quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PRINCE HALL: UMA MAÇONARIA DESCONHECIDA

Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33
I - INTRODUÇÃO: A idéia de fazer um trabalho sobre a maçonaria Prince Hall, ou seja a maçonaria dos negros dos EEUU, tem por objetivo informar à comunidade maçônica brasileira sobre uma maçonaria pujante que por longos anos tem sido escamoteada, em termos de informação, ao mundo maçônico brasileiro.Se o Brasil se propõe a ser uma potência maçônica deve ter o cuidado de se informar sobre o que se passa no resto do mundo e parar de repetir acriticamente o que lhe é ofertado pelos sistemas de divulgação maçônicos internacionais.O presente trabalho busca trazer à tona a figura histórica e a legenda do primeiro maçom negro dos Estados Unidos, e talvez do Hemisfério Ocidental, chamado Prince Hall, que deu origem à maçonaria dos negros norte-americanos.Busca, a seguir, relatar as dificuldades da Obediência Prince Hall nos Estado Unidos e a tentativa de formar uma Grande Loja Nacional Prince Hall.Relata o que denominei de pérolas maçônicas, ou seja as instruções normativas da maçonaria branca em negar reconhecimento à sua congênere negra, num bestialógico digno dos tempos mais obscurantistas da história universal.Termina propondo um repto para que se estude mais a fundo este importante ramo da maçonaria universal, visto que o Brasil, pela sua população negra não pode viver só da versão do homem branco. Concomitantemente, busca extrair lições estratégicas sobre o que se passa no mundo da alta política.Como surgiu a idéia de escrever algo sobre a maçonaria Prince Hall? Na minha última viagem a Nova Iorque comprei um pequeno livro sobre a maçonaria Prince Hall[1] que li com grande prazer, pois, no Brasil, sempre que desejei informar-me sobre a maçonaria negra nos Estados Unidos, encontrava uma barreira devido à inexistência de bibliografia apropriada.O autor, um militar negro chamado Joseph A.Walkes, tornou-se mestre maçom em 1965 na Loja Cecil A.Ellis nº 110, na base militar norte-americana de Karlrude, na Alemanha Ocidental, que trabalhava sob a jurisdição da Grande Loja Prince Hall de Maryland. É, ainda, membro honorário da Loja Militar da Zona do Canal nº 174 no canal do Panamá. Atualmente, pertence aos quadros da Loja Rei Salomão nº 15 de Forte Leonard Wood no Estado de Missouri. Foi editor da revista Masonic Light e, atualmente, edita a revista News Quaterly do Supremo Conselho Unido 33º da Jurisdição Sul (PHA) nos Estados Unidos.Com este Ir\ negro, informei-me sobre o básico, da ótica negra evidentemente, da maçonaria Prince Hall nos Estados Unidos. O presente trabalho segue, em linhas gerais, as pegadas de Walkes. Aprendi, por exemplo, que ao lado do tronco da maçonaria branca, que ele chama de maçonaria caucasiana, existe um frondoso galho, chamado Prince Hall. Este galho e este tronco estão em constante estado de guerra, surda ou aberta, até os dias de hoje.Procurei distinguir o fato histórico real da lenda vigente. E, aqui, convém salientar o livro clássico de Grimshaw[2] que, se por um lado foi de importância fundamental em trazer à tona a legenda da figura seminal de Prince Hall, dando uma consciência de luta aos negros maçons norte-americanos, por outro lado, criou uma série de contos de fada sobre o mesmo Prince Hall, dificultando, e muito, a moderna historiografia. Sempre que usar, neste trabalho, a assertiva ‘a tradição afirma tal coisa’, estarei me referindo à versão de Grimshaw.Neste trabalho, procurei seguir as pegadas dos historiadores clássicos e modernos que se debruçaram sobre a maçonaria Prince Hall, tais como o aludido Grimshaw, Davis, Walkes, Sherman, Wesley, etc.
II - A HISTÓRIA E A LENDA DE PRINCE HALL: Deve-se destacar, na figura de Prince Hall, a parte real, mas menos romântica, resgatada pela moderna pesquisa historiográfica e a lenda, devida, na maioria das vezes, a Grimshaw e que vem sendo alimentada pelo povo maçônico afro-americano. A moderna historiografia estima que Prince Hall nasceu em 1735 em lugar desconhecido. Alguns especulam que teria nascido em Barbados nas Índias Ocidentais, outros que teria sido na África enquanto uma minoria chega a afirmar que o seu local de nascimento seria os Estados Unidos. Documentos analisados mostram que teria exercido várias profissões, tais como: trabalhador braçal, artesão de roupa de couro e fornecedor de alimentos. Outros documentos apresentam-no como líder e eleitor numa pequena comunidade negra em Boston.A versão tradicional, muito aceita mas de pouca ajuda para a pesquisa científica, afirma que Prince Hall nasceu em Bridgetown, Barbados, nas Índias Ocidentais em 1748, filho de Thomas Hall, um inglês, mercador de couro que teria como esposa uma mulher negra livre, de descendência francesa. Teria vindo para a Nova Inglaterra durante a metade do século XVIII, estabelecendo-se em Boston, na colônia de Massachusetts, onde teria se tornado pastor da Igreja Metodista.A versão tradicional ainda afirma que Prince Hall teria pertencido às fileiras do Exército Revolucionário e lutado na guerra de independência norte-americana.Um ponto controverso tem sido a versão de que Prince Hall tenha sido escravo ou não. Sherman afirma que “tive a fortuna de descobrir, na Biblioteca Athenaeum de Boston, uma cópia do documento de alforria, provando que Prince Hall tinha, originalmente, sido escravo na família de um negociante em roupa de couro de Boston chamado William Hall que o alforriou em 1770”.[3] Certos historiadores afro-americanos rejeitam alguns documentos que tentam demostrar ter ele sido escravo da família Hall, como se, em sendo isto verdade, teria sido uma desonra para a figura de Prince Hall. Aqui, convém lembrar o dizer da carta de Mahatma Gandhi ao Ir.´. W.E.B. Dubois em 1929: “Não deixem os 12 milhões de negros [norte-americanos] se envergonharem pelo fato de serem descendentes de escravos. Não há desonra em ter sido escravo. Há desonra em ter sido proprietário de escravos”.[4] A maçonaria Prince Hall nunca negou iniciação a qualquer ex-escravo desde que preenchesse os requisitos mínimos exigidos pela Ordem. A Grande Loja Unida da Inglaterra, após a abolição da escravidão nas Índias Ocidentais pelo Parlamento Britânico em 1º de setembro de 1847, mudou a expressão nascido livre para homem livre como requisito para ingresso nas suas lojas.A tradição afirma que Prince Hall teria sido iniciado em 6 de março de 1775. E aqui existe uma controvérsia entre a Loja nº 441 e a Loja Africana , sendo que ambas estariam na gênese da maçonaria Prince Hall, com as implicações do reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra e o problema de haver duas Obediências em um mesmo território. O historiador Jeremy Belknap afirma que “tendo uma vez mencionado esta pessoa (Prince Hall), tenho a informar que ele foi um grão-mestre de uma loja de maçons livres, composta na sua totalidade de pretos e conhecida pelo nome de ‘Loja Africana’. Isto teria acontecido em 1775, quando esta cidade foi tomada pelas tropas britânicas, possibilitando a montagem de uma loja e ainiciação de um bom número de negros. Após o estabelecimento da paz, enviou-se a Londres um pedido de reconhecimento, obtendo-se uma carta timbrada pelo duque de Cumberland e assinada pelo conde de Effingham”.[5]Nelson King, editor da revista Philalethes, afirma que “em 29 de setembro de 1784 uma carta de reconhecimento (warrant) foi outorgada pela primeira Grande Loja da Inglaterra para 15 homens em Boston, Massachusetts (inclusive o Ir\Hall, cujo primeiro nome era Prince), formando a Loja Africana nº 459 no registro inglês. A Loja Africana contribuiu com o Fundo de Caridade inglês até 1797 e permaneceu correspondendo-se com o Grande Secretário até início do século XIX. Os livros de registro da Grande Loja, para tal período, entretanto, são incompletos e não é impossível que a correspondência, entre ambos os lados, apareça como tendo sido ignorada. Após 1802, o contato foi perdido, devido, em grande parte, à interrupção que as guerras napoleônicas causaram sobre os transportes e as comunicações com a América do Norte. Em 1797, a Loja Africana, contrariamente aos termos da carta de reconhecimento e às Constituições de Anderson, às quais estava vinculada, deu autorização a dois grupos de homens para se reunirem como Lojas: i) a Loja Africana nº 459B em Filadélfia na Pensilvânia e ii) a Loja Hiram (sem número) em Providence, Rhode Island. Autorizações continuaram a ser dadas para outras lojas a partir de 1808.Após a união das duas Grandes Lojas inglesas - antigos e modernos - em 1813 a fusão dos livros de registro omitiu a Loja Africana (assim como muitas outras lojas na Inglaterra e além mar) deixando de haver contato por longos anos. A Loja Africana, contudo, não foi formalmente extinta”.[6]Gould, em toda sua monumental obra, não chega a citar a figura de Prince Hall, mas num quadro em que lista as lojas nos EEUU reconhecidas pela Grande Loja da Inglaterra entre 1733 e 1789 cita a African Lodge de Massachussets com a data de 1784-86.[7]Outro historiador chega a afirmar que Prince Hall teria sido iniciado numa loja militar, a Loja nº 441, sob a jurisdição da Grande Loja da Irlanda, ligada a um dos regimentos do exército do General Gage e cujo Venerável Mestre era o Ir.´. J.B.Watt.[8] Esta Loja volante existiu na vizinhança de Boston, estabelecendo-se futuramente em Nova Iorque e participou na formação, segundo a versão da maçonaria Prince Hall, da Primeira Grande Loja Caucasiana. Com a remoção da Loja para Nova Iorque, supõe-se que aquele Ir\J.B.Watt tenha dado uma “permissão” (se escrita, o documento perdeu-se; talvez oral, para que Prince Hall continuasse a funcionar em Boston). Daí talvez a gênese da “Loja Africana”. O que se especula é que essa “permissão” daria a Prince o direito de fazer reunião e de enterrar seus mortos, quando necessário. As atas da “Loja Africana” deixam muito a desejar sobre o que teria acontecido após a partida dos ingleses, sendo que este fato concorre para que a maçonaria branca marginalize a nascente maçonaria Prince Hall. Na época, Prince Hall mandou uma petição ao Grande Mestre Provincial Joseph Warren, pedindo reconhecimento. Entretanto, Warren foi morto na batalha de Bunker Hill antes de poder responder. Convém salientar que, com a morte de Warren, a jurisdição de Massachusetts abateu colunas e não havia autoridade maçônica na região. Em seguida buscou conseguir uma autorização legal e regular que substituísse a precária “permissão” de Watt. Primeiramente, tentou-se o Grande Oriente de França mas o seu intento foi infrutífero. Procurou então contatar a Grande Loja de Londres (modernos) através de duas cartas dirigidas ao Ir\William M. Moody em Londres. Desta vez obteve sucesso, conseguindo finalmente o “warrant” em 20 de setembro de 1784 para a African Lodge nº 459. Essa autorização chegou às mãos de Prince em 29 de abril de 1787 e foi noticiada pelos jornais locais. É um documento de importância vital para a maçonaria Prince Hall, pois é a prova inconteste para fugir da irregularidade que a ela é imputada pela maçonaria branca. Walkes chega a afirmar que “a carta permaneceu nas mãos da Prince Hall Grand Lodge of Massachussets. Em 1869, foi chamuscada num incêndio, sendo, contudo, salva pela ação do P.G.M. Kendall que recuperou o documento. Existe um grande número de maçons Prince Hall que acreditam ter sido o incêndio uma tentativa de a maçonaria caucasiana destruir o mais valioso de todos os documentos da maçonaria Prince Hall. Enquanto esta crença não pode ser provada, o fato alegado mostra a freqüente relação tensa entre a fraternidade Prince Hall e a sua contraparte caucasiana. Mostra também a conexão emocional entre a América Negra e Branca.”[9]É preciso ter em mente o status colonial do negro norte-americano na época da independência. Não possuíam educação formal, além do mais sofriam restrição legal para adquiri-la e os códigos dos negros legais impediam reuniões ou ajuntamentos com mais de três individuos da raça negra. Os historiadores negros afirmam que os negros estavam na América Colonial mas não eram da América. Eram súditos coloniais dos súditos coloniais da Inglaterra. Não estavam sendo explorados por George III, mas sim por George Washington, pelos maçons e pelos donos de escravos. Os Pais Brancos Fundadores não eram os Pais Negros Fundadores, pois os homens negros viviam uma diferente Declaração de Independência, uma Revolução diferente numa América diferente. A revista maçônica negra - Phylaxis Magazine - editada em Boston comenta em seus editoriais que houve e tem sempre havido duas Américas, uma Branca e outra Negra. Defini-las juntas seria impossível. Medir a maçonaria de cada uma em conjunto, também é praticamente impossível, pois a convenção constitucional branca não foi a convenção constitucional negra, o começo branco não foi o começo negro.Prince Hall demonstrou a sua combatividade em diversas ocasiões. Em 13 de janeiro de 1777, conjuntamente com outros companheiros de luta - maçons ou não - endereçou uma petição ao legislativo de Massachussets protestando contra a existência da escravidão na Colônia. Documentos demonstram que, novamente, em 27 de fevereiro de 1788, redigiu outra petição protestando contra o seqüestro e subsequente venda como escravos de numerosos negros que foram levados de Boston para um navio em direção às Índias Ocidentais. Estes negros retornaram a Boston depois de detidos pelo governador do Maine que concordou com o pedido de auxílio do governador de Massachusets.Deixou vários documentos escritos, inclusive um livro de cartas, grande manancial para os historiadores. Prince faleceu em 4 de dezembro de 1807 na glória de ter sido o primeiro americano negro a receber os graus da maçonaria nos EEUU. Sua morte foi noticiada em inúmeros jornais de Boston. Foi enterrado em Copps Hill ao lado de uma de suas esposas.A maçonaria Prince Hall honra a memória de seu fundador em uma cerimônia pública - Prince Hall Americanism Day - que acontece em setembro numa igreja em Boston. Como os São Joães, Prince Hall é considerado um dos santos fundadores da maçonaria negra nos EEUU. A cada dez anos a Conferência dos Grãos Mestres Prince Hall realiza uma peregrinação à Boston no seu memorial em Copps Hill.III - A OBEDIÊNCIAMackey, dentro da mais pura Doutrina Americana da Exclusiva Jurisdição Territorial, estatui que “por esta razão que uma Grande Loja tem competência para outorgar uma Autorização (Warrant) de Constituição e estabelecer uma Loja num território não-ocupado, por petição, claro, de um requisitado número de maçons. E este direito de outorgar Autorização habitualmente conferido a cada Grande Loja no mundo, e podendo ser exercido por quantas queiram fazê-lo, desde que nenhuma Grande Loja esteja organizada no território. Assim, podem existir dez ou doze Lojas funcionando ao mesmo tempo no mesmo território, e cada uma delas derivando sua existência legal de uma diferente Grande Loja”.[10]A maçonaria Prince Hall queixa-se de que a maçonaria caucasiana, baseada nestes princípios, sempre sabotou e não reconheceu a criação de uma Grande Loja Prince Hall. Para complicar mais o quadro, a Grande Loja de Massachussets (branca) gaba-se de ser a primeira Grande Loja do Hemisfério Ocidental, datando de 1733 quando Henry Prince foi nomeado Grão Mestre Provincial para a Nova Inglaterra por uma autorização de Lorde Montague na Inglaterra. Essa Grande Loja Provincial foi jurisdicionada pela Grande Loja da Inglaterra até abril de 1769 quando se tornou uma Grande Loja independente. Convém salientar que, com a independência dos EEUU, as diversas Grandes Lojas Provinciais, ligadas à Inglaterra ou à Escócia ou à Irlanda, declararam-se independentes de suas Grandes Lojas Mães.A tradição da maçonaria Prince Hall afirma que a primeira Grande Loja Africana da América do Norte foi organizada em Boston, Massachussets, em 24 de junho de 1791, tendo Prince Hall como seu primeiro Grão-Mestre. A seguir foram criadas as seguintes Grandes Lojas Prince Hall [11]: 2 - Loja Africana nº 459 de Filadélfia (24/06/1797), 3 - Grande Loja Boyer em Nova Iorque (12/03/1845), 4 - Grande Loja Africana de Maryland (1845), 5 - Grande Loja União no Distrito de Colúmbia (27/03/ 1848), 6 - Grande Loja Prince Hall de Nova Jersey (24/06/1848), 7 - GLPH de Ohio (03/05/1849), 8 - GLPH de Delaware (09/06/1849), 9 - GLPH da Califórnia (19/06/ 1855), 10 - GLPH de Indiana (13/09/1856), 11 - GLPH de Rhode Island (07/10/ 1858), 12 - GLPH de Louisiana (05/01/1863), 13 - GLPH de Michigan (25/04/1866), 14 - GLPH de Virginia (29/10/1865), 15 - GLPH de Kentucky (16/08/1866), 16 - GLPH de Missouri (20/12/1866), 17 - GLPH de Illinois (15/02/1867), 18 - GLPH da Carolina do Sul (junho 1867), 19 - GLPH de Kansas (11/09/1867), 20 - GLPH da Carolina do Norte (01/03/1870), 21 - Grande Loja União da Flórida, Belize e América Central (17/06/1870), 22 - GLPH da Georgia (22/08/1870), 23 - GLPH do Tennessee (31/08/1870), 24 GLPH do Alabama, 25 - Grande Loja Stringer do Mississippi (03/ 07/1875), 26 - GLPH do Arkansas (28/03/ 1873), 27 - GLPH de Connecticut (03/11/ 1873), 28 - GLPH da Província de Ontario (1851), 29 - GLPH do Texas (19/08/ 1875), 30 - GLPH do Colorado (17/01/1876), 31 - GLPH de West Virginia (03/10/ 1877), 32 - GLPH de Iowa (09/08/1882), 33 - GLPH de Oklahoma (15/08/1893), 34 - GLPH de Minnesota (16/08/1894), 35 - GLPH de Washington (13/04/1903), 36 - GLPH de Nebraska (02/08/1919), 37 - GLPH do Arizona (30/05/1920), 38 - GLPH do Novo México (21/09/1921), 39 - GLPH do Wisconsin (28/06/1952), 40 - GLPH das Ilhas Bahamas (1951), 41 - GLPH do Oregon (23/04/ 1960), 42 - GLPH do Alaska (setembro de 1969), 43 - GLPH de Nevada (1980), 44 - Grande Loja dos Antigos Maçons da República da Libéria (setembro de 1967).As últimas pesquisas historiográficas reformulam, em parte, a tradição da maçonaria Prince Hall. Os fatos indicam que, em 1792, a Grande Loja da Inglaterra, numa revisão de numeração de loja inativas, alterou o número da African Lodge que passou de 459 para 370.Em 1813 a African Lodge foi retirada dos anais da Grande Loja da Inglaterra por falta de comunicação e pagamento do fundo de caridade. De 1813 a 1824 a Loja Africana de Massachussets quase abateu colunas, reunindo-se pouquíssimas vezes. Em 1824 foi remetida à Grande Loja da Inglaterra uma petição pedindo a renovação de sua Carta Constitutiva, fato que ficou sem resposta até os dias de hoje.Em 1824 a African Lodge nº 459 (370) experimentou uma revivescência de atividades pois as suas atas se tornaram mais minudentes e constantes. Sob a liderança de um mulato, extremamente habilidoso e agressivo, chamado John Telemachus Hilton, que se tornou seu Venerável Mestre em 1827, começou-se a pensar seriamente na criação de uma Grande Loja que cuidasse dos assuntos da comunidade maçônica negra nos EEUU. Assiste-se, a partir desta data, a um novo pomo de discórdia com a maçonaria branca, sendo que esta alega ser tal criação totalmente irregular para os padrões maçônicos tradicionais, como visto acima.Assim, em 1827, a African Lodge nº 459 de Boston assumiu o nome de African Grand Lodge nº 459, passando a adotar o título de Prince Hall Grand Lodge somente a partir de 1848. A maçonaria caucasiana teria, a partir de então, novo ponto de discussão: não só a caducidade do “warrant” da Inglaterra como também a auto-proclamação irregular de uma Grande Loja, ainda mais num território (Massachusetts) onde já existia uma Grande Loja (caucasiana evidentemente).O jornal Boston Daily Advertiser de 26 de junho de 1827 (vide Anexo) publicou, na página 3, uma declaração de independência maçônica, datada de 16 de junho de 1827, assinada pelo Venerável-Mestre, Vigilantes e Secretário. Nesta proclamação pública menciona a carta autorizativa de 29 de setembro de 1784, as dificuldades de comunicação com a Grande Loja de Londres e, o que é mais importante, a declaração de independência de ser tributária ou governada por qualquer Grande Loja dali em diante.A possessão da Carta de Reconhecimento da Grande Loja da Inglaterra sempre deu a Prince Hall e seus associados uma certa aura de prestígio e de status social entre os negros dos EEUU. Note-se que em 22 de março de 1797 um tal Peter Mantore de Philadelfia endereçou uma carta à African Lodge de Boston requerendo uma “dispensação, um ‘warrant’ para uma Loja Africana”. Nos primórdios do século XIX, uma Loja de Philadelfia, a Loja Harmonia de Providence em Rhode Island e a Loja Boyer em Nova Iorque obtiveram da Loja Africana nº 459 de Boston uma autorização para funcionar.Para encerrar esta parte obediencial, convém salientar outra peculiaridade da maçonaria Prince Hall nos EEUU: a tentativa de organizar uma Grande Loja Nacional, ou seja uma autoridade central que organizasse a maçonaria negra nos diversos Estados da América do Norte.Após a Revolução Americana, a maçonaria caucasiana tentou, por diversas vezes, organizar uma Grande Loja Geral, que teria até mesmo George Washington como Grão-Mestre Geral para todo os EEUU. Mackey afirma que “desde que as Grandes Lojas deste país começaram, nos princípios da guerra revolucionária, a abandonar sua dependência das Grandes Lojas da Inglaterra e da Escócia, - ou seja, tão logo emergiram da posição subordinada de Grandes Lojas provinciais e foram compelidas a assumir um caráter soberano e independente, - tentativas, tem sido feitas de tempos em tempos, pelos membros da Arte Real em destruir esta soberania das Grandes Lojas dos Estados Federados, e instituir, em seu lugar, um poder superintendente, para ser constituído seja como um Grão-Mestre da América do Norte seja como Grande Loja Geral dos EEUU. Conduzidos, talvez, pela analogia das colônias unidas sob uma cabeça federal ou, no começo da luta revolucionária, controlada por longos hábitos de dependência das Grandes Lojas-Mães da Europa, a disputa mal tinha começado, quando teve lugar a ruptura de relações políticas entre Inglaterra e América, no momento em que se tentava instituir o cargo de Grão-Mestre dos Estados Unidos, cujo objeto era (do qual dificilmente se pode duvidar) investir George Washington com a reconhecida dignidade”.[12]Desde 1844 discutia-se nos círculos de Nova Iorque e Boston a necessidade de se criar uma Grande Loja Nacional Prince Hall.A idéia e o motor da montagem da Grande Loja Nacional ou Compacta da maçonaria Prince Hall foi, mais uma vez, aquele empreendedor visto acima: John Telemachus Hilton. A elite da maçonaria negra, liderada por Hilton, tinha consciência de que a maçonaria Prince Hall era a única organização interestadual fora da igreja numa época de conflitos raciais intermitentes. Estes feudos estaduais, contudo, não se comunicavam nem mantinham um mínimo de vínculo associativo. Assim, no dia de São João Evangelista de 1847 na cidade de Boston, no Estado de Massachussets, os delegados de Boston, Nova Iorque, Providence e Pensilvania criaram a Loja Nacional dos Antigos Maçons de York Livre e Aceitos (Negros) dos Estados Unidos da América, tendo John T. Hilton como seu primeiro Grão-Mestre.Esta Grande Loja Nacional, desde os primórdios, tornou-se um foco de dissensões e conflitos entre a maçonaria Prince Hall. Por diversas vezes reconheceu outra Grande Loja Prince Hall no mesmo Estado onde já existia uma.As discussões tomaram um rumo mais quente com a dissensão da Grande Loja de Ohio em 1868. Como as Grandes Lojas Prince Hall dos Estados foram se retirando gradativamente da Grande Loja Nacional, na segunda Convenção Nacional de 4-6 de setembro de 1877 em Chicago, Illinois, resolveram dissolver a Grande Loja Nacional, restaurando, assim, em parte, a soberania das Grandes Lojas Estaduais.Não se pense, contudo, que a Grande Loja Nacional teria fenecido a partir daí, pois Sherman relata que “os procedimentos normativos impressos da Grande Loja Nacional estão disponíveis para os anos de 1856, 1862, 1865, 1874, 1898, 1909, 1910, 1915 e 1921. Foram examinados pelo Ir.´. Edward R. Cusick, com quem tenho correspondido por um bom período de anos. Ele salientou o fato de que tem havido uma Grande Loja Nacional de maçons de cor operando de 1847 a 1957 e eu sei por correspondência pessoal que ela ainda esta funcionando”.[13] Apresenta ainda no Apêndice D deste seu artigo a relação dos grão-mestres Nacionais de 1847 a 1978.IV - PÉROLAS MAÇÔNICASNeste item busca-se apresentar os procedimentos normativos, do passado e do presente, sobre os negros, na sua maioria, como também alguns sobre índios e amarelos, existentes na maçonaria, coletados pelos pesquisadores Prince Hall. Tais procedimentos servem como indicadores preciosos do grau de conflito racial que age como uma cunha na sociedade norte-americana. Tal fratura, apesar de ter causado uma cruenta guerra civil, ainda mantém um potencial explosivo nos dias de hoje. A tolerância maçônica inter-racial ainda não foi medianamente absorvida pelos maçons dos EEUU. Possam estes procedimentos, chamados ironicamente de pérolas maçônicas, servir de advertência aos maçons de outras plagas sobre os perigos do conflito racial e tomada de consciência sobre o abismo que separa os negros dos brancos na América do Norte. A tolerância maçônica, nos EEUU, se mostra, ainda incapaz de servir como amortecedor entre as duas tribos.As principais pérolas coletadas são as seguintes:1) Da Grande Loja de Iowa, Procedimentos Normativos de 1852:“Exclusão de pessoas da raça negra está de acordo com a lei maçônica e as Antigas Obrigações e Regulamentos”.2) Grande Loja de Louisiana, decisão do Grão-Mestre, 1924:“Uma mistura de sangue branco e negro torna um homem inelegível para os graus da maçonaria”.3) Grande Loja da Carolina do Norte, Constituição, edição de 1915, seção 110, p. 50:“Um candidato tem que ser um homem branco nascido livre”.4) Grande Loja do Mississippi, Procedimentos Normativos para 1899, p. 43, e Constituição da Grande Loja, edição de 1914, estatui que:“Um Maçom que discute Maçonaria com um Negro deve ser expelido da sua Loja”.5) Grande Loja de Ohio, Procedimentos Normativos para 1857:“Admissão de pessoas de cor seria inconveniente e tende a estragar a harmonia da fraternidade”.6) Grande Loja de Idaho, Procedimentos Normativos para 1916, p. 16, decisão de Francis Jenkins, aprovada pelo Comitê de Jurisprudência Maçônica:“Estatui que um candidato deve ser um homem branco”.7) Grande Loja da Carolina do Sul, o “Ahiman Rezon”, compilado por Albert G. Mackey, Grande Secretário, afirma:“...que o candidato deve ser de pais livres brancos.”8) Grande Loja de Nova Iorque, (a) Procedimentos Normativos para 1851:“I. Não é adequado iniciar nas nossas Lojas, pessoas da raça Negra; e sua exclusão está de acordo com a lei Maçônica e as Antigas Obrigações e regulamentos, por causa de sua condição social deprimente; a falta geral de inteligência, que os impossibilita, como um corpo, a trabalhar ou adornar a maçonaria; a impropriedade em fazê-los nossos iguais em algum lugar, quando pela sua condição social, e as circunstâncias pela quais cada um quase se liga a eles, não acontecendo o mesmo com outros, por não terem de um maneira geral NASCIDO LIVRES...”(b) Procedimentos Normativos para 1890:“Iniciar Negros em Loja pode quebrar a Fraternidade através do país”.9) Grande Loja de Kentucky(a) Procedimentos Normativos para 1914, p. 39:“Um homem possuindo 1/8 a 1/16 graus de sangue Negro não pode ser Maçom”.(b) Constituição, edição de 1919, p. 28:“Um candidato tem de ser um homem branco nascido livre”.(c) Procedimentos Normativos para 1947, p. 139, o Secretário da Loja nº 228 perguntou: “Pode um Católico juntar-se ao Maçons?”. A decisão de Albert C. Hanson, Grão-Mestre, em Opinião nº 45, responde: “Seção 105 do Livro das Constituições determina que um candidato para a iniciação deve ser um homem branco nascido livre, de 21 anos ou mais e de boa folha corrida”.10) Grande Loja do Texas, Constituições e Leis, 1948, Artigo XV, p. 34:“Esta Grande Loja não reconhece como legal ou Maçônico qualquer organização de Negros trabalhando sob qualquer Carta de Reconhecimento nos EEUU, sem acatar o organismo que outorgou tal Carta, considerando todas as Lojas de Negros como clandestinas, ilegais e não-Maçônicas, e além do mais, julgam como altamente censurável o procedimento de qualquer Grande Loja nos EEUU que reconheça tais organismos Negros como Lojas Maçônicas”.11) Grande Loja de Delaware, Procedimentos Normativos para 1867:Iniciação ou visitação “...de qualquer Negro, mulato ou pessoa de cor nos Estados Unidos é proibido”.12) Grande Loja de Illinois(a) Procedimentos Normativos para 1851:Uma resolução foi adotada proibindo qualquer iniciação ou visitação de um Negro em qualquer Loja.(b) Procedimentos Normativos para 1852:“...que esta Grande Loja se opõe totalmente à admissão de Negros ou mulatos nas Loja sob sua jurisdição”.(c)Procedimentos Normativos para 1899:“Por esta razão ter Lojas exclusivamente de Negros, poderia ser perigoso para a boa fama de nossa Ordem. E, associá-los em Lojas com irmãos brancos, seria impossível”.13) Grande Loja do Mississippi(a) Procedimentos Normativos para 1909:A um candidato foi negado aumento de salário em sua Loja porque ele tinha sido instruído em seu grau anterior por um Negro.(b) Procedimentos Normativos para 1914:Porque ele não sabia que era errado, e assim explicou para a Loja, que tinha visitado uma Loja de Negros por ignorância, um membro da Loja nº 34 foi inocentado de qualquer erro.Por causa deste perdão, o Grão-Mestre apreendeu a Carta da Loja; determinando que o membro deveria ser punido.14) Grande Loja de Illinois(a) Procedimentos Normativos para 1846:O Venerável Mestre de uma loja foi punido por ter conferido graus a um senhor cuja mãe tinha sido uma índia Cherokee e seu pai um mulato.(b) Procedimentos Normativos para 1852:“A Grande Loja de Illinois reprovou um de seus corpos subordinados por ter admitido um índio meio-sangue americano como visitante, e passou uma resolução proibindo, sob severa penalidade, a repetição de tal ofensa”.(c) Procedimentos Normativos para 1912:Um Past Master de uma loja, conjuntamente com um ex-Primeiro Vigilante e outro membro assistiram, como carregadores do caixão, ao funeral de um Maçom Negro. O Past Master foi expulso de sua loja e os outros dois, suspensos por um ano.15) Grande Loja de Nova Iorque, Procedimentos Normativos para 1851:Uma resolução foi adotada declarando que homens da raça Índia na América eram material impróprio para a Maçonaria.16) Grande Loja de Indiana, Procedimentos Normativos para 1945:O Grão-Mestre da Grande Loja recusou-se a permitir a iniciação de um senhor chinês sob o pretexto de que ele não era um cidadão dos EEUU.17) Grande Loja da Província de Quebec(a) Procedimentos Normativos para 1923:Charles McBurney, Grão-Mestre, informou à sua Grande Loja que recusou permissão para um grupo de Negros que desejavam estabelecer uma loja na cidade de Montreal.(b) Procedimentos Normativos para 1927:William J. Ewing, Grão-Mestre, recusou permissão para um grupo de Negros para erigir uma loja em Montreal.18) Grande Loja do TexasConstituição, edição de 1876: Artigo XXXVI, declarou que todas as lojas de Negros eram clandestinas e ilegais.19) Grande Loja do Mississippi(a) Procedimentos Normativos para 9 de fevereiro de 1899:Visto que a Grande Loja de Washington tem declarado que se Negros estabelecerem lojas e subseqüentemente uma Grande Loja neste Estado, aqueles não considerarão tal fato como sendo uma invasão deste território Maçônico, a Grande Loja do Mississippi cortou relações fraternais com a Grande Loja de Washington.(b) Procedimentos Normativos para 1873:Embora o Grão-Mestre, W.H. Hardy, advertisse sua Grande Loja que em Nova Jersey permitiu a formação de uma loja em Newark, N.J., cujos membros eram brancos e negros, o alto corpo do Mississippi não tomou nenhuma ação neste ano, mas o fez em 1909.(c) Procedimentos Normativos para 1909:Durante o mês de agosto de 1908, Edwin J. Martin, Grão-Mestre, descobriu que a Loja Alpha nº 116, trabalhando sob a jurisdição da caucasiana Grande Loja de Nova Jersey na cidade de Newark, funcionava com brancos e negros e visto que o Grão-Mestre de Nova Jersey não renegou a Loja, o Grão-Mestre do Mississippi cortou relações com o alto corpo de Nova Jersey.20) Grande Loja de Oklahoma(a) Procedimentos Normativos para 9 de fevereiro de 1910:Simpatizando com a ação da Grande Loja do Mississippi, como descrito acima, esta Grande Loja cortou relações com a Grande Loja de Nova Jersey por causa da composição racial da Loja Alpha nº 116, sob a jurisdição da última.Mais tarde, Oklahoma reatou relações, baseado no entendimento de que todos os maçons de Nova Jersey seriam bem vindos às lojas de Oklahoma, exceto os membros da Loja Alpha nº 116.(b) Procedimentos Normativos para 14 de fevereiro de 1940:A Grande Loja de Oklahoma, novamente, descobriu a existência da Loja Alpha nº 116, em Newark, e mais uma vez, cortou relações fraternas com a Grande Loja de Nova Jersey mas que também foram reatadas a partir de 11 de fevereiro de 1942.21) Loja Arizona em Phoenix, Arizona:Em 5 de janeiro de 1952, a Associated Press noticiou que o corpo de um soldado negro, morto na Coréia, tinha sido mantido no necrotério da cidade de Phoenix por cinco semanas, visto que o cemitério, propriedade da e operado pela Loja Arizona, não teria permitido que o corpo fosse enterrado a menos que três cartas de requerimento de sepultamento, registradas em cartório, fossem submetidas à consideração se poderia ser enterrado ao lado dos veteranos brancos no cemitério desta loja Maçônica.E para encerrar, com chave de ouro, uma pérola do general confederado da guerra civil americana e Sob\Gr\Com\do Supr\Cons\Jur\Sul dos EEUU - Albert Pike -, considerado o Platão moderno da maçonaria universal, autor do afamado Morals and Dogma, uma das bíblias do Rito Escocês Antigo e Aceito.Seu mais famoso biógrafo e apologista - Duncan - relata que, em 1858, Albert Pike e 11 de seus colaboradores emitiram uma circular conclamando a expulsão dos Negros libertos e mulatos do Arkansas, citando “a preguiça e bestialidade de uma raça degradada”, sua “imoralidade, imundície e indolência” e chamando o negro “tão desprezível e depravado como um animal”.[14]Walkes afirma que “Albert Pike serviu como Chefe de Justiça da Ku Klux Klan quando era Soberano Grande Comendador. Tendo sido, também, Grande Dragão para o Arkansas”.[15] “Este senhor muitas vezes admitiu como sua opinião que a Maçonaria Prince Hall era tão regular como a sua e, em algumas circunstâncias, mais ainda, mas era incapaz de ultrapassar seu preconceito de cor, como expresso na seguinte linguagem: “Eu tomei minhas obrigações para com homens brancos, não para com Negros. Quando eu tiver que escolher entre Negros como Irmãos ou abandonar a Maçonaria, eu abandonarei a Maçonaria””.[16]Albert Pike não é estranho ao Grande Oriente do Brasil, pois o arguto Kurt Prober relata que “no correr do ano de 1887 o Grande Oriente do Brasil mandou cunhar uma Medalha em homenagem ao Sob\Gr\Com\Albert Pike do Supr\Cons\Jur\ Sul dos EEUU, que vai aqui ilustrada, pois é quase desconhecida entre nós, e totalmente desconhecida aos colecionadores estrangeiros.Nenhum documento foi jamais encontrado alusivo a esta medalha, e nenhuma explicação sobre os motivos que teriam induzido o Gr. M. Sob. Com. do GOB\Vieira da Silva, a mandar cunhar esta peça na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, sabendo-se apenas, pelas anotações daquela Repartição, que se cunhou UM EXEMPLAR ÚNICO em OURO, certamente mandado para os EEUU ao Ir\Pike, que ainda no princípio de 1887 estivera seriamente doente, de um ataque de “gota”, que já não mais lhe permitia viajar, a ponto de estar morando com sua filha no prédio do Supremo Conselho de Washington, no que chamava de “THE HOUSE OF THE TEMPLE” (A casa do Templo).Não há dúvida de ter sido uma homenagem merecida, a prestada a Albert Pike pelo GOB e pelo S.C.BRAS., pois fora ele, que em horas difíceis lhes tinha dado pleno apoio, em diploma de 5.7. de 1869 (em meu arquivo, veja Nota 76, pg. 142) declarando publicamente, que se tinha enganado “reconhecendo o Supr\Cons\(irregular) do Gr. Or. dos Beneditinos”, e indicando para representante do S.C.BRAS. nos EEUU o Ir\ John Quincy Adams Fellows, que foi imediatamente confirmado pelo GOB, e nomeando Pike depois o Ir\Francisco Leão Cohn para seu representante.O Ir\Albert Pike, nascido na cidade de Boston em 29.12.1809, pode ser considerado, juntamente com George Washington, como um dos maiores maçons da nação americana, de todos os tempos. Era Jornalista, Editor, Advogado além de nas guerras dos Estados do Norte contra o México ocupou o cargo de General.Foi o único americano, durante os 244 anos de história maçônica daquele país, que mereceu o título de GRÃO MESTRE VITALÍCIO. A sua cultura era quase fenomenal, lendo ele corretamente o Grego, Latim, Sânscrito, Francês e Espanhol, além de falar Alemão, Italiano, Português e diversos dialetos indus. Os seus poemas eram altamente estimados pelo seu contemporâneo Edgar Allan Poe.Pois foi Albert Pike, que lançou a pedra fundamental para a importância da maçonaria americana, e ao falecer em 2.4.1891, com a idade de 82 anos, recebeu com justiça o cognome de “Patriarca da Maçonaria”.E foi este personagem, que em 1.7.1884 escreveu a famosa réplica à bula papal de 20.4.1884 de Leão XIII, conhecida pelo nome de Encíclica HUMANUS GENUS, que condenava a Maçonaria com toda a violência. Esta resposta, revista, foi em 1.8.1884 publicada oficialmente pelo Supr\Cons\e Pike foi tão acertado e feliz em suas contra-provas, mostrando a inoportunidade e a sem razão da aludida bula, que desde então o Vaticano não mais tomou atitude tão frontal contra a maçonaria universal através de suas bulas papais, resumindo-se a combater os maçons pela legislação canônica ou outras declarações esporádicas.Portanto, fora bem justa a homenagem que o GOB e a SCBRAS estavam prestando a Alberto Pike”.[17]Encerrado este florilégio de pérolas maçônicas, já é hora de tirar algumas conclusões.V - CONCLUSÃOO fato estarrecedor que se impõe como conclusão preliminar não é tanto a falta de informação do povo maçônico brasileiro sobre a maçonaria nos EEUU em geral (Pike et caterva) e Prince Hall em particular, mas a desinformação, para não dizer informação seletiva, proporcionada por dois dos nossos maiores maçonólogos: Kurt Prober e Nicola Aslan.Kurt Prober, por só realçar os aspectos positivos de Albert Pike, como visto acima e Nicola Aslan, por copiar ‘ipsis litteris’ a posição preconceituosa de Mackey[18] com pouca visão crítica, proporcionam uma ótica parcial dos complexos problemas maçônicos. A argumentação básica de Mackey é de que a Loja Africana nunca foi reconhecida pela Grande Loja de Massachusetts (caucasiana), a cujo corpo havia recusado sempre outorgar sua lealdade...O Brasil maçônico passa hoje, em boa parte devido ao trabalho d’A Trolha, por uma revivescência de estudos maçônicos. Proliferam, no país, as Lojas de Pesquisas Maçônicas. A moda no momento são os ingleses e a Loja de Pesquisas Quatuor Coronati de Londres, fato que não deixa de ser altamente positivo. Se por um lado, estamos saímos, aos poucos, de nosso provincianismo maçônico, por outro, dentre os que sabem inglês, alguns começam a traduzir acriticamente os textos da Quatuor Coronati e difundi-los em escala industrial para um mercado ávido de informações.Estamos preparando, no momento, uma monografia que talvez intitulemos de “Geopolítica da Maçonaria”, buscando mostrar como as grandes potências utilizam também a maçonaria para a sua estratégia de dominação econômica e cultural.Não é preciso ser nenhum especialista em geopolítica para perceber que a Grande Loja da Inglaterra reconheceu e deu uma carta patente para Prince Hall e seus epígonos dentro de um contexto de guerra revolucionária, ou seja, procurava, de todos os modos, dividir a elite branca nativa dos Estados Unidos que almejava a independência da nação.Findel, na sua arguta análise, relata que “no princípio da guerra, diz o Ir\ Barthelmess, os ingleses trataram e não foi em vão, de ganhar para seu partido aos índios e aos negros. Nas listas dos regimentos, encontram-se muitos nomes que levam a designação de black ou negro. Todo o mundo conhece o dano que os índios fizeram à milícia americana. A perspectiva de obter liberdade atraía, principalmente no Sul, os escravos que buscavam reunir-se em massa sob a bandeira do exército inglês e, ao término da guerra, abandonar o país de sua servidão e estabelecer-se em regiões que haviam permanecido sob o domínio da Inglaterra (Nova Escócia, Nova Brunswick e Canadá)”.[19]Findel conclui seu capítulo intitulado “História Positiva da Franco-maçonaria Americana” com estas palavras que não devem agradar à Mackey e à Grande Loja Unida da Inglaterra: “estas cartas [de Prince Hall] provam não só a falsidade da afirmação que se tem sustentado de que a Grande Loja da Inglaterra tinha retirado sua patente pouco tempo depois de sua expedição, senão que ademais provam que se existe alguma negligência nas relações das duas lojas, deve atribuir-se a falta unicamente à Loja da Inglaterra”.[20]Possa esta pequena monografia despertar o estudo da maçonaria Prince Hall, que, talvez, tenha mais interesse, como processo de aprendizagem, principalmente para os maçons negros brasileiros, não só pelo seu porte - pelos dados de 1989 seriam mais de 4675 lojas com quase 300.000 membros - como também pelo seu processo de luta num país dividido por uma tremenda luta racial. Sem embargo, o estudo e a reflexão sobre Prince Hall, é de importância vital para que os maçonólogos brasileiros - brancos, pretos, mulatos e tutti quanti - aprendam, neste cipoal de fatos históricos, a trama do poder mundial que, na maioria das vezes, utilizam a maçonaria e os maçons ingênuos, em função dos objetivos estratégicos de poder.A título de curiosidade e da amenização do rancor da maçonaria caucasiana norte-americana, apresenta-se a seguir a relação, obtida na Internet, das Grandes Lojas que já reconhecem, admitem conviver e permitem inter-visitação com as Lojas Prince Hall: California, Colorado, Connecticut, Idaho, Kansas, Massachusetts, Minnesota, Nebraska, North Dakota, Ohio, Vermont, Washington, Wisconsin e Wyoming. No Canadá, as seguintes Grandes Lojas: Manitoba, New Brunswick, Nova Scotia, Prince Edward Island e Quebec. Desnecessário dizer que Prince Hall (Massachusetts) é reconhecida pelas Grandes Lojas da Inglaterra e da Irlanda. Fato pitoresco e grotesco é que a Grande Loja Unida da Inglaterra reconhece as Grandes Lojas da Nova Escócia, do Novo Brunswick e do Quebec e um certo número de Grandes Lojas nos EEUU, mas proibiu os seus membros de visitar as Lojas dessas jurisdições visto que tais jurisdições reconheceram Grandes Lojas Prince Hall em vários estados que não o de Massachussetts!Recentemente o Supremo Conselho do R.E.A.A. dos EE.UU - Jurisdição Norte concordou em manter um reconhecimento mútuo com o Supremo Conselho do R.E.A.A. Prince Hall.Para se ter uma amostra da longa trajetória do reconhecimento, supondo-se que todas as Grandes Lojas caucasianas desejassem reconhecer todas as Grandes Lojas Prince Hall e vice-versa, haveria a necessidade de 2200 reconhecimentos mútuos, haja vista existirem 51 Grandes Lojas caucasianas “regulares” nos EEUU enquanto que as Grandes Lojas Prince Hall “regulares” somam 43. Quantos anos seriam necessários para que se processasse tal reconhecimento entre as 94 Grandes Lojas? Quem viver, verá.7 - B I B L I O G R A F I A- ALBUQUERQUE, A. Tenório D', A Maçonaria e a Libertação dos Escravos, Ed. Aurora, Rio de Janeiro, 1970.- ANDERSON, James, Reproduction of The Constitution of the Free-Masons or Anderson Constitutions of 1723 in English and French, ed. by Maurice Paillard, London, 1952.- ARS QUATUOR CORONATORUM, Anais da Quatuor Coronati Lodge nº 2076, Londres, diversos números de 1960 a 1993.- ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, 4 vol., Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1974.- CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico - ABC (1990), DEFG (1990), HIJL (1991), MNOP (1992), PQRS (1993), TUVXZ (1994), Ed. Maçônica "A Trolha", Londrina, PR.- DUNCAN, Robert Lipscomb, Reluctant General: The Life and Times of Albert Pike, E.P. Dutton and Co., New York, 1961.- FRAU ABRINES, Lorenzo, Diccionario Enciclopédico de la Masonería, 4 vol., Editorial del Valle de Mexico, México, 1976.- GOULD, Robert Freke., The History of Freemasonry - Its Antiquities, Symbols, Constitutions, Customs, Etc., 3 vols., T.C. & E.C. Jack, Grange Publishing Works, Edinburgh, 1887.- GRIMSHAW, Wm.H., Official History of Freemasonry Among the Colored People in North America, reprint, Kessinger Publishing Company, Kila, Montana,USA, s/d.- HALL, Manly P., An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy, Golden Anniversary Edition, The Philosophical Research Society, Los Angeles, CA, 1979.- HAMIL, John, The History of English Freemasonry, Lewis Masonic Book, England, 1994.- INTERNET - freemasonry-list@sclinux.bml.gov e diversos maçonólogos internautas através do mundo.- MACKEY, Albert Gallatin, Enciclopedia de la Francmasonería, 4 vol., Editorial Grijalbo, Mexico, 1981.- MACKEY, Albert G., Jurisprudence of Freemasonry, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1980.- MELLOR, Alec, Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, Martins Fontes, São Paulo, 1989.- NEWINGTON, George Draffen of, Prince Hall in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 89, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1977, p. 70.- PIKE, Albert, Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, Charleston, 1871.- PRESTON, William, Illustrations of Masonry, The Aquarian Press, London, 1986.- PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33\do Brasil, vol. I/1832 a 1927, Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981.- ROBERTS, Allen E., Freemasonry in American History, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1985.- ROBERTS, Allen E., House Undivided - The Story of Freemasonry and the Civil War, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1990.- SHERMAN, John M., review of WESLEY, Charles H., Prince Hall, Life and Legacy in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 90, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1977, p. 306.- SHERMAN, John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p. 148.- THUAL, François, Géopolitique de la Franc-Maçonnerie, Dunot Éditeur, Paris, 1994.- WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1989.--------------------------------------------------------------------------------[1] WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989.[2] GRIMSHAW, William Henry, Official History of Freemasonry among the Colored People of North America, Books for Libraries Press, New York, 1971. A primeira edição apareceu em 1903.[3] SHERMAN, John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p. 148.[4] APTHEKER, Herbert (ed), The Correspondence of W.E.B. DuBois, vol. 1, University of Massachusets Press, 1973, p. 402 in WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p.17.[5] WESLEY, Charles H., Prince Hall: Life and Legacy, United Supreme Council, A.A.S.R., S.J., P.H.A. & The Afro-American Historical & Cultural Museum, Washington, p. 51 in WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p. 18.[6]KING, Nelson, Short History of Prince Hall Masonry in PHA Warning Large File, comunicado email INTERNET, 19/04/96.[7] GOULD, Robert Freke., The History of Freemasonry - Its Antiquities, Symbols, Constitutions, Customs, Etc., III vol., T.C. & E.C. Jack, Grange Publishing Works, Edinburgh, 1887, p.454.[8]DAVIS, Harry A. , A History of Freemasonry Among Negroes in America, United Supreme Council, A. A.S.R., S.J., P.H.A, 1946, p. 29 in WALKES, JR., Joseph A., opus cit., p.18.[9] WALKES, JR., Joseph A., opus cit., p.7.[10] MACKEY, Albert G., Jurisprudence of Freemasonry, Macoy Publishing & Masonic Supply Co., Inc., Richmond, Virginia, 1980, p. 296.[11] A partir do final do século XIX os antigos nomes das Grandes Lojas passam a se chamar Grande Loja Prince Hall de (nome do Estado), com toda a certeza a idéia foi estimulada pelo livro de Grimshaw que exerceu tremenda influência no mundo maçônico negro, apesar de conter muitas ficções.[12] MACKEY, Albert Gallatin, Enciclopedia de la Francmasonería, vol. II, Editorial Grijalbo, Mexico, 1981, p.649. Como a tradução espanhola estava confusa optei por traduzir direto do inglês no livro de WALKES, opus cit. p. 74.[13] SHERMAN, John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p. 154.[14] DUNCAN, Robert Lipscomb, Reluctant General: The Life and Times of Albert Pike, E.P. Dutton and Co., New York, 1961, p. 162.[15] WALKES, Joseph A., The Ku Klux Klan and Regular Freemasonry, FPS, pp. 3-8 in Phylaxis, vol. VIII, nº 1, 1st Quarter 1982.[16] WALKES, JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p. 84.[17] PROBER, Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33\ do Brasil, vol. I/1832 a 1927, Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981, p. 184.[18] Comparar o verbete NEGROS NA MAÇONARIA de Nicolas Aslan no Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, vol.III, Ed. Artenova, Rio de Janeiro, 1974, p. 730 com o verbete NEGRAS LOGIAS, LAS de MACKEY no Enciclopedia de la Francmasonería, vol.III, Editorial Grijalbo, Mexico, 1981, p.1046.[19] FINDEL, J.H., Historia General de la Francmasonería in FRAU ABRINES, Lorenzo, Diccionario Enciclopédico de la Masonería, vol.IV, Editorial del Valle de Mexico, México, 1976, p.151.[20] FINDEL, opus cit., p. 152.

A Importância dos Graus Simbólicos

Ir.:José Castellani
Os três graus simbólicos, Aprendiz, Companheiro e Mestre, comuns a todos os ritos maçônicos, representam a essência total de toda a doutrina moral da Maçonaria.Na primitiva Franco-maçonaria, formada pelas organizações de ofício, só existiam os Aprendizes; e os mestres-de-obras eram escolhidos entre os mais experientes Aprendizes. O grau de Companheiro seria criado já nosórdios da Maçonaria dos Aceitos --- também chamada, impropriamente,Especulativa --- no século XVII; e essa era a situação, quando da fundação, a 24 de junho de 1717, da Pemier Grand Lodge, de Londres, a primeira do sistema de obediências.grau de Mestre seria criado em 1725, mas só introduzido em 1738, pela Grande Loja londrina. A parti daí, iria se concretizar a totalidade da doutrina moral e da mística da instituição maçônica.Os três graus simbólicos, síntese do universo maçônico, mostram a evolução racional da espécie humana, ou seja: intuição (Aprendiz), análise (Companheiro) e síntese (Mestre). O Aprendiz, ainda inexperiente, embora guiado pelos Mestres, realiza o seu trabalho de forma praticamente empírica, através da intuição, apenas, representando o alvorecer das civilizações, dominadas pelo empirismo ; o Companheiro, já tendo um método de trabalho analítico e ordenado, simboliza uma mais avançada fase da evolução da mente humana, enquanto o Mestre, juntando, através da síntese, tudo o que está disperso, para a conclusão final da obra, representa o caminho derradeiro da mente, na busca da perfeição.Simbolicamente, nesses três graus, os maçons dedicam-se à construção do templo de Jerusalém, símbolo das obras perfeitas dedicadas a Deus, de acordo com a concepção da Ordem dos Templários, criada em 1118 e regida pelos estatutos idealizados por São Bernardo. A construção do templo, no caso, representa a construção moral e éticainiciado. Para a concretização desse simbolismo, a Maçonaria criou a lenda do terceiro grau, de forte cunho moral, segundo a qual havia um arquiteto, Hiram Abi ("Hiram, meu pai"), que fora enviado ao rei Salomão por Hiram, rei da cidade fenícia de Tiro, para ser o mestre das obras do templo ; isso, evidentemente, é pura lenda, pois, Hiram Abi era, simplesmente, um entalhador de metais. Diz, também, a lenda, que Hiram dividia os seus obreiros, de acordo com suas aptidões,em graus --- Aprendiz, Companheiro e Mestre --- dando-lhes a oportunidade de progredir, pelo seu trabalho. Embora isso também seja, lenda, pois não havia Maçonaria na época da construção do templo de Jerusalém e nem graus de Companheiro e Mestre (embora alguns ingênuos acreditem nisso), mostra duas lições morais: a cada um segundo as suas aptidões e a cada um segundo os seus méritos. Hiram, a personificação da Sabedoria, acabaria sendo morto pela personificação de vícios degradantes, a inveja, a cobiça e a ignorância, representadas em três Companheiros, que, sem os méritos, procuravam ser Mestres, a qualquer custo (o que também é apenas lenda e não realidade).Esses traços gerais da lenda --- já que o seu desenvolvimento e as suas minúcias são reservadas aos iniciados no terceiro grau ---mostram que o maçom, ao atingir o grau de Mestre, jádeve possuir a plenitude do conhecimento iniciático, moral, social e metafísico, necessário e pertinente aos objetivos da Ordem maçônica, restando-lhe, então, o trabalho, sempre constante, na busca da perfeição, nunca atingida, mas sempre perseguida, pois ela é o estímulo sempre presente na vida do ser humano.Terá, então, o Mestre, a humildade de se prostrar perante os grandes mistérios da vida e os insondáveis escaninhos da Natureza, despojando-se de todas as vaidades, incluindo-se, entre elas, a busca desvairada dos galardões, símbolos da fatuidade, e a busca da ascensão a qualquer custo, numa escala que quase nunca reflete um conhecimento apreciável e um desejável mérito pessoal. Deverá, então, o Mestre,sempre, de que a verdadeira beleza é a interior, mesmo que o exterior não seja coruscante e não brilhe em faíscas de ouro e prata, pois o maçom, o verdadeiro maço, o maçom integral é um Mestre pelas suas qualidades mentais e espirituais e não por sua posição na escala, ou por seus vistosos paramentos. O hábito não faz o monge, diz a velha sabedoria popular, e se pode atéacrescentar que um muar ajaezado de ouro nunca poderá ser confundido com um corcel de alta linhagem.Na Loja Simbólica, verdadeira e única essência da Maçonaria universal, o iniciado percorre um longo caminho, desde as trevas do Ocidente até à luz do Oriente, tendo o seu lugar de acordo com as suas aptidões e a sua ascensão de acordo com os seus méritos. Sua ascensão não deverá, nunca, ser devida a favores pessoais, a apadrinhamentos, a rapapés e bajulações, ou ao poder corruptor dos metais, expedientes, esses, tão comuns na sociedade, em geral, masídos dos templos da verdadeira Maçonaria, desde os seus primórdios, nos velhos tempos em que só existiam Aprendizes e Companheiros, que usavam um simples avental de couro, símbolo humilde do trabalho, sem as riquezas flamejantes de uma nababesca farrambamba.Acham, muitos maçons desavisados, que os graus simbólicos são secundários e representam um mero apêndice da maçonaria, uma etapa primária e elementar, um trampolim para grandes escaladas, quando, na realidade ébasilar e relevante a sua importância --- a ponto deles constituírem, segundo consenso, a "pura Maçonaria" --- pois, como alicerces de toda a estrutura maçônica universal, nada mais existiria de maçônico sem eles, restando apenas as honorificências, de que o mundo não maçônico é tão prenhe.Do livro "Liturgia e Ritualística do Grau de Mestre Maçom"Editora A Gazeta Maçônica - 1987

terça-feira, 9 de setembro de 2008

POLÍTICA E POLITICAGEM

Ir Valdemar Sansão - vsansao@uol.com.br
Política é o “uso legitimo do poder para alcançar o bem comum as sociedades” (João Paulo II)
O que é política? – Entende-se por esta palavra a ciência que trata do governo e também da arte de governar. Como ciência, a Política trata das relações do Estado e dos cidadãos, da legislação, das finanças, da administração interna, das relações dos povos entre si.
A verdadeira política tem como objetivo realizar, pelo governo de um Estado, a justiça e o interesse geral dos cidadãos.
“É a Arte e a técnica de dirigir e administrar corretamente o Estado, tanto no sentido da razão, como no da ética, com uma orientação fundamental: a Justiça”. (I Conferência Interamericana da Maçonaria Simbólica – Montevidéu, abril de 1947).
O que política NÃO é? A política não é a procura do “poder pelo poder” e das regalias que ele pode trazer; não é usar e abusar do povo para “crescer” e enriquecer; não é um “salvo conduto” para transformar a autoridade em autoritarismo; não é um jeito fácil de meter a mão no bolso do povo para encher o próprio bolso.
Política e politicagem são coisas distintas? Sim! Política é fazer do poder um instrumento para alcançar o bem comum; politicagem é instrumentalizar o poder em benefício próprio às custas do bem comum. Política é serviço; politicagem é crime.
Política é “coisa suja”? Não, nem todos dizem ou entendem que política é coisa suja. Há, de fato, muitos que dizem que fazem política quando, na verdade, não passam de “politiqueiros”. Se, contudo, tomarmos consciência de que a realidade mudará à medida que nós mudarmos, então tudo é possível. Por que não começarmos já, participando da política de forma consciente e madura? Se existe sujeira na política, é necessário e urgente eliminar a sujeira e corrigir as distorções existentes, pelo uso de armas silenciosas – como por exemplo o VOTO – para cassar os verdadeiros corruptos e mal intencionados e não a política!
Como podemos participar? Somos todos seres políticos por natureza, isto é, já nascemos políticos. Se buscarmos e lutarmos pelo bem comum, faremos política, mas, se só pensarmos em nosso próprio conforto, faremos politicagem. Podemos e devemos participar engajando-nos em associações, grupos, entidades e partidos que têm como finalidade e objetivo o bem de todas as pessoas, sem exceção. Se optarmos por ficar “na nossa”, deixando que tudo fique como está, estaremos dizendo “amém” (assim seja!) à situação e, portanto, indiretamente aderindo e colaborando com ela. Em política não há omissão; quem se omite está “dizendo” que tudo deve ficar como está!
E se eu não quiser me envolver? Você não tem como não se envolver. Se você está vivo, está fazendo política! Se você “lavar as mãos” ou “cruzar os braços”, colaborará para que tudo fique como está! Se você resolver “ficar na sua” e não se envolver na luta pelo bem comum, pelo direito e pela justiça, lembrará Pilatos (Mt 27.11-26) que para não se incomodar, também optou por “ficar na dele”...
Maçom pode fazer política? Não, não pode! DEVE! E deve fazer política de qualidade, buscando e defendendo o bem comum a partir dos “bons costumes”, com Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Se temos um Irmão iluminado cuja personalidade foi polida na pedreira da meditação, apto a abraçar a carreira política, porque não enriquecer a política com ele? Maçom consciente faz política, sim, porque não se cansa de buscar o bem de todos. O mundo da política só tem a ganhar com a luz que recebe de um Maçom; o mesmo não acontece com a politicagem, que se praticada por um Maçom, este estará sendo sacrílego para com o Grande Arquiteto do Universo e desonrado para com os homens.
A Maçonaria faz política partidária? Não. A Maçonaria enquanto Instituição, faz política, mas não partidária. Ou seja, ela não tem um partido próprio, e nem adota um como seu. Porém, ela insiste para que seus afiliados se filiem, engajem e participem da política partidária, levando aos partidos, e às ideologias que os sustentam, as riquezas e os valores de seus Princípios Fundamentais. É estranho que, na Maçonaria, tantos Irmãos condenem os políticos de carreira enquanto eles mesmos se recusam a buscar o poder, pelo voto, para colocá-lo a serviço do bem comum.
O que devemos fazer? Para começar o ideal é abrir os olhos, os ouvidos e o coração para ver a nossa realidade. É aprender a ver a realidade – sem deformá-la – e a ouvir o clamor do povo sofrido, explorado, empobrecido. É acordar para o absurdo da desigualdade social, da injusta distribuição de renda, dos privilégios de alguns viverem em mansões e outros em favelas. Quem vê e escuta sem se deixar tapear, começa a refletir e a se indagar e indignar, descobrindo que tudo poderia ser diferente. E então, se for coerente e não omisso, começará a agir, a demonstrar a sua repulsa pela desonestidade, a defender os direitos dos mais fracos, a unir-se a quem busca o bem comum, acredita e luta por uma sociedade justa, perfeita e fraterna.
Política é coisa chata? Cercado por uma realidade que explode em forma de violência, de miséria, de tráfico e uso de drogas, de desemprego, de fome, de injustiça... como é que você pode se desinteressar justamente daquelas que são as causas que geram essa situação de morte? Na verdade, quem não se interessa por política ou está vivendo como um “príncipe num país de mendigos” – prefere que tudo continue como está – ou é alienado dos pés à cabeça. Quem vê e não assume a causa dos empobrecidos como sua causa, não é Maçom...
Existem bons políticos? Sim, existem! E são muitos! O problema é que aqueles que fazem da política politicagem, acabam aparecendo mais do que os outros. Vale lembrar aqui de um provérbio chinês, que diz: “Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce”. Eles, os políticos honestos, existem sim, mas não são muitos os que compactuam com eles. Reconhecer os políticos honestos – inclusive pelo apoio político e pessoal, e pelo voto, - é, um dos caminhos para denunciar, superar e derrotar a politicagem.
Exemplos do passado – Fato publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, edição de 08 de outubro de 1890, além de ser pitoresco, mostra, exatamente, a extraordinária honestidade de princípios dos políticos que jamais se locupletaram com o dinheiro do erário público, colocando a retidão exigida por seu cargo acima dos laços de sangue.
Quando José Bonifácio de Andrada e Silva era Primeiro-Ministro do Império do Brasil, recebendo 400$, em bilhetes do banco, de um mês de ordenado, os meteu no fundo do chapéu e, no teatro, lhe roubaram o chapéu e o conteúdo.
O Primeiro-Ministro achou-se, no dia seguinte, sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuía nem um vintém mais. Sabendo da ocorrência o Imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devia ser indenizado, pagando-lhe outro mês de ordenado e, neste sentido, deu ali suas ordens ao ministro da Fazenda. Martim Francisco não obedeceu. Disse ao imperador que não havia lei que colocasse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha, para todos, doze meses e não treze e, finalmente, pedia a Sua Majestade retirasse a sua ordem, o que era melhor do que pagar ao ministro duas vezes o ordenado de um só mês. José Bonifácio, daí por diante, tomou mais cuidado no chapéu e no dinheiro que recebia.
Destaquem-se, no texto, o seguinte: “Achou-se, no dia seguinte, sem ter com que comprar o jantar” e “visto a penúria em que se achava”. Destaque-se, também, que o ministro da fazenda que negou a indenização a José Bonifácio, para não prejudicar o erário, era, simplesmente, o seu irmão Martim Francisco. (A TROLHA Fevereiro/91).
Como devem proceder os Maçons? Como cidadão, todo Maçom tem o incontestável direito de se ocupar de política. A Maçonaria, porém, como sociedade iniciática que é, não pode nem deve. Políticos Maçons ocuparam e ainda ocupam todos os degraus da administração pública da mesma forma que outros cidadãos. Nestes cargos públicos, têm eles a oportunidade de aplicar os ensinamentos que receberam em Loja e de influir, de maneira benéfica, sobre aqueles que os cercam. Se, no entanto buscam na política interesses pessoais, como têm inegavelmente o direito como qualquer cidadão, é certo que não devem envolver a Ordem, nem servir-se dela para alcançar as suas pretensões. É hora da verdadeira Maçonaria agir de forma ativa e ardorosa contra os “politiqueiros” e apoiar os homens públicos, Maçons ou não, na procura de soluções dos problemas sociais do país!
“Vós, líderes e militantes políticos, quero recordar que o ato político por excelência é ser coerente com uma vocação moral e fiel a uma consciência ética que, para além dos interesses pessoais ou de grupos, visa a totalidade do bem comum de todos os cristãos” (Papa João Paulo II – Salvador BA, 7 de julho de 1980).

PEDRAS QUE FALAM SOB A AREIA DO TEMPO

Irmão Frank Urban


Desde tempos imemoriais o homem lida com o mais profundo de seus dilemas - a vida e a morte. Por conta disso criou mitos, lendas e sistemas de crenças organizadas que proporcionaram, cada qual de seu modo e época, algum conforto durante sua breve vida à espera da inevitável morte. Esses sistemas são baseados, na maioria da vezes, na existência de uma vida após a morte ou na ressurreição do corpo. O mito da ressurreição, por exemplo, é muito antigo, provavelmente antecede a 3.500 a.C., como indicam estudos realizados em construções monolíticas dos antigos povos das ilhas britânicas. Esses povos construíam, com enormes blocos de pedra dispostos em círculo, observatórios celestes que eram utilizados para procurar "as coincidências" astronômicas que os brilhantes astros visíveis - sol, Vênus e lua - proporcionavam, e por analogia da observação e repetição desses fenômenos, comparar com suas próprias vidas e mortes. Um homem nascido de uma conjunção de astros que fosse notável teria o destino glorioso, e poderia ser coroado rei em situação astronômica semelhante. Por exemplo o planeta Vênus em sua aparição pouco antes do nascer e morrer do sol, fica extremamente brilhante quando em conjunção com Mercúrio a cada quarenta anos. O conhecimento dos ciclos anuais do sol servia para determinar com muita precisão os solstícios e equinócios de inverno e verão. A utilidade prática desse conhecimento estava ligada aos períodos férteis na agricultura desses povos. Com o passar do tempo esse primitivo calendário também determinava ações importantes ligadas ao homem e às cidades, como a coroação de um rei ou a declaração de guerra contra um inimigo. A princípio esse culto estava ligado ao ciclo da agricultura mas tomou um aspecto mítico em contato com outras culturas. Esse legado ora como culto à Mitra (Babilônia/Pérsia), ora como Osíris (Egito) espalhou-se por civilizações que floresciam na Europa antiga e influenciaram o judaísmo, cristianismo e o islamismo entre outras. O catolicismo, oriundo do judaísmo, teve seu mito de ressurreição com Cristo que viveu nascido de uma virgem, pregou um código de conduta moral e foi crucificado - ressuscitando no terceiro dia. Igual destino tiveram seus predecessores, Mitra e Osíris 1.500 anos antes. A vida após a morte e a ressurreição, foram cultuadas por todas as civilizações e crenças religiosas. A preocupação com o "acordar" depois da morte estava ligada ao ciclo de vida e morte dos astros, no cuidadoso funeral e no merecimento pelos atos praticados durante a vida. Adequadamente preparado, o templo cumpria a função de guiar seu ocupante, ao "acordar" para a nova vida e para "falar" sobre sua obra e méritos. Não raro, encontramos templos dedicados à vida e morte de personagens "iluminados", solenemente cobertos por pedras entalhadas. Pedras que falam sob a areia do tempo. O mais famoso templo dedicado à "vida após a morte" sem dúvida é a grande pirâmide de Quéops no Egito. Existem outros notáveis exemplos pelo mundo todo e com uma fundamental semelhança entre si - a orientação para o leste onde sol é nascente - o oriente - no qual vemos em sua breve aparição o planeta Vênus. E naturalmente, sua morte no oeste. Esse ciclo de nascer e morrer dos astros à semelhança da vida do homem é o precursor de todos os mitos de renascimento. Está escrito nas pedras que os construtores usaram para edificar templos a seus mortos em todas as épocas. As sociedades de construtores que edificaram esses templos eram constituídas de experientes arquitetos e artesões em pedra e o fizeram através desse "conhecimento oculto", transmitido secretamente por séculos nas reservadas elites de Mestres. Hoje sabemos que a organização dessas sociedades de constrututores "maçons", que incluíam artesões metalúrgicos em bronze, formavam o que chamamos de maçonaria operativa. Séculos depois, esses conhecimentos ocultos foram reapresentados na Maçonaria Moderna, ou Especulativa, retomando o uso de símbolos, alegorias, palavras de passe etc., estes por sua vez, transmitidos através da iniciação a um neófito, devidamente escolhido, e aceito como Irmão. O notável desse "ritual de passagem" é a representação da morte - da vida profana - renascida em uma nova vida iluminada para a construção do "Templo interior". Se no segundo grau desenvolvemos o companheirismo e a confiança do Mestre para recebermos mais sabedoria oculta, no "Ritual de Passagem" do terceiro grau, renascemos Mestres Maçons pela mão de quem representa o Sol. O eixo da loja, representa os equinócios, os solstícios são representados pelas colunas "J" e "B". Esse caminho também percorre o Aprendiz e o Companheiro. Eles começam seus estudos topo de suas colunas que representam os equinócios - o lugar "mais escuro" - para terminar nas colunas solstíciais, onde o sol está mais perto e brilhante com toda a sua força e beleza.
Frank Urban M.: M.: - Glesp

Bibliografia:
O Simbolismo na Maçonaria - Colin Dyer - Madras
O Livro de Hiram - Knight e Lomas - Madras
O Segundo Messias - Knight e Lomas - Madras
Rituais do R.E.A.A. da Glesp

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ainda sobre o Rito Inglês

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Irm. João Guilherme C. Ribeiro, M.I., M.R.A.;S.E.M.;C.T
Este artigo foi publicado no Engenho&Arte nº 13


Numa longa viagem de S. Paulo a Tóquio, sentaram-se lado a lado dois velhinhos , um judeu e o outro japonês. Muito educado, o velho rabino, bom conversador, tentava puxar conversa com o japonês para amenizar a monotonia e a imobilidade forçada. Mas a todas as iniciativas e gentilezas o japonês respondia rispidamente, com grunhidos e monossílabos. O rabino, intrigado, até porque conhecia bem a proverbial educação japonesa, acabou por irritar-se:
– Faz favor, eu sendo urbano, tentando conversar para distrair nesse viagem comprido e você non faz outra coisa que rosnar. Que coisa feia!
– Eu non gosta judeus. O velho rabino indignou-se: – Como, non gosta judeus? Eu, sim,
podia non gostar de japons, por causa de Eixo no guerra! Mas eu, que tive parente exterminado, eu estou aqui, sem preconceito, tentando fazer amizade... Non gosta judeus! Há! Faz favor! Que besteiron!
O japonês ofendeu-se: – No besteira! Pai de eu, Yoshiro Mo-
rimoto, morreu no Titanic! – Titanic! Titanic? Que tem a ver judeus com Titanic? Quem afundou navio foi um iceberg, ora!
– Pra mim, tudo mesma coisa: iceberg, Goldenberg, Rosemberg, Zilberberg, tudo mesma coisa!…
Só mesmo um pesquisador paciente, meticuloso e culto como o Irm. Pires
poderia ter desvendado o mistério da confusão que foi feita entre nós com o Rito Inglês. Sem susto, podemos dizer que o Rito foi confundido, rebatizado e carimbado indevidamente! Os vícios cartoriais fazem mais uma vÍtima...
Alhos por bugalhos
Não foi à toa que imitei o Irm. Beresiner, começando o artigo com uma piadinha. É que ela tem muito a ver com o que fizemos com o Rito mais antigo.
O Irm. Joaquim da Silva Pires, com seu bom senso e sua erudição habituais, desatou o nó górdio. Sim, porque não há outra forma legítima de designar o até então, entre nós, mal apelidado Rito de York senão de Rito Inglês.
Como ele demonstrou, tudo começou há mais de um século, quando do retorno do Grande Oriente dos Beneditinos ao seio do Grande Oriente do Brasil em 1883. O Grande Oriente dos Beneditinos tinha estabelecido contato com a Grande Loja de Wisconsin e teve três Lojas que trabalharam no sistema americano. Já o GOB tinha, desde a fundação da Orphan Lodge, em 1837, Lojas trabalhando no sistema inglês. Por ocasião da fusão dos GOB, Lavradio e Beneditinos, embora a Loja Vésper já tivesse adormecido, estabeleceu-se a confusão. Para a raia miúda; (1) se as Lojas trabalhavam em inglês, (2) se ingleses e americanos falam o mesmo idioma (os ingleses protestam...), (3) se York é um nome reverenciado na Maçonaria desde as Old Charges e (4) se York é uma cidade da Inglaterra, então, disseram eles:
– C’os diabos, está óbvio que tudo é farinha do mesmo saco!
E, cá entre nós, o nome York tem um certo charme, não? Então carimbou-se nos sacos de todas as farinhas o rótulo Rito de York e pronto!
Pois o rótulo continuou grudado até agora. Até ganhou lustre em duas ocasiões. A primeira foi quando o GOB e a Grande Loja Unida da Inglaterra firmaram o tratado de 1912, com a criação do Grande Capítulo do Rito de York, o erro ratificado oficialmente!
A segunda quando o GOB resolveu, em 1976, reeditar o ritual traduzido por Joseph Thomas Wilson Sadler e impresso na Inglaterra, em 1920, apondo-lhe um título espúrio que não tinha no original: Cerimônias Exatas do Rito de York.
Embaraços
Quantas e quantas vezes, durante a cerimônia de Indução à Cadeira do Oriente, no Real Arco, vemos a surpresa do iniciado ao ser-lhe entregue um chapéu.
– Ora, como pode, se no Rito de York o Venerável não usa chapéu?
Invariavelmente temos que explicar que o nosso Real Arco é Maçonaria americana e que lá o Venerável usa chapéu. E invariavelmente também se surpreendem quando lhes dizemos que os rituais simbólicos americanos estão mais próximos do antigo ritual inglês e que são mais antigos do que as versões inglesas atuais, das quais o Emulation Ritual é apenas uma de muitas!
Você ficou confuso? Então vamos explicar.
Porém, para que possamos pegar o fio da meada, temos que recorrer à história (ela, sempre ela!). Aqui mesmo, no Engenho & Arte, muitas vezes falamos sobre o que acontecia, paralelamente, nas Maçonarias inglesa e americana. Só para recordar, vejamos.
Um pequeno flashback
A famosa data de 24 de junho de 1717 obviamente não é o início da Maçonaria, mas apenas da organização oficial da primeira Potência maçônica. Quer dizer, foi a primeira vez que Lojas independentes resolveram associar-se – e mesmo assim, apenas para que os Maçons de então pudessem organizar uma grande festança anual. De qualquer forma, com a criação da Primeira Grande Loja, a Maçonaria emergiu oficialmente aos olhos do público. Mas é claro que ela já existia há muito. Só que, para existir uma Grande Loja, é preciso que existam Lojas. E para que existam Lojas, é preciso que existam Maçons...
Por mais que se pergunte quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha?, não é preciso inteligência brilhante para aceitar que se aconteceu a iniciação de Elias Ashmole é porque já havia Maçons para iniciá-lo, concorda? Daí, a conclusão óbvia é a de que a Maçonaria é algo anterior a 16 de outubro de 1646, meu caro Watson!
Seria maravilhoso viajar no tempo e ver as coisas in loco. Porém, em nos faltando a famosa máquina do tempo de H. G. Wells, somos obrigados a especular.
Seja como for, é inegável que a Maçonaria ganhou tremendamente de status durante o período de reconstrução de Londres, após o catastrófico e benéfico Grande Incêndio de 1666. Catastrófico porque destruiu dois terços da favela imunda que era então a capital inglesa, embora o número de vítimas não tenha sido tão grande quanto seria de se esperar naquelas condições. Benéfico por três razões. Primeiro, porque acabou com os ratos que a infestavam e tinham trazido a peste – cerca de cem mil pessoas já haviam sido vitimadas por ela, um fato às vezes esquecido por causa da atenção que o
Great Fire desperta. Segundo, porque levou à reconstrução da cidade, transformando-a completamente. Terceiro, porque daria um enorme impulso à Franco-Maçonaria.
Não pretendo falar da gênese da Ordem, mas daquele momento político. Em 1666, quando a Franco-Maçonaria ganhou proeminência, reinava Charles II, monarca da família Stuart, de origem escocesa, restaurada ao trono em 1660. Mas ele morreu sem herdeiro. Acontece que seu irmão, James II, tinha-se convertido ao catolicismo. Para os britânicos de então, fartos de lutas religiosas, o catolicismo era associado à inquisição e à intolerância religiosa, principalmente depois que o Rei Sol, Louis XIV de França, revogou o Edito de Nantes, que garantia liberdade religiosa aos franceses. Essa proibição levara muitos protestantes a refugiar-se na Inglaterra, inclusive aquele que teria enorme influência na emergente Franco-Maçonaria alguns anos depois, Jean Theophile Desaguliers(1). Quando nasceu um príncipe varão, vendo-se na iminência de um sucessor católico, os ingleses solenemente chutaram o Rei James do trono. Ele refugiou-se na França, sustentado por Louis XIV, enquanto suas filhas, uma após outra, sucederam-no na coroa. Como elas não tiveram filhos, os britânicos convidaram o príncipe alemão da Casa de Hanover e o coroaram como Rei George I. Entretanto, os Stuarts conspiravam do outro lado do Canal da Mancha.
Como sempre, as coisas não eram pau e pedra. Muita gente boa na Inglaterra era a favor dos Stuarts. Até porque agora eram os Hanover que cobravam os impostos, não os Stuarts – o bolso sempre foi o órgão mais sensível do corpo humano...
Na sociedade e no seio das Lojas Maçônicas as simpatias se dividiam – muitos dos que acompanharam os Stuarts à França eram Franco-Maçons. Como não podia deixar de ser, muitas famílias, apesar de divididas, mantinham suas ligações. A Maçonaria, além de uma grande família, tinha nas Lojas um dos mais eficientes meios de divulgação de idéias na época. Mas percebida como sociedade secreta, ainda que pseudo, atraía suspeitas das autoridades (2). Assim, depois que o último Grão-Mestre pró Stuart, o Duque de Wharton, foi sucedido pelo Conde de Dalkeith, pró Hanover, naturalmente a Grande Loja se aproximou do establishment oficial,pouco a pouco. Mesmo depois da derrota da causa Stuart, em 1745, continuaria a identificar-se com ele. Isso traria conseqüências no futuro.
Incômodos ritualísticos
Em 1730, aconteceu Maçonaria Dissecada, de Samuel Prichard, uma inconfidência que expunha ao público o ritual maçônico. Alarmada, a Primeira Grande Loja introduziu modificações para reconhecer possíveis impostores, o que desagradou a muitos e trouxe também conseqüências (3), estas mais imediatas. As Grandes Lojas da Irlanda, criada em 1723, e a da Escócia, em 1736, conservaram os rituais como eram. Lembremos que a Franco-Maçonaria, nesses países, era praticamente tão antiga quanto na Inglaterra.
Em 1751, a Grande Loja inglesa negou acesso a alguns Franco-Maçons irlandeses, que resolveram então criar sua própria Grande Loja. Tiveram a sorte de contar com um Grande Secretário muito combativo,
Laurence Dermott. Inteligentemente, Dermott capitalizou o desagrado de muitos Franco-Maçons com as mudanças no ritual, dizendo que a nova Grande Loja, na realidade, praticava a verdadeira, a antiga Maçonaria de York (4). Assim, numa jogada esperta, dava à sua Grand Lodge of England according to the Old Institutions (Grande Loja da Inglaterra de acordo com as Antigas Instituições) o verniz respeitável de uma antiguidade que ela não tinha e transformava a rival em deturpadora de tradições: passou a chamar sua Grande Loja de Os Antigos (The Antients, com grafia latina, para dar mais respeitabilidade!), enquanto chamava a rival de 1717 de Os Modernos, desdenhosamente.
E fez mais: aproximou-se das Grandes Lojas da Irlanda e da Escócia. Os irlandeses e escoceses nutriam profunda antipatia à Casa de Hanover, os primeiros porque as diferenças religiosas eram fator de opressão na Irlanda; os segundos porque ainda se ressentiam da brutalidade da conduta do Duque de Cumberland para com os escoceses na Batalha de Culloden, em 1746, que terminou com as pretensões dos Stuarts ao trono (5). Assim, nas Ilhas Britânicas, tínhamos quatro Grandes Lojas, separa- das em dois blocos: de um lado, a Primeira Grande Loja de 1717 (os Modernos), com rituais modificados por causa da inconfidência de Prichard; de outro, as Grandes Lojas dos Antigos, da Irlanda e da Escócia.
Aí você pergunta: e daí, o que é que isso tem a ver com o Rito de York? Paciência, já chegaremos lá.
Acontece que foi justamente nesse período que a Maçonaria se desenvolveu nas então colônias da América do Norte, levada principalmente pelas Lojas militares. Essas Lojas, inicialmente militares e intinerantes e depois civis e estabelecidas em locais determinados, tinham suas Cartas Constitutivas (Warrants ou Charters) provenientes das quatro Grandes Lojas. Naturalmente, à medida que a insatisfação das colônias levava mais e mais à independência, as simpatias políticas seguiam a mesma divisória. As Lojas dos Modernos, mais chegadas à nobreza, identificavam-se com a metrópole e com o establishment, enquanto as Lojas da GL dos Antigos, da GL da Irlanda e da GL da Escócia pendiam mais e mais para a causa dos rebeldes. Quando sobreveio a Guerra de Independência (6), essa tendência se cristalizou. Os rebeldes ganharam e os Estados Unidos se tornaram uma nação independente, a primeira república e uma grande experiência prática dos princípios maçônicos. Em termos de tradição maçônica, podemos dizer que a facção yorkista ganhou a parada. A Maçonaria americana estava firmemente calcada no velho ritual inglês, supostamente tal como era antes que a Primeira Grande Loja (os Modernos) o tivesse modificado por causa de Prichard.
Bem, e na velha Albion?
Bem, por volta de 1777, Dermott já havia falecido e as grandes rivalidades cedido lugar a um espírito de conciliação, que acabou por encontrar resultados práticos. Com um príncipe de sangue real como Grão- Mestre de cada uma delas, as duas Grandes Lojas acabaram por unir-se em 27 de dezembro de 1813, ficando como Grão-Mestre um príncipe, o Duque de Sussex. Mas para que isso acontecesse, foi necessário aparar as arestas. Uma comissão de notáveis ficou incumbida de examinar os pontos controversos entre os rituais dos Modernos e dos Antigos, (7) para que se pudesse chegar a um acordo. Assim, um novo ritual foi desenhado pela Comissão de notáveis e apresentado, pela primeira vez, em 20 de maio de 1816. A partir daí, seria disseminado através das Lojas de Instruções, a primeira das quais foi a Loja Stability, de 1817.
É preciso que se note que a Grande Loja Unida da Inglaterra não tem um ritual obrigatório. Nós, latinos, custamos a entender como, depois de tanta celeuma, a Grande Loja-Mãe, que nasceu da pacificação, não impôs um ritual no peito e na raça. Três coisas temos que lembrar. Primeiro, que os ingleses preferem os usos e costumes ao gesso da palavra escrita (tanto assim que até hoje não têm constituição escrita, nem acham que seja necessária). Segundo, que as comunicações eram difíceis. E terceiro, que até então os rituais não eram impressos, a não ser as inconfidências esporádicas(8) . Na prática, os rituais acabaram surgindo das Lojas de Instrução, como o Stability e o Emulation. Mas existem muitos outros, como Unanimity, Oxford, Sussex, Logic, Perfect Ceremonies, Standard, Taylor’s, Revised,
Bristol (o que conserva a forma mais parecida com os antigos rituais) e (9) outros, ainda. Exceto por este último, todos diferem muito pouco.
Por sua vez, os rituais americanos também diferem pouco entre si – apesar de serem meia centena de Grandes Lojas, cada um com seu ritual e seus costumes! E, surpresa, os rituais americanos, mais antigos, e os ingleses nem são tão diferentes assim!
Harry Carr, grande escritor inglês e insuspeitíssimo Secretário da Loja Quatuor Coronati nº 2076, dirigin- do-se aos americanos, explicou bem o porquê:
“[...] Pelos Rituais e Monitores que estudei e pelas Cerimônias e Demonstrações que presenciei, não há dúvidas de que seu ritual é mais pleno que o nosso, dando ao candidato muito mais explicações, interpretação e simbolismo do que normalmente nós damos na Inglaterra. Com efeito, por causa das mudanças que fizemos entre 1809 e 1813, é justo que se diga que, em muitos aspectos, seu ritual é mais antigo e melhor que o nosso”.
York ou American Rite
Há um estado americano, a Louisiana, onde os termos York e Escocês são usados para os Graus Simbólicos com sentido exatamente similar ao daqui do Brasil. Isto porque a Louisiana foi colonizada pelos franceses e só foi admitida nos Estados Unidos em 1812. A Grande Loja do Estado da Louisiana adota dois rituais, um para o Rito Escocês, trabalhado em 10 Lojas (incluindo sua primeira Loja, Étoile Palaire nº1, de Nova Orleans), e outro para o Rito York, trabalhado nas outras 258 Lojas. Na prática, é o mesmo ritual de Thomas Smith Webb para as Blue ou Craft Lodges.
Um outro exemplo da conexão do termo York com a Maçonaria Americana está num ritual, que durante anos ouvi chamar de espúrio. Na verdade, também é visto como uma inconfidência. Ainda assim, segundo Freemasonry Universal, de Kent Henderson eTony Pope, é adotado pelas Grandes Lojas de Arkansas e Missouri, subordinadas à Grande Loja de Prince Hall, a regularíssima Maçonaria Negra Americana. Então não tem como ser considerado espúrio, concordam? É de autoria de Malcolm C. Duncan (de quem nada consegui descobrir) e foi publicado em Nova York (a terceira edição data de 1866). No frontispício, está o título, Duncan’s Masonic Ritual and Monitor. Logo abaixo, Guide to the Three Symbolic Degrees of the Ancient York Rite (Guia dos Três Graus Simbólicos do Antigo Rito de York).
E mais abaixo ainda, continuando: ... and to the Degrees of Mark Master, Past Master, Most Excellent Master and the Royal Arch (e para os Graus de Mestre de Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre e o Real Arco). Para quem é Maçom do Real Arco, o Duncan’s é uma fonte muito boa, digam o que disserem.
Uma última palavra sobre terminologia maçônica
Na Inglaterra, as Corporações de Ofício da Idade Média eram exatamente Craft Guilds, o termo craft significando exatamente isto, ofício.
Lá, as Lojas que aqui chamamos Simbólicas, responsáveis pelos três primeiros Graus, são chamadas Craft Lodges, que poderíamos traduzir, ao pé da letra, por Lojas do Ofício. Daquele que está no Segundo Grau, diz-se que é um Fellow of the Craft ou Fellow Craft (Colega ou Membro do Ofício), traduzido para português, com um pouco mais de status, como Companheiro.
Quando falam na instituição, os ingleses dizem The Craft (O Ofício), que nós traduzimos por A Ordem.
Nos Estados Unidos, além de Craft Lodges, as Lojas Simbólicas são até mais conhecidas por Blue Lodges, isto é, Lojas Azuis.
Embora, no início, bem na tradição da Grande Loja dos Antigos, outros Graus fossem conferidos, com o advento do Grande Capítulo do Real Arco, em 1797, e do Supremo Conselho do Rito Escocês, em 1801, as Craft ou Blue Lodges ficaram com os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Os Graus acima do 4º e acima de Mestre de Marca para a esfera dos Altos Graus do Rito Escocês e do Rito de York, respectivamente, aí sim, na nomenclatura hoje aceita pela Maçonaria americana.
E assim, entendidas as razões da confusão, por que não resolver, de uma vez por todas, esse imbroglio brasileiro com a brasileiríssima sugestão do Irm. Pires, designando o conjunto dos rituais ingleses pelo seu gentílico? Nada melhor que Rito Inglês!
Os Maçons do Real Arco mais do que aplaudem o Irm. Pires por sua erudição e vocação Sherlockiana: agradecem-no pela excelência da contribuição à Maçonaria Brasileira em geral e ao legítimo Rito de York em particular!
Gratos, Irm. Joaquim da Silva Pires!
Notas
(1) Hoje praticamente não restam dúvidas de que Desaguliers, homem notável do seu tempo, membro da Royal Society e amigo pessoal de Isaac Newton, foi um dos responsáveis pela introdução do Terceiro Grau no Simbolismo, por volta de 1725.
(2) Era difícil o momento político. Sentindo-se os Hanover ameaçados pelas conspirações Stuart que vinham do outro lado do Canal, as sociedades reservadas, como a Franco-Maçonaria, e outras do mesmo tipo eram vistas, no mínimo, com reserva. E isto perdurou por muito tempo. Em 1799, o Parlamento inglês fez passar o Unlawful Societies Act, para a “supressão mais eficaz de agremiações estabelecidas com propósitos sediciosos e traiçoeiros”. Graças aos esforços conjuntos dos Grão-Mestres das duas Grandes Lojas, o Duque de Atholl, dos Antigos, e o Conde de Moira, dos Modernos, uma cláusula foi incluída, excluindo “as sociedades sob a denominação de Lojas de Franco-Maçons [...]”.
(3) O motivo também era econômico. A Grande Loja e as Lojas prestavam auxílio aos Irmãos necessitados. Obviamente não estavam querendo que espertalhões se aproveitassem da Caridade.
(4) Não podemos esquecer da velha lenda das guildas medievais de pedreiros, contada nas Old Charges (Velhas Obrigações), relativa ao Príncipe Edwin e à cidade de York. York é um nome venerando nas tradições maçônicas.
(5) Até hoje, para os escoceses, o Duque de Cumberland é conhecido por Butcher, quer dizer, açougueiro.
(6) Ao eclodir a Guerra de Independência, 45% das Lojas eram dos Modernos e 55% dos rebeldes, do bloco da Maçonaria dita fiel às “antigas tradições de York”.
(7) Um nome destacado nessa fase foi o do secretário particular do Duque de Sussex, um ilustre brasileiro chamado José Hipólito da Costa, Patrono da Imprensa Brasileira. Somente agora o importante papel por ele desempenhado nessas nego- ciações está sendo estudado. Já publica- mos um artigo do Irm. William Carvalho sobre Hipólito da Costa no E&A #8. Falaremos sobre seu desempenho nesta fase em algum momento do futuro.
(8) O primeiro ritual pós União, da Emulation Lodge of Improvement for Master Masons Lodge of Instruction (Loja de Instrução da Loja Emulação para o Aperfeiçoamento de Mestres Maçons – esse o nome completo!) foi impresso por George Claret em 1836, baseado no trabalho do preceptor e ritualista entusiasta, Peter Gilkes)
(9) Há um ritual chamado York, mas que nada tem a ver com a nossa história, porque foi criado em meados do século XIX e usa- do na Union Lodge, de York, hoje Loja York nº 236.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O inominado Rito Inglês

York, Emulation ou o quê? O Irmão Pires esclarece o mistério e coloca as coisas em seu devido lugar!
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O Irm. Joaquim da Silva Pires é portador da Cruz da Perfeição Maçônica, do Grande Oriente do Brasil, e ex-membro do Quatuor Coronati C. C., De Londres.
Este artigo foi publicado no Engenho&Arte nº 13


Ao examinar uma tradução, em português, elaborada em julho de 2001, aqui, no Brasil, pela Gráfica e Editora Movimento Ltda., do Emulation Ritual, editado este na Inglaterra pela Lewis Masonic Publishers Ltd., no Grau de Aprendiz, não consegui refrear meu inconformismo com o termo Rito de York, das páginas 3 e 8, nem com o termo Rito de Emulação, da página 8, todos do referido texto em português, pois esses dois termos configuram uma visível e deplorável enxertia. Realmente, no original inglês não existem as expressões York Rite e Emulation Rite.Em verdade, o termo Rito de York não se coaduna com o inominado Rito inglês. Ele é um sistema proveniente da Maçonaria norte-americana, sistema esse já introduzido no Brasil, sem a mínima vinculação com a Maçonaria da Inglaterra.
Tive a ousadia de escrever o livro O Suposto Rito de York e outros estudos (Editora Maçônica A Trolha Ltda., Londrina, PR, 2000), onde ressaltei que Emulation não é nome de um Rito, mas sim o nome de um Ritual, em decorrência da Emulation Lodge of Improvement, de Londres, cuja reunião inicial ocorreu em 2 de outubro de 1823.
Em nossa Pátria, a primeira Loja de orientação inglesa foi a Orphan Lodge, fundada em 28 de junho de 1837 no velho Caminho de Mata-Cavalos (depois Rua do Riachuelo), nº 167, Rio de Janeiro, após três anos e meio do pedido concernente à expedição da Carta Constitutiva (Warrant of the Lodge), que lhe foi concedida pela United Grand Lodge of England. Em 21 de setembro de 1839, também no Rio de Janeiro, os ingleses fundaram Ritual inglês, com título de Rito americano a St. John Lodge. Em 25 de abril de 1856 foi regularizada a Southern Cross Lodge, cuja data de fundação não se conhece, todas igualmente subordinadas à citada potência maçônica da Inglaterra.
Em 16 de dezembro de 1863, houve uma cisão no Grande Oriente do Brasil, dando origem a um outro Grande Oriente, primeiramente homônimo, depois denominado Grande Oriente Unido do Brasil, que viria a ser conhecido por Grande Oriente dos Beneditinos, pelo fato de sua administração funcionar na Rua dos Beneditinos, nº 22, Rio de Janeiro, e por Grande Oriente Saldanha Marinho, pelo fato de seu idealizador e seu Grão-Mestre ser o Irm\Joaquim Saldanha Marinho.
Impulsionado por interesses referentes à aproximação com a Maçonaria norte-americana, o Grande Oriente dos Beneditinos fundou a Loja Vésper, do Rio de Janeiro, para trabalhar no Rito de York, porém o verda- deiro, o praticado pelos norte-ame- ricanos. Corolário dessa providên- cia, o referido Grande Oriente rece- beu uma favorável comunicação epistolar da Grand Lodge of Wiscon- sin, dos Estados Unidos da América. O incentivo fez com que aquela potência maçônica brasileira fundasse mais duas Lojas no legítimo Rito de York, a Washington Lodge, de Santa Bárbara d’Oeste, na então Província de São Paulo, em 14 de novembro de 1874, e a Lessing Lodge, de Santa Cruz do Sul, na então Província do Rio Grande do Sul, em 22 de março de 1880.Em 16 de outubro de 1879, o Grande Oriente do Brasil, cujo Grão Mestre era o Irm José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco, Presidente do Conselho de Ministros do Império, nomeou o Irm Almirante Arthur Silveira da Motta (que viria a receber, em 19 de agosto de 1884, do Imperador D. Pedro II, o título nobiliárquico de Barão de Jaceguay), para tratar do reconhecimento da citada potência maçônica pela United Grand Lodge of England, cujo Grão-Mestre era, desde 1875, o Irm Príncipe de Gales (filho da célebre Rainha Vitória, e que viria a ser, em 1901, Rei da Inglaterra, com o título de Edward VII). Em 30 de janeiro de 1880 houve a resposta positiva, ou seja, o futuro monarca inglês concedeu o almejado reconhecimento. O êxito foi comunicado ao Grande Oriente do Brasil, mediante pormenorizado relatório, com a data de 21 de março de 1880, lavrado pelo próprio Irm\Arthur Silveira da Motta, que já saíra de Londres, e estava na Ilha de Malta, rumo à China, em missão especial do Império, na condição de Ministro Plenipotenciário.
Posteriormente, em 18 de janeiro de 1883, o Grande Oriente dos Beneditinos, enfraquecido, incorporou-se ao Grande Oriente do Brasil, levando- lhe suas Lojas, entre as quais as já referidas Washington e Lessing, que eram as únicas do legítimo Rito de York, pois a Vésper, também já referida, estabelecera fusão com a Loja Mystério (8 de junho de 1879), dando origem à Loja Mystério e Vésper, trabalhando no Rito Adonhiramita. Essa fusão configurou um renascimento, pois a citada Loja Vésper já havia abatido colunas (22 de junho de 1874). Já vimos que, a partir de 28 de junho de 1837, existiam, aqui, no Brasil, Lojas de orientação inglesa, diretamente subordinadas à United Grand Lodge of England.
Frise-se que só em 21 de outubro de 1891, o Grande Oriente do Brasil passou a ter sua primeira Loja com a mencionada orientação, a Eureka Lodge, do Rio de Janeiro. O povo maçônico brasileiro, do então Distrito Federal, ao saber que a referida Loja trabalhava em inglês, confundiu-se e imaginou, erroneamente, que ela pertencesse ao Rito de York. Sim, a citada Loja trabalhava em inglês, Eis aqui alguns dos muitos rituais em uso nas Lojas jurisdicionadas à Grande Loja Unida da Inglaterra, todos descendentes do trabalho aprovado quando da União entre as Grandes Lojas dos Modernos e Antigos.
mas não possuía o mais remoto lia-me com o sistema norte-americano. Porém, o grande equívoco generalizou-se!
Em 21 de dezembro de 1912, o Grande Oriente do Brasil, cujo Grão-Mestre era o Irm\ Senador Lauro Nina Sodré e Silva, e a United Grand Lodge of England, cujo Grão-Mestre era o Irm\Marechal Duque de Connaught, celebraram um Tra- tado, pelo qual ficou estabelecida a criação do Grand Concil of Craft Ma- sonry in Brazil, que, em português, recebeu a desacertada expressão
Grande Capítulo do Rito de York, mesmo sem ser Capítulo e sem ser do Rito de York. Era Grande Conselho, e não Grande Capítulo. Não era Rito de York (repita-se).
É necessário ficar bem claro que os ingleses não usaram a expressão Grand Chapter nem York Rite, mas sim (insista-se) Grand Concil of Craft Masonry in Brazil. A esse corpo maçônico passaram a pertencer as então sete Lojas que, aqui, no Bra- sil, trabalhavam no sistema inglês :
Edward VII, do Pará, Saint George, de Pernambuco, Duke of Clarence, da Bahia, Eureka, do Rio de Janeiro, Wanderers, de São Paulo (Santos), Unity, de São Paulo, e Morro Velho, de Minas Gerais.
Consultando treze dicionários da Língua Inglesa, pude confirmar que o vocábulo Craft é equivalente aos vocábulos portugueses Arte e Ofício. Por exemplo, craft brother é companheiro de serviço, e craft guild é asso- ciação de pessoas do mesmo ofício. Saliento, respeitosamente, que sem- pre tenho preferência pelo suporte didático do Longman Dictionary of Contemporary English, segundo o qual a definição do vocábulo Craft re- sume-se ao seguinte esclarecimento: “all the members of a particular trade or profession as a group.”
Todos nós sabemos que o Irm\ Mário Marinho de Carvalho Behring foi o idealizador das modernas Grandes Lojas Estaduais, fundadas a partir de 22 de maio de 1927, com a da Bahia. Sabemos, igualmente, que, do Grande Oriente do Brasil, ele foi Grão-Mestre Adjunto, em 1921, e Grão-Mestre Geral, de 1922 a 1925. Mas, antes, quando ele era Primeiro Grande Vigilante, assumiu o Grão-Mestrado Geral, interinamente, desde 18 de agosto de 1920 até 19 de novembro do mencionado ano, e, em tal cargo, assinou o Decreto nº 655, de 20 de agosto de 1920, autorizando o pagamento do trabalho gráfico feito pela empresa tipográfica de George Kenning & Son, de Londres, Inglaterra, da tradução, em português, do Ritual usado pelos ingleses, isto é, The Perfect Ceremonies of Craft Masonry, cuja primeira edição (refiro-me, agora, ao original inglês, obviamente) havia sido aprovada pela United Grand Lodge of England, no Século XIX, exatamente em 5 de julho de 1818. A tarefa, de traduzir, coube ao Irm\ Joseph Thomaz Wilson Sadler, então Mestre-de-Cerimônias da Lodge of Unity, de São Paulo, da qual ele havia sido Venerável Mestre em 1908. Não o fez com base naquela edição primeira. Fê-lo diante da edição de 1918, traduzindo-a sob o título Cerimônias Exactas da Arte Maçônica (o “c”, intermediário, no adjetivo Exactas foi suprimido na reforma ortográfica elaborada pela Academia Brasileira de Letras, con- forme histórica Sessão de 12 de agosto de 1943).
Há pouco tempo, um Obreiro inglês, residente na Capital de São Paulo, cedendo às consistentes provas que lhe apresentei, curvou-se, em um primeiro momento, ao fato de ser errônea a expressão Rito de York, do modo que ela vem sendo usada no Brasil. Não obstante, agora, mudou de idéia, argumentando que continuaria, sim, a defender aquele uso, conforme fez o prestigioso Irm\ Reginald Arthur Brooking, em 1930, quando Grand Chaplain (Grande Capelão) do Grand Concil of Craft Masonry in Brazil.
Torna-se necessário que eu responda ao fragrante ilogismo daquele inaceitável argumento, e vou fazê-lo neste instante, nos termos seguintes:
Em primeiro lugar, o fato de alguém expender alguma asserção, ainda que possua respeitável autoridade, não nos obriga a que lhe sigamos as diretrizes, quando as evidências mostrem o contrário. Se assim não fosse, o atual Papa João Paulo II seguiria o entendimento de Paulo V, Pontífice Católico, desde 1605 até 1621, que considerava a teoria do genial Nicolau Copérnico (atinente ao duplo movimento dos planetas sobre si mesmos e à volta do Sol) contrária aos textos bíblicos.
Em segundo lugar, o focalizado Irm\Reginald Arthur Brooking, ao publicar um trabalho, no mencionado ano de 1930, intitulado Brasilian Freemasonry, cometeu um grande equívoco, apesar de seus conhecimentos maçônicos, ao relacionar as já referidas três Lojas que trabalharam no autêntico Rito de York norte-americano, isto é, a Vésper, a Washington e a Lessing , juntamente (!) com doze Lojas do inominado Rito inglês, vale dizer, Eureka, do Rio de Janeiro, Duque of Clarence, da Bahia, Morro Velho, de Minas Gerais, Eureka Central (não a confundamos com a primeira), do Rio de Janeiro, Unity, de São Paulo, Saint George, de Pernambuco, Wanderers, de São Paulo (Santos) Edward VII, do Pará, Brasil, do Rio de Janeiro, Friendship, do Rio de Janeiro (Niterói), Centenary, de São Paulo, Campos Salles, de São Paulo, e Brasil Craft Masters, do Rio de Janeiro. De fato, aquele hibridismo configurou um desmesurado absurdo, pois aquelas três primeiras Lojas, do autêntico Rito de York norte-americano (que me seja indulgenciada a quase-perissologia) não deveriam ter sido relacionadas com as outras, porque elas, as três primeiras, nunca pertenceram ao Grand Concil of Craft Masonry in Brazil.
Aproveito esta oportunidade para assinalar, ainda mais, que o então renomado autor cometeu outro equívoco, na grafia do título de seu trabalho, pelo fato de ter escrito Brasilian Masonry. Ora, em inglês, é Brazilian, com z, e não com s. Equivocou- se, novamente, ao escrever Grand Concil of Craft Masonry in Brasil. Ora, em inglês, é Brazil, com z, e não com s.
Em 6 de maio de 1935, o Grande Oriente do Brasil, cujo Grão-Mestre era o Irm\ General José Maria Moreira Guimarães, e a United Grand Lodge of England, representada pelo Irm\ Peter Swanson e pelo já citado Irm\ Reginald Arthur Brooking, assinaram um Convênio Solene de Aliança Fraternal, fazendo com que, entre outros itens, o Grand Council of Craft Masonry in Brazil deixasse de existir ,e, assim, as então dez Lojas, que, aqui, no Brasil, trabalhavam no inominado Rito inglês (não nos esqueçamos de que estou focalizando, agora, o ano de 1935) passaram a pertencer à mencionada potência maçônica britânica. Eram as já relacionadas no Tratado de 21 de dezembro de 1912, menos a Saint George, de Pernambuco, e a Edward VII, do Pará, mais a Friendship, do Rio de Janeiro, Centenary, de São Paulo, Campos Salles, de São Paulo, e Royal Edward, do Rio de Janeiro. É importante aduzir que, mais tarde, em 4 de fevereiro de 1953, viria a ser fundada a Santo Amaro, cuja regularização ocorreu em 2 de maio daquele ano, data da expedição da Carta Constitutiva (já vimos que, em inglês, é Warrant of the Lodge).
Em 1976, um Obreiro que viu a Luz Maçônica em 30 de junho de 1922, sempre muitíssimo dedicado, porém sem conhecer alguns dos relevantes meandros históricos, ao providenciar uma nova edição do mencionado Ritual de 1920, inseriu-lhe, por conta própria, a catastrófica de- nominação Cerimônias Exatas do Rito de York, adulterando o título usado pelo Irm\ Joseph Thomaz Wilson Sadler, ou seja Cerimônias Exactas da Arte Maçônica (já vimos que, naquele ano de 1920, havia o c intermediário no adjetivo Exactas). A aludida edição de 1976, apesar de redigida em português, é pertinente à United Grand Lodge of England, pois foi elaborada para a Campos Salles Lodge, de São Paulo-SP, que, desde o Convênio de 6 de maio de 1935, já citado, é subordinada àquela potência maçônica inglesa.
Se os absurdos fossem suscetíveis de mensurabilidade, o maior de todos estaria no fato de o Grande Oriente do Brasil, ao imprimir o seu próprio Ritual do inominado Rito inglês (ou seja, do fictício Rito de York), consoante o Decreto nº 41, de 12 de dezembro de 1983, assinado pelo então Soberano Grão-Mestre Irm Jair Assis Ribeiro, haver cometido a suprema incúria de copiar, letra por letra, o referido Ritual da Campos Salles Lodge, até mesmo o texto em que o Venerável Mestre mostra ao Neófito a Carta Patente e lhe entrega cópias dos Livros da Constituição da United Grand Lodge of England! É claro que, ao invés de tal leitura e de tal entrega, o portador do Primeiro Malhete nunca deixaria de fazer a imperiosa adaptação concernente à citada potência maçônica brasileira, corrigindo a imperdoável desatenção do editor.
Na esperança de ter apresentado pontos elucidativos, encerro estas considerações, remetendo o meu tríplice e fraternal abraço aos Respeitáveis Irmãos Leitores.