quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Maçonaria e Igreja vistas pelos que estudam o assunto



 Por José Mauricio Guimarães

No momento em que tanto se discute sobre Maçonaria e suas relações com as Igrejas e o Cristianismo, minha indicação, desta vez, é para os dois melhores livros publicados em português. O primeiro, que já indiquei noutra ocasião, é “Maçonaria e Igreja: conciliáveis ou inconciliáveis” do Padre Jesus Hortal, teólogo Jesuíta e Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Hortal fez doutorado de Filosofia em Roma e Direito Canônico na Universidade Gregoriana. Por que indico um padre? Porque a capacidade dele está acima de quaisquer preconceitos por parte dos medíocres. Hortal lecionou na Universidade Católica de Goiás, no Colégio Cristo Rei (Faculdade de Teologia) de São Leopoldo-RS, na UNISINOS, da mesma cidade, e na PUC de Porto Alegre. O livro “Maçonaria e Igreja: conciliáveis ou inconciliáveis” foi editado pela Paulus, em 1993, na série “Estudos da CNBB”, volume 66. É um pequeno volume no formato 12x18 com 87 páginas. Profundo, breve e fácil de ler – tríplice característica dos bons autores – o livro do padre Hortal aborda, com coragem, os efeitos da primeira reprovação oficial da Igreja Católica promulgada contra a Maçonaria: a bula do Papa Clemente XII “In eminenti apostolatus specula”, de 28 de abril de 1738. Observem que, considerando a época, foi uma reação muito rápida do Vaticano, apenas 21 anos após a fundação da Grande Loja da Inglaterra em 1717. A sentença de Clemente XII, atenuada aqui e ali, prevalece nos dias de hoje em face da Declaração de 26 de Novembro de 1983, assinada pelo então Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI. Polêmicas à parte, o melhor que podemos fazer é estudar o livro do padre Hortal que advoga e pondera sobre um POSSÍVEL e DESEJÁVEL diálogo entre as duas instituições – a Igreja Católica Romana e a Maçonaria.Os observadores superficiais que pretendem "dourar a pílula" e adocicar o problema fariam bom negócio se estudassem a questão de um ponto de vista desapaixonado e sério. Em 2010 a editora brasileira Madras traduziu do francês a  gigantesca obra de outro padre, José Antonio Ferrer Benimeli - também jesuíta - historiador considerado pelos próprios pesquisadores Maçons como "o maior conhecedor da historia da Maçonaria e suas imbricações com a Igreja Católica Romana". Trata-se do livro "Arquivos Secretos do Vaticano e a Franco-Maçonaria, História de uma Condenação Pontifícia" (ISBN:978-85-370-0288-9). O livro tem 672 páginas mais 160 no apêndice perfazendo 832 páginas redigidas com seriedade, isenção e caráter acadêmicos. Nem poderia ser de outro modo, pois Benimeli é profesor de História Contemporânea na Universidade de Zaragoza, diretor do Centro de Estudos Históricos sobre Maçonaria e acadêmico correspondiente da Real Academia de Historia. Para quem for incapaz de assimilar as teses do padre Hortal num livro de 83 páginas, o fôlego é capaz de acabar diante de Ferrer Benimeli, - não só pelo tamanho físico da obra como pelo arsenal de conhecimentos que o autor pressupõe de seus leitores. Entre nós ainda é mais cômodo contarmos "histórias da carochinha" antes de dormir do que encarar a verdade e os compromissos de frente. A reconciliação entre a Igreja e Maçonaria é possível e desejável; mas só acontecerá quando os Maçons se debruçarem sobre os estudos como fazem esses jesuítas há mais de 50 anos - com seriedade, espírito acadêmico e isenção. Não podemos tampar o sol com a peneira deixando aos amadores o ônus de uma "pesquisa" que requer, no mínimo, formação nos diversos campos da História, da Filosofia, da hermenêutica e do sentido religioso inerente a cada homem (Maçom ou não); faz-se necessária uma visão moderna (atualizada) da benemerência maçônica e do chamado "clero franco-maçom" (herança que não pode ser desconsiderada) e dos recentes documentos do Vaticano que estão vindo à tona. Da parte da Igreja Católica antevejo uma boa dose de boa-vontade e seriedade nesses estudos que, infelizmente, não encontram paralelo nem respaldo entre aqueles Maçons que se aventuram nesse campo desprovidos de documentação fidedigna ou respaldo nas especialidades das cátedras universitárias. Temos, é verdade, Maçons capazes para esse empreendimento, mesmo no Brasil. Mas tudo nos leva a crer que eles aguardam o momento certo para exporem suas teses e dialogar com as Igrejas. Aí sim, os obreiras da Ordem e os Fiéis do Cristianismo encontrarão o "elo perdido" dessa história que ambos erigiram no passado. Não obstante, e enquanto aguardamos esses interlocutores da Ordem Maçônica - dispostos e PREPARADOS para um debate CONSTRUTIVO, permanecerá a antiga posição de Joseph Ratzinger  (atual Papa Bento XVI) quando ele presidia a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé: "não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçônicas."



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