Tendo em vista a necessidade de buscar argumentos que possam contribuir para o aprimoramento moral e espiritual dos Maçons, no sentido desenvolver e assegurar a fidelidade às obrigações assumidas, bem como aperfeiçoar seu caráter, a Ordem analisa os ensinamentos propiciados pelas Grandes Religiões.
Tais estudos, como é óbvio, não se prendem a questões religioso-sectárias, o que sairia totalmente do espírito maçônico, mas sim ao conteúdo filosófico, ao núcleo ético, dos ensinamentos das religiões, os quais, na verdade, são todos superponíveis uns aos outros.
De fato, por mais inconciliáveis que pareçam, à primeira vista, os diversos sistemas religiosos, quem os examina com imparcialidade, não pode deixar de concluir que só existe, na verdade, uma religião, sempre adaptada à situação social em que surge. Seus elementos essenciais constituem, independente de seus dogmas, a mais completa metodologia educacional, pois, acompanhando o homem do berço até o túmulo, tem como finalidade adaptá-lo, cada vez mais, ao convívio social. E, do ponto de vista da transcendência, não existe uma religião melhor do que a outra, já que a melhor, para cada um de nós, é aquela que nos facilitará melhor compreender os mistérios e desígnios de Deus, permitindo-nos entrar em comunhão com um TODO MAIOR, não importa o nome que se lhe dê. O que importa é que esse estado de consciência nos leve a descobrir uma razão de viver, um sentido de vida, que ultrapasse nossa simples presença na Terra.
Dentro dessa concepção, façamos uma sucinta análise da Trilogia Cristã, constituída pela Fé, Esperança e Caridade, ou seja, pelas Virtudes Teologais.
As Virtudes Teologais
Definamos, em primeiro lugar, o que é virtude.
Tal pergunta já é feita ao postulante, quando da cerimônia de sua Iniciação ao Primeiro Grau.
A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite-nos não só a praticar bons atos, mas a dar o melhor de que dispomos. Com todas as suas forças físicas e espirituais, a pessoa virtuosa tende ao bem, persegue-o e escolhe-o na prática.
Se alguém busca sempre dizer a verdade, possui a virtude da veracidade ou sinceridade. Se prima por ser rigorosamente honesto com o direito dos outros, tem a virtude da justiça.
Para os teólogos do Cristianismo, se adquirimos uma virtude por esforço próprio, como as mencionadas acima, ela é uma virtude natural. Mas, há virtudes que exigem muito mais para se consolidar; dependem de um "dom divino" para serem adquiridas e a elas o homem não pode chegar só com seus dotes naturais. São as virtudes sobrenaturais ou teologais, assim chamadas porque dizem diretamente à intervenção divina. Na verdade, nada ocorre sem a presença de Deus. "Invocado ou não, Deus está sempre presente".
A Fé
Das três Virtudes Teologais a Fé é fundamental.
Não confundamos a Fé com a simples crença, como magistralmente frisa Huberto Rohden. Tal confusão surgiu nos primeiros anos do Cristianismo, quando o texto grego do Evangelho foi traduzido para o latim.
Fé, fides, quer dizer "fidelidade", harmonia entre a alma humana e o espírito de Deus. É, basicamente, uma "adesão pessoal" do homem a esse TODO MAIOR, uma atitude de "alta fidelidade", de sintonia de freqüência do receptor (homem) com o emissor (Deus).
Como esse substantivo latino não tem verbo derivado do mesmo radical, como no grego, os tradutores viram-se obrigados a recorrer a um verbo de outro radical, valendo-se de credere, que em português deu crer.
Crença, crer, com efeito, têm conotação diferente de Fé, de ter Fé. Refere-se a algo incerto, vago, como quando dizemos: "creio que vai chover", "creio que Fulano mudou-se de casa".
Crer em Deus não é o mesmo que ter Fé ou fidelidade a Deus. Quem tem Fé, fides, fidelidade estabelece com Deus perfeita sintonia ou sinfonia de pensamentos, palavras e obras.
Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem Fé, embora talvez creia. Tal pessoa pode, em tese, aceitar que Deus existe e, apesar disso, não ter Fé.
Crer é um ato apenas intelectual, de quem se persuadiu de algo que lhe parece verdadeiro; ter Fé vai mais longe. É uma atitude de consciência e de vivência, que brota da experiência íntima. É o resultado de uma intuição espiritual, que transcende a mera intelectualização.
A Fé implica certeza. Ter Fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que vai muito além do âmbito da crença.
Conseguir a Fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer "eu creio", mas afirmar "eu sei", ou seja, eu saboreio, que é o significado etimológico de saber, com todas as dimensões da razão, iluminadas pela luz do sentimento.
Essa Fé não é de boca para fora, recitada. É profunda, inabalável, não se estagnando em nenhuma circunstância de vida, habilitando-nos a superar os maiores obstáculos. É nesse sentido que "a Fé remove montanhas", que são os entraves encontrados em nosso caminho evolutivo, ou seja, os vícios, as paixões, os preconceitos, a ignorância, os interesses puramente materiais, as dores, os reveses, o infortúnio etc.
Em outras palavras, com a certeza na assistência de Deus, a Fé exprime a confiança, que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração.
A Fé inteligente
A Maçonaria insiste em que a Fé não pode ser reduzida à simples crença em certos dogmas religiosos, aceitos sem exame, anulando-se a razão. Essa é uma "fé cega", comparável a um farol, cuja luminosidade não atravessa o nevoeiro, deixando o navegante sem saber seu rumo nos momentos de tormenta.
A verdadeira Fé é esclarecida, como um foco elétrico, que ilumina com brilhante luz o caminho de nossa evolução e ser percorrido.
Chamemo-la "Fé racional" e, por isso mesmo, robusta. Necessita ser conquistada, porquanto passa pelas tribulações da dúvida, pelas aflições que embaraçam o caminho dos que buscam o livre exame e a liberdade de pensamento.
Em vez de dogmas e mistérios, cumpre-nos reconhecer os princípios que regem o mundo e o homem.
Assim, a verdadeira Fé é inteligente, porque se apóia na lógica. Não basta somente dizer "tenho fé". É indispensável conhecer, compreender, saber a dinâmica dessa certeza.
A Fé não dispensa o suporte da razão. "Quem tem olhos de ver, que veja!". Basta lançar nossos olhos sobre as obras da criação, para se ter certeza da existência de Deus. Não há efeito sem causa. O Universo existe; ele tem, pois, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar esse axioma das ciências e admitir que o nada pode fazer tudo.
Deus é a Grande Lei que estabeleceu e mantém a Harmonia Universal. É o Grande Arquiteto do Universo. Duvidar da existência de Deus é duvidar de si mesmo!
A Esperança
A Esperança é a filha dileta da Fé.
A Fé vivida em plenitude, como acima definida, já contém a Esperança, virtude teologal pela qual confiamos na promessa da vida eterna.
Em Maçonaria, usamos a expressão "Oriente Eterno", no sentido de que a alma é imortal e o fenômeno a que se chama morte não é, senão, a transição de uma etapa de nossa evolução infinita.
Por isso, a pessoa consciente, que possui a virtude da Esperança, é capaz de vencer o medo, as tribulações, as intempéries da vida diária, com compreensão e resignação, agradecendo a dádiva das provas e provações que Deus nos oferece, para que nos aperfeiçoemos em nossa caminhada espiritual, na busca da LUZ que vem do Oriente.
A Caridade
Enquanto a Fé e a Esperança são virtudes que vivenciamos em um plano subjetivo, a Caridade é uma ação explícita, em nível objetivo. É uma atuação, embora deva ser silenciosa. Sua prática desenvolve a Fé e a Esperança.
Um dos fundamentos da Ordem Maçônica é a prática da Caridade, sob a forma de filantropia, visando ao bem estar do gênero humano. De fato, nossa Instituição não está constituída para se obter lucro pessoal de nenhuma espécie, senão, pelo contrário, suas arrecadações e seus recursos destinam-se a contribuir materialmente para aqueles que estão privados dos meios de prover uma digna subsistência. E "que nossa mão esquerda não saiba o que dá nossa mão direita".
No entanto, independente de qualquer aspecto pecuniário, o Grande Arquiteto do Universo nos dá a oportunidade de, em qualquer parte, praticar a "caridade maior", a caridade moral, pois "nem só de pão vive o homem".
Ninguém precisa dispor de recursos materiais para praticar essa Caridade. Entretanto, ela é a mais difícil e, por isso, a mais valiosa. Se não, vejamos alguns exemplos:
- Fazer aos demais o que desejaríamos fosse feito conosco.
- Perdoar as ofensas tantas vezes quanto forem necessárias.
- Respeitar nos semelhantes a LIBERDADE de opiniões e pensamentos divergentes dos nossos.
- Ter pelo próximo solidariedade fraternal, FRATERNIDADE.
- Lutar pela IGUALDADE de direitos entre as pessoas.
- Abster-se de julgamentos precipitados e de juízos temerários.
A lista é imensa. O que importa é sabermos que essa "caridade moral" não implica subserviência de nossa parte. Pelo contrário, quanto mais nos respeitemos e qualifiquemos, mais capacidade teremos de nos dar, de amar, de sermos caridosos.
Tais estudos, como é óbvio, não se prendem a questões religioso-sectárias, o que sairia totalmente do espírito maçônico, mas sim ao conteúdo filosófico, ao núcleo ético, dos ensinamentos das religiões, os quais, na verdade, são todos superponíveis uns aos outros.
De fato, por mais inconciliáveis que pareçam, à primeira vista, os diversos sistemas religiosos, quem os examina com imparcialidade, não pode deixar de concluir que só existe, na verdade, uma religião, sempre adaptada à situação social em que surge. Seus elementos essenciais constituem, independente de seus dogmas, a mais completa metodologia educacional, pois, acompanhando o homem do berço até o túmulo, tem como finalidade adaptá-lo, cada vez mais, ao convívio social. E, do ponto de vista da transcendência, não existe uma religião melhor do que a outra, já que a melhor, para cada um de nós, é aquela que nos facilitará melhor compreender os mistérios e desígnios de Deus, permitindo-nos entrar em comunhão com um TODO MAIOR, não importa o nome que se lhe dê. O que importa é que esse estado de consciência nos leve a descobrir uma razão de viver, um sentido de vida, que ultrapasse nossa simples presença na Terra.
Dentro dessa concepção, façamos uma sucinta análise da Trilogia Cristã, constituída pela Fé, Esperança e Caridade, ou seja, pelas Virtudes Teologais.
As Virtudes Teologais
Definamos, em primeiro lugar, o que é virtude.
Tal pergunta já é feita ao postulante, quando da cerimônia de sua Iniciação ao Primeiro Grau.
A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite-nos não só a praticar bons atos, mas a dar o melhor de que dispomos. Com todas as suas forças físicas e espirituais, a pessoa virtuosa tende ao bem, persegue-o e escolhe-o na prática.
Se alguém busca sempre dizer a verdade, possui a virtude da veracidade ou sinceridade. Se prima por ser rigorosamente honesto com o direito dos outros, tem a virtude da justiça.
Para os teólogos do Cristianismo, se adquirimos uma virtude por esforço próprio, como as mencionadas acima, ela é uma virtude natural. Mas, há virtudes que exigem muito mais para se consolidar; dependem de um "dom divino" para serem adquiridas e a elas o homem não pode chegar só com seus dotes naturais. São as virtudes sobrenaturais ou teologais, assim chamadas porque dizem diretamente à intervenção divina. Na verdade, nada ocorre sem a presença de Deus. "Invocado ou não, Deus está sempre presente".
A Fé
Das três Virtudes Teologais a Fé é fundamental.
Não confundamos a Fé com a simples crença, como magistralmente frisa Huberto Rohden. Tal confusão surgiu nos primeiros anos do Cristianismo, quando o texto grego do Evangelho foi traduzido para o latim.
Fé, fides, quer dizer "fidelidade", harmonia entre a alma humana e o espírito de Deus. É, basicamente, uma "adesão pessoal" do homem a esse TODO MAIOR, uma atitude de "alta fidelidade", de sintonia de freqüência do receptor (homem) com o emissor (Deus).
Como esse substantivo latino não tem verbo derivado do mesmo radical, como no grego, os tradutores viram-se obrigados a recorrer a um verbo de outro radical, valendo-se de credere, que em português deu crer.
Crença, crer, com efeito, têm conotação diferente de Fé, de ter Fé. Refere-se a algo incerto, vago, como quando dizemos: "creio que vai chover", "creio que Fulano mudou-se de casa".
Crer em Deus não é o mesmo que ter Fé ou fidelidade a Deus. Quem tem Fé, fides, fidelidade estabelece com Deus perfeita sintonia ou sinfonia de pensamentos, palavras e obras.
Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem Fé, embora talvez creia. Tal pessoa pode, em tese, aceitar que Deus existe e, apesar disso, não ter Fé.
Crer é um ato apenas intelectual, de quem se persuadiu de algo que lhe parece verdadeiro; ter Fé vai mais longe. É uma atitude de consciência e de vivência, que brota da experiência íntima. É o resultado de uma intuição espiritual, que transcende a mera intelectualização.
A Fé implica certeza. Ter Fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que vai muito além do âmbito da crença.
Conseguir a Fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer "eu creio", mas afirmar "eu sei", ou seja, eu saboreio, que é o significado etimológico de saber, com todas as dimensões da razão, iluminadas pela luz do sentimento.
Essa Fé não é de boca para fora, recitada. É profunda, inabalável, não se estagnando em nenhuma circunstância de vida, habilitando-nos a superar os maiores obstáculos. É nesse sentido que "a Fé remove montanhas", que são os entraves encontrados em nosso caminho evolutivo, ou seja, os vícios, as paixões, os preconceitos, a ignorância, os interesses puramente materiais, as dores, os reveses, o infortúnio etc.
Em outras palavras, com a certeza na assistência de Deus, a Fé exprime a confiança, que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração.
A Fé inteligente
A Maçonaria insiste em que a Fé não pode ser reduzida à simples crença em certos dogmas religiosos, aceitos sem exame, anulando-se a razão. Essa é uma "fé cega", comparável a um farol, cuja luminosidade não atravessa o nevoeiro, deixando o navegante sem saber seu rumo nos momentos de tormenta.
A verdadeira Fé é esclarecida, como um foco elétrico, que ilumina com brilhante luz o caminho de nossa evolução e ser percorrido.
Chamemo-la "Fé racional" e, por isso mesmo, robusta. Necessita ser conquistada, porquanto passa pelas tribulações da dúvida, pelas aflições que embaraçam o caminho dos que buscam o livre exame e a liberdade de pensamento.
Em vez de dogmas e mistérios, cumpre-nos reconhecer os princípios que regem o mundo e o homem.
Assim, a verdadeira Fé é inteligente, porque se apóia na lógica. Não basta somente dizer "tenho fé". É indispensável conhecer, compreender, saber a dinâmica dessa certeza.
A Fé não dispensa o suporte da razão. "Quem tem olhos de ver, que veja!". Basta lançar nossos olhos sobre as obras da criação, para se ter certeza da existência de Deus. Não há efeito sem causa. O Universo existe; ele tem, pois, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar esse axioma das ciências e admitir que o nada pode fazer tudo.
Deus é a Grande Lei que estabeleceu e mantém a Harmonia Universal. É o Grande Arquiteto do Universo. Duvidar da existência de Deus é duvidar de si mesmo!
A Esperança
A Esperança é a filha dileta da Fé.
A Fé vivida em plenitude, como acima definida, já contém a Esperança, virtude teologal pela qual confiamos na promessa da vida eterna.
Em Maçonaria, usamos a expressão "Oriente Eterno", no sentido de que a alma é imortal e o fenômeno a que se chama morte não é, senão, a transição de uma etapa de nossa evolução infinita.
Por isso, a pessoa consciente, que possui a virtude da Esperança, é capaz de vencer o medo, as tribulações, as intempéries da vida diária, com compreensão e resignação, agradecendo a dádiva das provas e provações que Deus nos oferece, para que nos aperfeiçoemos em nossa caminhada espiritual, na busca da LUZ que vem do Oriente.
A Caridade
Enquanto a Fé e a Esperança são virtudes que vivenciamos em um plano subjetivo, a Caridade é uma ação explícita, em nível objetivo. É uma atuação, embora deva ser silenciosa. Sua prática desenvolve a Fé e a Esperança.
Um dos fundamentos da Ordem Maçônica é a prática da Caridade, sob a forma de filantropia, visando ao bem estar do gênero humano. De fato, nossa Instituição não está constituída para se obter lucro pessoal de nenhuma espécie, senão, pelo contrário, suas arrecadações e seus recursos destinam-se a contribuir materialmente para aqueles que estão privados dos meios de prover uma digna subsistência. E "que nossa mão esquerda não saiba o que dá nossa mão direita".
No entanto, independente de qualquer aspecto pecuniário, o Grande Arquiteto do Universo nos dá a oportunidade de, em qualquer parte, praticar a "caridade maior", a caridade moral, pois "nem só de pão vive o homem".
Ninguém precisa dispor de recursos materiais para praticar essa Caridade. Entretanto, ela é a mais difícil e, por isso, a mais valiosa. Se não, vejamos alguns exemplos:
- Fazer aos demais o que desejaríamos fosse feito conosco.
- Perdoar as ofensas tantas vezes quanto forem necessárias.
- Respeitar nos semelhantes a LIBERDADE de opiniões e pensamentos divergentes dos nossos.
- Ter pelo próximo solidariedade fraternal, FRATERNIDADE.
- Lutar pela IGUALDADE de direitos entre as pessoas.
- Abster-se de julgamentos precipitados e de juízos temerários.
A lista é imensa. O que importa é sabermos que essa "caridade moral" não implica subserviência de nossa parte. Pelo contrário, quanto mais nos respeitemos e qualifiquemos, mais capacidade teremos de nos dar, de amar, de sermos caridosos.
O Autor é Mestre Instalado da ARLS Theobaldo Varoli Filho
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