quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Salmo 133

CONSAGRAÇÃO A DEUS

DAVI

Na tradição hebraica, a figura de DAVI, rei de Israel, tem duplo significado; o de fundador do poder militar judaico e o de símbolo da aliança entre Deus e seu povo.

A história de Davi é narrada na Bíblia, nos livros I e II de Samuel. Nascido em Belém, na Judéia, entrou como harpista na corte de Saul, primeiro rei de Israel. Na guerra contra os filisteus, o jovem Davi, armado com uma funda, matou Golias, o gigantesco campeão dos inimigos.

Essa vitória e outras que se seguiram despertaram o entusiasmo do povo e, enciumado, o rei Saul resolveu eliminá-lo, embora este tivesse se casado com sua filha Micol e fosse amigo de Jônatas. Davi então fugiu da corte, vivendo em seguida em vários lugares. Depois da morte de Saul e Jônatas, Davi regressou á Judéia e sua tribo o nomeou rei, ao mesmo tempo em que as tribos restantes elegiam Isbaal, o outro filho de Saul.

Na guerra que se seguiu, Isbaal foi morto e Davi tornou-se rei de Israel, fixando a capital em Jerusalém e, para lá transferiu a Arca da Aliança, maior símbolo religioso dos israelitas.

Vários episódios dão á vida de Davi uma nota humana e realista, sobretudo seu adultério com Betsabéia, mulher de Urias, para cuja conquista final teve de liquidar, indiretamente, o marido, que era seu general e dessa ligação nasceu Salomão.

Davi era também extraordinário poeta e músico, e a ele se atribui boa parte dos poemas que compõem o Livro dos Salmos. Na hora da morte, ungiu como rei seu segundo filho, Salomão. Seu corpo foi levado para Belém e ali sepultado. Na tradição posterior, Davi foi apresentado como garantia da união entre Deus e o povo.

SALMO 133

“OH! COMO É BOM E AGRADÁVEL VIVEREM UNIDOS OS IRMÃOS!

É COMO O ÓLEO PRECIOSO SOBRE A CABEÇA, A QUAL DESCE PARA A BARBA, A BARBA DE ARÃO E DESCE PARA A GOLA DE SUAS VESTES.

É COMO O ORVALHO DO HERMON, QUE DESCE SOBRE OS MONTES DE SIÃO.

ALÍ ORDENA O SENHOR A SUA BENÇÃO E A VIDA PARA SEMPRE.”

Este salmo tem sido atribuído ao Rei David. Há quem afirme que é obra do período pós exílio; época que em forte clima emocional, é retomado o culto a JAVEH em plena Jerusalém. Importante é que o tempo não apagou nem alterou tão profunda mensagem, tendo sido transmitida com o tradicional zelo judaico através de gerações até chegar hoje, de forma familiar, a todo maçom.

O Salmo encanta por sua singeleza, por sua mensagem direta, profunda, e pelas objetivas analogias que encerra. Embora não nos seja familiar a imagem do óleo descendo da cabeça até a gola das vestes sacerdotais ou o cenário do orvalho que dos montes (como o portentoso Hermon), desceu até os vales.

Para transmitir o que esta unidade fraternal em sua essência significa, a poesia traz á consciência de cada um o paralelismo com duas figuras bem familiares ao povo hebreu: A barba de Arão e o Monte Hermon.

ARÃO:

Arão é o primeiro nome lembrado toda vez que se falar em religião judaica. A citação do seu nome evoca um paradigma sacerdotal, a linhagem levita.

Arão, é o irmão mais velho de Moisés e seu principal colaborador. A figura de Arão possui, um peso próprio na tradição bíblica, devido ao seu caráter de patriarca e fundador da classe sacerdotal dos judeus. Arão, membro destacado da tribo de Leví, viveu em torno do século XIV A.C. De acordo com a descrição do Exôdo, era filho de Amram e Jocabed e três anos mais velho que Moisés. Segundo a maioria dos biblícistas, se Moisés encarnava a visão profética, Arão simbolizava a necessidade de um poderoso testamento sacerdotal.

Durante o exôdo do povo judeu, Arão é o escolhido por Deus para transmitir ao faraó e ao povo a sabedoria por ele concedida a Moisés.

Em Exôdo: 4: 16," Ele falará por ti ao povo; ele será a tua boca, e tu serás para ele um deus".

Do mesmo modo, Arão ajudou Moisés a tirar seu povo do Egito, atravessando o deserto. Enquanto Moisés se achava no monte Sinai, onde recebeu Os Dez Mandamentos, Arão deixou de lado as recomendações do irmão e, ante as súplicas do povo, mandou construir a imagem do Bezerro de Ouro. Isso provocou a cólera divina e Arão não teve permissão para entrar na Terra Prometida. Apesar disso, Deus o consagrou sumo - sacerdote, fazendo com que de seu cajado brotassem flores.

Foi o primeiro sacerdote dos hebreus, o escolhido pelo Senhor para o sacerdócio, introduzido no tabernáculo ainda no Egito.

Em Números 3: 5-10, temos a declaração explicita de Jahveh:

"Disse o Senhor a Moisés: Faz chegar a tribo de Levi, e põe-na diante de Arão, o sacerdote para que o sirvam, e cumpram seus deveres para com todo o povo, diante da tenda da congregação, para ministrar no tabernáculo.

Terão cuidado de todos os utensílios da tenda da congregação, e, cumprirão o seu dever para com os filhos de Israel no ministrar no tabernáculo.

Darás pois os levitas a Arão e a seus filhos; dentre os filhos de Israel lhes são dados. Mas a Arão e seus filhos ordenarás que se dediquem só ao seu sacerdócio, o estranho que se aproximar morrerá."

Em Exôdo: 40: 13-15, encontramos o comando de Jahveh a Moisés de forma definitiva: "Vestirás a Arão das vestes sagradas, e o ungirás e o consagrarás, para que me oficie como sacerdote.... e sua unção lhes será por sacerdócio perpétuo durante as suas gerações”.

Unção!

É ato de ungir, sagrar alguém ou algo para uma função ou atividade elevada. Na liturgia hebraica, a unção era atribuição privativa dos sacerdotes e estes; até a época de Salomão eram exclusivamente da tribo de Levi.

Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra possessão nenhuma terás, e no meio deles nenhuma parte terás, eu sou a tua parte e a tua herança.

Os Levitas administrarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniquidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será.

Em Levitico: 8: 1-12, encontramos detalhes do ritual de sua “INSTALAÇÃO” como sumo - sacerdote, celebrada por Moisés, conforme as instruções recebidas do Senhor. Na etapa final desse que foi um dos mais solenes cerimoniais de "instalação" descritos no Velho Testamento, o texto assinala :

"Então Moisés tomou o óleo da unção, e ungiu o tabernáculo, e tudo o que havia nele, e o consagrou; e dele espargiu o altar e todos os seus utensílios, como também a bacia e o seu suporte, para os consagrar. Depois derramou do óleo da unção sobre a cabeça de Arão, ungiu-o para consagrá-lo.

TABERNÁCULO, OU TENDA DA CONGREGAÇÃO , era o templo provisório, móvel, utilizado por todo o período anterior á construção do Templo de Salomão, o que ocorreu por volta do ano 968 a.C.

Por todo esse histórico, Arão é personagem importante na história do povo judeu.

Como sacerdote, tinha o privilégio de participar do oficio e cerimoniais no tabernáculo, apresentando diante de Deus as oferendas em nome do povo. Na qualidade ainda de sumo - sacerdote tinha também a responsabilidade e suprema honra de ser o único a entrar uma vez por ano no local "santíssimo " onde se encontrava a Arca da Aliança.

Sua consagração como sacerdote foi feita pelo próprio Moisés por meio do derramamento do óleo sobre sua cabeça. O óleo que desceu sobre a sua barba até alcançar as suas vestes, reveste-se de singular simbolismo no contexto.

O corpo envolto no óleo, simbolizando a consagração sacerdotal, estaria capacitando Arão de representar todo o povo diante do Senhor. Era como se o povo judeu fosse, unido, representado por um corpo - um corpo ungido - perante o Altíssimo.

É a esse óleo que o Salmo da Fraternidade se refere como "precioso". Sua composição, transmitida pelo Senhor a Moisés, reúne apenas cinco ingredientes, em porções bem definidas:

"Tu pois toma para ti das principais especiarias: da mais pura Mirra quinhentos siclos, (Siclos: moeda dos hebreus, de prata pura que pesa- va seis gramas), de Canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinquenta siclos; e, de Cálamo aromático, duzentos e cinquenta siclos; e de Cassia quinhentos siclos e de Azeite de Oliveiras um him.

Cumpre ressaltar, a natureza santa desse óleo.

O sentido do termo Santo é separado, sagrado, consagrado. Não é comum, profano ou vulgar, tanto que o próprio Deus adverte explicitamente:

EM Exôdo 30: 31-33 "Este me será o azeite da santa unção nas vossas gerações. Não se ungirá com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante conforme á sua composição: santo é, e será, Santo para vós. O homem que compuser tal perfume como este, ou que dele puser sobre um estranho, será extirpado dos seus povos."

De acordo com o livro dos Números, Arão morreu no monte Hor com 123 anos de idade.

Outras fontes bíblicas, porem, afirmam que ele morreu em Moserá.

MONTE HERMON:

“É COMO O ORVALHO DO HERMON, QUE DESCE SOBRE OS MONTES DE SIÃO.

ALÍ ORDENA O SENHOR A SUA BENÇÃO, E A VIDA PARA SEMPRE.”

A outra figura lembrada pelo salmista nos transporta ao portentoso e belo monte Hermon, e o orvalho que do seu topo se precipita aos montes de Sião.

Reputado como local sagrado pelos habitantes originais de Canaan, o monte Hermon situa-se na região norte da Palestina hoje, na fronteira do Líbano com a Síria e, se eleva a 2.800 metros de altitude. O cume do Hermon está permanentemente coberto de neve. Aos seus pés tem origem o rio Jordão, responsável por tornar fértil toda a região conhecida como vale do Jordão, que se estende da cidade de Dã até a região de Edom, ao sul do Mar Morto.

A fertilidade, isto é, a própria vida da região, é dádiva do monte Hermon. Se não fora o orvalho de suas vertentes, não existiria o Jordão. A região vizinha é inóspita e sem chuvas. As águas cristalinas do Jordão asseguram a irrigação e com ela a vida ao longo do vale verdejante.

É possível dai se entender o significado simbólico do "...orvalho do Hermon" e a paráfrase da conclusão:

"Alí ordena o Senhor a sua benção e a vida para sempre”.

Duas figuras, o óleo que desce da cabeça de Arão e o orvalho do Hermon que também desce, eis as analogias feitas pelo poeta para comparar as benesses da vida em união. Tudo se passando como se ele tivesse dizendo que viver em união é como ter Arão como sacerdote, em intimo contato com o Criador, interpretando nossas dores e alegrias e oferecendo os sacrifícios. Ou então é como ter garantida a vida, que frui do Hermon até aos montes de Sião, assegurando a fertilidade da região de onde vem nosso sustento.

Com estas duas figuras entendemos o que o salmista nos traz. Viver em união, como irmãos, é a superação de todos os males. É sinônimo da máxima virtude humana. É quando os homens ascendem ao clímax da felicidade. É a realização do EU coletivo. Não o seremos "eus" mas "nós". A felicidade da vida em união é comparada com dois planos: o espiritual, simbolizado pelo óleo sobre a cabeça ungindo Arão, que permite o homem alcançar o plano do EU superior. E material, representado alegóricamente pela água que descendo do Hermon assegura a vida pela perene fertilidade do solo.

De um lado o espirito – o compasso - de outro o corpo - o esquadro, e no meio o homem plenamente harmonizado consigo mesmo, com os demais semelhantes, com a natureza (a terra) e com o Principio Criador. O óleo, o homem, o monte e a água formam os símbolos e alegorias, que nos levam a entender o significado da real união entre homens que se definem como irmãos.

O Salmo 133 consagra o puro e verdadeiro amor fraternal, essência para a construção dos novos tempos. "Ali ordena o Senhor a sua benção, e a vida para sempre". Ele retrata os mistérios da felicidade interior dos que vivem em harmonia com seus irmãos, tal como preconiza nossa ordem. Feliz aqueles que compreendem o essencial deste poema, para alguns oculto, e, muito mais do que isto, conseguem viver esta experiência.

O objetivo primário da Maçonaria é unir os Irmãos de tal forma que possam parecer um só corpo, uma só vontade, um só espírito, formando um Templo coeso, compacto, de partes heterogêneas formando um todo. Os Maçons, portanto, quando unidos pela Cadeia de União, não estão absorvidos nem diluídos, mas ligados através da soma das forças físicas e mentais, existindo individualmente no todo.

“Segui a palavra de Davi, é a voz de Deus na Terra ”.

Irmão Antonio José Rodrigues

BIBLIOGRAFIA:

Texto elaborado a partir das fontes abaixo:

Bíblia.

Revista A Verdade nº 381.

Enciclopédia Britânica ( Barsa).

Dicionário Aurélio Eletrônico.

Revista 0 Milênio.

Ritual da Magia Divina - Os Salmos de Davi e suas Virtudes.

apoio e materiais fornecidos:

Cleanto Pereira : ARLS Lealdade Paulistana

Jair Mendes Ferreira : ARLS Cidade de São Paulo nº 416

A Flauta Mágica

A ópera de Mozart é um desaguadouro das diversas tendências ideológicas e artísticas da do século XVIII

por Marcelo Xavier

1791, o compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) recebeu uma insistente encomenda de um empresário de um teatro dos arredores de Viena, Emanuel Schikaneder. A história, um tanto exótica, parecia fazer o gosto da platéia da época, que vivia num curioso modismo de costumes "orientalistas".

Era uma história fantástica, num enredo típico de contos de fadas, que fala de um príncipe e uma princesa, uma rainha e um sacerdote malvado e um carismático passarinheiro. A ópera, que seria apresentada como singspiel (cantada e falada) para um público de gosto popular (algo que só se efetivaria com o advento do Romantismo, no século XIX), se chamava A Flauta Mágica (Die Zauberflöte) e se transformaria na obra-prima do compositor mais ilustre da capital dos Habsburgos.

Apesar do enredo aparentemente simples, parte da crítica notou que, além de "orientalismos", a história era uma espécie de alegoria do universo da Maçonaria em que Mozart vivia e falava de valores que se aproximavam muito do pensamento Iluminista. Como disse alguém a respeito da peça, "Não existe outra ópera que seja tão ambígua: é um conto mágico ou uma peça de mistério? Uma alegoria sobre o bem e o mal ou uma parábola do verdadeiro amor?". A partir de sua primeira apresentação, em 30 de setembro de 1791 (dois meses antes da morte do autor), ficava a dúvida: não se tratava apenas de uma obra fantástica. Suas implicações subliminares eram cada vez mais numerosas e evidentes.

UMA FÁBULA?

Com a morte do imperador José II, Mozart não receberia mais encomendas de óperas para a corte de Viena. O seu abandono ficaria ainda mais evidente com a demissão, por ordem real, de seu libretista italiano, Lorenzo da Ponte, colaborador em três obras. A sorte do músico só mudaria com Emanuel Schikaneder, ator, empresário e libretista. Ele havia assumido a direção do Theater Auf Der Wieden (um teatrinho de feira, espécie de percursor dos "nicklodeons") e ofereceu a idéia de Die Zauberflöte - adaptação livre de um conto de Wieland, para uma platéia mais suburbana. Para esse público menos classudo, a história parecia uma fábula sobre o amor, onde tudo está bem quando acaba bem, e dá certo quando o casal que se ama trabalha junto na superação das dificuldades impostas pela vida. Tamino é um príncipe egípcio e Pamina é filha da Rainha da Noite. A história se passa no Egito, no período de Ramsés I. Tamino é perseguido por uma cobra, desmaia e é salvo por três damas da noite, ao mesmo tempo em que chega um caçador de pássaros, falastrão e mentiroso, Papageno, que conta ter matado a tal cobra. As damas ouvem a deslavada mentira e o punem por isso.

Em seguida, elas revelam ao príncipe que Pamina foi raptada pelo mago Sarastro. A rainha então roga a Tamino que vá salvá-la. Este recebe dela, pelas mãos das três damas, uma flauta mágica. Ao ser tocada, a flauta pode salvá-lo de todos os perigos. Então acontece a mudança no plano dramático:

na verdade, eles descobrem que o obscuro reino do sumo-sacerdote é uma comunidade sábia, dirigida por homens sábios e de grande virtude, e que o rapto foi para salvar a jovem das maldades de sua mãe. No fim do primeiro ato, Papageno e Tamino aceitam passar por um ritual de iniciação. O passarinheiro, um rapaz de vida simples e que se resumia a tomar um cálice de vinho e encontrar uma namorada, com menos coragem, desiste das provas em favor do príncipe. Este, acompanhado de Pamina, vence os desafios, com o auxílio da flauta mágica. No fim, Papageno encontra uma alma gêmea - Papagena - e juntos entoam um dueto doce e memorável. Se Sarastro era bom, a verdadeira vilã é a Rainha da Noite (cuja antológica ária de apresentação ficou conhecida na propaganda da Chevrolet, na voz de Édson Cordeiro).

Segundo o historiador Luiz Roberto Lopez, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tanto a conclusão da Flauta Mágica quanto a diferença entre a Rainha da Noite e Sarastro mostravam as intenções de Mozart em exaltar o triunfo da fraternidade sobre a intolerância e da luz sobre as trevas - essa é, mais ou menos, a idéia principal. E o "orientalismo" da peça, por sua vez, animou Schikaneder, que previu casa cheia durante as apresentações, cuja assistência tomava gosto por esse tipo de novela fantástica. Contudo, segundo Roberto Lopez, a Zauberflöte é um desaguadouro das diversas tendências ideológicas e artísticas da segunda metade do século XVIII. "Nela encontramos o amor à natureza, a canção popular, o lirismo romântico, o humor ingênuo, a lição moral, o elevado humanismo e a retórica iluminista", diz Lopez. O historiador observa também que o verniz orientalista do enredo foi um dos recursos que Mozart aludiu para se referir ao que seria o elemento principal no libreto da ópera: o vínculo do compositor com a Maçonaria.

SIMBOLISMOS

Para os estudiosos, a primeira pista apareceu na confecção do primeiro libreto: uma página de rosto foi desenhada por um gravador que era conhecido membro da maçonaria, Ignaz Alberti. Para os não iniciados, soava como uma gravura de uma escavação arqueológica no Egito, devido ao cúmulo de elementos maçônicos contidos na ilustração. Como se sabe, Mozart pertenceu à Maçonaria austríaca, assim como o seu colega Joseph Haydn, além do próprio Emanuel Schikaneder. Porém, ao contrário das lojas francesas, este grupo não

tinha qualquer intenção revolucionária, a não ser a constituição de uma comunidade afeita a discutir concepções genéricas muito bem comportadas. Mesmo que essas lojas fossem bastante "moderadas", na terra de Mozart, devido aos eventos de 1789, as agremiações maçônicas passaram a ser perseguidas e fechadas, entre 1794 e 1796. Assim, quando José II morreu, a Maçonaria estava em seus estertores na Áustria.

Com a pena da sutileza, o compositor da "Eine Kleine Nachtmusik" desenhou no pentagrama e no palco um simbolismo diáfano do que era a Maçonaria da sua época, com o objetivo de escapar da censura. Deste modo, todo o ritual passava desapercebido ao público comum, mas não aos iniciados.

O fator mais recorrente é a utilização do número três em vários momentos da ópera. A abertura (em mi bemol maior) comporta dois movimentos: um adágio-allegro-fugatto. São três acordes ascendentes que servem de prelúdio a uma melodia que se insurge de maneira indecisa, quando é quebrada pela explosão do allegro. Três bemóis na clave principal (mi bemol maior) na Ouverture, três meninos, três damas. Outra pista é a cena da Cruz Soberana com os soldados: a introdução orquestral desta cena possui dezoito grupos de notas. Sarastro aparece pela primeira vez na cena dezoito do primeiro ato(!). No começo do último, o mago e seus sacerdotes entram em cena: são dezoito sacerdotes e a primeira parte do tema que eles interpretam, o coro "O Isis Und Osiris", dura dezoito compassos.

Explica-se: já que o número dezoito é múltiplo de três, três é na verdade o tal número recorrente.

SUBVERSÃO

De acordo com Luiz Roberto Lopez, junto coma tese "maçônica" de Die Zauberflöte, existe uma outra, que joga-a para um outro lado. Um outro autor, Claudio Casino, chama a atenção que Ignaz Von Born havia deixado a Maçonaria em 1786 para ingressar numa outra sociedade secreta, esta situada mais à "esquerda" dos maçons, chamada Ordem dos Iluminados. Os Iluminados teria se utilizado dos elementos típicos da Maçonaria com a intenção de subvertê-la. Consta que eram adeptos do materialismo ateu e defendiam uma sociedade sem classes. Revolucionários, a nova Ordem atacava os maçons,

acusando-os de ociosos e obscurantistas. Pela ótica de Casino, a identificação de Von Born com Sarastro teria outra explicação: seu oponente, a Rainha da Noite, não representava a Imperatriz Maria Teresa (que andava às turras com a Ordem do Templo), mas sim a Maçonaria "obscurantista". Por outro lado, nessa mesma tese, a cena do ritual de iniciação de Tamino e Pamina no Templo de Ísis não representaria a sua iniciação na Maçonaria, mas sim o ingresso desta para a Ordem dos Iluminados.

- Sob a aparência de uma fábula maçônica, Mozart teria feito uma exposição dos rituais dos "Iluminados" - revela Lopez.

Desta forma, a hipótese de Casino terminou questionando quase veementemente àqueles que achavam que a tese "maçom" da Flauta Mágica fosse irrefutável. Pelo menos, o que é seguro é que o compositor faz uso corrente de simbologia da Ordem à qual pertencia. Mesmo sendo uma idéia sedutora - assevera o historiador - a teoria de exaltar uma comunidade mais "radical" como a dos Iluminados não se confirmaria de todo. Afinal, a dualidade luz/trevas, tão presente na ópera, era elemento comum tanto entre os maçons quanto os Iluminados. Mais do que isso, ela não deixava de representar o ideal daquela época, como representação do racionalismo, o mote principal de todo o ideário iluminista: "o mais certo é que Mozart foi, antes de tudo, coerente com a sua própria concepção humanista de vida", entende Lopez. "As diferenças de posicionamento entre as duas ordens, por mais importantes que parecessem, seriam sutilezas políticas para as intenções do compositor".

"ELE É UM HOMEM!"

Correndo por fora deste embate ideológico, Luiz Roberto Lopez salienta a questão de idéias que A Flauta Mágica expõe e defende, com clara finalidade didática e moralizadora, "bem ao gosto dos Iluministas". Nesse sentido, é nítido o conteúdo maçônico do trinômio "virtude-prudência-sabedoria" e alusões à elementos "puros" como Bondade e à Fraternidade. O historiador salienta um trecho falado no segundo ato, onde Sarastro e os demais sacerdotes discutem a admissão de Tamino na Ordem. Um deles diz, referindo-se ao herói: "ele é um príncipe", ao que Sarastro retruca; "mais do que isso, ele é um homem" ("Er ish Mensch!"). Mais que um príncipe, um homem. Ou seja, antes de qualquer título honorífico, ele é como um de nós, e é um ser humano. Ele não seria maior do que todos pela realeza, mas nivelado pela sua condição humana. Em Zauberflöte, personagens que simbolizam traição (como o mouro Monostatos), opressão e dissimulação (a Rainha da Noite) são fadados ao fracasso e à morte.

A rainha, aliás, ao ser subentendida como a corte decadente, de acordo com Lopez, seria mais uma construção feita como desagravo e testemunho do valor de uma "corporação ameaçada" e representação de intolerância daqueles tempos. Ao contrário, a comunidade de Sarastro seriam os novos tempos, o reino da benevolência. "Esta é a verdade que, inicialmente oculta ao público, ao ser contada, surge como uma revelação". Apesar desse embate, não existe violência n'A Flauta Mágica. Mesmo a "malvadeza" da Rainha da Noite é atenuada pela beleza e a coloratura de duas principais árias e o carisma dos personagens consegue subverter os "deslizes" do libreto de Schikaneder, como a "incoerência" de Tamino, que, antes, covarde fugitivo de uma serpente, vira um guerreiro audaz. Já Papageno, o mais emblemático da ópera, é dono de uma singela virtude que o assemelha ao mito do "bom selvícola", de Jean-Jaques Rousseau. É o homem em seu estado natural, dócil e inocente, em contato com a natureza e auto-suficiente em seus simples prazeres.

A Flauta Mágica, a derradeira de Wolfgang Amadeus Mozart, é certamente a mais universal de todas. Não é a rede de intrigas de Cosi fan Tutte, não é uma eficiente bufonaria com toques de comédia grega, como Le Nozze de Fígaro, não é a velada defesa do individualismo "burguês" que se ensaiava naquele fim de século, como em Don Giovanni. A Flauta Mágica fala de grandes sentimentos: "é a ópera dos elevados sentimentos humanos, traduzidos num clima de beleza e de beatitude", destaca Lopez. "É a ópera dos altos ideais se impondo ao obscurantismo, é o evangelho de uma religião muito particular de Mozart, impregnada do humanismo confiante e da felicidade como aurora promissora no horizonte, proclamados no pensamento da Idade das Luzes", conclui.

Para quem se interessar, é possível ouvir boas versões de A Flauta Mágica em CD nas lojas. Infelizmente, os títulos de clássicos em edições brasileiras rareiam muito. Para quem se preocupa com a qualidade das interpretações, desde os solistas até a orquestra, por exemplo, na verdade, não existe uma gravação perfeita da obra. Existem mais algumas consagradas mais pelos seus respectivos regentes ou por seus atores, mas nem sempre uma edição conhecida seja a melhor. Em se tratando de música clássica, é fácil incorrer no equívoco de comprar a peça porque o intérprete é famoso. A edição da Filarmônica de Berlim (regência de Herbert Von Karajan) é bastante difundida, mas tem interpretações abaixo da média geral. Na verdade, serve como registro histórico de uma época da "Berliner". Existem versões que "pecam" menos e podem ser recomendadas, mas são imperfeitas no todo. Entre elas há o DVD de Araiza/Serra/Battle/Holl/Levine (Deutsch Gramoffon Gesselchaft) É uma gravação com excelente resultado, em vários aspectos. Em CD, a gravação de melhor resultado final é a do maestro Otto Klemperer com a Philharmonia Chorus Orchestra, com Nicolai Gedda como Tamino. Edição EMI: "Great Recordings of the Century" (CD duplo).

Para saber mais:

Mozart, um Compêndio (Zahar, 562 pp), organizado pelo musicólogo e historiador inglês H.C. Robbins Landon e que reúne verbetes de 24 excelentes colaboradores.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A Maçonaria em Cuba (Crónica de Uma Descoberta)

Numa simples visita turística a CUBA e depois de ter almoçado num agradável restaurante perto da Plaza de la Catedral, dirigi-me a um empregado para lhe pedir uma informação sobre um mapa que levava comigo.Enquanto me explicava, não pude deixar de reparar num anel que o mesmo usava, pois a simbologia era maçónica. Perguntei-lhe se o anel era dele – disse-me que sim e que era maçon.Estranhando a sua abertura e não identificando a minha condição, perguntei-lhe então como era possível existir maçonaria em CUBA? – a sua resposta não podia ser outra – somos homens livres e não discutimos política, nem religião.Após algum diálogo e troca de identidade, aconselhou-me a visitar a Grande Loja de Havana, que ficava na Avenida Salvador Allende, num edifício que tinha um planeta terra.Aquela conversa, apesar da sua sinceridade e transparência, não deixou de me colocar imensas questões, ora não seja CUBA considerada um paradigma da censura à liberdade, em várias das suas vertentes. Por acaso eu até pretendia visitar a Plaza de la Revolución que fica naquela direcção, logo, decidi estar atento à eventual discrição e sobriedade do edifício.
Acabava de sair da Igreja de Sagrado Corazón de Jesus, quando reparei que no topo de um edifício de 11 andares em frente, estava um destacado planeta terra encimado por um esquadro e um compasso – Não havia dúvidas.Tendo decidido entrar, deparei com uma estátua de José Marti, o símbolo da independência cubana e da luta contra os colonizadores – Talvez estivesse aqui a chave do mistério... Um regime político como o cubano, baseado no povo e suas sinergias, no simbolismo da luta contra a opressão, nos princípios da integridade, educação e cultura, não poderia perseguir a instituição que desde sempre representou os valores da liberdade, igualdade e fraternidade, sob pena de se contradizer.Como poderia Fidel justificar o seu regime e a sua luta, se todos os símbolos humanos a que pudesse recorrer eram maçons ilustres (José Marti, Simón Bolivar, Salvador Allende e D. Pedro IV – Brasil)?O regime político cubano, opressivo e castrador de algumas das liberdades mais básicas como a de expressão, associação e circulação, não representa a Maçonaria nem os seus princípios, contudo, reconhece a sua importância, reconhece a sua obra social e reconhece o apoio que lhe deu contra o opressivo regime de Fulgêncio Baptista durante a Revolução.Nesse sentido, admitindo que daí não advirá qualquer oposição declarada porque a intervenção da Maçonaria não tem um cariz político, mas antes social, Fidel admite a sua existência e disseminação por toda a ilha (efectivamente, após algumas excursões pela ilha, acabei por encontrar inúmeros templos maçónicos), como sustentáculo de algum exercício do direito de liberdade de pensamento, de comunhão de princípios e organização de obras de beneficência.A este título é exemplificativo a própria Grande Loja, onde funciona um asilo para antigos maçons, uma biblioteca e um museu (que só pode ser visitado por maçons), para além de outras valências de carácter social.A própria biblioteca da Grande Loja de Havana, é amiúde visitada pelas escolas como pude comprovar, não só pelo seu espólio, mas também no intuito de cultivar o conhecimento e o respeito pelos símbolos da revolução do povo.Actualmente, a Grande Loja Cubana conta com mais de vinte mil maçons regulares, sendo reconhecida pelas Grandes Lojas de 38 Estados norte-americanos.»

N. FerreiraIn “Revista da Maçonaria”, número 3, Fevereiro de 2005

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PRINCE HALL: UMA MAÇONARIA DESCONHECIDA

Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33
I - INTRODUÇÃO: A idéia de fazer um trabalho sobre a maçonaria Prince Hall, ou seja a maçonaria dos negros dos EEUU, tem por objetivo informar à comunidade maçônica brasileira sobre uma maçonaria pujante que por longos anos tem sido escamoteada, em termos de informação, ao mundo maçônico brasileiro.Se o Brasil se propõe a ser uma potência maçônica deve ter o cuidado de se informar sobre o que se passa no resto do mundo e parar de repetir acriticamente o que lhe é ofertado pelos sistemas de divulgação maçônicos internacionais.O presente trabalho busca trazer à tona a figura histórica e a legenda do primeiro maçom negro dos Estados Unidos, e talvez do Hemisfério Ocidental, chamado Prince Hall, que deu origem à maçonaria dos negros norte-americanos.Busca, a seguir, relatar as dificuldades da Obediência Prince Hall nos Estado Unidos e a tentativa de formar uma Grande Loja Nacional Prince Hall.Relata o que denominei de pérolas maçônicas, ou seja as instruções normativas da maçonaria branca em negar reconhecimento à sua congênere negra, num bestialógico digno dos tempos mais obscurantistas da história universal.Termina propondo um repto para que se estude mais a fundo este importante ramo da maçonaria universal, visto que o Brasil, pela sua população negra não pode viver só da versão do homem branco. Concomitantemente, busca extrair lições estratégicas sobre o que se passa no mundo da alta política.Como surgiu a idéia de escrever algo sobre a maçonaria Prince Hall? Na minha última viagem a Nova Iorque comprei um pequeno livro sobre a maçonaria Prince Hall[1] que li com grande prazer, pois, no Brasil, sempre que desejei informar-me sobre a maçonaria negra nos Estados Unidos, encontrava uma barreira devido à inexistência de bibliografia apropriada.O autor, um militar negro chamado Joseph A.Walkes, tornou-se mestre maçom em 1965 na Loja Cecil A.Ellis nº 110, na base militar norte-americana de Karlrude, na Alemanha Ocidental, que trabalhava sob a jurisdição da Grande Loja Prince Hall de Maryland. É, ainda, membro honorário da Loja Militar da Zona do Canal nº 174 no canal do Panamá. Atualmente, pertence aos quadros da Loja Rei Salomão nº 15 de Forte Leonard Wood no Estado de Missouri. Foi editor da revista Masonic Light e, atualmente, edita a revista News Quaterly do Supremo Conselho Unido 33º da Jurisdição Sul (PHA) nos Estados Unidos.Com este Ir\ negro, informei-me sobre o básico, da ótica negra evidentemente, da maçonaria Prince Hall nos Estados Unidos. O presente trabalho segue, em linhas gerais, as pegadas de Walkes. Aprendi, por exemplo, que ao lado do tronco da maçonaria branca, que ele chama de maçonaria caucasiana, existe um frondoso galho, chamado Prince Hall. Este galho e este tronco estão em constante estado de guerra, surda ou aberta, até os dias de hoje.Procurei distinguir o fato histórico real da lenda vigente. E, aqui, convém salientar o livro clássico de Grimshaw[2] que, se por um lado foi de importância fundamental em trazer à tona a legenda da figura seminal de Prince Hall, dando uma consciência de luta aos negros maçons norte-americanos, por outro lado, criou uma série de contos de fada sobre o mesmo Prince Hall, dificultando, e muito, a moderna historiografia. Sempre que usar, neste trabalho, a assertiva ‘a tradição afirma tal coisa’, estarei me referindo à versão de Grimshaw.Neste trabalho, procurei seguir as pegadas dos historiadores clássicos e modernos que se debruçaram sobre a maçonaria Prince Hall, tais como o aludido Grimshaw, Davis, Walkes, Sherman, Wesley, etc.
II - A HISTÓRIA E A LENDA DE PRINCE HALL: Deve-se destacar, na figura de Prince Hall, a parte real, mas menos romântica, resgatada pela moderna pesquisa historiográfica e a lenda, devida, na maioria das vezes, a Grimshaw e que vem sendo alimentada pelo povo maçônico afro-americano. A moderna historiografia estima que Prince Hall nasceu em 1735 em lugar desconhecido. Alguns especulam que teria nascido em Barbados nas Índias Ocidentais, outros que teria sido na África enquanto uma minoria chega a afirmar que o seu local de nascimento seria os Estados Unidos. Documentos analisados mostram que teria exercido várias profissões, tais como: trabalhador braçal, artesão de roupa de couro e fornecedor de alimentos. Outros documentos apresentam-no como líder e eleitor numa pequena comunidade negra em Boston.A versão tradicional, muito aceita mas de pouca ajuda para a pesquisa científica, afirma que Prince Hall nasceu em Bridgetown, Barbados, nas Índias Ocidentais em 1748, filho de Thomas Hall, um inglês, mercador de couro que teria como esposa uma mulher negra livre, de descendência francesa. Teria vindo para a Nova Inglaterra durante a metade do século XVIII, estabelecendo-se em Boston, na colônia de Massachusetts, onde teria se tornado pastor da Igreja Metodista.A versão tradicional ainda afirma que Prince Hall teria pertencido às fileiras do Exército Revolucionário e lutado na guerra de independência norte-americana.Um ponto controverso tem sido a versão de que Prince Hall tenha sido escravo ou não. Sherman afirma que “tive a fortuna de descobrir, na Biblioteca Athenaeum de Boston, uma cópia do documento de alforria, provando que Prince Hall tinha, originalmente, sido escravo na família de um negociante em roupa de couro de Boston chamado William Hall que o alforriou em 1770”.[3] Certos historiadores afro-americanos rejeitam alguns documentos que tentam demostrar ter ele sido escravo da família Hall, como se, em sendo isto verdade, teria sido uma desonra para a figura de Prince Hall. Aqui, convém lembrar o dizer da carta de Mahatma Gandhi ao Ir.´. W.E.B. Dubois em 1929: “Não deixem os 12 milhões de negros [norte-americanos] se envergonharem pelo fato de serem descendentes de escravos. Não há desonra em ter sido escravo. Há desonra em ter sido proprietário de escravos”.[4] A maçonaria Prince Hall nunca negou iniciação a qualquer ex-escravo desde que preenchesse os requisitos mínimos exigidos pela Ordem. A Grande Loja Unida da Inglaterra, após a abolição da escravidão nas Índias Ocidentais pelo Parlamento Britânico em 1º de setembro de 1847, mudou a expressão nascido livre para homem livre como requisito para ingresso nas suas lojas.A tradição afirma que Prince Hall teria sido iniciado em 6 de março de 1775. E aqui existe uma controvérsia entre a Loja nº 441 e a Loja Africana , sendo que ambas estariam na gênese da maçonaria Prince Hall, com as implicações do reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra e o problema de haver duas Obediências em um mesmo território. O historiador Jeremy Belknap afirma que “tendo uma vez mencionado esta pessoa (Prince Hall), tenho a informar que ele foi um grão-mestre de uma loja de maçons livres, composta na sua totalidade de pretos e conhecida pelo nome de ‘Loja Africana’. Isto teria acontecido em 1775, quando esta cidade foi tomada pelas tropas britânicas, possibilitando a montagem de uma loja e ainiciação de um bom número de negros. Após o estabelecimento da paz, enviou-se a Londres um pedido de reconhecimento, obtendo-se uma carta timbrada pelo duque de Cumberland e assinada pelo conde de Effingham”.[5]Nelson King, editor da revista Philalethes, afirma que “em 29 de setembro de 1784 uma carta de reconhecimento (warrant) foi outorgada pela primeira Grande Loja da Inglaterra para 15 homens em Boston, Massachusetts (inclusive o Ir\Hall, cujo primeiro nome era Prince), formando a Loja Africana nº 459 no registro inglês. A Loja Africana contribuiu com o Fundo de Caridade inglês até 1797 e permaneceu correspondendo-se com o Grande Secretário até início do século XIX. Os livros de registro da Grande Loja, para tal período, entretanto, são incompletos e não é impossível que a correspondência, entre ambos os lados, apareça como tendo sido ignorada. Após 1802, o contato foi perdido, devido, em grande parte, à interrupção que as guerras napoleônicas causaram sobre os transportes e as comunicações com a América do Norte. Em 1797, a Loja Africana, contrariamente aos termos da carta de reconhecimento e às Constituições de Anderson, às quais estava vinculada, deu autorização a dois grupos de homens para se reunirem como Lojas: i) a Loja Africana nº 459B em Filadélfia na Pensilvânia e ii) a Loja Hiram (sem número) em Providence, Rhode Island. Autorizações continuaram a ser dadas para outras lojas a partir de 1808.Após a união das duas Grandes Lojas inglesas - antigos e modernos - em 1813 a fusão dos livros de registro omitiu a Loja Africana (assim como muitas outras lojas na Inglaterra e além mar) deixando de haver contato por longos anos. A Loja Africana, contudo, não foi formalmente extinta”.[6]Gould, em toda sua monumental obra, não chega a citar a figura de Prince Hall, mas num quadro em que lista as lojas nos EEUU reconhecidas pela Grande Loja da Inglaterra entre 1733 e 1789 cita a African Lodge de Massachussets com a data de 1784-86.[7]Outro historiador chega a afirmar que Prince Hall teria sido iniciado numa loja militar, a Loja nº 441, sob a jurisdição da Grande Loja da Irlanda, ligada a um dos regimentos do exército do General Gage e cujo Venerável Mestre era o Ir.´. J.B.Watt.[8] Esta Loja volante existiu na vizinhança de Boston, estabelecendo-se futuramente em Nova Iorque e participou na formação, segundo a versão da maçonaria Prince Hall, da Primeira Grande Loja Caucasiana. Com a remoção da Loja para Nova Iorque, supõe-se que aquele Ir\J.B.Watt tenha dado uma “permissão” (se escrita, o documento perdeu-se; talvez oral, para que Prince Hall continuasse a funcionar em Boston). Daí talvez a gênese da “Loja Africana”. O que se especula é que essa “permissão” daria a Prince o direito de fazer reunião e de enterrar seus mortos, quando necessário. As atas da “Loja Africana” deixam muito a desejar sobre o que teria acontecido após a partida dos ingleses, sendo que este fato concorre para que a maçonaria branca marginalize a nascente maçonaria Prince Hall. Na época, Prince Hall mandou uma petição ao Grande Mestre Provincial Joseph Warren, pedindo reconhecimento. Entretanto, Warren foi morto na batalha de Bunker Hill antes de poder responder. Convém salientar que, com a morte de Warren, a jurisdição de Massachusetts abateu colunas e não havia autoridade maçônica na região. Em seguida buscou conseguir uma autorização legal e regular que substituísse a precária “permissão” de Watt. Primeiramente, tentou-se o Grande Oriente de França mas o seu intento foi infrutífero. Procurou então contatar a Grande Loja de Londres (modernos) através de duas cartas dirigidas ao Ir\William M. Moody em Londres. Desta vez obteve sucesso, conseguindo finalmente o “warrant” em 20 de setembro de 1784 para a African Lodge nº 459. Essa autorização chegou às mãos de Prince em 29 de abril de 1787 e foi noticiada pelos jornais locais. É um documento de importância vital para a maçonaria Prince Hall, pois é a prova inconteste para fugir da irregularidade que a ela é imputada pela maçonaria branca. Walkes chega a afirmar que “a carta permaneceu nas mãos da Prince Hall Grand Lodge of Massachussets. Em 1869, foi chamuscada num incêndio, sendo, contudo, salva pela ação do P.G.M. Kendall que recuperou o documento. Existe um grande número de maçons Prince Hall que acreditam ter sido o incêndio uma tentativa de a maçonaria caucasiana destruir o mais valioso de todos os documentos da maçonaria Prince Hall. Enquanto esta crença não pode ser provada, o fato alegado mostra a freqüente relação tensa entre a fraternidade Prince Hall e a sua contraparte caucasiana. Mostra também a conexão emocional entre a América Negra e Branca.”[9]É preciso ter em mente o status colonial do negro norte-americano na época da independência. Não possuíam educação formal, além do mais sofriam restrição legal para adquiri-la e os códigos dos negros legais impediam reuniões ou ajuntamentos com mais de três individuos da raça negra. Os historiadores negros afirmam que os negros estavam na América Colonial mas não eram da América. Eram súditos coloniais dos súditos coloniais da Inglaterra. Não estavam sendo explorados por George III, mas sim por George Washington, pelos maçons e pelos donos de escravos. Os Pais Brancos Fundadores não eram os Pais Negros Fundadores, pois os homens negros viviam uma diferente Declaração de Independência, uma Revolução diferente numa América diferente. A revista maçônica negra - Phylaxis Magazine - editada em Boston comenta em seus editoriais que houve e tem sempre havido duas Américas, uma Branca e outra Negra. Defini-las juntas seria impossível. Medir a maçonaria de cada uma em conjunto, também é praticamente impossível, pois a convenção constitucional branca não foi a convenção constitucional negra, o começo branco não foi o começo negro.Prince Hall demonstrou a sua combatividade em diversas ocasiões. Em 13 de janeiro de 1777, conjuntamente com outros companheiros de luta - maçons ou não - endereçou uma petição ao legislativo de Massachussets protestando contra a existência da escravidão na Colônia. Documentos demonstram que, novamente, em 27 de fevereiro de 1788, redigiu outra petição protestando contra o seqüestro e subsequente venda como escravos de numerosos negros que foram levados de Boston para um navio em direção às Índias Ocidentais. Estes negros retornaram a Boston depois de detidos pelo governador do Maine que concordou com o pedido de auxílio do governador de Massachusets.Deixou vários documentos escritos, inclusive um livro de cartas, grande manancial para os historiadores. Prince faleceu em 4 de dezembro de 1807 na glória de ter sido o primeiro americano negro a receber os graus da maçonaria nos EEUU. Sua morte foi noticiada em inúmeros jornais de Boston. Foi enterrado em Copps Hill ao lado de uma de suas esposas.A maçonaria Prince Hall honra a memória de seu fundador em uma cerimônia pública - Prince Hall Americanism Day - que acontece em setembro numa igreja em Boston. Como os São Joães, Prince Hall é considerado um dos santos fundadores da maçonaria negra nos EEUU. A cada dez anos a Conferência dos Grãos Mestres Prince Hall realiza uma peregrinação à Boston no seu memorial em Copps Hill.III - A OBEDIÊNCIAMackey, dentro da mais pura Doutrina Americana da Exclusiva Jurisdição Territorial, estatui que “por esta razão que uma Grande Loja tem competência para outorgar uma Autorização (Warrant) de Constituição e estabelecer uma Loja num território não-ocupado, por petição, claro, de um requisitado número de maçons. E este direito de outorgar Autorização habitualmente conferido a cada Grande Loja no mundo, e podendo ser exercido por quantas queiram fazê-lo, desde que nenhuma Grande Loja esteja organizada no território. Assim, podem existir dez ou doze Lojas funcionando ao mesmo tempo no mesmo território, e cada uma delas derivando sua existência legal de uma diferente Grande Loja”.[10]A maçonaria Prince Hall queixa-se de que a maçonaria caucasiana, baseada nestes princípios, sempre sabotou e não reconheceu a criação de uma Grande Loja Prince Hall. Para complicar mais o quadro, a Grande Loja de Massachussets (branca) gaba-se de ser a primeira Grande Loja do Hemisfério Ocidental, datando de 1733 quando Henry Prince foi nomeado Grão Mestre Provincial para a Nova Inglaterra por uma autorização de Lorde Montague na Inglaterra. Essa Grande Loja Provincial foi jurisdicionada pela Grande Loja da Inglaterra até abril de 1769 quando se tornou uma Grande Loja independente. Convém salientar que, com a independência dos EEUU, as diversas Grandes Lojas Provinciais, ligadas à Inglaterra ou à Escócia ou à Irlanda, declararam-se independentes de suas Grandes Lojas Mães.A tradição da maçonaria Prince Hall afirma que a primeira Grande Loja Africana da América do Norte foi organizada em Boston, Massachussets, em 24 de junho de 1791, tendo Prince Hall como seu primeiro Grão-Mestre. A seguir foram criadas as seguintes Grandes Lojas Prince Hall [11]: 2 - Loja Africana nº 459 de Filadélfia (24/06/1797), 3 - Grande Loja Boyer em Nova Iorque (12/03/1845), 4 - Grande Loja Africana de Maryland (1845), 5 - Grande Loja União no Distrito de Colúmbia (27/03/ 1848), 6 - Grande Loja Prince Hall de Nova Jersey (24/06/1848), 7 - GLPH de Ohio (03/05/1849), 8 - GLPH de Delaware (09/06/1849), 9 - GLPH da Califórnia (19/06/ 1855), 10 - GLPH de Indiana (13/09/1856), 11 - GLPH de Rhode Island (07/10/ 1858), 12 - GLPH de Louisiana (05/01/1863), 13 - GLPH de Michigan (25/04/1866), 14 - GLPH de Virginia (29/10/1865), 15 - GLPH de Kentucky (16/08/1866), 16 - GLPH de Missouri (20/12/1866), 17 - GLPH de Illinois (15/02/1867), 18 - GLPH da Carolina do Sul (junho 1867), 19 - GLPH de Kansas (11/09/1867), 20 - GLPH da Carolina do Norte (01/03/1870), 21 - Grande Loja União da Flórida, Belize e América Central (17/06/1870), 22 - GLPH da Georgia (22/08/1870), 23 - GLPH do Tennessee (31/08/1870), 24 GLPH do Alabama, 25 - Grande Loja Stringer do Mississippi (03/ 07/1875), 26 - GLPH do Arkansas (28/03/ 1873), 27 - GLPH de Connecticut (03/11/ 1873), 28 - GLPH da Província de Ontario (1851), 29 - GLPH do Texas (19/08/ 1875), 30 - GLPH do Colorado (17/01/1876), 31 - GLPH de West Virginia (03/10/ 1877), 32 - GLPH de Iowa (09/08/1882), 33 - GLPH de Oklahoma (15/08/1893), 34 - GLPH de Minnesota (16/08/1894), 35 - GLPH de Washington (13/04/1903), 36 - GLPH de Nebraska (02/08/1919), 37 - GLPH do Arizona (30/05/1920), 38 - GLPH do Novo México (21/09/1921), 39 - GLPH do Wisconsin (28/06/1952), 40 - GLPH das Ilhas Bahamas (1951), 41 - GLPH do Oregon (23/04/ 1960), 42 - GLPH do Alaska (setembro de 1969), 43 - GLPH de Nevada (1980), 44 - Grande Loja dos Antigos Maçons da República da Libéria (setembro de 1967).As últimas pesquisas historiográficas reformulam, em parte, a tradição da maçonaria Prince Hall. Os fatos indicam que, em 1792, a Grande Loja da Inglaterra, numa revisão de numeração de loja inativas, alterou o número da African Lodge que passou de 459 para 370.Em 1813 a African Lodge foi retirada dos anais da Grande Loja da Inglaterra por falta de comunicação e pagamento do fundo de caridade. De 1813 a 1824 a Loja Africana de Massachussets quase abateu colunas, reunindo-se pouquíssimas vezes. Em 1824 foi remetida à Grande Loja da Inglaterra uma petição pedindo a renovação de sua Carta Constitutiva, fato que ficou sem resposta até os dias de hoje.Em 1824 a African Lodge nº 459 (370) experimentou uma revivescência de atividades pois as suas atas se tornaram mais minudentes e constantes. Sob a liderança de um mulato, extremamente habilidoso e agressivo, chamado John Telemachus Hilton, que se tornou seu Venerável Mestre em 1827, começou-se a pensar seriamente na criação de uma Grande Loja que cuidasse dos assuntos da comunidade maçônica negra nos EEUU. Assiste-se, a partir desta data, a um novo pomo de discórdia com a maçonaria branca, sendo que esta alega ser tal criação totalmente irregular para os padrões maçônicos tradicionais, como visto acima.Assim, em 1827, a African Lodge nº 459 de Boston assumiu o nome de African Grand Lodge nº 459, passando a adotar o título de Prince Hall Grand Lodge somente a partir de 1848. A maçonaria caucasiana teria, a partir de então, novo ponto de discussão: não só a caducidade do “warrant” da Inglaterra como também a auto-proclamação irregular de uma Grande Loja, ainda mais num território (Massachusetts) onde já existia uma Grande Loja (caucasiana evidentemente).O jornal Boston Daily Advertiser de 26 de junho de 1827 (vide Anexo) publicou, na página 3, uma declaração de independência maçônica, datada de 16 de junho de 1827, assinada pelo Venerável-Mestre, Vigilantes e Secretário. Nesta proclamação pública menciona a carta autorizativa de 29 de setembro de 1784, as dificuldades de comunicação com a Grande Loja de Londres e, o que é mais importante, a declaração de independência de ser tributária ou governada por qualquer Grande Loja dali em diante.A possessão da Carta de Reconhecimento da Grande Loja da Inglaterra sempre deu a Prince Hall e seus associados uma certa aura de prestígio e de status social entre os negros dos EEUU. Note-se que em 22 de março de 1797 um tal Peter Mantore de Philadelfia endereçou uma carta à African Lodge de Boston requerendo uma “dispensação, um ‘warrant’ para uma Loja Africana”. Nos primórdios do século XIX, uma Loja de Philadelfia, a Loja Harmonia de Providence em Rhode Island e a Loja Boyer em Nova Iorque obtiveram da Loja Africana nº 459 de Boston uma autorização para funcionar.Para encerrar esta parte obediencial, convém salientar outra peculiaridade da maçonaria Prince Hall nos EEUU: a tentativa de organizar uma Grande Loja Nacional, ou seja uma autoridade central que organizasse a maçonaria negra nos diversos Estados da América do Norte.Após a Revolução Americana, a maçonaria caucasiana tentou, por diversas vezes, organizar uma Grande Loja Geral, que teria até mesmo George Washington como Grão-Mestre Geral para todo os EEUU. Mackey afirma que “desde que as Grandes Lojas deste país começaram, nos princípios da guerra revolucionária, a abandonar sua dependência das Grandes Lojas da Inglaterra e da Escócia, - ou seja, tão logo emergiram da posição subordinada de Grandes Lojas provinciais e foram compelidas a assumir um caráter soberano e independente, - tentativas, tem sido feitas de tempos em tempos, pelos membros da Arte Real em destruir esta soberania das Grandes Lojas dos Estados Federados, e instituir, em seu lugar, um poder superintendente, para ser constituído seja como um Grão-Mestre da América do Norte seja como Grande Loja Geral dos EEUU. Conduzidos, talvez, pela analogia das colônias unidas sob uma cabeça federal ou, no começo da luta revolucionária, controlada por longos hábitos de dependência das Grandes Lojas-Mães da Europa, a disputa mal tinha começado, quando teve lugar a ruptura de relações políticas entre Inglaterra e América, no momento em que se tentava instituir o cargo de Grão-Mestre dos Estados Unidos, cujo objeto era (do qual dificilmente se pode duvidar) investir George Washington com a reconhecida dignidade”.[12]Desde 1844 discutia-se nos círculos de Nova Iorque e Boston a necessidade de se criar uma Grande Loja Nacional Prince Hall.A idéia e o motor da montagem da Grande Loja Nacional ou Compacta da maçonaria Prince Hall foi, mais uma vez, aquele empreendedor visto acima: John Telemachus Hilton. A elite da maçonaria negra, liderada por Hilton, tinha consciência de que a maçonaria Prince Hall era a única organização interestadual fora da igreja numa época de conflitos raciais intermitentes. Estes feudos estaduais, contudo, não se comunicavam nem mantinham um mínimo de vínculo associativo. Assim, no dia de São João Evangelista de 1847 na cidade de Boston, no Estado de Massachussets, os delegados de Boston, Nova Iorque, Providence e Pensilvania criaram a Loja Nacional dos Antigos Maçons de York Livre e Aceitos (Negros) dos Estados Unidos da América, tendo John T. Hilton como seu primeiro Grão-Mestre.Esta Grande Loja Nacional, desde os primórdios, tornou-se um foco de dissensões e conflitos entre a maçonaria Prince Hall. Por diversas vezes reconheceu outra Grande Loja Prince Hall no mesmo Estado onde já existia uma.As discussões tomaram um rumo mais quente com a dissensão da Grande Loja de Ohio em 1868. Como as Grandes Lojas Prince Hall dos Estados foram se retirando gradativamente da Grande Loja Nacional, na segunda Convenção Nacional de 4-6 de setembro de 1877 em Chicago, Illinois, resolveram dissolver a Grande Loja Nacional, restaurando, assim, em parte, a soberania das Grandes Lojas Estaduais.Não se pense, contudo, que a Grande Loja Nacional teria fenecido a partir daí, pois Sherman relata que “os procedimentos normativos impressos da Grande Loja Nacional estão disponíveis para os anos de 1856, 1862, 1865, 1874, 1898, 1909, 1910, 1915 e 1921. Foram examinados pelo Ir.´. Edward R. Cusick, com quem tenho correspondido por um bom período de anos. Ele salientou o fato de que tem havido uma Grande Loja Nacional de maçons de cor operando de 1847 a 1957 e eu sei por correspondência pessoal que ela ainda esta funcionando”.[13] Apresenta ainda no Apêndice D deste seu artigo a relação dos grão-mestres Nacionais de 1847 a 1978.IV - PÉROLAS MAÇÔNICASNeste item busca-se apresentar os procedimentos normativos, do passado e do presente, sobre os negros, na sua maioria, como também alguns sobre índios e amarelos, existentes na maçonaria, coletados pelos pesquisadores Prince Hall. Tais procedimentos servem como indicadores preciosos do grau de conflito racial que age como uma cunha na sociedade norte-americana. Tal fratura, apesar de ter causado uma cruenta guerra civil, ainda mantém um potencial explosivo nos dias de hoje. A tolerância maçônica inter-racial ainda não foi medianamente absorvida pelos maçons dos EEUU. Possam estes procedimentos, chamados ironicamente de pérolas maçônicas, servir de advertência aos maçons de outras plagas sobre os perigos do conflito racial e tomada de consciência sobre o abismo que separa os negros dos brancos na América do Norte. A tolerância maçônica, nos EEUU, se mostra, ainda incapaz de servir como amortecedor entre as duas tribos.As principais pérolas coletadas são as seguintes:1) Da Grande Loja de Iowa, Procedimentos Normativos de 1852:“Exclusão de pessoas da raça negra está de acordo com a lei maçônica e as Antigas Obrigações e Regulamentos”.2) Grande Loja de Louisiana, decisão do Grão-Mestre, 1924:“Uma mistura de sangue branco e negro torna um homem inelegível para os graus da maçonaria”.3) Grande Loja da Carolina do Norte, Constituição, edição de 1915, seção 110, p. 50:“Um candidato tem que ser um homem branco nascido livre”.4) Grande Loja do Mississippi, Procedimentos Normativos para 1899, p. 43, e Constituição da Grande Loja, edição de 1914, estatui que:“Um Maçom que discute Maçonaria com um Negro deve ser expelido da sua Loja”.5) Grande Loja de Ohio, Procedimentos Normativos para 1857:“Admissão de pessoas de cor seria inconveniente e tende a estragar a harmonia da fraternidade”.6) Grande Loja de Idaho, Procedimentos Normativos para 1916, p. 16, decisão de Francis Jenkins, aprovada pelo Comitê de Jurisprudência Maçônica:“Estatui que um candidato deve ser um homem branco”.7) Grande Loja da Carolina do Sul, o “Ahiman Rezon”, compilado por Albert G. Mackey, Grande Secretário, afirma:“...que o candidato deve ser de pais livres brancos.”8) Grande Loja de Nova Iorque, (a) Procedimentos Normativos para 1851:“I. Não é adequado iniciar nas nossas Lojas, pessoas da raça Negra; e sua exclusão está de acordo com a lei Maçônica e as Antigas Obrigações e regulamentos, por causa de sua condição social deprimente; a falta geral de inteligência, que os impossibilita, como um corpo, a trabalhar ou adornar a maçonaria; a impropriedade em fazê-los nossos iguais em algum lugar, quando pela sua condição social, e as circunstâncias pela quais cada um quase se liga a eles, não acontecendo o mesmo com outros, por não terem de um maneira geral NASCIDO LIVRES...”(b) Procedimentos Normativos para 1890:“Iniciar Negros em Loja pode quebrar a Fraternidade através do país”.9) Grande Loja de Kentucky(a) Procedimentos Normativos para 1914, p. 39:“Um homem possuindo 1/8 a 1/16 graus de sangue Negro não pode ser Maçom”.(b) Constituição, edição de 1919, p. 28:“Um candidato tem de ser um homem branco nascido livre”.(c) Procedimentos Normativos para 1947, p. 139, o Secretário da Loja nº 228 perguntou: “Pode um Católico juntar-se ao Maçons?”. A decisão de Albert C. Hanson, Grão-Mestre, em Opinião nº 45, responde: “Seção 105 do Livro das Constituições determina que um candidato para a iniciação deve ser um homem branco nascido livre, de 21 anos ou mais e de boa folha corrida”.10) Grande Loja do Texas, Constituições e Leis, 1948, Artigo XV, p. 34:“Esta Grande Loja não reconhece como legal ou Maçônico qualquer organização de Negros trabalhando sob qualquer Carta de Reconhecimento nos EEUU, sem acatar o organismo que outorgou tal Carta, considerando todas as Lojas de Negros como clandestinas, ilegais e não-Maçônicas, e além do mais, julgam como altamente censurável o procedimento de qualquer Grande Loja nos EEUU que reconheça tais organismos Negros como Lojas Maçônicas”.11) Grande Loja de Delaware, Procedimentos Normativos para 1867:Iniciação ou visitação “...de qualquer Negro, mulato ou pessoa de cor nos Estados Unidos é proibido”.12) Grande Loja de Illinois(a) Procedimentos Normativos para 1851:Uma resolução foi adotada proibindo qualquer iniciação ou visitação de um Negro em qualquer Loja.(b) Procedimentos Normativos para 1852:“...que esta Grande Loja se opõe totalmente à admissão de Negros ou mulatos nas Loja sob sua jurisdição”.(c)Procedimentos Normativos para 1899:“Por esta razão ter Lojas exclusivamente de Negros, poderia ser perigoso para a boa fama de nossa Ordem. E, associá-los em Lojas com irmãos brancos, seria impossível”.13) Grande Loja do Mississippi(a) Procedimentos Normativos para 1909:A um candidato foi negado aumento de salário em sua Loja porque ele tinha sido instruído em seu grau anterior por um Negro.(b) Procedimentos Normativos para 1914:Porque ele não sabia que era errado, e assim explicou para a Loja, que tinha visitado uma Loja de Negros por ignorância, um membro da Loja nº 34 foi inocentado de qualquer erro.Por causa deste perdão, o Grão-Mestre apreendeu a Carta da Loja; determinando que o membro deveria ser punido.14) Grande Loja de Illinois(a) Procedimentos Normativos para 1846:O Venerável Mestre de uma loja foi punido por ter conferido graus a um senhor cuja mãe tinha sido uma índia Cherokee e seu pai um mulato.(b) Procedimentos Normativos para 1852:“A Grande Loja de Illinois reprovou um de seus corpos subordinados por ter admitido um índio meio-sangue americano como visitante, e passou uma resolução proibindo, sob severa penalidade, a repetição de tal ofensa”.(c) Procedimentos Normativos para 1912:Um Past Master de uma loja, conjuntamente com um ex-Primeiro Vigilante e outro membro assistiram, como carregadores do caixão, ao funeral de um Maçom Negro. O Past Master foi expulso de sua loja e os outros dois, suspensos por um ano.15) Grande Loja de Nova Iorque, Procedimentos Normativos para 1851:Uma resolução foi adotada declarando que homens da raça Índia na América eram material impróprio para a Maçonaria.16) Grande Loja de Indiana, Procedimentos Normativos para 1945:O Grão-Mestre da Grande Loja recusou-se a permitir a iniciação de um senhor chinês sob o pretexto de que ele não era um cidadão dos EEUU.17) Grande Loja da Província de Quebec(a) Procedimentos Normativos para 1923:Charles McBurney, Grão-Mestre, informou à sua Grande Loja que recusou permissão para um grupo de Negros que desejavam estabelecer uma loja na cidade de Montreal.(b) Procedimentos Normativos para 1927:William J. Ewing, Grão-Mestre, recusou permissão para um grupo de Negros para erigir uma loja em Montreal.18) Grande Loja do TexasConstituição, edição de 1876: Artigo XXXVI, declarou que todas as lojas de Negros eram clandestinas e ilegais.19) Grande Loja do Mississippi(a) Procedimentos Normativos para 9 de fevereiro de 1899:Visto que a Grande Loja de Washington tem declarado que se Negros estabelecerem lojas e subseqüentemente uma Grande Loja neste Estado, aqueles não considerarão tal fato como sendo uma invasão deste território Maçônico, a Grande Loja do Mississippi cortou relações fraternais com a Grande Loja de Washington.(b) Procedimentos Normativos para 1873:Embora o Grão-Mestre, W.H. Hardy, advertisse sua Grande Loja que em Nova Jersey permitiu a formação de uma loja em Newark, N.J., cujos membros eram brancos e negros, o alto corpo do Mississippi não tomou nenhuma ação neste ano, mas o fez em 1909.(c) Procedimentos Normativos para 1909:Durante o mês de agosto de 1908, Edwin J. Martin, Grão-Mestre, descobriu que a Loja Alpha nº 116, trabalhando sob a jurisdição da caucasiana Grande Loja de Nova Jersey na cidade de Newark, funcionava com brancos e negros e visto que o Grão-Mestre de Nova Jersey não renegou a Loja, o Grão-Mestre do Mississippi cortou relações com o alto corpo de Nova Jersey.20) Grande Loja de Oklahoma(a) Procedimentos Normativos para 9 de fevereiro de 1910:Simpatizando com a ação da Grande Loja do Mississippi, como descrito acima, esta Grande Loja cortou relações com a Grande Loja de Nova Jersey por causa da composição racial da Loja Alpha nº 116, sob a jurisdição da última.Mais tarde, Oklahoma reatou relações, baseado no entendimento de que todos os maçons de Nova Jersey seriam bem vindos às lojas de Oklahoma, exceto os membros da Loja Alpha nº 116.(b) Procedimentos Normativos para 14 de fevereiro de 1940:A Grande Loja de Oklahoma, novamente, descobriu a existência da Loja Alpha nº 116, em Newark, e mais uma vez, cortou relações fraternas com a Grande Loja de Nova Jersey mas que também foram reatadas a partir de 11 de fevereiro de 1942.21) Loja Arizona em Phoenix, Arizona:Em 5 de janeiro de 1952, a Associated Press noticiou que o corpo de um soldado negro, morto na Coréia, tinha sido mantido no necrotério da cidade de Phoenix por cinco semanas, visto que o cemitério, propriedade da e operado pela Loja Arizona, não teria permitido que o corpo fosse enterrado a menos que três cartas de requerimento de sepultamento, registradas em cartório, fossem submetidas à consideração se poderia ser enterrado ao lado dos veteranos brancos no cemitério desta loja Maçônica.E para encerrar, com chave de ouro, uma pérola do general confederado da guerra civil americana e Sob\Gr\Com\do Supr\Cons\Jur\Sul dos EEUU - Albert Pike -, considerado o Platão moderno da maçonaria universal, autor do afamado Morals and Dogma, uma das bíblias do Rito Escocês Antigo e Aceito.Seu mais famoso biógrafo e apologista - Duncan - relata que, em 1858, Albert Pike e 11 de seus colaboradores emitiram uma circular conclamando a expulsão dos Negros libertos e mulatos do Arkansas, citando “a preguiça e bestialidade de uma raça degradada”, sua “imoralidade, imundície e indolência” e chamando o negro “tão desprezível e depravado como um animal”.[14]Walkes afirma que “Albert Pike serviu como Chefe de Justiça da Ku Klux Klan quando era Soberano Grande Comendador. Tendo sido, também, Grande Dragão para o Arkansas”.[15] “Este senhor muitas vezes admitiu como sua opinião que a Maçonaria Prince Hall era tão regular como a sua e, em algumas circunstâncias, mais ainda, mas era incapaz de ultrapassar seu preconceito de cor, como expresso na seguinte linguagem: “Eu tomei minhas obrigações para com homens brancos, não para com Negros. Quando eu tiver que escolher entre Negros como Irmãos ou abandonar a Maçonaria, eu abandonarei a Maçonaria””.[16]Albert Pike não é estranho ao Grande Oriente do Brasil, pois o arguto Kurt Prober relata que “no correr do ano de 1887 o Grande Oriente do Brasil mandou cunhar uma Medalha em homenagem ao Sob\Gr\Com\Albert Pike do Supr\Cons\Jur\ Sul dos EEUU, que vai aqui ilustrada, pois é quase desconhecida entre nós, e totalmente desconhecida aos colecionadores estrangeiros.Nenhum documento foi jamais encontrado alusivo a esta medalha, e nenhuma explicação sobre os motivos que teriam induzido o Gr. M. Sob. Com. do GOB\Vieira da Silva, a mandar cunhar esta peça na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, sabendo-se apenas, pelas anotações daquela Repartição, que se cunhou UM EXEMPLAR ÚNICO em OURO, certamente mandado para os EEUU ao Ir\Pike, que ainda no princípio de 1887 estivera seriamente doente, de um ataque de “gota”, que já não mais lhe permitia viajar, a ponto de estar morando com sua filha no prédio do Supremo Conselho de Washington, no que chamava de “THE HOUSE OF THE TEMPLE” (A casa do Templo).Não há dúvida de ter sido uma homenagem merecida, a prestada a Albert Pike pelo GOB e pelo S.C.BRAS., pois fora ele, que em horas difíceis lhes tinha dado pleno apoio, em diploma de 5.7. de 1869 (em meu arquivo, veja Nota 76, pg. 142) declarando publicamente, que se tinha enganado “reconhecendo o Supr\Cons\(irregular) do Gr. Or. dos Beneditinos”, e indicando para representante do S.C.BRAS. nos EEUU o Ir\ John Quincy Adams Fellows, que foi imediatamente confirmado pelo GOB, e nomeando Pike depois o Ir\Francisco Leão Cohn para seu representante.O Ir\Albert Pike, nascido na cidade de Boston em 29.12.1809, pode ser considerado, juntamente com George Washington, como um dos maiores maçons da nação americana, de todos os tempos. Era Jornalista, Editor, Advogado além de nas guerras dos Estados do Norte contra o México ocupou o cargo de General.Foi o único americano, durante os 244 anos de história maçônica daquele país, que mereceu o título de GRÃO MESTRE VITALÍCIO. A sua cultura era quase fenomenal, lendo ele corretamente o Grego, Latim, Sânscrito, Francês e Espanhol, além de falar Alemão, Italiano, Português e diversos dialetos indus. Os seus poemas eram altamente estimados pelo seu contemporâneo Edgar Allan Poe.Pois foi Albert Pike, que lançou a pedra fundamental para a importância da maçonaria americana, e ao falecer em 2.4.1891, com a idade de 82 anos, recebeu com justiça o cognome de “Patriarca da Maçonaria”.E foi este personagem, que em 1.7.1884 escreveu a famosa réplica à bula papal de 20.4.1884 de Leão XIII, conhecida pelo nome de Encíclica HUMANUS GENUS, que condenava a Maçonaria com toda a violência. Esta resposta, revista, foi em 1.8.1884 publicada oficialmente pelo Supr\Cons\e Pike foi tão acertado e feliz em suas contra-provas, mostrando a inoportunidade e a sem razão da aludida bula, que desde então o Vaticano não mais tomou atitude tão frontal contra a maçonaria universal através de suas bulas papais, resumindo-se a combater os maçons pela legislação canônica ou outras declarações esporádicas.Portanto, fora bem justa a homenagem que o GOB e a SCBRAS estavam prestando a Alberto Pike”.[17]Encerrado este florilégio de pérolas maçônicas, já é hora de tirar algumas conclusões.V - CONCLUSÃOO fato estarrecedor que se impõe como conclusão preliminar não é tanto a falta de informação do povo maçônico brasileiro sobre a maçonaria nos EEUU em geral (Pike et caterva) e Prince Hall em particular, mas a desinformação, para não dizer informação seletiva, proporcionada por dois dos nossos maiores maçonólogos: Kurt Prober e Nicola Aslan.Kurt Prober, por só realçar os aspectos positivos de Albert Pike, como visto acima e Nicola Aslan, por copiar ‘ipsis litteris’ a posição preconceituosa de Mackey[18] com pouca visão crítica, proporcionam uma ótica parcial dos complexos problemas maçônicos. A argumentação básica de Mackey é de que a Loja Africana nunca foi reconhecida pela Grande Loja de Massachusetts (caucasiana), a cujo corpo havia recusado sempre outorgar sua lealdade...O Brasil maçônico passa hoje, em boa parte devido ao trabalho d’A Trolha, por uma revivescência de estudos maçônicos. Proliferam, no país, as Lojas de Pesquisas Maçônicas. A moda no momento são os ingleses e a Loja de Pesquisas Quatuor Coronati de Londres, fato que não deixa de ser altamente positivo. Se por um lado, estamos saímos, aos poucos, de nosso provincianismo maçônico, por outro, dentre os que sabem inglês, alguns começam a traduzir acriticamente os textos da Quatuor Coronati e difundi-los em escala industrial para um mercado ávido de informações.Estamos preparando, no momento, uma monografia que talvez intitulemos de “Geopolítica da Maçonaria”, buscando mostrar como as grandes potências utilizam também a maçonaria para a sua estratégia de dominação econômica e cultural.Não é preciso ser nenhum especialista em geopolítica para perceber que a Grande Loja da Inglaterra reconheceu e deu uma carta patente para Prince Hall e seus epígonos dentro de um contexto de guerra revolucionária, ou seja, procurava, de todos os modos, dividir a elite branca nativa dos Estados Unidos que almejava a independência da nação.Findel, na sua arguta análise, relata que “no princípio da guerra, diz o Ir\ Barthelmess, os ingleses trataram e não foi em vão, de ganhar para seu partido aos índios e aos negros. Nas listas dos regimentos, encontram-se muitos nomes que levam a designação de black ou negro. Todo o mundo conhece o dano que os índios fizeram à milícia americana. A perspectiva de obter liberdade atraía, principalmente no Sul, os escravos que buscavam reunir-se em massa sob a bandeira do exército inglês e, ao término da guerra, abandonar o país de sua servidão e estabelecer-se em regiões que haviam permanecido sob o domínio da Inglaterra (Nova Escócia, Nova Brunswick e Canadá)”.[19]Findel conclui seu capítulo intitulado “História Positiva da Franco-maçonaria Americana” com estas palavras que não devem agradar à Mackey e à Grande Loja Unida da Inglaterra: “estas cartas [de Prince Hall] provam não só a falsidade da afirmação que se tem sustentado de que a Grande Loja da Inglaterra tinha retirado sua patente pouco tempo depois de sua expedição, senão que ademais provam que se existe alguma negligência nas relações das duas lojas, deve atribuir-se a falta unicamente à Loja da Inglaterra”.[20]Possa esta pequena monografia despertar o estudo da maçonaria Prince Hall, que, talvez, tenha mais interesse, como processo de aprendizagem, principalmente para os maçons negros brasileiros, não só pelo seu porte - pelos dados de 1989 seriam mais de 4675 lojas com quase 300.000 membros - como também pelo seu processo de luta num país dividido por uma tremenda luta racial. Sem embargo, o estudo e a reflexão sobre Prince Hall, é de importância vital para que os maçonólogos brasileiros - brancos, pretos, mulatos e tutti quanti - aprendam, neste cipoal de fatos históricos, a trama do poder mundial que, na maioria das vezes, utilizam a maçonaria e os maçons ingênuos, em função dos objetivos estratégicos de poder.A título de curiosidade e da amenização do rancor da maçonaria caucasiana norte-americana, apresenta-se a seguir a relação, obtida na Internet, das Grandes Lojas que já reconhecem, admitem conviver e permitem inter-visitação com as Lojas Prince Hall: California, Colorado, Connecticut, Idaho, Kansas, Massachusetts, Minnesota, Nebraska, North Dakota, Ohio, Vermont, Washington, Wisconsin e Wyoming. No Canadá, as seguintes Grandes Lojas: Manitoba, New Brunswick, Nova Scotia, Prince Edward Island e Quebec. Desnecessário dizer que Prince Hall (Massachusetts) é reconhecida pelas Grandes Lojas da Inglaterra e da Irlanda. Fato pitoresco e grotesco é que a Grande Loja Unida da Inglaterra reconhece as Grandes Lojas da Nova Escócia, do Novo Brunswick e do Quebec e um certo número de Grandes Lojas nos EEUU, mas proibiu os seus membros de visitar as Lojas dessas jurisdições visto que tais jurisdições reconheceram Grandes Lojas Prince Hall em vários estados que não o de Massachussetts!Recentemente o Supremo Conselho do R.E.A.A. dos EE.UU - Jurisdição Norte concordou em manter um reconhecimento mútuo com o Supremo Conselho do R.E.A.A. Prince Hall.Para se ter uma amostra da longa trajetória do reconhecimento, supondo-se que todas as Grandes Lojas caucasianas desejassem reconhecer todas as Grandes Lojas Prince Hall e vice-versa, haveria a necessidade de 2200 reconhecimentos mútuos, haja vista existirem 51 Grandes Lojas caucasianas “regulares” nos EEUU enquanto que as Grandes Lojas Prince Hall “regulares” somam 43. Quantos anos seriam necessários para que se processasse tal reconhecimento entre as 94 Grandes Lojas? Quem viver, verá.7 - B I B L I O G R A F I A- ALBUQUERQUE, A. Tenório D', A Maçonaria e a Libertação dos Escravos, Ed. Aurora, Rio de Janeiro, 1970.- ANDERSON, James, Reproduction of The Constitution of the Free-Masons or Anderson Constitutions of 1723 in English and French, ed. by Maurice Paillard, London, 1952.- ARS QUATUOR CORONATORUM, Anais da Quatuor Coronati Lodge nº 2076, Londres, diversos números de 1960 a 1993.- ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, 4 vol., Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1974.- CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico - ABC (1990), DEFG (1990), HIJL (1991), MNOP (1992), PQRS (1993), TUVXZ (1994), Ed. Maçônica "A Trolha", Londrina, PR.- DUNCAN, Robert Lipscomb, Reluctant General: The Life and Times of Albert Pike, E.P. Dutton and Co., New York, 1961.- FRAU ABRINES, Lorenzo, Diccionario Enciclopédico de la Masonería, 4 vol., Editorial del Valle de Mexico, México, 1976.- GOULD, Robert Freke., The History of Freemasonry - Its Antiquities, Symbols, Constitutions, Customs, Etc., 3 vols., T.C. & E.C. Jack, Grange Publishing Works, Edinburgh, 1887.- GRIMSHAW, Wm.H., Official History of Freemasonry Among the Colored People in North America, reprint, Kessinger Publishing Company, Kila, Montana,USA, s/d.- HALL, Manly P., An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy, Golden Anniversary Edition, The Philosophical Research Society, Los Angeles, CA, 1979.- HAMIL, John, The History of English Freemasonry, Lewis Masonic Book, England, 1994.- INTERNET - freemasonry-list@sclinux.bml.gov e diversos maçonólogos internautas através do mundo.- MACKEY, Albert Gallatin, Enciclopedia de la Francmasonería, 4 vol., Editorial Grijalbo, Mexico, 1981.- MACKEY, Albert G., Jurisprudence of Freemasonry, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1980.- MELLOR, Alec, Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, Martins Fontes, São Paulo, 1989.- NEWINGTON, George Draffen of, Prince Hall in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 89, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1977, p. 70.- PIKE, Albert, Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, Charleston, 1871.- PRESTON, William, Illustrations of Masonry, The Aquarian Press, London, 1986.- PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33\do Brasil, vol. I/1832 a 1927, Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981.- ROBERTS, Allen E., Freemasonry in American History, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1985.- ROBERTS, Allen E., House Undivided - The Story of Freemasonry and the Civil War, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1990.- SHERMAN, John M., review of WESLEY, Charles H., Prince Hall, Life and Legacy in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 90, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1977, p. 306.- SHERMAN, John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p. 148.- THUAL, François, Géopolitique de la Franc-Maçonnerie, Dunot Éditeur, Paris, 1994.- WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1989.--------------------------------------------------------------------------------[1] WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989.[2] GRIMSHAW, William Henry, Official History of Freemasonry among the Colored People of North America, Books for Libraries Press, New York, 1971. A primeira edição apareceu em 1903.[3] SHERMAN, John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p. 148.[4] APTHEKER, Herbert (ed), The Correspondence of W.E.B. DuBois, vol. 1, University of Massachusets Press, 1973, p. 402 in WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p.17.[5] WESLEY, Charles H., Prince Hall: Life and Legacy, United Supreme Council, A.A.S.R., S.J., P.H.A. & The Afro-American Historical & Cultural Museum, Washington, p. 51 in WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p. 18.[6]KING, Nelson, Short History of Prince Hall Masonry in PHA Warning Large File, comunicado email INTERNET, 19/04/96.[7] GOULD, Robert Freke., The History of Freemasonry - Its Antiquities, Symbols, Constitutions, Customs, Etc., III vol., T.C. & E.C. Jack, Grange Publishing Works, Edinburgh, 1887, p.454.[8]DAVIS, Harry A. , A History of Freemasonry Among Negroes in America, United Supreme Council, A. A.S.R., S.J., P.H.A, 1946, p. 29 in WALKES, JR., Joseph A., opus cit., p.18.[9] WALKES, JR., Joseph A., opus cit., p.7.[10] MACKEY, Albert G., Jurisprudence of Freemasonry, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1980, p. 296.[11] A partir do final do século XIX os antigos nomes das Grandes Lojas passam a se chamar Grande Loja Prince Hall de (nome do Estado), com toda a certeza a idéia foi estimulada pelo livro de Grimshaw que exerceu tremenda influência no mundo maçônico negro, apesar de conter muitas ficções.[12] MACKEY, Albert Gallatin, Enciclopedia de la Francmasonería, vol. II, Editorial Grijalbo, Mexico, 1981, p.649. Como a tradução espanhola estava confusa optei por traduzir direto do inglês no livro de WALKES, opus cit. p. 74.[13] SHERMAN, John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p. 154.[14] DUNCAN, Robert Lipscomb, Reluctant General: The Life and Times of Albert Pike, E.P. Dutton and Co., New York, 1961, p. 162.[15] WALKES, Joseph A., The Ku Klux Klan and Regular Freemasonry, FPS, pp. 3-8 in Phylaxis, vol. VIII, nº 1, 1st Quarter 1982.[16] WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p. 84.[17] PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33\ do Brasil, vol. I/1832 a 1927, Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981, p. 184.[18] Comparar o verbete NEGROS NA MAÇONARIA de Nicolas Aslan no Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, vol.III, Ed. Artenova, Rio de Janeiro, 1974, p. 730 com o verbete NEGRAS LOGIAS, LAS de MACKEY no Enciclopedia de la Francmasonería, vol.III, Editorial Grijalbo, Mexico, 1981, p.1046.[19] FINDEL, J.H., Historia General de la Francmasonería in FRAU ABRINES, Lorenzo, Diccionario Enciclopédico de la Masonería, vol.IV, Editorial del Valle de Mexico, México, 1976, p.151.[20] FINDEL, opus cit., p. 152.

A Importância dos Graus Simbólicos

Ir.:José Castellani
Os três graus simbólicos, Aprendiz, Companheiro e Mestre, comuns a todos os ritos maçônicos, representam a essência total de toda a doutrina moral da Maçonaria.Na primitiva Franco-maçonaria, formada pelas organizações de ofício, só existiam os Aprendizes; e os mestres-de-obras eram escolhidos entre os mais experientes Aprendizes. O grau de Companheiro seria criado já nosórdios da Maçonaria dos Aceitos --- também chamada, impropriamente,Especulativa --- no século XVII; e essa era a situação, quando da fundação, a 24 de junho de 1717, da Pemier Grand Lodge, de Londres, a primeira do sistema de obediências.grau de Mestre seria criado em 1725, mas só introduzido em 1738, pela Grande Loja londrina. A parti daí, iria se concretizar a totalidade da doutrina moral e da mística da instituição maçônica.Os três graus simbólicos, síntese do universo maçônico, mostram a evolução racional da espécie humana, ou seja: intuição (Aprendiz), análise (Companheiro) e síntese (Mestre). O Aprendiz, ainda inexperiente, embora guiado pelos Mestres, realiza o seu trabalho de forma praticamente empírica, através da intuição, apenas, representando o alvorecer das civilizações, dominadas pelo empirismo ; o Companheiro, já tendo um método de trabalho analítico e ordenado, simboliza uma mais avançada fase da evolução da mente humana, enquanto o Mestre, juntando, através da síntese, tudo o que está disperso, para a conclusão final da obra, representa o caminho derradeiro da mente, na busca da perfeição.Simbolicamente, nesses três graus, os maçons dedicam-se à construção do templo de Jerusalém, símbolo das obras perfeitas dedicadas a Deus, de acordo com a concepção da Ordem dos Templários, criada em 1118 e regida pelos estatutos idealizados por São Bernardo. A construção do templo, no caso, representa a construção moral e éticainiciado. Para a concretização desse simbolismo, a Maçonaria criou a lenda do terceiro grau, de forte cunho moral, segundo a qual havia um arquiteto, Hiram Abi ("Hiram, meu pai"), que fora enviado ao rei Salomão por Hiram, rei da cidade fenícia de Tiro, para ser o mestre das obras do templo ; isso, evidentemente, é pura lenda, pois, Hiram Abi era, simplesmente, um entalhador de metais. Diz, também, a lenda, que Hiram dividia os seus obreiros, de acordo com suas aptidões,em graus --- Aprendiz, Companheiro e Mestre --- dando-lhes a oportunidade de progredir, pelo seu trabalho. Embora isso também seja, lenda, pois não havia Maçonaria na época da construção do templo de Jerusalém e nem graus de Companheiro e Mestre (embora alguns ingênuos acreditem nisso), mostra duas lições morais: a cada um segundo as suas aptidões e a cada um segundo os seus méritos. Hiram, a personificação da Sabedoria, acabaria sendo morto pela personificação de vícios degradantes, a inveja, a cobiça e a ignorância, representadas em três Companheiros, que, sem os méritos, procuravam ser Mestres, a qualquer custo (o que também é apenas lenda e não realidade).Esses traços gerais da lenda --- já que o seu desenvolvimento e as suas minúcias são reservadas aos iniciados no terceiro grau ---mostram que o maçom, ao atingir o grau de Mestre, jádeve possuir a plenitude do conhecimento iniciático, moral, social e metafísico, necessário e pertinente aos objetivos da Ordem maçônica, restando-lhe, então, o trabalho, sempre constante, na busca da perfeição, nunca atingida, mas sempre perseguida, pois ela é o estímulo sempre presente na vida do ser humano.Terá, então, o Mestre, a humildade de se prostrar perante os grandes mistérios da vida e os insondáveis escaninhos da Natureza, despojando-se de todas as vaidades, incluindo-se, entre elas, a busca desvairada dos galardões, símbolos da fatuidade, e a busca da ascensão a qualquer custo, numa escala que quase nunca reflete um conhecimento apreciável e um desejável mérito pessoal. Deverá, então, o Mestre,sempre, de que a verdadeira beleza é a interior, mesmo que o exterior não seja coruscante e não brilhe em faíscas de ouro e prata, pois o maçom, o verdadeiro maço, o maçom integral é um Mestre pelas suas qualidades mentais e espirituais e não por sua posição na escala, ou por seus vistosos paramentos. O hábito não faz o monge, diz a velha sabedoria popular, e se pode atéacrescentar que um muar ajaezado de ouro nunca poderá ser confundido com um corcel de alta linhagem.Na Loja Simbólica, verdadeira e única essência da Maçonaria universal, o iniciado percorre um longo caminho, desde as trevas do Ocidente até à luz do Oriente, tendo o seu lugar de acordo com as suas aptidões e a sua ascensão de acordo com os seus méritos. Sua ascensão não deverá, nunca, ser devida a favores pessoais, a apadrinhamentos, a rapapés e bajulações, ou ao poder corruptor dos metais, expedientes, esses, tão comuns na sociedade, em geral, masídos dos templos da verdadeira Maçonaria, desde os seus primórdios, nos velhos tempos em que só existiam Aprendizes e Companheiros, que usavam um simples avental de couro, símbolo humilde do trabalho, sem as riquezas flamejantes de uma nababesca farrambamba.Acham, muitos maçons desavisados, que os graus simbólicos são secundários e representam um mero apêndice da maçonaria, uma etapa primária e elementar, um trampolim para grandes escaladas, quando, na realidade ébasilar e relevante a sua importância --- a ponto deles constituírem, segundo consenso, a "pura Maçonaria" --- pois, como alicerces de toda a estrutura maçônica universal, nada mais existiria de maçônico sem eles, restando apenas as honorificências, de que o mundo não maçônico é tão prenhe.Do livro "Liturgia e Ritualística do Grau de Mestre Maçom"Editora A Gazeta Maçônica - 1987

terça-feira, 9 de setembro de 2008

POLÍTICA E POLITICAGEM

Ir Valdemar Sansão - vsansao@uol.com.br
Política é o “uso legitimo do poder para alcançar o bem comum as sociedades” (João Paulo II)
O que é política? – Entende-se por esta palavra a ciência que trata do governo e também da arte de governar. Como ciência, a Política trata das relações do Estado e dos cidadãos, da legislação, das finanças, da administração interna, das relações dos povos entre si.
A verdadeira política tem como objetivo realizar, pelo governo de um Estado, a justiça e o interesse geral dos cidadãos.
“É a Arte e a técnica de dirigir e administrar corretamente o Estado, tanto no sentido da razão, como no da ética, com uma orientação fundamental: a Justiça”. (I Conferência Interamericana da Maçonaria Simbólica – Montevidéu, abril de 1947).
O que política NÃO é? A política não é a procura do “poder pelo poder” e das regalias que ele pode trazer; não é usar e abusar do povo para “crescer” e enriquecer; não é um “salvo conduto” para transformar a autoridade em autoritarismo; não é um jeito fácil de meter a mão no bolso do povo para encher o próprio bolso.
Política e politicagem são coisas distintas? Sim! Política é fazer do poder um instrumento para alcançar o bem comum; politicagem é instrumentalizar o poder em benefício próprio às custas do bem comum. Política é serviço; politicagem é crime.
Política é “coisa suja”? Não, nem todos dizem ou entendem que política é coisa suja. Há, de fato, muitos que dizem que fazem política quando, na verdade, não passam de “politiqueiros”. Se, contudo, tomarmos consciência de que a realidade mudará à medida que nós mudarmos, então tudo é possível. Por que não começarmos já, participando da política de forma consciente e madura? Se existe sujeira na política, é necessário e urgente eliminar a sujeira e corrigir as distorções existentes, pelo uso de armas silenciosas – como por exemplo o VOTO – para cassar os verdadeiros corruptos e mal intencionados e não a política!
Como podemos participar? Somos todos seres políticos por natureza, isto é, já nascemos políticos. Se buscarmos e lutarmos pelo bem comum, faremos política, mas, se só pensarmos em nosso próprio conforto, faremos politicagem. Podemos e devemos participar engajando-nos em associações, grupos, entidades e partidos que têm como finalidade e objetivo o bem de todas as pessoas, sem exceção. Se optarmos por ficar “na nossa”, deixando que tudo fique como está, estaremos dizendo “amém” (assim seja!) à situação e, portanto, indiretamente aderindo e colaborando com ela. Em política não há omissão; quem se omite está “dizendo” que tudo deve ficar como está!
E se eu não quiser me envolver? Você não tem como não se envolver. Se você está vivo, está fazendo política! Se você “lavar as mãos” ou “cruzar os braços”, colaborará para que tudo fique como está! Se você resolver “ficar na sua” e não se envolver na luta pelo bem comum, pelo direito e pela justiça, lembrará Pilatos (Mt 27.11-26) que para não se incomodar, também optou por “ficar na dele”...
Maçom pode fazer política? Não, não pode! DEVE! E deve fazer política de qualidade, buscando e defendendo o bem comum a partir dos “bons costumes”, com Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Se temos um Irmão iluminado cuja personalidade foi polida na pedreira da meditação, apto a abraçar a carreira política, porque não enriquecer a política com ele? Maçom consciente faz política, sim, porque não se cansa de buscar o bem de todos. O mundo da política só tem a ganhar com a luz que recebe de um Maçom; o mesmo não acontece com a politicagem, que se praticada por um Maçom, este estará sendo sacrílego para com o Grande Arquiteto do Universo e desonrado para com os homens.
A Maçonaria faz política partidária? Não. A Maçonaria enquanto Instituição, faz política, mas não partidária. Ou seja, ela não tem um partido próprio, e nem adota um como seu. Porém, ela insiste para que seus afiliados se filiem, engajem e participem da política partidária, levando aos partidos, e às ideologias que os sustentam, as riquezas e os valores de seus Princípios Fundamentais. É estranho que, na Maçonaria, tantos Irmãos condenem os políticos de carreira enquanto eles mesmos se recusam a buscar o poder, pelo voto, para colocá-lo a serviço do bem comum.
O que devemos fazer? Para começar o ideal é abrir os olhos, os ouvidos e o coração para ver a nossa realidade. É aprender a ver a realidade – sem deformá-la – e a ouvir o clamor do povo sofrido, explorado, empobrecido. É acordar para o absurdo da desigualdade social, da injusta distribuição de renda, dos privilégios de alguns viverem em mansões e outros em favelas. Quem vê e escuta sem se deixar tapear, começa a refletir e a se indagar e indignar, descobrindo que tudo poderia ser diferente. E então, se for coerente e não omisso, começará a agir, a demonstrar a sua repulsa pela desonestidade, a defender os direitos dos mais fracos, a unir-se a quem busca o bem comum, acredita e luta por uma sociedade justa, perfeita e fraterna.
Política é coisa chata? Cercado por uma realidade que explode em forma de violência, de miséria, de tráfico e uso de drogas, de desemprego, de fome, de injustiça... como é que você pode se desinteressar justamente daquelas que são as causas que geram essa situação de morte? Na verdade, quem não se interessa por política ou está vivendo como um “príncipe num país de mendigos” – prefere que tudo continue como está – ou é alienado dos pés à cabeça. Quem vê e não assume a causa dos empobrecidos como sua causa, não é Maçom...
Existem bons políticos? Sim, existem! E são muitos! O problema é que aqueles que fazem da política politicagem, acabam aparecendo mais do que os outros. Vale lembrar aqui de um provérbio chinês, que diz: “Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce”. Eles, os políticos honestos, existem sim, mas não são muitos os que compactuam com eles. Reconhecer os políticos honestos – inclusive pelo apoio político e pessoal, e pelo voto, - é, um dos caminhos para denunciar, superar e derrotar a politicagem.
Exemplos do passado – Fato publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, edição de 08 de outubro de 1890, além de ser pitoresco, mostra, exatamente, a extraordinária honestidade de princípios dos políticos que jamais se locupletaram com o dinheiro do erário público, colocando a retidão exigida por seu cargo acima dos laços de sangue.
Quando José Bonifácio de Andrada e Silva era Primeiro-Ministro do Império do Brasil, recebendo 400$, em bilhetes do banco, de um mês de ordenado, os meteu no fundo do chapéu e, no teatro, lhe roubaram o chapéu e o conteúdo.
O Primeiro-Ministro achou-se, no dia seguinte, sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuía nem um vintém mais. Sabendo da ocorrência o Imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devia ser indenizado, pagando-lhe outro mês de ordenado e, neste sentido, deu ali suas ordens ao ministro da Fazenda. Martim Francisco não obedeceu. Disse ao imperador que não havia lei que colocasse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha, para todos, doze meses e não treze e, finalmente, pedia a Sua Majestade retirasse a sua ordem, o que era melhor do que pagar ao ministro duas vezes o ordenado de um só mês. José Bonifácio, daí por diante, tomou mais cuidado no chapéu e no dinheiro que recebia.
Destaquem-se, no texto, o seguinte: “Achou-se, no dia seguinte, sem ter com que comprar o jantar” e “visto a penúria em que se achava”. Destaque-se, também, que o ministro da fazenda que negou a indenização a José Bonifácio, para não prejudicar o erário, era, simplesmente, o seu irmão Martim Francisco. (A TROLHA Fevereiro/91).
Como devem proceder os Maçons? Como cidadão, todo Maçom tem o incontestável direito de se ocupar de política. A Maçonaria, porém, como sociedade iniciática que é, não pode nem deve. Políticos Maçons ocuparam e ainda ocupam todos os degraus da administração pública da mesma forma que outros cidadãos. Nestes cargos públicos, têm eles a oportunidade de aplicar os ensinamentos que receberam em Loja e de influir, de maneira benéfica, sobre aqueles que os cercam. Se, no entanto buscam na política interesses pessoais, como têm inegavelmente o direito como qualquer cidadão, é certo que não devem envolver a Ordem, nem servir-se dela para alcançar as suas pretensões. É hora da verdadeira Maçonaria agir de forma ativa e ardorosa contra os “politiqueiros” e apoiar os homens públicos, Maçons ou não, na procura de soluções dos problemas sociais do país!
“Vós, líderes e militantes políticos, quero recordar que o ato político por excelência é ser coerente com uma vocação moral e fiel a uma consciência ética que, para além dos interesses pessoais ou de grupos, visa a totalidade do bem comum de todos os cristãos” (Papa João Paulo II – Salvador BA, 7 de julho de 1980).

PEDRAS QUE FALAM SOB A AREIA DO TEMPO

Irmão Frank Urban


Desde tempos imemoriais o homem lida com o mais profundo de seus dilemas - a vida e a morte. Por conta disso criou mitos, lendas e sistemas de crenças organizadas que proporcionaram, cada qual de seu modo e época, algum conforto durante sua breve vida à espera da inevitável morte. Esses sistemas são baseados, na maioria da vezes, na existência de uma vida após a morte ou na ressurreição do corpo. O mito da ressurreição, por exemplo, é muito antigo, provavelmente antecede a 3.500 a.C., como indicam estudos realizados em construções monolíticas dos antigos povos das ilhas britânicas. Esses povos construíam, com enormes blocos de pedra dispostos em círculo, observatórios celestes que eram utilizados para procurar "as coincidências" astronômicas que os brilhantes astros visíveis - sol, Vênus e lua - proporcionavam, e por analogia da observação e repetição desses fenômenos, comparar com suas próprias vidas e mortes. Um homem nascido de uma conjunção de astros que fosse notável teria o destino glorioso, e poderia ser coroado rei em situação astronômica semelhante. Por exemplo o planeta Vênus em sua aparição pouco antes do nascer e morrer do sol, fica extremamente brilhante quando em conjunção com Mercúrio a cada quarenta anos. O conhecimento dos ciclos anuais do sol servia para determinar com muita precisão os solstícios e equinócios de inverno e verão. A utilidade prática desse conhecimento estava ligada aos períodos férteis na agricultura desses povos. Com o passar do tempo esse primitivo calendário também determinava ações importantes ligadas ao homem e às cidades, como a coroação de um rei ou a declaração de guerra contra um inimigo. A princípio esse culto estava ligado ao ciclo da agricultura mas tomou um aspecto mítico em contato com outras culturas. Esse legado ora como culto à Mitra (Babilônia/Pérsia), ora como Osíris (Egito) espalhou-se por civilizações que floresciam na Europa antiga e influenciaram o judaísmo, cristianismo e o islamismo entre outras. O catolicismo, oriundo do judaísmo, teve seu mito de ressurreição com Cristo que viveu nascido de uma virgem, pregou um código de conduta moral e foi crucificado - ressuscitando no terceiro dia. Igual destino tiveram seus predecessores, Mitra e Osíris 1.500 anos antes. A vida após a morte e a ressurreição, foram cultuadas por todas as civilizações e crenças religiosas. A preocupação com o "acordar" depois da morte estava ligada ao ciclo de vida e morte dos astros, no cuidadoso funeral e no merecimento pelos atos praticados durante a vida. Adequadamente preparado, o templo cumpria a função de guiar seu ocupante, ao "acordar" para a nova vida e para "falar" sobre sua obra e méritos. Não raro, encontramos templos dedicados à vida e morte de personagens "iluminados", solenemente cobertos por pedras entalhadas. Pedras que falam sob a areia do tempo. O mais famoso templo dedicado à "vida após a morte" sem dúvida é a grande pirâmide de Quéops no Egito. Existem outros notáveis exemplos pelo mundo todo e com uma fundamental semelhança entre si - a orientação para o leste onde sol é nascente - o oriente - no qual vemos em sua breve aparição o planeta Vênus. E naturalmente, sua morte no oeste. Esse ciclo de nascer e morrer dos astros à semelhança da vida do homem é o precursor de todos os mitos de renascimento. Está escrito nas pedras que os construtores usaram para edificar templos a seus mortos em todas as épocas. As sociedades de construtores que edificaram esses templos eram constituídas de experientes arquitetos e artesões em pedra e o fizeram através desse "conhecimento oculto", transmitido secretamente por séculos nas reservadas elites de Mestres. Hoje sabemos que a organização dessas sociedades de constrututores "maçons", que incluíam artesões metalúrgicos em bronze, formavam o que chamamos de maçonaria operativa. Séculos depois, esses conhecimentos ocultos foram reapresentados na Maçonaria Moderna, ou Especulativa, retomando o uso de símbolos, alegorias, palavras de passe etc., estes por sua vez, transmitidos através da iniciação a um neófito, devidamente escolhido, e aceito como Irmão. O notável desse "ritual de passagem" é a representação da morte - da vida profana - renascida em uma nova vida iluminada para a construção do "Templo interior". Se no segundo grau desenvolvemos o companheirismo e a confiança do Mestre para recebermos mais sabedoria oculta, no "Ritual de Passagem" do terceiro grau, renascemos Mestres Maçons pela mão de quem representa o Sol. O eixo da loja, representa os equinócios, os solstícios são representados pelas colunas "J" e "B". Esse caminho também percorre o Aprendiz e o Companheiro. Eles começam seus estudos topo de suas colunas que representam os equinócios - o lugar "mais escuro" - para terminar nas colunas solstíciais, onde o sol está mais perto e brilhante com toda a sua força e beleza.
Frank Urban M.: M.: - Glesp

Bibliografia:
O Simbolismo na Maçonaria - Colin Dyer - Madras
O Livro de Hiram - Knight e Lomas - Madras
O Segundo Messias - Knight e Lomas - Madras
Rituais do R.E.A.A. da Glesp