sexta-feira, 9 de julho de 2010

LOJA DE MESTRES, UM MISTÉRIO

Ir.: Yasha Beresiner, M. I., M.R.A.
(Tradução de J. W. Kreutzer-Bach)

Em dezembro de 1996, tive o prazer de assistir, como um dos muitos fundadores, a consagração da Loja Montefiore Nº 78, a primeira Loja de Mestres Instalados da Grande Loja do Estado de Israel. O evento ocorreu num ambiente único, de 3.000 anos de idade: as pedreiras do Rei Salomão, no centro de Jerusalém. Conduzido pelo então Grão Mestre, Irm. Ephraim Fuchs, foi assistido por mais de 300 Irmãos de 24 Obediências, um reflexo da influência dos membros fundadores fora do Estado de Israel, especialmente da Inglaterra. Anos depois, estamos ainda discutindo sobre o que venha a ser uma Loja de Mestres Instalados. Entre os fundadores incluíam-se muitos Irmãos que participavam ativamente da Euclid Lodge of Installed Masters (Loja Euclides de Mestres Instalados) Nº 7464, sob a Grande Loja Unida da Inglaterra. Pudemos assim discorrer sobre o fenômeno das Lojas de Mestres Instalados, que começou na Inglaterra, mais para o final do século XIX. Em Israel, como na Inglaterra, surpreendentemente, as Lojas de Past Masters ou de Installed Masters não são mencionadas na Constituição. Esses títulos são usados de forma indiferente, embora existam diferenças. Enquanto uma Loja de Mestres Instalados admite Veneráveis e Past Masters, a Loja de Past Masters é constituída apenas de Irmãos que completaram seus termos como Veneráveis de suas respectivas Lojas. As Lojas de Past Masters são freqüentemente criadas por uma razão oucom um fim definidos.
Past vs. Instalados
A mui prestigiosa Gand Stewards´ Lodge (Loja dos Grandes Mordomos), que hoje figura no topo da lista de Lojas da Grande Loja Unida da Inglaterra e não tem número, é um exemplo clássico de uma Loja de Past Masters. Aqueles que, por alguns anos, haviam servido a Grande Loja como Stewards (Mordomos) reuniram-se como uma Loja pela primeira vez em junho de 1735, ainda sem Carta Constitutiva. Ela foi ratificada, três anos depois, no segundo Livro das Constituições, de Anderson, de 1738. Onovo Artigo XXIII estabelecia: “A pedido daqueles que tenham sido Stewards, a Grande Loja, em consideração a seus serviços prestados e futuros préstimos, ordena”:“1. Que se constituam numa Loja de Mestres, a ser chamada Stewards Lodge, a ser registrada como tal nos livros da Grande Loja e em suas Listas impressas, com a hora e o lugar de suas reuniões. [...]” .Inicialmente foi dado o número 117 à Loja. Em 1792, recebeu o nome de Grand Stewards´ Lodge e colocada no topo da lista das Lojas, sem ter um número. Ela manteve a mesma posição na época da União, em dezembro de 1813, e ali continua até hoje.Seus membros, hoje, permanecem sendo aqueles que ocuparam o cargo de Grande Mordomo, que, por sua vez , devem ter sidoPast Masters de uma das chamadas Red Apron Lodges (Lojas de Avental Vermelho). Essas são as dezenove Lojas que detêm o privilégio muito especial de indicar um de seus membros para ser nomeado Grand Steward pelo Grão-Mestre. De 1731 em diante, os aventais e colares usados pelos Grand Stewards e Past Grand Stewards são vermelhos, daí a referência a Lojas de Avental Vermelho. Dois outros exemplos de Lojas de Past Masters são as Lojas de Promulgação e de Reconciliação, especialmente criadas pela Primeira Grande Loja como preparação para a União das Grandes Lojas de Antigos e Modernos, em 1813. A Lodge of Promulgation foi formada em 1809 e consistia do Venerável Mestre, Vigilantes e 23 Maçons de posição, incluindo diversos Grão-Mestres Provinciais e Grandes Primeiros Vigilantes. Tinha por missão promulgar os antigos landmarks da Ordem entre os Irmãos e assegurar a uniformidade e a concórdia entre as Grandes Lojas dos Antigos e Modernos. A Lodge of Reconciliation foi formada em 7 de dezembro de 1813, poucos dias antes da União, que aconteceria em 27 do mesmo mês. O Duque de Sussex, indicado para ser o primeiro Grão-Mestre da recém-formada Grande Loja Unida da Inglaterra, estava bem a par dos problemas que enfrentaria entre eles a reconciliação dos trabalhos ritualísticos dos dois Corpos rivais. Assim, a Loja de Reconciliação foi formada, reunindo nove Irmãos experientes de cada uma das duas Grandes Lojas. A eles coube formular o Juramento e a Cerimônia de Instalação do Grão-Mestre. As Lojas de Past Masters freqüentemente tinham vida curta. As Lojas de Promulgação e de Reconciliação foram dissolvidas tão logo cumpriram suas missões. Lojas mais permanentes, como a Grand Stewards´s Lodge, a Scrutator Lodge (do latim, significando pesquisador. Investigador) nº 9379 e outras semelhantes, não trabalham a ritualística. Como os membros são convidados ou nomeados, não há cerimônias de Iniciação ou de Elevação de Grau, somente a de Instalação anual de um novoVenerável Mestre.Como dissemos, uma Loja de Mestres Instalados é um conceito novo, sendo a evidência mais antiga uma tentativa fracassada de estabelecer uma Loja nesses moldes na Província de Derbyshire, por volta da década de 1870. Hoje, as Lojas de Mestres Instalados desfrutam de um sucesso excepcional na jurisdição inglesa. Irmãos experientes e abertos reunim-se para ouvir palestras e discutir aspectos da Maçonaria que julgam importantes. As reuniões, sempre descontraídas e amigáveis, são o meio ideal para disseminar conhecimentos e informações às outras Lojas. As Lojas de Mestres Instalados têm proporcionado uma audiência cativa de Irmãos interessados, ideal para palestras e discussões dos mais variados assuntos de interesse maçônico.
Lojas de Mestres
Entretanto, muito antes, em nossa história, há evidências de um tipo similar de Lojas, as Masters´ Lodges (Lojas de Mestres). Uma antiga lista de Lojas, encontrada na Biblioteca Bodleian, em Oxford, e compilada, em 1733, pelo Dr. Richard Rawlinson, menciona a Loja Nº 116 (que abeteu Colunas em 1736), referindo-se a ela como uma Loja de Mestres. Nem uma Loja de
Mestres Instalados nem uma Loja de Past Masters, mas uma Loja de Mestres. Rawlinson era um Maçom ativo e Fellow da Royal Society, que deixou uma grande e importante coleção de documentos, muitos relacionados à Franco-Maçonaria, para a Bodleian Libracy, em 1755. Muita pesquisa foi feita para entender o significado dessas Lojas de Mestres, mas ainda não se chegou à conclusão de quais pudessem ter sido suas funções. A primeira listagem que temos das Lojas Maçônicas na Inglaterra aparece no primeiro Livro das Constituições, de Anderson, publicado em abril de 1723. Ao final do Regulamento Geral, uma listagem de duas páginas termina com os nomes do Grão-Mestre, Deputado do Grão-Mestre, Grandes Vigilantes e “os Mestres e Vigilantes de Lojas particulares”. A listagem tem vinte itens, com numeração em algarismos romanos, sem, entretanto, citar quais os locais de reunião, impedindo assim a identificação das Lojas, a não ser pelos nomes dos Veneráveis e Vigilantes das Lojas. A Primeira Grande Loja começou a publicar uma listagem separada dos locais de reunião das várias Lojas sob sua jurisdição,em diversas partes do mundo, as Engraved Lists of Lodges (Listas Gravadas de Lojas). Eram chamadas listas gravadas para diferenciá-las das listagens comuns, impressas tipograficamente, com tipos móveis. Cada Loja tinha seus dados gravados em placas de cobre individuais.(1)Este sistema permitia ao editor das lista, geralmente um gravador qualificado, acrescentar desenhos em miniatura dos letreiros e nomes das diversas tavernas em que as Lojas se reuniam e que lhes davam os nomes por que eram conhecidas naqueles primórdios. As Engraved Lists of Lodges foram as predecessoras imediatas dos almanaques Maçônicos ingleses, o primeiro dos quais apareceu em 1756. Em 1777, apareceram os calendários da Grande Loja – que desde 1908 têm sidos publicados como Masonic Year Books (Livros do Ano Maçônico), distribuídos a cada Loja inglesa, anualmente. Somente nas Listas Gravadas de 1729 apareceu a numeração das Lojas. Na Lista de 1733, como vimos, apareceu a Loja Nº 116, mencionada antes na lista de Rawlinson. Está também mencionada a Loja Nº 117, que se reunia na taverna King´s Arms(Armas do Rei). Essas duas eram Lojas de Mestres, como também a Loja Nº 120, que se reunia na Oate´s Coffee House.Essas Lojas de Mestres e muitas outras citadas em edições posteriores das Listas são, invariavelmente, afiliadas a uma Loja. Não eram Lojas independentes. Em outras palavras, a Lista Gravada, depois de fornecer os dados de uma Loja, declara, de passagem. “Domingos de Lojas de Mestres”. Diferentes das Lojas a que estavam afiliadas, estas invariavelmente se reuniam aos domingos. E com razoável freqüência. Não há registros de que uma Loja de Mestres tenha jamais sido constituída como uma entidade separada, nem tampouco de qualquer carta constitutiva em separado para uma delas. As Lojas de Mestre sempre fizeram parte de uma Loja Simbólica. Tanto assim que foram mencionadas como uma Loja dentro de outra. Poucas atas de Lojas de Mestre foram descobertas. As atas identificadas como tal referem-se apenas às relações entre elas e as Lojas simbólicas que lhes davam abrigo. Nem há qualquer referência ou qualquer detalhe acerca do trabalho ritualístico nelas executado.
Surge o Terceiro Grau
Julgando pelas aparências, a função mais óbvia de uma Loja de Mestres seria conferir o Terceiro Grau. Isso, aliás, parece ter suporte no fato de que as Lojas de Mestres apareceram na mesma época em que a Lenda de Hiram emergiu como um terceiro Grau em separado. Embora não saibamos nada do trabalho ritualístico das Lojas antes de 1730, pode-se afirmar que, até aquela
data, somente dois Graus eram praticados, o de Entered Apprentice (Aprendiz Registrado), como primeiro Grau, e Fellow of fhe Craft (Companheiro de Ofício) ou Master Mason (Mestre Maçom), como segundo.(2) Somente em 1730, com a publicação da famosa inconfidência de Samuel Prichard, Maçonaria Dissecada, é que um terceiro Grau – a Lenda de Hiram – algo semelhante ao que praticamos hoje, exceto pelo seu estilo de catecismo, apareceria como parte separado do ritual. O que fica muito claro, nesse período inicial de nossa história, é que a maioria dos Irmãos trabalhava um sistema de dois Graus e que estavam bem satisfeitos com isso. Ser um Companheiro do Ofício tinha um status de respeitabilidade, permitindo que o Irmão se tornasse Mestre de sua Loja, além de garantir-lhe muitos outros privilégios, incluindo qualificação para os postos na Grande Loja. Com o aparecimento e a lenta integração de um terceiro e novo Grau, dentro do sistema que até então somente tinha dois, a maioria das Lojas não estavam habilitadas a conferi-lo, simplesmente porque não tinham conhecimento ritualístico prático. O número de membros qualificados, capazes de trabalhar o Terceiro grau era mínimo e insuficiente para que as Lojas o conferissem. Assim, especula-se com alguma propriedade, foram criadas Lojas de Mestres especiais, dentro da estrutura de algumas das Lojas já existentes, cuja composição de Mestres Maçons experimentados lhes permitisse a missão de conferir esse Terceiro Grau a Irmãos devidamente qualificados. Mas, por mais razoável que seja essa teoria, não há nada em que ela possa se apoiar. Uma possibilidade, um tanto irônica, é que o sucesso da inconfidência de Prichard, Maçonaria Dissecada, (teve três edições em onze dias), publicado como um ataque aos Maçons, tenha acontecido porque os próprios Maçons compraram cópias do panfleto. Embora o suposto objetivo fosse permitir a não Maçons o acesso às reuniões Maçônicas, pela divulgação das cerimônias e dos alegados segredos da Ordem, o panfleto foi uma bênção para os Mestres Maçons contemporâneos, encarregados de conferir o novo Terceiro Grau. Aqui estava o equivalente de um ritual, com o Grau completo, acessível e impresso! As Lojas de Mestres constantes nas Listas Gravadas são relacionadas anualmente até 1737. Há, ainda, uma breve menção a elas, sem maiores comentários, na segunda edição (1738) do Livro das Constituições. Daí por diante, cessam abruptamente as referências a essas Lojas especiais. Uma explicação lógica para o desaparecimento das Lojas de Mestres das Listas é que, lá por volta de 1737-1738, uma década depois da adoção da Lenda de Hiram como um Terceiro Grau distinto, as maiorias das Lojas já dispunham de Mestres Maçons suficientes para conferir o Grau elas mesmas, sem necessitar de Lojas de Mestres em separado. E assim elas foram descartadas. Esse é o encadeamento lógico, ainda que sem comprovação definitiva, dos que acreditam que o propósito exclusivo das Lojas de Mestres tenha sido elevar os Companheiros ao terceiro e sublime Grau de Mestre Maçom. Mas não é o fim da história. Reaparecimento Depois de um lapso de 12 anos e, por assim dizer, sem aviso, as Lojas de Mestres aparecem novamente nas Listas Gravadas de 1750, continuando então ininterruptamente até a época da União, em 1813. Por que essa necessidade de reviver as Lojas de Mestres após 1750? Os argumentos baseados na utilidade delas para conferir o Terceiro Grau já não fazem sentido. Uma das respostas plausíveis é que o reaparecimento delas teria ocorrido para acomodar a recente e crescente popularidade doReal Arco. Não há indicação de quando ou mesmo onde começou a Maçonaria do Real Arco. A primeira evidência que temos está num panfleto datado de 1744, intitulado A Serious and Impartial ENQUIRY Into the Cause of the present Decay of Freemasonry In the Kingdom of Ireland (Uma investigação Séria e Imparcial das Causas da presente Decadência da Franco-Maçonaria no Reino da Irlanda), do Dr. Fifield Dassigny.(3) A partir de 1750, há indícios de atividades no Real Arco em Londres, individualmente, por Maçons pertencentes à Primeira Grande Loja, apesar das objeções da Obediência em reconhecer o Real Arco(Sistema Inglês))como uma Ordem adicional e separada. Em que tenham pesado essas objeções, reuniões da nova Ordem parecem ter sido levadas a cabo tanto em Lojas Simbólicas quanto em Capítulos do Real Arco, especialmente convertidos. Entrementes, como conseqüência de uma considerável e geral insatisfação com a Franco-Maçonaria, uma rival, a nova Grande Loja dos Antigos, foi formada em 1751, que logo contaria com os serviços de Grande Secretário muito dinâmico, Laurence Dermott. Dentro de pouco tempo, a nova Grande Loja incorporou formalmente o Real Arco, como parte integral da Antiga Maçonaria. Esse acontecimento inesperado colocou os Irmãos que eram Maçons do Real Arco e que pertenciam à Primeira Grande Loja num dilema. Sua própria Grande Loja recusava-se a reconhecer ou aceitar qualquer Grau ou Ordem além dos três Graus da Maçonaria Simbólica, enquanto os Irmãos da rival Grande Loja dos Antigos estavam praticando o Real Arco livremente, como um Grau separado, formal e reconhecido.
Chapter of Compact
São essas as circunstâncias que devem ter levado ao restabelecimento das Masters´Lodges depois de 1750; um lugar para osCompanheiros(4) da Primeira Grande Loja para praticar o Real Arco além das vistas, por assim dizer, da sua própria Grande Loja. Novamente encaramos uma teoria viável e possível, mas também sem qualquer evidência. Essa teoria quanto à função das Lojas de Mestres, depois de 1750, de acomodar a prática do Real Arco, às escondidas, por membros da Primeira Grande Loja, ainda que plausível, gera tantas novas perguntas quanto as que resolvem. Por exemplo, a Sociedade dos Maçons do Real Arco (Society of Royal Arch Masons) foi formada sob a autoridade do Excelente Grande e Real Capítulo (The Excellent Grand and Royal Chapter), em 10 de julho de 1765. Um ano depois, em 22 de julho de 1766, o Charter
of Compact (Carta do Acordo) foi assinado por Lord Blayney e pelos membros mais graduados do Real Arco. Este foi um golpe de mestre dos partidários do Real Arco. Lord Blayney que se tornou o Primeiro Grande Principal e encabeçou o Corpo recém formado, era também Grão-Mestre da Primeira Grande Loja na época da assinatura do Chapter of Compact. Se considerarmos as objeções que a Primeira Grande Loja(5) fazia abertamente ao Grau, foi um feito extraordinário para os Maçons do Real Arco obter o apadrinhamento do Grão-Mestre de sua própria Grande Loja.Agora, finalmente, os membros da Primeira Grande Loja poderiam praticar aberta e formalmente, sem obstáculos, a Maçonaria do Real Arco. Sob essas novas circunstâncias, caso a função das Lojas de Mestres tivesse sido encobrir a prática do Real Arco por Maçons da Grande Loja dos Modernos, tais Lojas não mais seriam necessárias com o advento do Supremo Grande Capítulo.Ainda assim, as Master´s Lodges continuam a aparecer como Lojas ativas, relacionadas, como anteriormente, até bem depois de 1766. O ministério permanece e continua. Que novas funções teriam as Lojas de Mestres que justificassem sua contínua existência de 1766 a 1813? Nós não sabemos.
Além do Simbolismo
Pode-se, teoricamente, concluir que as Lojas de Mestre foram estabelecidas para permitir a prática de outros Graus e Ordens além do Simbolismo – Ordens que tinham ainda que ser formalmente reconhecidas e organizadas. Tal teoria é possível, mas falha, porque, se esse fosse o caso, não há razões para não terem continuado suas atividades após a União de 1813. Repentinamente, as Lojas de Mestre cessaram por completo, imediatamente antes de se consumar a União, em dezembro de 1813. Um bom exemplo é a Old Fortitude and Cumberland Lodge, hoje com o número 12, a terceira das quatro Lojas de Tempos Imemoriais. Ela tinha sua própria Loja de Mestres, trabalhando de 1803 a 1813. Daí para diante, não há registros ou evidências de qualquer reunião aos domingos. As Ordens além do Simbolismo(6) continuaram suas atividades variadas depois da União, a despeito da tentativa de suprimi-las pelo Duque de Sussex. Tivessem elas exercendo essa função de praticar os Graus além do Simbolismo, sua utilidade após a União seria imensa. Todavia, nenhuma Loja declarar ter tido uma Loja de Mestres após a União. Assim, fica sem suporte a teoria de que as Lojas de Mestres teriam servido para a prática dos Graus e Ordens além do Simbolismo. Uma última teoria, talvez a mais viável, é que as Lojas de Mestres continuaram, depois de 1750 até 1813, para conferir um único
e muito especial tipo de Grau, o de Constructive Master (Mestre Construtivo). Hoje, somente os três Principais de um Capítulo do Arco Real (inglês) precisam ser Past Masters de uma Loja Simbólica. Mas, antigamente, este não era o caso. Tanto os membros da Grande Loja dos Antigos quanto os do Supremo Grande Capítulo (assim chamado só após de 1816) exigiam que todos os Maçons do Arco Real fossem Past Masters em Lojas Simbólicas. Isto causou um grande problema: simplesmente não havia Maçons qualificados para tornarem-se membros do Real Arco. Para resolver o problema e aumentar o número de Maçons do Real Arco, foi inventado o Grau de Mestre Construtivo ou Virtual. Aqueles que fossem Mestres Maçons, mas que não tivessem ainda sido conduzidos à Cadeira de Salomão, eram feitos Past Masters numa sessão curta, abreviada, durante a qual eram simbolicamente instalados, sendo conduzidos à cadeira do Mestre por um breve momento. (7) A cerimônia, embora não lhes garantisse o status de um Venerável de Loja, permitia-lhes entrar para o Real Arco. Esta pode ter sido a cerimônia realizada nas Lojas de Mestre no período até a União. Em várias jurisdição, notavelmente nos
Estados Unidos, a cerimônia de Mestre Virtual ainda é praticada hoje. Esta teoria também não tem evidência alguma que a suporte. O que podemos deduzir é que, logo após a União das Duas
Grandes Lojas, as práticas no Real Arco foram padronizadas, abolindo a necessidade da cerimônia do Mestre Virtual e, assim, também das Lojas de Mestres após 1813. Ou será que a ausência das Lojas de Mestres, depois dessa data, seja apenas devido a terem mudado seus nomes originais ou adotado outros? Eis aí mais uma especulação a acrescentar nesse trecho, inacabado e fascinante, da história de nossos primórdios.

Bibliografia
Cryer, Revd. Neville Barker: The Master´s Part: a re-appraisal, in (1997) AQC 110:21
Hughan, W J: The Old Charges of British Freemasons, 1872 (2nd edn. 1895)
Hutton, B P: Masonic Year Book in The Masonic Square, June 1976, v2 p-45
Jones, B E: Masters´Lodge and their place in Per-Union History, in (1954) AQC 67
Lane, John: Masters´Lodges, in (1886-1888) AQC 1:167
Notas
(1) Hoje, para fazer um trabalho semelhante ao das Engraved Lists, você senta no seu micro, digita o texto e edita. Aí,
se não sabe desenhar, escaneia (ou chupa, na linguagem dos micreiros...) de algum impresso ou da net, insere no seu
arquivo, salva e pronto. Tecla print e sua impressora deskjet faz quantas cópias você queira de um trabalho que pode
ter, se você levar jeito para a coisa, uma aparência profissional.
Voltando à época das Engraved Lists, os desenhos só podiam ser reproduzidos de duas formas. Na xilogravura, o
desenho era copiado para um bloco de madeira, onde as partes que não seriam impressas eram escavadas, para deixar
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em relevo apenas os traços do desenho. Na gravura em metal, o desenho era copiado para uma placa de cobre, onde era
escavado com a ponta de um buril, tanto desenho como texto.
Como na xilogravura os desenhos estavam em relevo, podiam ser impressos simultaneamente com o texto, num
sistema conhecido por tipografia, tal como Gutemberg o fez. Entintava-se as superfícies em relevo e imprensava-se
sobre elas a folha de papel.
Na gravura, a folha de papel também era imprensada sobre a matriz de cobre, mas a tinta ficava depositada dentro da
cavidades aberta pelo buril. Assim, o impressor passava a tinta e limpava a matriz, para então imprensar a folha
branca sobre ela. A impressão da gravura dava muito mais trabalho, mas permitia soluções criativas, impossíveis de
obter com xilogravura e tipos de chumbo.
Quando você sentar-se no seu micro, com as imensas facilidades que o progresso colocou à sua disposição, renda uma
pequena homenagem àqueles predecessores que realizaram o mesmo trabalho diante de imensas dificuldades.
(2) Por não estar habituados à cultura medieval, muitos desconhecem o título completo do Maçom no Primeiro Grau:
Entered Apprentice, que podemos traduzir, ao pé da letra, como Aprendiz Registrado. Conta Harry Carr, em seu
Freemason at Work (A Lewis, 1989), que “em Edinburgh, era a regra que todo aprendiz devia ser registrado no livro de
Registro de Aprendizes da cidade, ao início de seu contrato (indenture)”. Os registros de 1813 para cá ainda existem.
Na Maçonaria especulativa, o termo completo aparece apenas na década de 1720. Os Graus Simbólicos ingleses são
abreviados como E. A. (Entered Apptrentice), F. C. (Fellow of the Craft) e M. M. (Máster Mason).
(3) Veja você há quanto tempo se diz que a Maçonaria está decadente... Se Bastos Tigre tivesse sido Maçom,
certamente teria dito: “Veja, ilustre passageiro / O Maçom sério e faceiro / Que está bem ao seu lado. / No entanto,
acredite, / Quase morreu de bronquite. / Salvou-o o Rhum Chreosoto”... (desculpem a blague, mas foi irresistível...)
(4) O título Companheiro, dado ao Maçom do Real Arco, não tem a raiz etimológica ou o significado intrínseco do
Companheiro do Simbolismo. O termo Companheiro do Segundo Grau Simbólico vem do inglês Fellow of the Craft, que
significa colega ou camarada de ofício. Companheiro, no Real Arco, vem da raiz latina – cum panis, com pão, aquele
com quem se reparte o pão.
(5) A essa época, a Primeira Grande Loja já havia sido desdenhosamente apelidade de Grande Loja dos Modernos por
Laurence Dermott.
(6) Beyond the Craft (Além do Simbolismo). Este é o termo pelo qual a Franco-Maçonaria inglesa designa todos os
Altos Graus, incluindo o Rito Escocês Antigo e Aceito. O Arco Real inglês, entretanto, foi amarrado, na União de 1813,
nos Graus Simbólicos. Essa solução política, que permitiu unificar as duas Grandes Lojas, colocou-o numa situação
peculiar, diferente da ordenação racional do sistema americano.
(7) No Real Arco americano, que é Maçonaria Capitular, isto é, faz parte dos Graus além dos Simbolismo, o Grau de
Past Master é o segundo dos quatro Graus, todos relacionados à lenda de Hiram. O primeiro, Mestre de Marca,
origina-se do Grau de Companheiro no Simbolismo, onde, entre outras tradições, revive-se o pagamento dos Obreiros
ns pedreiras. O Grau de Past Master é justamente o que permite que o Mestre Maçom, feito Mestre Virtual, possa
testemunhar a terminação e a dedicação do Templo do Rei Salomão, o que ocorre no Grau seguinte, Mui Excelente
Mestre. O último Grau, Maçom do Real Arco, semelhante ao seu homônimo inglês, trata da reconstrução do Templo.
Autor: Irm. Yasha Beresiner, M. I., M.R.A., publicado na Revista Cultura Maçônica “ENGENHO & ARTE” na Maçonaria
Universal, nº 11, Primavera 2002, págs. 26 a 30.
N.E.: Artigo enviado pelo Ir.: ROBERTO GOMES

CABALA

Ir.: Jerônimo José Ferreira de Lucen

CABALA

Divisão: Ao lado da Thorah existe uma tradição destinada a explicá-la e compreendê-la. Esta tradição estáalicerçada basicamente em dois pontos:
1. Tudo que se refere ao corpo material da Thorah é denominado de Massorah, que é o conjunto
de certas regras fixas sobre a maneira de se ler e escrever os textos do Livro Sagrado.
2. Tudo que se refere ao espírito do texto Sagrado. Subdivide-se em: · Lei – determina as relações sociais do povo entre si, entre vizinhos e entre a Divindade;· Doutrina Secreta – conjunto de conhecimentos teóricos e práticos pelos quais se pode conhecer as relações entre Deus, o Homem . Os comentários à leitura dos textos Sagrados foram transcritos sob o nome de Thalmud e se subdivide em cinco partes:
1. Mishnah, são as tradições dos profetas referentes às festas, ao matrimônio, às oferendas e às
purificações;
2. Ghemarah, é um compêndio de jurisprudência;
3. Midrashim e Targumim, comentários e paráfrases;
4. Thosiphthah, são suplementos;
5. Assim como a Massorah forma o corpo da Tradição, tratando de tudo o que se refere à parte
material da Thorah, o Thalmud representa a vida, por seu objetivo a jurisprudência, os
costumes, as cerimônias e as relações sociais.
A Cabala é a alma ou o espírito da Tradição; é a sua parte religiosa e filosófica. Segundo os antigos, a Escritura Sagrada tem quatro formas de interpretação:
1. Pashut, é o sentido literal ou histórico (corresponde ao átrio do Templo e ao corpo físico);
2. Remmez, é o sentido alegórico, ou uma idéia sob forma figurada (corresponde à região dos
altares de sacrifícios e à psique);
3. Derush, é o sentido moral (corresponde ao Lugar Santo e à Alma);
4. Sod, é o sentido místico ou metafísico (corresponde ao Santo dos Santos e ao Espírito).
Vejamos a disposição dos oficiais em Loja, em concordância com a Árvore Sephirot:

KETHER
Coroa
Venerável (Júpiter)
BINAH
CH
OCHMAH
Sabedoria...............................................................................................Inteligência
Orador (Sol) Secretário (Lua)
GEBURAH TIPHERETH
CHESED
Força/Beleza.........................................................................................Graça
Tesoureiro / M.: Cerim.: Hospitaleiro (Mercúrio)
HOD
NETZAH
Vitória.....................................................................................................Glória
1º Vigilante (Marte) 2º Vigilante (Vênus)
IESOD
Fundamento
Experto (Saturno)
MALKUTH
Reino
Cobridor
Onde, de acordo com o esquema sephirótico podemos imaginar um homem deitado de costas, no
Templo, a sua cabeça é o Venerável; seus braços, o Orador e Secretário; suas mãos, o Tes.: e o Hosp.:; suas pernas e pés, os dois Vvig.:. Quando se trata de Macro e Microcosmos, podemos visualizar o Templo como sendo Universal, unindo-se em linhas retas, o Ven.: , Orad.:, Sec.: e os dois Vvig.: teremos o Pentagrama ou estrela de cinco pontas; se adicionar mais um ponto, o Cob.:, teremos a estrela de seis pontas, ou o Selo de Salomão, que nada mais é do que dois triângulos com os seus ápices invertidos, o ápice para cima significa o plano Espiritual, o ápice para baixo, o plano material. O Venerável é Júpiter, o Mestre dos Céus; nele domina a Sabedoria. KHETER – A coroa – o primeiro caminho, chama-se Inteligência Admirável, ou Oculta, pois é a Luz que concebe o poder da compreensão do Primeiro Princípio, que não tem começo. É a glória Primordial, pois nenhum ser criado pode alcançarlhes a essência, O Altíssimo. O Primeiro Vig.: é Marte, deus guerreiro, cujo Vigor e Força devem ser inflexíveis. HOD – A Sabedoria – chama-se Inteligência Iluminadora. É a Coroa da Criação, o Esplendor da Unidade, que a iguala. É exaltada sobre as cabeças, e os cabalistas a chamam de “A Segunda Glória”, Pai Cósmico, o princípio masculino. A sabedoria ou o conhecimento ilimitado, o princípio ativo, encabeça a coluna JACHIM ou BOHAS no templo de Salomão, ou o pilar da Misericórdia. O Segundo Vig.:, é Vênus, a doce bela, é a Graça, é o oposto de Marte que é a força masculina; os dois se completam. NETZACH – Vitória – Chama-se Inteligência Oculta porque é o esplendor refulgente das virtudes intelectuais percebidas pelos olhos do intelecto e pelas contemplações da fé. Encabeça a coluna JACHI ou BOAHAS no Templo de Salomão. O Orador é o Sol; domina Júpiter enquanto planeta; é o Guardião da Lei; em casos particulares, domina o Venerável. CHOCHMAH – é a Severidade, ou a Justiça, o árbitro do Desperdício, a Lei, a Ética ,o rigor divino. O Secretário, a Lua, reflexo do Sol, registra fielmente tudo que emana do Orador. BINAH – Fundamento – Chama-se Inteligência Pura, porque purifica as Emanações. Ele prova e corrige o desenho de suas representações e dispõe a unidade em que elas estão desenhadas, sem diminuição ou divisão. Mestre de Cer.; - TIPHERET – a Beleza – Chama-se a Inteligência Mediadora, pois nele se multiplicam os influxos das emanações, fluindo essas influências para todos os reservatórios de bênçãos com que se unem. O coração da Árvore da Vida. Nele a Luz se transforma em amor irradiante e este na vida.
Hospitaleiro – CHESSED – Misericórdia – Chama-se Inteligência Coesiva ou Receptiva, porque
contém todos os poderes sagrados, dele emanando as virtudes espirituais com as suas essências mais requintadas. Tais poderes emanam uns dos outros por virtude da Emanação Primordial.
Tesoureiro – GEBURAH – Entendimento –Chama-se Inteligência Santificadora, Fundamento da
Sabedoria Primordial, chama-se também Criadora da Fé, e suas raízes são o Amém. É a mãe da fé, a fonte de onde emana a fé; a mãe cósmica, o princípio feminino, a compreensão ou a Razão. O conhecimento limitado, o princípio passivo, encabeça a coluna BOHAS to Templo de Salomão, ou o pilar da Severidade (Justiça). O Cobridor externo –MALHUTH - é Mercúrio, o mensageiro dos deuses; é ele quem anuncia ao Cobridor Interno os IIr.: que vêm se apresentar e que pedem admissão. O Cobridor interno, é Saturno, o deus prudente; é ele que anuncia a presença daqueles que ele julgou dignos de adentrar ao templo. IESOD – Reino – Chama-se Inteligência Resplandescente, porque é exaltado sobre as cabeças e tem por assento o trono de BINAH. Ele ilumina os esplendores de todas as Luzes, fazendo emanar a influência do Príncipe dos Rostos, o Anjo de KETHER.

A MAÇONARIA NO BRASIL – DE 1816 A 1833

Ir.: Antônio da Rocha Fadista

Este trabalho é baseado em questões, cujas respostas se fundamentam nas pesquisas realizadas.
Por que D Pedro foi eleito maçom e em tão pouco tempo Grão- Mestre, e de que forma isso se fazia necessário para a independência? Dom Pedro era um jovem de temperamento irrequieto, temperamental, e às vezes irascível. Era, sobretudo, inexperiente nas lides políticas e suas malícias. Estas facetas do caráter do príncipe foram muito bem exploradas por J.Bonifácio, que deste modo pôde usar com tamanha habilidade a sua persuasão, que conseguiu que ele, já em 17.02.1822, proibisse o desembarque, no Rio, das tropas portuguesas comandadas pelo general Jorge Avilez.Tudo era válido para influenciar e pressionar o Príncipe, para induzi-lo a fazer a independência do país. Foi isto que levou Bonifácio a convidá-lo para ingressar no Apostolado e na Maçonaria.Para isso, José Bonifácio teve, primeiro, de entrar na Maçonaria, valendo-se do prestígio do seu cargo de Ministro do Interior.
Na realidade, J.Bonifácio foi um inimigo da Maçonaria, que nunca foi iniciado, e só aceitou o convite sugerido para nela ingressar visando a trazer a Ordem para a sua área de influência e para fazer dela um instrumento de prestígio junto ao príncipe, a quem convidou para nela ingressar.
Em 10.04.1822 J.Bonifácio colocou a sua assinatura em uma Ordem ao Intendente de Polícia “mandando cercar por força armada os ajuntamentos da Maçonaria, prender todas as pessoas encontradas e fazer a apreensão de todos os papéis” Pouco depois de chegar de Portugal, em 1819, J. Bonifácio foi convidado para ingressar na Maçonaria carioca pelo Capitão-Mor, Irmão José Joaquim da Rocha, em cuja residência, à rua da Ajuda, 64, os maçons se reuniam. Ao convite, J. Bonifácio respondeu textualmente: “O entusiasmo da Maçonaria no Brasil não passa de fogo de palha”. E não entrou. “Organizada como estava a Maçonaria no Rio de Janeiro em 1822, foi NOMEADO para GRÃO-MESTRE da Ordem José Bonifácio, que se improvisou maçom, sem o ser” Isto é afirmado num manuscrito de Mello Mattos, contido na obra “Documentos para a História da Independência” de autoria do Cônego Geraldo Leite Bastos, falecido em 1863.
Foi o Irmão Mello Mattos, iniciado antes de 1812, que recebeu o Príncipe Dom Pedro à porta do templo, quando foi iniciadomaçom em 2.08.1822.
Muitas vezes a Maçonaria européia aclamou profanos para o cargo de Grão-Mestre, especialmente em situações políticas difíceis, o que era o caso do Brasil na ocasião.
Mesmo aclamado Grão-Mestre do GOB, José Bonifácio não morria de amores por Gonçalves Ledo, seu Primeiro Grande Vigilante, pois o sabia o chefe reconhecido e de fato do partido liberal do Rio de Janeiro, e na realidade o verdadeiro mentor e guia espiritual da Maçonaria no Brasil da época. Na ausência de José Bonifácio, foi Ledo que, dirigindo os trabalhos do GOB, propôs, e a assembléia aprovou por unanimidade, que Dom Pedro assumisse o cargo de Grão- Mestre do GOB. Isto aconteceu na sessão especial de 04.10.1822, esclarecendo Ledo ao início dos trabalhos, que a convocação fora feita para “receber o Juramento do nosso amável e muito amado Irmão Guatimosim, eleito Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira, por aclamação, em plena reunião do Povo Maçônico....” como diz textualmente a Ata. São várias as provas de que José Bonifácio usou a Maçonaria para aumentar a sua influência sobre Dom Pedro, visando concretizar os seus projetos pessoais e familiares. Em 05.10.1822, quando o Príncipe D. Pedro dirigia os trabalhos do GOB, na qualidade de seu Grão-Mestre, José Bonifáciotransmitiu ao Desembargador João Ignácio da Cunha “denúncias contra a Maçonaria, mandando aumentar o número de espiões
e secretas, e ordenando a lei marcial”. Mas foi o próprio Imperador Dom Pedro I que documentou para a história como agia José Bonifácio em relação à Maçonaria. Em
artigo que publicou no Diário Fluminense em 1829, sob o pseudônimo de P. Patriota, Dom Pedro escreveu: “Quem poupa os inimigos nas mãos lhes morre. Aí estão os ANDRADAS, com o velho sábio à frente. Cuidado com este,Fluminenses! Ele não fez a Independência, como vivem a basofiar os seus amigos. Foi o Imperador, com o Ledo e o Clemente Pereira, foi o Grande Oriente, do qual J. Bonifácio foi inimigo depois de ter sido seu Grão-Mestre. O velho Andrada apenas acompanhou a onda. Dom Pedro perdoou-lhe. Ele voltou, a agitação começou, o mar está bravo, mas se ele fizer conspiração como em 1823, a lei e o imperador serão inexoráveis, sem piedade para ninguém”. (Revelações Históricas para o Centenário –Assis Cintra).
Na 6ª reunião do Grande Oriente, em 19.06.1822, José Bonifácio tomou posse como Grão-Mestre, mesmo sem ter sido iniciado,nem nos graus simbólicos, nem no grau de Rosa Cruz, exigência básica da época para se tornar Grão Mestre. Sabia bem J. Bonifácio que Ledo lhe dera o cargo de Grão-Mestre com o objetivo de fortalecer a Maçonaria e aproximá-la da Casa Real e, se aceitou a nomeação, fê-lo com a intenção de “poder fiscalizar a atividade maçônica no Brasil e dirigi-la de acordo com os seus projetos”. Na sessão de 02.08.1822, José Bonifácio propôs o Príncipe Dom Pedro para ser iniciado, proposta que foi aprovada por unânime aplauso. Sob o comando da Loja Comércio e Artes, foi Dom Pedro iniciado no mesmo dia, e em 05.08.1822 a mesma Loja faria a Exaltação do Irmão Guatimosim, que assim ficou pertencendo ao seu Quadro de Obreiros. Por que Dom Pedro determinou a prisão dos irmãos e o fim dos trabalhos no GOB?
Em sessão realizada no dia seguinte ao de sua posse, a 05.10.1822, o novo Grão-Mestre foi saudado pelo Brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto que, de modo inflamado, o previne “contra os coléricos, os furiosos” e “os embusteiros” que “para seus sinistros fins particulares, buscam minar o edifício constitucional”. Esta já era uma previsão do golpe que estava sendo preparado e iria ser desfechado por José Bonifácio e seus simpatizantes. Seria a sessão seguinte, de 11.10.1822, a 19ª e última sessão do GOB em sua primeira fase. E foi esta também a última sessão presidida por Dom Pedro, isto um dia antes de sua aclamação como Imperador, realizada em 12.10.1822. Três dias depois da aclamação, a 15.10.1822, um grupo a serviço do ministro rancoroso e vingativo, “colérico e furioso”, passou a espalhar o boato de que Ledo e seus simpatizantes pretendiam provocar uma completa reforma no Ministério, com o afastamento dos Andradas. Isto foi suficiente para que fossem expedidas ordens ao Intendente de Polícia para exercer severa vigilância sobre os “perversos carbonários e anarquistas” E, apenas 18 dias depois de ter sido empossado no cargo de Grão-Mestre, o agora Imperador, envolvido pelas intrigas de José Bonifácio, dirigiu a Gonçalves Ledo o seguinte bilhete, em 21.10.1822:"
Meu Ledo
Convindo fazer certas averiguações, tanto Públicas como Particulares na Maçonaria, mando, primo como Imperador, segundo como Grão-Mestre, que os trabalhos Maçônicos se suspendam até segunda ordem Minha. É o que tenho a participar-vos. Agora, resta-me reiterar os meus protestos como Irmão.PEDRO GUATIMOSIM G.’.M.’.

P.S. – Hoje mesmo deve ter execução e espero que dure pouco tempo a suspensão porque em breve conseguiremos o fim que deve resultar das averiguações. (Documento encontrado no arquivo do Castelo D’Eu.

Mas Gonçalves Ledo não cumpriu a ordem. Preferiu entender-se com o Imperador e Grão-Mestre, que reconheceu ter sido vítima dos ódios do seu próprio ministro, aumentado pelos zelos de haver a Maçonaria conferido a ele, chefe de Estado, o grão malhete. Assim, resolveu o Imperador mudar de rumo, ordenando que o Grande Oriente prosseguisse nos seus trabalhos e
cessassem as perseguições. E no dia 25.10.1822 (quatro dias depois da interdição) mandou entregar a Gonçalves Ledo um bilhete que por ser um precioso documento para a História da Maçonaria brasileira, transcrevemos abaixo:
Meu Irmão – Tendo sido outro dia suspendidos nossos augustos trabalhos pelos motivos que vos participei, e achando-se hoje concluídas as averiguações, vos faço saber que segunda-feira que vem os nossos trabalhos devem recobrar o seu antigo vigor, começando a abertura pela Grande Loja em Assembléia Geral. É o que por ora tenho a participar-vos para que, passando as ordens necessárias, assim o executeis. Queira o S.’.A.’.do U.’. dar-vos fortunas imensas, como vos deseja o vosso I.’.P.’.M.’.R.’.
(Irmão Pedro Maçom Rosacruz).

Deste modo, por ordem de Dom Pedro a atividade do GOB ficou suspensa apenas por sete dias. Se depois disso nunca mais se reuniu, não foi por causa do seu Grão-Mestre e sim devido à ausência de seu verdadeiro líder, o Irmão Gonçalves Ledo que, para não ser preso pelos esbirros de José Bonifácio, fugiu para Buenos Aires. Vendo-se desprestigiado com o apoio dado pelo Imperador a Ledo, José Bonifácio pediu demissão do cargo de ministro, no mesmo dia do bilhete de Dom Pedro a Gonçalves Ledo, autorizando o reinício dos trabalhos do GOB, a 25.10.1822. Acompanhou-o na demissão o irmão Martim Francisco. No dia 29.10.1822 apareceu uma PROCLAMAÇÃO elaborada pelos membros do APOSTOLADO, exigindo a volta dos Andradas.
O Imperador (sempre indeciso e volúvel), devidamente “trabalhado” pelo grupo de J. Bonifácio, interessado em seu retorno, conseguiu recolocar os Andradas no poder, de acordo com o Decreto de 30.10.1822. (Nabuco – Legislação Brasileira – Tomo III,pág. 347). O ciúme entre o Grande Oriente e o “Apostolado” entrou em sua fase mais crítica e delicada. Ambas as Sociedades procuravam monopolizar as simpatias de D. Pedro, sem que este resolvesse pronunciar-se por uma delas. Fervilhavam as intrigas políticas e insinuavam-se conspirações ora de uma, ora de outra parte, o que devia causar em D. Pedro grande sensação de mal-estar. Se era a independência do país que todos almejavam, e sobre isso ele não tinha dúvida, por que então se envolviam em lutas estéreis ao invés de o ajudarem a realizar a obra que tinham em mente ?
Diziam os do Apostolado: “Nós queremos a independência sob a forma de regime monárquico, enquanto que o Grande Oriente conspira para implantar a República”.
Esta insinuação, que era quase uma denúncia, iria ser o calvário do GOB. que, devido a essas intrigas, teve suspensos os seus trabalhos pelo seu próprio Grão-Mestre.Esta foi a primeira e a última vitória do “Apostolado” Isto porque, embora cerrados os trabalhos do GOB, muita coisa ainda seriacapaz de influir no ânimo de D. Pedro.Certo dia, chegou ao Palácio uma carta anônima, escrita em Alemão, trazendo a nota de urgente no envelope. D. Pedro pediu à Imperatriz que a traduzisse, o que mostrou uma grave denúncia! O Apostolado tramava contra a vida do seu Arconte Rei, opróprio Imperador.Nesse mesmo dia, D. Pedro mandou chamar o seu ministro José Bonifácio ao Palácio, por volta das 18:00 horas. Sem nada mencionar a J. Bonifácio, D. Pedro ordenou-lhe que o esperasse, pois estava de saída que não seria demorada. Coberto por espesso capote, montou um cavalo sem ferraduras e dirigiu-se ao quartel de artilharia montada de São Cristóvão de onde, juntamente com o seu Comandante Pardal, de oficiais de confiança e de cinqüenta soldados, todos encapotados e bem armados partiram para a rua da Guarda Velha, no centro na cidade do Rio de Janeiro. O Imperador bateu à porta, com a senha da ordem. O porteiro, embora conhecendo D. Pedro, vacilou em abrir-lhe a porta, sendo rapidamente seguro, o mesmo acontecendo ao segundo porteiro. Era costume, na chegada de um membro da Sociedade, como sinal de ordem, levantarem-se todos os presentes e puxarem do punhal. Ordenando que os que o acompanhavam permanecessem no vestíbulo, o Arconte Rei caminhou em direção ao trono, de onde Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado presidia os trabalhos.
De imediato, este lhe ofereceu a cadeira, e se preparou para juntar e guardar os papéis referentes aos trabalhos da Sessão, que nada mais tratavam senão do plano de conjuração e das propostas dos membros da Sociedade a este respeito, no que foi impedido pelo próprio Imperador, que lhe tomou estes papéis.Em seguida, D. Pedro dirigiu-se aos presentes, dizendo: “Podem retirar-se, ficando cientes de que não haverá mais reuniões no “Apostolado” sem minha ordem. E não se realizaram mais reuniões, nem tampouco prisões. Assim acabou a “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa-Cruz”, ou seja, o Apostolado. E, de novo, José Bonifácio foi demitido de seu cargo de Ministro. Esta era a represália do Grande Oriente, que conseguiu assim acabar com o “Apostolado”. Ressentido, pela Exaltação de D. Pedro e por sua destituição sumária do Grão-Mestrado, em favor de D. Pedro, tudo obra do Ledo, José Bonifácio, juntamente com seu irmão, Martim Francisco e mais alguns maçons, saiu do GOB e fundou uma nova sociedade secreta, meio maçônica e meio carbonária – O Apostolado. José Bonifácio, que viajara por todos os países onde a “Carbonária” lançara os seus tentáculos, deixara-se empolgar pelo sistema de organização da poderosa sociedade, mas simplificara-o de acordo com as possibilidades do momento. Suprimiu, por exemplo, o “Triunvirato”, que era nas organizações européias o centro nervoso de onde provinham as ordens mais importantes. As pequenas assembléias locais (Decúrias), embora se pretendesse corresponderem às “Lojas Maçônicas”, é melhorcompreendê-las na categoria de “Choças”, já que os seus altos dignitários não eram eleitos e sim designados de entre as “Colunas do Trono”, nome dado aos membros da original sociedade.
O primeiro passo de J. Bonifácio foi ordenar a prisão de todos os que considerava seus inimigos – Ledo e os seus partidários.(Portaria de 11.11.1822). A esse respeito, o Irmão Kant (Cônego Januário da Cunha Barbosa) escreveu a Ledo no dia 30.10.1822:
“Ledo – Escrevo, na contingência de ser preso pelos agentes dos Andradas. J. Bonifácio nos intrigou com o Imperador,convencendo-o de que somos republicanos e queremos a sua morte e expulsão. Sei, pelo Clemente, que a ordem de prisão já está lavrada. Esse homem que se tem revelado um tigre, QUE NÃO FEZ A INDEPENDÊNCIA, QUE A IMPEDIU ATÉ O ÚLTIMO
INSTANTE, e que somente a aceitou quando a viu feita, agora procura devorar aqueles que tudo fizeram pela Independência da Pátria, que a conseguiram com os maiores sacrifícios. O Drummond disse que o déspota faz questão de prender você para enforcá-lo.Lembre-se do que ele disse na Igreja de São Francisco. Não se exponha, não apareça na Corte, pois o grande ódio dele recai sobre você, que foi, como DIRIGENTE DA MAÇONARIA, o principal obreiro, o verdadeiro construtor de nossa Independência..Por que a proibição das sociedades secretas e qual o fim do apostolado?Ordenação, que estabelece Pena de Morte e Confisco dos Bens para a Coroa, ainda que haja filhos ou descendentes doscondenados. Talvez para proteger o patrimônio do GOL – Grande Oriente Lusitano – este Alvará não menciona expressamente a Maçonaria nem os Pedreiros Livres. O objetivo era atingir diretamente o movimento subversivo que no Brasil se utilizava da forma secreta porque trabalhavam as Lojas Maçônicas, para conspirar contra a Monarquia.Diz o Alvará textualmente: “Sou servido Declarar por Criminosas e Proibidas todas e quaisquer Sociedades Secretas, de qualquer denominação que elas sejam, ou com os nomes e formas já conhecidas, ou debaixo de qualquer nome ou forma que de novo se disponha ou imagine Isto significa que a Lei não Em Pernambuco, o movimento nativista ia crescendo, e já em 1816 existia uma Grande Loja Provincial, à qual eram filiadas as Lojas existentes e nas quais estavam sendo feitos os preparativos para uma Revolução Republicana que tinha como objetivo a proclamação da Confederação do Equador, uma república federativa. (História da República de Pernambuco de 1817 – Mons. Muniz Tavares).
Foi tão drástica a reação do Governo Português que a história chamou de monstro o Conde dos Arcos que, pela sua crueldade, debelou o movimento em 74 dias. Este movimento se transformou num banho de sangue, pois os que escaparam das lutas sangrentas, morreram fuzilados ou na forca. A primeira vítima foi o Padre Roma, fuzilado a 29.03.1817. Aliás, os padres nativos eram maçons de coração e lutavam pela liberdade de sua terra. Dezenas deles morreram na revolução e em outras escaramuças. Porém, em Portugal, os padres viviam delatando os maçons. Para solidificar a vitória, conseguida com o sacrifício de tantas vidas preciosas, e extinguir a Maçonaria de uma vez por todas, o rei D. João VI, convenientemente industriado pelo Conde dos Arcos e por outros inimigos dos filhos da viúva, resolve baixar o Alvará de 30.03.1818, publicado na íntegra no Boletim do GOB de 1898 proibindo todas e quaisquer sociedades secretas em Portugal e em todos os seus domínios (inclusive o Brasil) sob as mais severas penas, inclusive o de lesa-majestade, conforme queria saber o que havia antes, devendo ser punidos os que, de agora em diante, se reunissem em “Lojas, Clubes, Comitês, ou qualquer outro ajuntamento de Sociedade Secreta”. Entretanto, este mesmo Alvará levou, em Portugal, à condenação e fuzilamento, por conspiração contra a monarquia, do Marechal Gomes Freire de Andrade, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, em 1818. O bravo executor deste assassinato foi o General Beresford, maçom inglês que comandava as tropas inglesas que vieram defender Portugal durante as invasões de Napoleão. Em casa de amigos ingleses no Algarve, em 1996, estive com o Avental e o Colar de Grão-Mestre do Marechal Gomes Freire nas mãos. Tenho inclusive o filme que fiz na ocasião mostrando estas alfaias, que têm quase duzentos anos, e que se encontram em muito bom estado de conservação. No Rio de Janeiro, acobertados pelo Clube Recreativo e Cultural da Velha Guarda, fundado por Gonçalves Ledo e mais 42 companheiros, continuava-se a conspirar pela independência do Brasil. Em 1821, descobertos, foram presos numerosos maçons “por serem perigosos alteradores da ordem” como se lia no Aviso expedido pelo Ministro Villa Nova Portugal. Mas muitos mais deixaram de ser presos. A informação do Intendente de Polícia, dada em 04.12.1821 ao Ministro, foi:
“Permita V. Excia. que diga ser impossível agir sem tropas fiéis, pois a que temos está na maioria filiada aos conspiradores, sendo conveniente mandar vir outra do Reino de Portugal, pois o movimento da independência é por demasia generalizado pela obra maldita dos maçons astuciosos, com a chefia de Gonçalves Ledo. José Bonifácio era do apostolado e era maçom, e foi iniciado perto da independência. Como todos sabem era ligado a D Pedro, logo deve ter participado da proibição dos trabalhos do GOB. A pergunta é: por que em 1831 foi, de novo, eleito Grão-Mestre do então adormecido GOB ? Como já dito acima, José Bonifácio nunca foi Iniciado. Entrou para a Maçonaria sem nunca passar pela cerimônia da Iniciação. Depois de sua fuga para Buenos Aires em 1822, Gonçalves Ledo retornou ao Brasil em 21.11.1823. Nesse meio tempo, tinham sido deportados os três Andradas e vários outros seus correligionários. A Loja Seis de Março de 1817, fundada em Recife em 1821, foi a única Loja no Brasil a permanecer ativa depois de 1822.Também ela adormeceu em setembro de 1824, ao ser abortada a revolução republicana fomentada pela Maçonaria pernambucana, para instalar a Confederação do Equador.
Esta revolução foi afogada em sangue. No Rio e em Pernambuco, foram 17 os enforcados. A principal vítima da Maçonaria foi o Irmão Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, fuzilado em 13.01.1825.Entre 1825 e 1929 foram escassas as atividades Maçônicas, devido à Lei sobre as Sociedades Secretas. Noticia-se apenas que em 1829 Gonçalves Ledo começou a reunir os maçons dispersos, em uma nova Loja Educação e Moral, cuja instalação foi feita pelo Irmão, então Ten. General, João Paulo do Santos Barreto, já no Rito Escocês. Finalmente, a Carta de Lei de 15.12.1830, com o novo Código Criminal, aliviou a pressão sobre as Sociedades Secretas: Ainda em 1829 é também fundada a Loja Amor da Ordem, que trabalhava no Rito Escocês. Finalmente, em princípio de 1830, é reerguida pelo Cônego Januário da Cunha Barbosa, o Irmão Kant, cujo bilhete de 30.10.1822 tinha salvo Gonçalves Ledo da forca, a Loja Comércio e Artes, que voltou a trabalhar no Rio Francês ou Moderno.Assim, Ledo preparou o terreno para futuramente reinstalar o GOB, antes de terminar o ano de 1830, com estas três Lojas: Educação e Moral, Amor da Ordem e Comércio e Artes. Entretanto, estas Lojas só mais tarde iriam se incorporar ao Grande Oriente, e não foram elas as que reconstituíram o GOB em 1830, e sim as Lojas Vigilância da Pátria, União e Sete de Abril. Estas lojas, que trabalhavam no rito Francês ou Moderno, não pertenciam ao grupo de Gonçalves Ledo. A reinstalação oficial do GOB só viria a ser feita em 24.06.1831, depois da saída de Pedro I - o Grão-Mestre nunca substituído -do Brasil. De direito, o novo Grão-Mestre só poderia ser o seu antigo Grão-Mestre Adjunto, o Irmão Turrene, Brigadeiro Luiz Pereira da Nóbrega Coutinho, nomeado em 17.08.1822. Na ausência deste, o Primeiro Malhete do GOB deveria pertencer a Gonçalves Ledo, seu Grande Primeiro Vigilante, que estava ainda muito vivo. J. Bonifácio havia deixado de ser Grão-Mestre desde 1822, quando entregara o malhete ao seu sucessor, D. Pedro; se os trabalhos recomeçavam depois de suspensos, segundo aparece na prancha convite, por que aparece o seu nome e não o do verdadeiro Grão-Mestre ou o daquele a quem a lei autorizava a substituí-lo em suas faltas?
O fato de ter sido escrito por Gonçalves Ledo e assinado por J. Bonifácio o Manifesto Maçônico de 05.12.1831, da reinstalação do GOB, significa apenas a trégua, passageira como veremos, feita entre os dois próceres, acertada que estava a incorporação ao GOB das Lojas lideradas pelo Ledo.
Aliás, grande foi o escândalo nos meios maçônicos onde “os cultivadores das virtudes, os patriotas honrados, os amigos da liberdade e da independência da Pátria, os genuínos Maçons brasileiros”, nunca se ligariam a um corpo maçônico a cuja frente se acatava o maior perseguidor da maçonaria brasileira”...Em princípios de 1833 a loja Educação e Moral, da qual era Venerável Joaquim Gonçalves Ledo, filiou-se ao Grande Oriente do Passeio, fundado em 1829, por não “suportar o jugo andradino por longos....4 meses”. Esta Loja tinha sido declarada irregular pelo GOB, por se ter recusado a elevar ao Grau 18 diversos obreiros do GOB, alegando, com firmeza, que não poderia concederaquele grau a Irmãos não iniciados no REAA.

Bibliografia
Achegas para a História da Maçonaria no Brasil – Maçonaria Heróica – Isa Ch’na
The English Craft in Brazil – James Martin Harvey
Nos Bastidores do Mistério – Adelino de Figueiredo Lima
A Maçonaria e a Grandeza do Brasil – A. Tenório D’Albuquerque