irmão iluminado cuja personalidade foi polida na pedreira da meditação, apto a abraçar a carreira política, porque não enriquecer a política com ele? Maçom consciente faz política, sim, porque não se cansa de buscar o bem de todos. O mundo da política só tem a ganhar com a luz que recebe de um Maçom; o mesmo não acontece com a politicagem, que se praticada por um Maçom, este estará sendo sacrílego para com o Grande Arquiteto do Universo e desonrado para com os homens.
A Maçonaria faz política partidária? Não. A Maçonaria enquanto Instituição, faz política, mas não partidária. Ou seja, ela não tem um partido próprio, e nem adota um como seu. Porém, ela insiste para que seus afiliados se filiem, engajem e participem da política partidária, levando aos partidos, e às ideologias que os sustentam, as riquezas e os valores de seus Princípios Fundamentais. É estranho que, na Maçonaria, tantos Irmãos condenem os políticos de carreira enquanto eles mesmos se recusam a buscar o poder, pelo voto, para colocá-lo a serviço do bem comum.
O que devemos fazer? Para começar o ideal é abrir os olhos, os ouvidos e o coração para ver a nossa realidade. É aprender a ver a realidade – sem deformá-la – e a ouvir o clamor do povo sofrido, explorado, empobrecido. É acordar para o absurdo da desigualdade social, da injusta distribuição de renda, dos privilégios de alguns viverem em mansões e outros em favelas. Quem vê e escuta sem se deixar tapear, começa a refletir e a se indagar e indignar, descobrindo que tudo poderia ser diferente. E então, se for coerente e não omisso, começará a agir, a demonstrar a sua repulsa pela desonestidade, a defender os direitos dos mais fracos, a unir-se a quem busca o bem comum, acredita e luta por uma sociedade justa, perfeita e fraterna.
Política é coisa chata? Cercado por uma realidade que explode em forma de violência, de miséria, de tráfico e uso de drogas, de desemprego, de fome, de injustiça... como é que você pode se desinteressar justamente daquelas que são as causas que geram essa situação de morte? Na verdade, quem não se interessa por política ou está vivendo como um “príncipe num país de mendigos” – prefere que tudo continue como está – ou é alienado dos pés à cabeça. Quem vê e não assume a causa dos empobrecidos como sua causa, não é Maçom...
Existem bons políticos? Sim, existem! E são muitos! O problema é que aqueles que fazem da política politicagem, acabam aparecendo mais do que os outros. Vale lembrar aqui de um provérbio chinês, que diz: “Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce”. Eles, os políticos honestos, existem sim, mas não são muitos os que compactuam com eles. Reconhecer os políticos honestos – inclusive pelo apoio político e pessoal, e pelo voto, - é, um dos caminhos para denunciar, superar e derrotar a politicagem.
Exemplos do passado – Fato publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, edição de 08 de outubro de 1890, além de ser pitoresco, mostra, exatamente, a extraordinária honestidade de princípios dos políticos que jamais se locupletaram com o dinheiro do erário público, colocando a retidão exigida por seu cargo acima dos laços de sangue.
Quando José Bonifácio de Andrada e Silva era Primeiro-Ministro do Império do Brasil, recebendo 400$, em bilhetes do banco, de um mês de ordenado, os meteu no fundo do chapéu e, no teatro, lhe roubaram o chapéu e o conteúdo.
O Primeiro-Ministro achou-se, no dia seguinte, sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuía nem um vintém mais. Sabendo da ocorrência o Imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devia ser indenizado, pagando-lhe outro mês de ordenado e, neste sentido, deu ali suas ordens ao ministro da Fazenda. Martim Francisco não obedeceu. Disse ao imperador que não havia lei que colocasse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha, para todos, doze meses e não treze e, finalmente, pedia a Sua Majestade retirasse a sua ordem, o que era melhor do que pagar ao ministro duas vezes o ordenado de um só mês. José Bonifácio, daí por diante, tomou mais cuidado no chapéu e no dinheiro que recebia.
Destaquem-se, no texto, o seguinte: “Achou-se, no dia seguinte, sem ter com que comprar o jantar” e “visto a penúria em que se achava”. Destaque-se, também, que o ministro da fazenda que negou a indenização a José Bonifácio, para não prejudicar o erário, era, simplesmente, o seu irmão Martim Francisco. (A TROLHA Fevereiro/91).
Como devem proceder os Maçons? Como cidadão, todo Maçom tem o incontestável direito de se ocupar de política. A Maçonaria, porém, como sociedade iniciática que é, não pode nem deve. Políticos Maçons ocuparam e ainda ocupam todos os degraus da administração pública da mesma forma que outros cidadãos. Nestes cargos públicos, têm eles a oportunidade de aplicar os ensinamentos que receberam em Loja e de influir, de maneira benéfica, sobre aqueles que os cercam. Se, no entanto buscam na política interesses pessoais, como têm inegavelmente o direito como qualquer cidadão, é certo que não devem envolver a Ordem, nem servir-se dela para alcançar as suas pretensões. É hora da verdadeira Maçonaria agir de forma ativa e ardorosa contra os “politiqueiros” e apoiar os homens públicos, Maçons ou não, na procura de soluções dos problemas sociais do país!
“Vós, líderes e militantes políticos, quero recordar que o ato político por excelência é ser coerente com uma vocação moral e fiel a uma consciência ética que, para além dos interesses pessoais ou de grupos, visa a totalidade do bem comum de todos os cristãos” (Papa João Paulo II – Salvador BA, 7 de julho de 1980).

PEDRAS QUE FALAM SOB A AREIA DO TEMPO

Irmão Frank Urban


Desde tempos imemoriais o homem lida com o mais profundo de seus dilemas - a vida e a morte. Por conta disso criou mitos, lendas e sistemas de crenças organizadas que proporcionaram, cada qual de seu modo e época, algum conforto durante sua breve vida à espera da inevitável morte. Esses sistemas são baseados, na maioria da vezes, na existência de uma vida após a morte ou na ressurreição do corpo. O mito da ressurreição, por exemplo, é muito antigo, provavelmente antecede a 3.500 a.C., como indicam estudos realizados em construções monolíticas dos antigos povos das ilhas britânicas. Esses povos construíam, com enormes blocos de pedra dispostos em círculo, observatórios celestes que eram utilizados para procurar "as coincidências" astronômicas que os brilhantes astros visíveis - sol, Vênus e lua - proporcionavam, e por analogia da observação e repetição desses fenômenos, comparar com suas próprias vidas e mortes. Um homem nascido de uma conjunção de astros que fosse notável teria o destino glorioso, e poderia ser coroado rei em situação astronômica semelhante. Por exemplo o planeta Vênus em sua aparição pouco antes do nascer e morrer do sol, fica extremamente brilhante quando em conjunção com Mercúrio a cada quarenta anos. O conhecimento dos ciclos anuais do sol servia para determinar com muita precisão os solstícios e equinócios de inverno e verão. A utilidade prática desse conhecimento estava ligada aos períodos férteis na agricultura desses povos. Com o passar do tempo esse primitivo calendário também determinava ações importantes ligadas ao homem e às cidades, como a coroação de um rei ou a declaração de guerra contra um inimigo. A princípio esse culto estava ligado ao ciclo da agricultura mas tomou um aspecto mítico em contato com outras culturas. Esse legado ora como culto à Mitra (Babilônia/Pérsia), ora como Osíris (Egito) espalhou-se por civilizações que floresciam na Europa antiga e influenciaram o judaísmo, cristianismo e o islamismo entre outras. O catolicismo, oriundo do judaísmo, teve seu mito de ressurreição com Cristo que viveu nascido de uma virgem, pregou um código de conduta moral e foi crucificado - ressuscitando no terceiro dia. Igual destino tiveram seus predecessores, Mitra e Osíris 1.500 anos antes. A vida após a morte e a ressurreição, foram cultuadas por todas as civilizações e crenças religiosas. A preocupação com o "acordar" depois da morte estava ligada ao ciclo de vida e morte dos astros, no cuidadoso funeral e no merecimento pelos atos praticados durante a vida. Adequadamente preparado, o templo cumpria a função de guiar seu ocupante, ao "acordar" para a nova vida e para "falar" sobre sua obra e méritos. Não raro, encontramos templos dedicados à vida e morte de personagens "iluminados", solenemente cobertos por pedras entalhadas. Pedras que falam sob a areia do tempo. O mais famoso templo dedicado à "vida após a morte" sem dúvida é a grande pirâmide de Quéops no Egito. Existem outros notáveis exemplos pelo mundo todo e com uma fundamental semelhança entre si - a orientação para o leste onde sol é nascente - o oriente - no qual vemos em sua breve aparição o planeta Vênus. E naturalmente, sua morte no oeste. Esse ciclo de nascer e morrer dos astros à semelhança da vida do homem é o precursor de todos os mitos de renascimento. Está escrito nas pedras que os construtores usaram para edificar templos a seus mortos em todas as épocas. As sociedades de construtores que edificaram esses templos eram constituídas de experientes arquitetos e artesões em pedra e o fizeram através desse "conhecimento oculto", transmitido secretamente por séculos nas reservadas elites de Mestres. Hoje sabemos que a organização dessas sociedades de constrututores "maçons", que incluíam artesões metalúrgicos em bronze, formavam o que chamamos de maçonaria operativa. Séculos depois, esses conhecimentos ocultos foram reapresentados na Maçonaria Moderna, ou Especulativa, retomando o uso de símbolos, alegorias, palavras de passe etc., estes por sua vez, transmitidos através da iniciação a um neófito, devidamente escolhido, e aceito como Irmão. O notável desse "ritual de passagem" é a representação da morte - da vida profana - renascida em uma nova vida iluminada para a construção do "Templo interior". Se no segundo grau desenvolvemos o companheirismo e a confiança do Mestre para recebermos mais sabedoria oculta, no "Ritual de Passagem" do terceiro grau, renascemos Mestres Maçons pela mão de quem representa o Sol. O eixo da loja, representa os equinócios, os solstícios são representados pelas colunas "J" e "B". Esse caminho também percorre o Aprendiz e o Companheiro. Eles começam seus estudos topo de suas colunas que representam os equinócios - o lugar "mais escuro" - para terminar nas colunas solstíciais, onde o sol está mais perto e brilhante com toda a sua força e beleza.
Frank Urban M.: M.: - Glesp

Bibliografia:
O Simbolismo na Maçonaria - Colin Dyer - Madras
O Livro de Hiram - Knight e Lomas - Madras
O Segundo Messias - Knight e Lomas - Madras
Rituais do R.E.A.A. da Glesp