terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Iniciação do Guerreiro

Paulo Guilherme Hostin Sämy

1. As iniciações

A literatura iniciática raramente se ocupa do guerreiro e de seu processo iniciático, enfatizando antes o estudo das iniciações chamânicas, considerando que o estágio ulterior e evolutivo conquistado pelos chamãs de todo o tipo, - feiticeiros curadores do corpo e da alma -, poderá colaborar mais intensamente à evolução individual de cada estudioso – outrora dito iniciado – envolvido em seu projeto iniciático.

Portanto, passa-se à margem do conhecimento a respeito desta iniciação, a do guerreiro, suplantada, em beleza aparente, pelas demais, cuja simbologia e cujo discurso, embora análogos, encantam vista e ouvido quando expressas em linguagem artística, quer verbal quer visual, todas estruturadas, contudo, sobre símbolos do inconsciente humano recolhidos ao longo de sua história, como adequadamente anotou Karl Gustav Jung, o psicanalista suíço em sua obra.

Mircéa Eliade (1907-1986) internacionalmente conhecido pelo estudo das iniciações e como ‘inventariante de mitos’, com conhecimentos adquiridos inicialmente na Índia, onde viveu de 1928 a 48, e posteriormente junto a tribos indígenas diversas, soube emoldurar a iniciação dos guerreiros, destacando-lhe seu universo iniciático, como na monografia ‘Nascimentos Místicos’ – ‘Naissances Mystiques’. À contracapa desta edição de ‘Éditions Gallimard’ de 1959, assim a resume o apresentador da obra: ‘É uma afirmação corrente que o mundo moderno, entre outras características, se distingue (do mundo antigo) pelo desaparecimento da iniciação. De uma importância capital nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente ausente da sociedade ocidental de nossos dias.’ E mais adiante: ‘Com vistas a separar os diversos tipos de iniciação, o Autor (Eliade) estuda sucessivamente os ritos de puberdade dos primitivos, as cerimônias de entrada nas sociedades secretas, as iniciações militares e chamânicas, os mistérios greco-orientais, a sobrevivência de motivos iniciáticos na Europa cristã e, enfim, as relações entre certos motivos iniciáticos e certos temas literários.’

Sobre a iniciação, eis como se expressa Eliade: ‘Compreende-se geralmente por iniciação um conjunto de ritos e de ensinamentos orais, que persegue a modificação radical do estatuto religioso e social do sujeito a iniciar. Filosoficamente falando, a iniciação equivale a uma mutação ontológica do regime existencial. Ao fim de suas provas, o neófito goza de outra existência que a anterior à iniciação: tornou-se um outro.’ E mais adiante: ‘A iniciação introduz o neófito na comunidade humana e no mundo dos valores espirituais. Aprende comportamentos, técnicas e instituições dos adultos, como também mitos e tradições sagradas da tribo, nomes dos deuses e a história de suas obras: aprende, sobretudo as relações místicas entre a tribo e os Seres sobrenaturais assim como foram estabelecidas na origem dos tempos’. (págs. 10 e 11 da obra citada.)

E prossegue, na tentativa de expressar sua percepção sobre o tema: ‘É, pois aos conhecimentos tradicionais (da tribo) que têm acesso os neófitos. São longamente instruídos por seus tutores; assistem a cerimônias secretas, sofrem uma série de provas, e são, sobretudo estas que constituem a experiência da iniciação: o reencontro com o sagrado.’

Eliade assim começa sua Introdução na obra citada: ‘Tem-se afirmado muitas vezes que uma das características do mundo moderno é o desaparecimento da iniciação. De uma importância capital nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente inexistente na sociedade ocidental de nossos dias.’ E mais adiante: ‘A originalidade do ‘homem moderno’, sua novidade em relação às sociedades tradicionais, é precisamente sua vontade de se considerar um ser unicamente histórico, seu desejo de viver num Cosmos radicalmente dessacralisado.’

Contudo à pág.253 deste livro diz: ‘Traços de antigos cenários iniciáticos são ainda reconhecíveis (atualmente) nos ritos específicos dos maçons e dos ferreiros, particularmente na Europa oriental.’ Reflexão interessante quando se considera que não nos brindou com estudos sobre a maçonaria, embora a mencione à pág. 270 desta mesma obra: ‘O único movimento secreto que apresenta uma certa coerência ideológica, que já possui uma história e que goza de um prestígio social e política é a franco-maçonaria. O resto das organizações com pretensões iniciáticas são, na maioria, improvisações recentes e híbridas’.

Já à pág. 266, no capítulo ‘Algumas Observações Finais’, diz Eliade: ‘Mas é preciso igualmente ter em conta o caráter meta-cultural da iniciação: encontram-se os mesmos motivos iniciáticos nos sonhos e na vida imaginária tanto do homem moderno quanto do primitivo. Para repetir, trata-se de uma experiência existencial constitutiva da condição humana. Eis porque é sempre possível reanimar esquemas arcaicos de iniciação nas sociedades altamente evoluídas.’

Esta última Observação, não só ratifica a pesquisa de Jung a respeito dos ‘símbolos transcendentes’ produzidos pela mente humana, quanto ainda deixa-nos pistas da iniciação do guerreiro através dos tempos, objetivo destes Apontamentos, sempre e, sobretudo um tributo a este grande Mestre e iniciador contemporâneo, objetivo último de sua obra.

2. A iniciação do guerreiro, segundo Éliade, em ‘Nascimentos Místicos’.

Em ‘Nascimentos Místicos’, Eliade, além de três capítulos onde estuda ‘ritos da puberdade’, acrescenta outro sobre ‘iniciações individuais e sociedades’ e, por fim, um quinto capítulo sobre ‘iniciações militares e iniciações chamânicas’, págs. 174 a 217.

‘Tornar-se berserkr’ou um guerreiro com uma capa ou ‘envelope’ – pele - (serkr) de urso, forte como um urso ou um lobo, era um objetivo de ‘sociedades de homens’ de antigas civilizações indo-européias, como a germânica. Fácil entender que o urso, por sua capacidade de sobrevivência no frio, através da hibernação, era um animal totêmico e referencial, sendo sua pele, em virtude das características de resistir ao frio, hoje conhecidas, um ‘envelope’ mágico a ser assimilado. Ademais, conhecedores e observadores do urso, ali identificavam um excelente caçador, quer em terra firme quer junto aos rios recolhendo peixes, qualidade, a da caça, essencial à sobrevivência nos longos invernos nevados.

Ensina Éliade: ‘Torna-se berserkr após uma iniciação, com provas especificamente guerreiras. Assim por exemplo, junto a tribos germânicas como os ‘Chatti’, nos diz Tácito (autor latino em ‘Germânia’) o postulante não cortava nem cabelos nem barba antes de haver matado um inimigo. Entre os ‘Taifali’, o candidato deveria abater um javali ou um urso, e entre os ‘Heruli’ deveria combater sem armas. Através destas provas, o postulante se apropriava d modo de ser de uma fera: tornava-se um guerreiro respeitável na medida em que se comportasse como uma fera predadora.’

Narra em seguida outro conto iniciático em que o postulante – um tal Sigmund – após provas de coragem e resistência a sofrimentos físicos, experimenta a transformação mágica em lobo, cuja metamorfose, ocorrida após o revestimento ritual de sua pele, constituía num momento essencial da iniciação nestas sociedades masculinas ou de homens, Männerbund.

Um filme americano de anos recentes – ‘Um homem chamado Cavalo’ – narra um interessante processo de transformação de um cidadão comum em guerreiro, em virtude dos muitos sofrimentos que enfrenta nas mãos de determinada tribo.

‘A prova guerreira por excelência, segundo nosso autor, era o combate individual, conduzido de tal maneira que culminava por liberar no neófito o ‘furor dos berserkir’. Não era questão de uma proeza puramente militar. Não se tornava berserkr unicamente por bravura, por força física ou por resistência, mas em seguida a uma experiência mágico-religiosa que modificava radicalmente o modo de ser de um jovem guerreiro’, e ‘que deveria transmutar sua humanidade por um acesso de fúria agressiva e aterradora, assimilada aos (animais) carniceiros enraivecidos’.

Ao longo da história medieval, podemos recolher as muitas imagens de animais selvagens incorporados à heráldica dos guerreiros, patronos ‘espirituais’ às suas atividades de combate.

A este furor do guerreiro está associada a liberação de um ‘calor’ interior, através da ingestão de variados alimentos capazes de provocá-lo, como o próprio fumo e plantas picantes, atividades que os chamãs também desenvolvem para aumentar o ‘calor’ interior, ‘um excesso de potência e, como acontece nos níveis arcaicos da cultura, toda potência é acompanhada de um prestígio mágico-religioso’. Por fim, ainda menciona as experiências chamânicas de ‘comer carvões brilhantes’, ou ‘tocar o ferro em brasa’, ou ‘marchar sobre o fogo’, experiências recolhidas por atores circenses ou mesmo de rua, e que expressam este domínio e incorporação do ‘calor’, de um certo calor mágico e iniciático, próprio dos guerreiros e cujo alcance os auxilia em sua transformação anterior, revelando-a por fim, ter ocorrido.

Experiências igualmente apresentadas por ‘filhos de santo’ nas religiões afro-brasileiras como as do candomblé ou da umbanda, em que o ‘médio’, sob a influência de determinadas entidades associadas a forças guerreiras, como a de Ogun e toda sua linhagem, entre em contato com o fogo e com o carvão em brasa, como manifestações daquela entidade em ação ou incorporada, com a qual justamente alega manter ou ter mantido contato espiritual, sem que apresente, ao cabo, fim da manifestação, lesões físicas expressivas em seu corpo, o que funciona como prova da qualidade da entidade manifestada.

3. Dominadores do fogo: alquimistas, ferreiros e guerreiros.

Em seu outro clássico ‘Ferreiros e Alquimistas’ – (‘Forgerons et Alchimistes’ – Ed. Flammarion, 1977)) - Éliade nos relembra a função mítica de heróis civilizadores que trouxeram o fogo ao homem para que pudesse ampliar seu poder sobre a matéria, e colocá-la sobre seu domínio e seu uso.

Com efeito, uma visita reflexiva ao interior da Terra, ao estado caótico e líquido em que se encontra ali a matéria, em elevada temperatura, - informação que os antigos não possuíam, embora conhecessem os vulcões – nos mostra que de seu gradual resfriamento surgiram os diversos metais. Portanto o fogo é o elemento dissolvedor capaz de, ao liquefazê-los, possibilitar não só novas combinações – sempre o alvo da alquimia – como ainda a sua moldagem, como tem sido a arte da metalurgia desde tempos primitivos.

Se a alquimia clássica ainda não estabelecera um elo mais intenso com o então primitivo complexo industrial-militar, mal grado a incorporação do uso da pólvora para o lançamento de projéteis dos canhões em torno do século XIV, a metalurgia, moldando armamentos e armaduras de todos os tipos, integra este referido complexo desde tempos imemoriais, havendo toda uma zona comum iniciática entre guerreiros e ferreiros na elaboração e construção dos arsenais ao longo da história.

Alquimistas e ferreiros são usuários do fogo de primeira hora, herdeiros dos heróis civilizadores que presentearam o homem, em vários cantos do planeta Terra, com este outrora quarto elemento sagrado, princípio só explicável pela química no século XVIII.

Mas os guerreiros, ao longo de sua história, foram gradualmente incorporando o fogo como arma de guerra, elaborando alternativas de lançá-los sobre seus inimigos e suas cidades, culminando ou com as grandes bombas atômicas como as lançadas sobre o Japão na 2ª Guerra Mundial, ou com os pequenos lança-chamas muito usados então, e por fim com as bombas incendiárias de ‘napalm’, usadas na guerra do Vietnã pelos norte-americanos.

Neste livro, Éliade, em capítulos como: ‘Meteoritos e metalurgia’, ‘Mitologia da Idade do Ferro’, ‘Terra Mater. Petra Genitrix.’, ‘Ritos e mistérios metalúrgicos’, ‘Simbolismos e rituais metalúrgicos babilônicos’, ‘Mestres do fogo’, ‘Ferreiros divinos e heróis civilizadores’ e ‘Ferreiros, guerreiros, mestres de iniciação’, busca recolher uma trilha para a história humana que encaixe vários elementos ígneos, a partir de raios, trovões e meteoritos caídos sobre a superfície da Terra a povoar a imaginação dos povos primitivos com divindades poderosas e dominadoras do fogo e respectivos herdeiros que, ‘naquele tempo’ mágico, introduziram o fogo como elemento civilizacional. Trilha que prossegue na História, com muitos seguidores nesta senda iniciática, construindo múltiplos artefatos a serviço do homem, na paz e na guerra, de crescente e redobrada importância nos dias atuais, justificando o estudo do contexto iniciático dos guerreiros e de seus parceiros fundamentais, os ferreiros.

No último capítulo supracitado diz, à pág. 82: ‘Numa versão egípcia, Ptah (O deus-oleiro) forja as armas que permitem a Horus vencer Set. Igualmente o ferreiro divino Tvashtri forja as armas de Indra quando de seu combate com o Dragão Vrtra; Hefaísto forja o raio graças a qual Zeus triunfará de Tifão; Tor mata a serpente com seu martelo, forjado pelos anões.’ E continua: ‘Mas a cooperação entre o Ferreiro divino e os Deuses não se limita a seu concurso no combate pela soberania do mundo. O ferreiro é igualmente o arquiteto e o artesão dos deuses. Kôshar constrói os arcos dos Deuses, dirige a construção do palácio de Baal, e equipa os santuários de outras divindades.’

No Alcorão, a importância do elemento ‘ferro’ é descrita no 25° versículo, da 57ª Surata, intitulada ‘Al Hadid’, conforme tradução disponível na Internet do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Nova Iguaçu: ‘Enviamos os Nossos mensageiros com as evidências: e enviamos, com eles, o Livro e a balança, para que os humanos observem a justiça; e criamos o ferro(1601), que encerra grande poder (para a guerra), além de outros benefícios para os humanos, para que Deus Se certifique de quem O secunda intimamente, a Ele e aos Seus mensageiros; Sabei que Deus é Poderoso, Fortíssimo.’

Éliade identifica relações entre a habilidade do ferreiro e outras atividades intelectuais como a música, a cura, e os tiradores ou leitores da ‘sorte’, das tribos ciganas.

À pág. 89 ensina: ‘As sociedades de homens guerreiros, na Europa, na Ásia Central e no Japão, desenvolviam ritos iniciáticos onde o ferreiro e o ferrador de cavalos tinham seu lugar. Sabe-se que após a cristianização da Europa nórdica, Odim e a ‘caça furiosa’ foram assimiladas ao Diabo e às hordas de ‘danados’. Deu-se grande passo para a assimilação do ferreiro e do ferrador ao último. O domínio do fogo, comum ao mundo mágico, como ao do chamã e ao do ferreiro, foi considerado no folclore cristão como obra diabólica: uma das imagens populares mais freqüentes apresenta o Diabo cuspindo fogo em chamas. Talvez tenhamos aqui a última transformação mitológica da imagem arquetipal do ‘Mestre do Fogo.’

E à pág. 90, que nos serve como conclusão deste capítulo: ‘É esta intimidade, a simpatia com o Fogo que tornam convergentes experiências mágico-religiosas tão diferentes e solidarizam vocações tão díspares entre si como as do chamã, do ferreiro, do guerreiro e do místico.’

No Brasil, como mencionamos acima, os ritos do candomblé e da umbanda oferecem este espetáculo do relacionamento de seus adeptos com as divindades protetoras do ferro e do fogo.

4. De Tubal-Cain a Adoniran ou Hirã Abif: linhagem mítica

Em seu livro ‘Viagem ao Oriente’, publicado em edição definitiva em 1851, o autor Gerard de Nerval (1808-1855), intelectual francês e igualmente tradutor da primeira versão francesa do ‘Fausto’ de Goethe – portanto conhecedor deste plano cultural alquímico – narra, num curioso conto intitulado ‘Uma Lenda num Café’, a história que diz ter ali ouvido a respeito da visita da Rainha de Sabá a Salomão, envolvendo a participação de Hirã Abif, mito e herói da Bíblia e da maçonaria, durante os festejos havidos para comemorar tal visita.

Pois nesta visita, Salomão exibiria à Rainha, uma ‘corrida’ de estanho fundido – a rigor teria sido bronze – no momento em que saía da fornalha para preencher os diversos moldes dos objetos e estátuas em produção pelo admirável mestre Adoniran e sua equipe de obreiros maçons. Traído e sabotado por três companheiros, que haviam misturado pedras combustíveis às pedras de sua fornalha, que se rompeu – insucesso de Adoniran neste dia, fruto da sabotagem – provocando uma corrida desordenada daquele ‘mar’ líquido de bronze, ou estanho, culminando com sério acidente que lhe desgostou profundamente. Acabrunhado e desolado Adoniran, sentado ao lado do local do acidente, recebe a visita de um espírito que diz ser o antepassado primeiro de sua linhagem de ferreiros – Tubal-Cain – que vai guiá-lo numa viagem ao centro da Terra, ao Mundo Subterrâneo, para iniciá-lo no conhecimento da saga de seus descendentes e antepassados de Adoniran-Hirã. Ao cabo desta visita, Adoniran-Hirã recebe um martelo de Tubal-Cain, para desmontar a estrutura destruída pela ‘corrida’ frustrada do metal líquido. Um conto longo, mas que merece ser lido pelos estudiosos de Hirã, arquiteto mas igualmente ferreiro, descendente mítico portanto, segundo esta tradição recolhida à cultura árabe, de uma linhagem de ferreiros que alcança Caim.

5. A arte da guerra dos chineses: de 500 a.C. a Mao Tsé-Tung

Guerras e guerreiros cobrem toda a história dos homens. Na China, 500 anos A.C., um pensador e estrategista militar, Sun Tzu, anotou seus pensamentos sobre a atividade da guerra e a dos guerreiros num sucinto livro, um clássico sobre a matéria, redescoberto no Ocidente por um missionário jesuíta em Pequim, Padre Amiot, que o publicou em 1772 em Paris, mas que só ganhou a posição de ‘best-seller’ neste último século.

A edição através da qual tomei contato com a obra, foi a da Flammarion, 1972, traduzindo, por seu turno, os comentários do General Samuel B. Griffith, cujos conhecimentos de cultura chinesa e de estratégia militar possibilitaram-no elaborar monografia introdutória à mesma. Diz que a ‘tentativa de Sun Tzu é a primeira conhecida com vistas a estabelecer um fundamento racional para a planificação e a conduta de operações militares.’ ‘Acreditava que a estratégia hábil deve ser capaz de submeter o exército inimigo sem engajamento militar, de tomar cidades sem sitiá-las e de derrubar um Estado sem ensangüentar as espadas’. Segundo este autor, a ‘Arte da Guerra’ de Sun Tzu exerceu uma profunda influência ao longo da história da China, bem como sobre o pensamento militar japonês, tendo ainda sido fonte de teorias estratégicas desenvolvidas por Mao Tsé-Tung.

O comentarista General Griffith funda sua monografia em seis capítulos: o Autor; o texto; os Reinos Combatentes (daquela época); a guerra ao tempo de Sun Tzu; a guerra em sua ótica e Sun Tzu e Mao Tsé-Tung. Busca sintetizar o texto: ‘As doutrinas estratégicas e táticas expostas na ‘Arte da Guerra’ são baseadas na astúcia, na criação de aparências enganadoras para mistificar o inimigo, no avanço por vias inesperadas, na faculdade de adaptação instantânea à situação do adversário, na manobra leve e coordenada dos elementos de combate distintos e na rápida concentração (de força) em pontos fracos.’ E mais adiante: ‘Aquele que se fez mestre na arte da conquista desarma os planos de seu inimigo, deslocando suas alianças. Cavando um fosso entre soberano e ministro, entre superiores e inferiores, entre chefes e subordinados. Seus espiões e agentes atuam em todos os lados, recolhendo informações, semeando a discórdia e fomentando a subversão. O inimigo era isolado e desmoralizado, sua capacidade de resistência quebrada. Assim, sem combate, seu exército seria conquistado, suas cidades tomadas e seu governo derrubado. Somente quando não fosse possível destruir um adversário por esses meios, é que se recorreria à força armada para triunfar’.

Em sua obra, Sun Tzu apresenta treze famosos capítulos: Aproximações; A conduta da guerra; A estratégia ofensiva; Disposições; Energia; Pontos fortes e fracos; Manobra; As nove variáveis; Marchas; O terreno; As nove espécies de terreno; O ataque pelo fogo; A utilização de agentes secretos.

Sun Tzu ao longo de cada um destes capítulos discorre sobre pontos a serem assimilados pelo guerreiro caso queira chegar a bom termo em suas campanhas militares, clamando sempre por prudência – qualidade hoje em desuso - e objetividade analítica, ambas fundamentais a quem se dedique à arte da guerra. A rigor um texto essencial à iniciação do guerreiro, sintético e permanecendo vivo ao longo de 25 séculos, uma das ferramentas de estudo que possibilitou a Mao Tsé-Tung, através de guerrilhas, conquistar o poder central da China em 1949, governando-a a partir de então e criando as bases da China moderna e de seu espantoso crescimento atual. Embora conhecendo muitas derrotas deste o início de sua Marcha em 1935, até a conquista do poder, Mao explicava sua estratégia: "A revolução chinesa será feita com longas e complicadas guerrilhas de gente do campo estabelecendo posteriormente áreas liberadas que se tornarão cada vez mais extensas".( site: http://br.share.geocities.com/fusaobr/mao.htm)

6. Guerreiros da Suíça moderna (também existem!)

Em interessante obra ‘A Praça da Concórdia Suíça’, o jornalista americano John McPhee, então do ‘New Yorker’, narra a sua experiência em treinamentos militares naquele país.

A contracapa do livro, na edição traduzida ao francês de 1986, sintetiza: ‘A Suíça não tem um exército: a Suíça é um exército. Ela não fez guerra depois de quinhentos anos, mas seiscentos e cinqüenta mil homens podem ser mobilizados em menos de vinte quatro horas. Fenômeno único no mundo, este exército reconstitui em sua estrutura secular todas as características sociais, psicológicas e mesmo culturais da sociedade que tem por missão defender’.

Extraí algumas observações do livro em questão, sendo as mais significativas: a) 10% da população suíça é treinada para a defesa de seu território através da estratégia de guerrilha, atuando não só na floresta, como em túneis e em subterrâneos diversos; b) treinamento de sua milícia feito ao longo de trinta anos, por curtos períodos a cada ano, possibilitando à tropa ampliar gradualmente seu conhecimento do terreno nacional para operações de defesa; c) convocação individual, para encontro em pontos específicos identificados pelos comandos; d) adestramento de mobilidade da tropa, carregando armas leves e pesadas, por diversos meios de locomoção; e) desenvolvimento de uma estrutura de defesa contra invasões nas fronteiras, com o apoio de foguetes; f) desenvolvimento de táticas de guerrilha em caso de invasão; g) defesa da população civil em túneis, subterrâneos e porões dos edifícios contra bombas e foguetes; h) utilização de túneis e subterrâneos para armazenagem de bens, alimentação e de equipamentos militares.

Portanto pode-se inferir que tal treinamento do guerreiro suíço se aproxima das técnicas de guerrilha moderna, como demonstrou o exército do ‘Hezbollah’ no Líbano em 2006, ao rechaçar o ataque do exército israelense: mobilidade dos guerrilheiros, frente de combate em contínua mutação e utilização de foguetes de médio alcance, versão moderna do velho ‘ataque pelo fogo’ dos chineses, integrando capítulo específico da ‘Arte da Guerra’ de Sun Tzu, supracitado.

O livro suiço oferece inúmeras observações interessantes, destacando-se apenas as relevantes para identificar o perfil do guerreiro ali forjado. Por outro turno, o livro não aprofunda conceitos referentes aos conhecimentos tecno-científicos que os soldados devam alcançar, mas menciona o treinamento rigoroso experimentado pelos integrantes de seu Estado Maior (pág. 94), bem como a conexão de muitos deles com expressivas empresas e bancos suíços.

7. Mas os ferreiros continuam produzindo!

‘A industrialização da Inglaterra no século XVIII, uma modificação de estruturas econômicas e sociais, prepara a revolução industrial, conceito introduzido por Blanqui em 1837 e por F. Engels em 1845’.(Atlas Histórico da Stock, 1968, pág. 317).

Uma sucessão de novas invenções: emprego do coque na metalurgia (Darby, 1735), máquina a vapor (Watt, 1769), ateliê têxtil (Cartwright, 1785 e Jacquard, 1804) e conseqüentes revoluções na indústria têxtil e dos meios de transporte: navio a vapor (Fulton, 1807), locomotiva (Stephenson, 1814), acabou por transformar a Inglaterra no ‘ateliê industrial do mundo’. (idem, pág. 305)

Descobertas científicas diversas nos séculos XVII e XVIII - na matemática, na física, na biologia e na química - tornaram possíveis as novas invenções, possibilitando à Inglaterra ser o núcleo desta Revolução, inda que com uma população relativamente pequena para os padrões atuais – 13 milhões em 1780 e 27,4 milhões em 1851 – embora já com sua ampla rede de províncias-mercado. (‘The Oxford History of Britain’, 1994, pág. 425)

‘O desenvolvimento industrial não seguiu uma predeterminada ou previsível rota para o sucesso. O processo foi gradual e casual. Adam Smith olhava a indústria com suspeição; mesmo nos anos de 1820, economistas duvidavam que a tecnologia pudesse melhorar os padrões usuais do viver. Em 1688 mineração, manufatura e construção produziam 20% da renda nacional, e em 1800 a manufatura figurava com 25% e comércio e transporte com 23%’. (idem, 424).

Portanto, titubeante a princípio e mesmo criticada, a Revolução Industrial inglesa se espalhou pelo mundo como um novo padrão de produção na história humana, trazendo benefícios muitos e alguns malefícios, entre os quais a otimização das guerras com a introdução final das armas atômicas de destruição em massa, como as bombas jogadas pelos americanos sobre as populações civis de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, dizimando-as.

Mas a indústria da guerra, derivada da Revolução Industrial, não eclode com tanta força antes da 1ª Grande Guerra Mundial de 1914/18 que permite testar, além dos armamentos adiante citados, igualmente o uso de gases químicos e até mesmo o principiante avião. O Atlas Histórico supracitado, à pág. 339, cita os principais progressos do século XIX e respectivos inventores: 1835: revólver, Colt; 1836: fuzil à agulha, Dreyse; 1850: submarino, Bauer; 1866: torpedo, Whitehead; 1867: dinamite, Nobel; 1833: metralhadora, Maxim; 1911: carro de assalto, Burstyn.

Da 1ª à 2ª Guerra Mundial, a Revolução Industrial colaborou intensamente, ampliando o poder de fogo à distância, culminando com as bombas atômicas. Viabilizou-se o deslocamento de tropas, com transportes sofisticados, em terra, mar e ar, e ampliou-se o poder de destruição e de morte. E por fim surgem o avião e depois o foguete, novas e sofisticadas formas tecnológicas da guerra pelo ar, cujo protótipo na Antiguidade eram as flechas de fogo e serão amanhã foguetes de todo tipo, com carga nuclear, capaz de infectar alguns quarteirões ao redor de sua queda ou toda uma cidade.

Se ciência e tecnologia, vetores fundamentais da Revolução Industrial, otimizaram a vida do homem sobre a Terra, ampliando-lhe idade média e melhorando sobrevivência e bem estar - alimentação, habitação, transportes, comunicação, saúde e educação – de outro lado, como um verdadeiro ‘eixo do mal’, ciência e tecnologia alimentaram a capacidade de destruição em massa de homens, famílias, cidades e respectiva riqueza, como a recente destruição do Iraque perpetrada pelos Estados Unidos da América nos exibe diariamente na televisão.

Liberado o poder de destruir, restam aos homens e às sociedades nas quais vive, a construção de estratégias de defesa contra o suposto e inesperado ataque alheio, como ensina a ‘História da estratégia militar depois de 1945’ de André Collet, em ‘Que sais-je?’, de 1994, defesas ancoradas mais e mais na capacidade tecnológica e industrial. Ao lado de sintetizar fundamentos da estratégia na história recente, o autor narra a evolução desta doutrina nos principais países do globo: Estados Unidos, União Soviética posteriormente Rússia, China e França.

Sintetiza André Collet as evoluções da doutrina estratégica americana entre 1945 e 1992, a saber: 1947 - ‘Construção de diques’, doutrina do presidente Truman; 1954 - ‘Represálias massivas’, início da dissuasão nuclear, Doutrina John Foster Dulles, adotada pela OTAN; 1962 - ‘A resposta gradual’, General Maxwell Taylor, posteriormente adotada pela OTAN; 1965-74 - ‘Corretivos à resposta gradual’ – ‘Destruição mútua assegurada’ (MAD, 1965), posteriormente doutrina James Schlesinger (janeiro 1974) e Harold Brown; 1976 - ‘A defesa por antecipação’: Conduta de operações explicitada pela Manual de Campanha FM 100-5 Operations; 1982 – Batalha Aéreo-terrestre: nova conduta às operações explicitadas no Manual de 1976, doutrina Rogers própria à Europa; 1990 – Novas Orientações Estratégicas: Presidente Bush, pai, em 1990.

Tais evoluções ou alterações doutrinárias, muito antes de serem alterações correlacionadas a terreno, tropa, gestão ou tipo do ‘inimigo’, são ajustes derivados da evolução tecnológico-militar, novo padrão oriundo da Revolução Industrial, crescentemente explorado pelos países na vanguarda tecnológica.

Mas se outrora se dizia que a guerra era responsável por progressos tecnológicos diversos, como por exemplo, os da ciência médica – para o que, aliás, colaboram igualmente desastres de trânsito – e nos últimos 50 anos os da Guerra Fria, o simples preparo para hipotéticas guerras introduziu uma cunha na Revolução Industrial, fazendo surgir e sistematizando o complexo industrial militar, hoje no poder das grandes potências, essencial para facilitar a transferência de recursos para seu desenvolvimento.

Em ‘Postmodern War’ - ‘The New Politics of Conflict’, publicado em 1997, Chris Hables Gray, Ph.D. em Ciência e Tecnologia na Universidade de Great Falls em Montana, EUA, narra a atualidade das guerras e usos da ciência, as primeira e segunda guerras mundiais, as pós-modernas, - Vietnã ou Golfo -, a hipótese da 3ª guerra mundial, esboçando por fim o futuro, com crescente colaboração entre cientistas e militares, que devem adquirir especializações científicas diversas, num estágio contínuo de pré-guerra, desenhado pelo ‘complexo industrial militar’.

8. Guerreiros e cientistas.

No capítulo à pág. 219, ‘Projeto ‘Forecast II: Força Aérea do Século XXI’ cita tendências desta Força, ensinando que ‘nos projetos futuros o papel de civis independentes têm continuamente declinado, enquanto a importância do pessoal militar com graduação científica trabalhando diretamente com o Departamento de Defesa aumentou proporcionalmente’, acrescentando ainda o ‘significante treinamento de oficiais em disciplinas técnicas e científicas’.

Mudou o padrão duas vezes: o complexo industrial militar se apropriou da Revolução Industrial, tornando-se sua força motriz, e os militares começam a se apropriar deste novo complexo, impulsionando sua performance, para muito além das estratégias doutrinárias clássicas: transformando agora o progresso científico militar na própria estratégia militar, doravante calcada neste progresso.

Assim deve ser entendida e ensinada a Revolução Industrial nas escolas: mudança de padrão, avanço tecnológico e sua transformação última no complexo industrial militar.

No Cap. VII da monografia sobre ‘Guerras Pós-modernas’, Chris Gray abordando ‘Guerra Futura: Planos Militares Americanos para o Milênio’, (págs. 212 a 226) cita o Gen. Hap Arnold, pai da Força Aérea americana, ao dizer que a ‘aliança entre os militares e a ciência era tanto política quanto estratégica’. E acrescenta Gray: ‘Começando em 1945 com ‘Rumo a Novos Horizontes’, os militares americanos iniciaram estudos para entender futuras guerras em termos de futuras tecnologias, juntando, numa série de conferências, futuristas, cientistas, escritores de ‘science fiction’, oficiais militares e burocratas civis’ (pág. 216). Muitos destes estudos se transformaram em parcela da ideologia norte-americana de guerra, transposta ao cinema nestes últimos quarenta anos.

Mas como mencionou Gray neste capítulo, a Força Aérea já busca treinar ‘significante número de oficiais em disciplinas técnicas e científicas’, uma nova iniciação do guerreiro, dentro de um conjunto de reformas para estabelecer a ciência dentro da Força Aérea, entre as quais aponta: ‘estabelecer um Quadro de Assessoria Científica e escritórios de ciência em comandos como os de inteligência; investir num largo programa de Pesquisa e Desenvolvimento com conexões a universidades e laboratórios industriais e fundar novos laboratórios de pesquisa para a Força Aérea, além do treino de oficiais em ciência (pág. 217).’

E conclui: ‘A Força Aérea tem liderado o caminho para institucionalizar a guerra pós-moderna, especialmente o papel da ciência e a inovação da inovação’.

Da pele do urso ou do javali, aos uniformes tecnológicos do ‘cyborg’, o impulso do guerreiro se sofistica e se transmuta, alquimicamente, mas é o mesmo padrão cultural que percorre esta história pouco conhecida entre nós: a da iniciação do guerreiro.

9. Mitos iniciáticos dos guerreiros

Os mitos continuam vivos, auxiliando a compor a iniciação do guerreiro no campo ético e emocional. O Ocidente é farto destes mitos desde os lendários Cavaleiros da Távola Redonda, reunidos em torno do Rei Artur, na remota ou mítica Inglaterra de seu tempo primordial, reatualizados nos tempos das Cruzadas – séculos XII e XIII – com a saga dos Templários, conservada na tradição maçônica de origem quer inglesa quer escocesa, saga a que se seguem os muitos heróis de guerra – e não foram poucos na História Moderna, a partir do século XVI – até, por exemplo, o atual James Bond, um surpreendente J:.B:., guerreiro moderno, com resistência física e intelectual surpreendentes, carregando consigo a ‘licença imperial para matar’ os inimigos do reino britânico, equipado com armas e tecnologia de vanguarda, cristalizando em si o máximo de performance a que um guerreiro, atuando quase que isoladamente, logra alcançar.

Os mitos continuam vivos em diversos graus maçônicos – Cavaleiro Templário, Cavaleiro de Malta, Cavaleiro Rosa Cruz, Cavaleiro da Cruz Vermelha de Constantino – para citar apenas os mais conhecidos, contudo sempre relembrados e suscitando sua contínua reelaboração, uma forma iniciática teórica.

10. Concluindo: a contínua e evolutiva iniciação do guerreiro

Ao início destes Apontamentos, mencionávamos a expressão de Eliade sobre a iniciação: ‘um conjunto de ritos e de ensinamentos orais, que persegue a modificação radical do estatuto religioso e social do sujeito a se iniciar. Filosoficamente falando, a iniciação equivale a uma mutação ontológica do regime existencial. Ao fim de suas provas, o neófito goza de outra existência que a anterior à iniciação: tornou-se um outro.’

O neófito que se submeteu à iniciação do guerreiro, gradualmente a assimilará, transpondo os muitos estágios culturais e civilizacionais que a expressaram ao longo da História, até o momento atual, marcadamente técnico em sua forma de ser, mas nem por isto menos mítico.

E mítico porque, como ensina Eliade: ‘A iniciação introduz o neófito na comunidade humana e no mundo dos valores espirituais. Aprende comportamentos, técnicas e instituições dos adultos,’ - por exemplo a História das guerras, de suas técnicas e respectivos armamentos –‘ como também mitos e tradições sagradas da tribo, nomes dos deuses e a história de suas obras: aprende, sobretudo as relações místicas entre a tribo e os Seres sobrenaturais assim como foram estabelecidas na origem dos tempos’.

Medita continuamente sobre os heróis guerreiros de seu povo, de sua tribo ou de sua História, por leitura, narração, ou pelo cinema que, ao trazer à tela os muitos heróis do passado – Cavaleiros do Rei Artur, Templários e James Bonds – desempenha um papel suplementar de iniciador simbólico ao mito de guerreiro.

E por fim ensina Eliade: ‘É, pois aos conhecimentos tradicionais (da instituição guerreira a qual se filia) que têm acesso os neófitos. São longamente instruídos por seus tutores; assistem a cerimônias secretas, sofrem uma série de provas, e são, sobretudo estas que constituem a experiência da iniciação: o reencontro com o sagrado.’

No caso em pauta, o reencontro com o mito do guerreiro, da forma em que este mito possa ser reassumido a cada momento histórico: na Grécia de Alexandre o Grande, com determinado formato; na Roma de Júlio César, outro. E assim, reencarnando-se e se atualizando continuamente através da História: na Idade Média, com as Cruzadas e os Templários; na Renascença, com conquista do Novo Mundo e do Oeste americano, pelos invasores europeus; depois com a iniciação nos exércitos regulares e nas muitas guerras que se sucederam, como as I e II mundiais e, por fim, hoje neste preparo para guerras inimagináveis com amplo suporte tecnológico.

A evolução das técnicas da atividade do guerreiro, a exigir doses menores de esforço físico, em benefício de crescente esforço intelectual, tal evolução se faz a partir, de um lado, de uma iniciação básica que desvenda, à cada época, o verdadeiro guerreiro, que se apossa de sua mitologia com plena consciência de seu processo iniciático, fatores determinantes para sua transformação interior e seu reencontro com o sagrado, arcanos que lhe compete assimilar.

A iniciação do guerreiro, por novos e inesperados caminhos, continua a se fazer na história do homem, apenas acrescida de novos padrões quando comparada à iniciação ‘daquele tempo’ ancestral, hoje enriquecida, inda que como sempre recôndita e enigmática.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Virtudes e Vicios

VIRTUDES E VÍCIOS

Escolhi este tema de forma independente às orientações da 2ª Vig.'. para os trabalhos oficiais a minha postura como Ap.'. M.'., pois, acredito que , enquanto Ap.'., cada passo dentro de nossa Ordem , deve ser pesquisado , compreendido e postulado aos queridos IIr.'. , e, contudo, em conjunto, tentarmos consenso na interpretação destas duas palavras que conotam uma das mais discutidas dualidades inversas de nossa vida.

Outro motivo, que me pendi a este estudo/ pesquisa, foi o impacto de duas perguntas que a mim foram proferidas durante o Ritual de Iniciação, que, dentro de minha ignorância momentânea, percebi que minhas respostas não foram claras o suficiente, talvez pela emoção emanada do momento, ou até mesmo, pelo fato do desconhecimento profundo e misterioso que ambas as palavras nos submetem no dia a dia, na vida social e maçônica.

Relembro neste momento as seguintes perguntas:

O que entendeis por Virtude?
O que Pensais ser o Vício?

Relembro também as seguintes Palavras do Ir.'. Orad.'. : Se desejar tornar-vos um verdadeiro Maçom, deveis primeiro morrer para o vício, para os erros, para os preconceitos vulgares e nascer de novo para a Virtude, para a honra e para a Sabedoria.

Como Homens livres e de bons costumes, entendo que além do sagrado dever de levantarmos templos a Virtude e cavarmos masmorras aos Vícios, devemos saber interpretar ambas as questões, para que no dia a dia, não sejamos submetidos ao despertar de nossa ignorância quando interpelado sobre seus significados. Daí, minhas conclusões que disserto a seguir.

Comecemos com a Virtude, em suas definições Filosóficas, que nos levam a discernir como um estado de Comportamento do Homem:

O primeiro desses significados se refere às qualidades materiais ou físicas de qualquer ser, inclusive do homem. São as virtudes da água, do ar, ou como as virtudes naturais dos seres vivos de respirar, reproduzir-se, ou do homem de raciocinar, de ser bípede etc. Esse significado se refere às qualidades não adquiridas, mas próprias da natureza de cada ser, tanto em razão de sua composição química como em razão de sua estrutura orgânica ou de sua evolução natural. São as qualidades e as capacidades naturais que os seres em geral manifestam, desde os átomos até os seres organizados superiores.

O segundo significado diz respeito às habilidades próprias do ser humano, como tocar um instrumento musical, saber usar uma ferramenta, saber escrever, pintar, ler, raciocinar logicamente etc. São, na verdade, destrezas, habilidades ou capacidades de execução de alguma atividade, adquiridas através de exercícios e experiências, tanto em nível corporal como em nível mental. São as qualidades adquiridas pelo aprendizado.

O terceiro sentido de virtude diz respeito ao comportamento moral resultante do exercício do livre arbítrio e, portanto, diz respeito exclusivamente ao homem. É exatamente desse terceiro sentido, o comportamento moral, que nos interessa como Maçons, pois somente ele diz respeito exclusivamente à educação do espírito, uma tarefa extremamente valorizada dentro da Maçonaria porque conduz ao comportamento moral, ao amor e a generosidade.


Comportamento moral é a pratica da solidariedade humana em todos os sentidos, e que pode ser manifestada de infinitas maneiras, pois são infinitas as maneiras que nos podem conduzir na pratica da solidariedade. Podemos, por exemplo, trabalhar com dedicação para tirar o homem de sua ignorância, podemos ajudar o nosso semelhante a superar suas necessidades materiais, podemos nos colocar ao lado do nosso semelhante em suas dores mais profundas, podemos estar ao lado dele quando abatido em seus males corporais, enfim há vários meios de praticar a solidariedade.

Para que um determinado comportamento moral possa ser considerado uma virtude não é suficiente à prática de atos morais esporádicos ou isolados. É necessário antes de tudo haver uma continuidade, um hábito, um estado de espírito sempre ativo e presente na consciência, a cada dia e a cada momento.

Dentro do Comportamento Moral, podemos acrescentar o próprio comportamento social que vivemos para fazermos valer na tríade Liberdade, Igualdade e Fraternidade , onde cujas são por excelência, os elementos para construir em nosso templo interior o verdadeiro espírito maçônico. E para tanto, ao entender das pesquisas, temos que praticar constantemente as virtudes que relacionamos a seguir:

A Virtude da Justiça: por justiça entende-se como virtude moral, pela qual se atribui a cada indivíduo aquilo que lhe compete no seio social: praticar a justiça. A justiça em nossa Ordem é a verdade em ação, é a arma para as conquistas da Liberdade.

A Virtude da Prudência: éa Virtude que nos auxilia a nossa inteligência para distinguir a qualidade do ser humano que age com comedimento, com cautela e moderação, enriquecendo nossa igualdade, e respeito entre os irmãos, estendendo à sociedade que vivemos em nossa vida profana.

A Virtude da Temperança: podemos relacionar diretamente a virtude da Temperança com uma espícula extremamente dura a ocupar uma das infinitas arestas da Pedra Bruta, pois é ela que disciplina os impulsos , desejos e paixões humanas. Ela é a moderação e barragem dos apetites e das paixões, sendo o império sobre si mesmo. Com ela, estaremos deixando cada vez mais forte e profunda as raízes da Fraternidade.

Faço destaque à Fraternidade, ora regida por nossas temperanças, pois da importância do conjunto de nossa tríade, considero-a a mais direcionada às nossas causas e conquistas enquanto Maçons, pois ela é a diferença de nossa Ordem, ela que serviu de arma forte e reluzente, que fez com que nossos irmãos antepassados, entregando muitas vezes suas próprias vidas a repugnância, resistindo às perseguições e se deixando abater pela inquisição, pela própria rusga Cuibana não deflagraram nossos segredos, nossos augustos mistérios, e salvaram com os princípios fraternos a continuidade de nossa Ordem durante séculos que se passaram.

A Fraternidade Maçônica sempre foi conseguida através de um laço que se poderia chamar de cumplicidade maçônica. Essa cumplicidade nasceu entre os irmãos a partir do compartilhamento de diversos sigilos, como o aspecto secreto das reuniões, os sinais de reconhecimento, o segredo dos graus, os simbolismos etc., que começa a se formar a partir do momento da iniciação.

É essa gama de atos e fatos ligados à estrutura básica da Maçonaria que faz nascer essa ligação de cumplicidade que gera a inconfundível fraternidade Maçônica. Este laço material se reforça com a prática da Filosofia, das Virtudes e dos Princípios Maçônicos, principalmente da Justiça, da Prudência, do Amor, e da Generosidade. Existem certamente momentos em que afloram os instintos, ou seja, vícios ainda não convenientemente dominados, tal como o egoísmo, provocando desentendimentos pessoais. Isso é natural que aconteça mesmo depois de nos tornarmos maçons, pois é sabido que mesmo após muitos anos o espírito dentro de sua cavalgada na busca da perfeição não consegue absorver o verdadeiro sentido do que é uma fraternidade. Não conseguem deixar-se dominar pela cumplicidade maçônica. Nesses momentos deve agir o sentimento de temperança dos demais irmãos para serenar os ânimos e não deixar os ressentimentos se avolumarem. O Importante é não deixar de lutar pela fraternidade a cada dia e a cada instante, mas para isso é preciso termos em primeiro lugar domínio sobre nossos vícios, cujo também alvo desta peça, discuto a seguir, pois do que vale pregar o bem, sem o entendimento do mal?

Percebi em minhas pesquisas, que pouco se fala sobre os Vícios, até mesmo a própria Bíblia Sagrada, O Livro dos Espíritos, Livros afins e várias peças de arquitetura que o entendimento da palavra e do substantivo declarado Vício é de forma singela e simploriamente declarada como o "O oposto da Virtude", havendo logicamente mais espaços destinados ao assunto "Virtude", o qual não sou contra, pois dentro dos conceitos atuais de estruturalismo, é mais fácil corrigir o mal com o reforço do ensino e prática do bem, tal como nosso Ritual de Iniciação que o Ven.'. M.'. dita o seguinte discurso:

".'. É o oposto da Virtude. É o hábito desgraçado que nos arrasta para o mal; e é para impormos um freio salutar a esta impetuosa propensão, para nos elevarmos acima dos vis interesses que atormentam o vulgo profano e acalmar o ardor das paixões, que nos reunimos neste templo.'.".

O Vício pode ser interpretado como tudo quanto se opõe a Natureza Humana e que é contrário a Ordem da Razão, um hábito profundamente arraigado, que determina no individuo um desejo quase que doentio de alguma coisa, que é ou pode ser nocivo. Em síntese, tudo que é defeituoso e que se desvia do caminho do Bem. Do ponto de vista abstrato, podemos dizer também que tudo que não for perfeito é Vício, mas do ponto de vista prático, é um termo relativo que depende do grau de evolução do Individuo em questão, pois o que seria um Vício para um Homem cultivado, poderia ser uma virtude para um selvagem. Na verdade, nenhum vicio poderá ser jamais uma desvantagem absoluta, pois toda forma de expressão indica um desenvolvimento de força. O que devemos realmente é estabelecer e proclamar nossa guerra interna, conflitarmos espiritualmente o combate às nossas imperfeições seja nessa vida ou nas próximas que estamos por vir.

De todos os vícios que sofremos e estamos expostos no dia a dia para com a sociedade, nosso templo, nosso ego, enfim, aquele que podemos declarar como o Orientador a todos os outros vícios é o egoísmo, e este vem assolando todas as comunidades, todas as religiões, todas as irmandades, enfim, todo o Mundo está submisso ao Egoísmo, e , na prática e exercício deste de forma desequilibrada, teremos os demais vícios aflorando facilmente e deflagrando em cada canto do mundo, a discórdia,a intemperança, as guerras, o fanatismo, a injustiça, a fome, as doenças, a infelicidade, enfim, as mortes prematuras que assolam os ditos paises não desenvolvidos.

Quando citei o exercício desequilibrado do egoísmo, quis demonstrar que jamais um vício pode ser uma desvantagem absoluta (dito a dois parágrafos anteriores) , pois como exemplo, podemos citar que o Egoísmo de um PAI na proteção de seu filho não pode ser tratado como um desequilíbrio egoísta e sim uma reação que não podemos condenar desde que para isso não tenha praticado o mal ao seu semelhante. Assim como tudo na vida e em nossas ações estaremos submetendo ao equilíbrio, os vícios também o são submetidos, pois com certeza, nós homens nunca seremos perfeitos, a imperfeição faz parte do Homem, e isto é lógico e notório, partindo do principio que somos Espíritos tendo experiências humanas na terra e não humanos tendo experiências espirituais.

Nosso mundo nada mais é que uma grande escola espiritual e que para conseguirmos nossa evolução, temos que ser submetidos às vivências carnais tempo a tempo, até que sejamos perfeitos, e isto ocorrendo não mais estaremos de volta e sim estaremos ajudando em outro plano os demais que assim se fizerem de coração aberto para os ensinamentos. Outra citação que coloco, é a questão das Paixões, também fruto do egoísmo, que dentro de uma estrutura hierárquica, posso considerá-la como uma segunda posição depois do Egoísmo. A Paixão está no excesso acrescentado à vontade, já que este princípio foi dado ao homem para o bem, e suas paixões podem levá-lo a realizar grandes coisas. É no seu abuso que está a sua definição como um vício.

A Paixão é semelhante a um cavalo, que é útil quando dominado e extremamente perigoso quando domina. Uma paixão será por demais perigosa no momento em que deixar de governá-la e resultar qualquer prejuízo para você ou aos outros.
Sem dúvida grandes esforços são feitos para que a Humanidade, e nós Maçons que fazemos parte dela, avance, encoraje-se, honre-se os bons sentimentos mais do que em qualquer outra época deste nosso mundo, entretanto a desgraça roedora do egoísmo continua sendo sempre a nossa chaga social. É um mal real que cai sobre todo o mundo, do qual cada um é mais ou menos vítima. É preciso combater os vícios, equilibrá-los, assim como se combate uma doença epidêmica. Para isso, devemos proceder como médicos: ir à origem. Que se procurem , então em todas as partes de nossa organização social, desde as famílias até nossa comunidade, desde os barracos de tábuas, até as grande Mansões, todas as causas, todas as influências evidentes ou escondidas que excitam, mantêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se mostrará por si mesmo. Restará somente combatê-las, senão todas de uma vez, pelo menos parcialmente e, pouco a pouco, o veneno será eliminado. A cura poderá ser demorada, porque as causas podem e são numerosas, mas não impossível. Isso só acontecerá se o mal for atacado pela Raiz, ou seja, pela educação, não a educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A Educação, bem entendida é a chave para o progresso moral.

Quando conhecermos a arte de manejar o conjunto de qualidades do homem, como se conhece a de manejar as inteligências, será possível endireitá-los, como se endireitam plantas novas, mas esta arte exige muito tato, muita experiência e uma profunda habilidade de observação e vigilância. É um grave erro acreditar que basta ter o conhecimento da ciência, dos augustos mistérios de nossa ordem para que exercemo-las com proveito.

Todo aquele que acompanha o filho do rico ou do pobre, desde o nascimento e observa todas as influências más que atuam sobre eles por conseqüência da fraqueza, do desleixo e da ignorância daqueles que os dirigem, quando, frequentemente, os meios que se utilizam para moralizá-lo falham não se pode espantar em encontrar no mundo tantos defeitos. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e se verá que, se existem naturezas refratárias, que se recusam a aceitá-las, há, mais do que se pensam, as que exigem apenas uma boa cultura para produzir bons frutos.

O Homem, meus IIr.'., deseja ser feliz e esse sentimento é natural, por isso trabalha sem parar para melhorar sua posição neste mundo que vivemos. Ele procurará a causa real de seus males a fim de remediá-los. Quando compreender que o egoísmo é uma dessas causas, responsável pelo orgulho, ambição, cobiça, inveja, ódio, ciúme, que o magoam a cada instante, que provoca a perturbação e as desavenças em todas as relações sociais e destrói a confiança que o obriga a manter constantemente a defensiva, e que, enfim, do amigo faz um inimigo, então compreenderá também que esse vício é incompatível com sua própria felicidade e até mesmo com sua própria segurança. E quanto mais se sofre com isso, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, assim combate a peste, os animais nocivos e os outros flagelos; ele será levado a agir assim por seu próprio interesse.

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, assim como a fraternidade é a fonte de todas as virtudes; destruir um e desenvolver outro ( Levantar templos a Virtude e Cavar masmorras aos Vícios ), esse deve ser o objetivo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar sua felicidade em nosso mundo e no seu mundo espiritual.

"Quem é bom , é livre, ainda que seja escravo, Quem é mau é escravo, ainda que seja livre."
Santo Agostinho

Moacir José Outeiro Pinto,
A'.M.'. - A.'.R.'.L.'.S.'. Razão 4 / Brasil

A Cruz e seus Simbolismos

Apesar de ter sido difundida pelo cristianismo como símbolo do sofrimento de Cristo à crucificação, a figura da cruz constitui um ícone de caráter universal e de significados diversificados, amparados por suas inúmeras variações.

É possível detectar a presença da cruz, seja de forma religiosa, mística ou esotérica, na história de povos distintos (e distantes) como os egípcios, celtas, persas, romanos, fenícios e índios americanos.

Seu modelo básico traz sempre a intersecção de dois eixos opostos, um vertical e outro horizontal, que representam lados diferentes como o Sol e a Lua, o masculino e o feminino e a vida e a morte, por exemplo.

É a união dessas forças antagônicas que exprime um dos principais significado da cruz, que é o do choque de universos diferentes e seu crescimento a partir de então, traduzindo-a como um símbolo de expansão.

De acordo com o estudioso Juan Eduardo Cirlot, ao situar-se no centro místico do cosmos, a cruz assume o papel de ponte através da qual a alma pode chegar a Deus. Dessa maneira, ela liga o mundo celestial ao terreno através da experiência da crucificação, onde as vivencias opostas encontram um ponto de intersecção e atingem a iluminação.

Cruz simples: Em sua forma básica a cruz é o símbolo perfeito da união dos opostos, mantendo seus quatro "braços" com proporções iguais. Alguns estudiosos denominam esta como Cruz Grega.

Cruz de Santo André: Símbolo da humildade e do sofrimento, recebe esse nome por causa de Santo André, que implorou a seus algozes para não ser crucificado como seu Senhor por considerar-se indigno. Acredita-se que o santo foi martirizado em uma cruz com essa forma.

Cruz de Santo Antonio (Tau): Recebeu esse nome por reproduzir a letra grega Tau. É considerada por muitos, como a cruz da profecia e do Antigo Testamento. Dentre suas muitas representações estão o martelo de duas cabeças, como sinal daquele que faz cumprir a lei divina, encontrado na cultura egípcia, e a representação da haste utilizada por Moisés para levantar a serpente no deserto.

Cruz Cristã: Definitivamente o mais conhecido símbolo cristão, que também recebe o nome de Cruz Latina. Os romanos a utilizavam para executar criminosos. Por conta disso, ela nos remete ao sacrifício que Jesus Cristo ofereceu pelos pecados das pessoas. Além da crucificação, ela representa a ressurreição e a vida eterna.

Cruz de Anu: Utilizada tanto por assírios como caldeus para representar seu deus Anu, esse símbolo sugere a irradiação da divindade em todas as direções do espaço.

Cruz Ansata: Um dos mais importantes símbolos da cultura egípcia. A Cruz Ansata consistia em um hieróglifo representando a regeneração e a vida eterna. A idéia expressa em sua simbologia é a do círculo da vida sobre a superfície da matéria inerte. Existe também a interpretação que faz uma analogia de seu formato ao homem, onde o círculo representa sua cabeça, o eixo horizontal os braços e o vertical o resto do corpo.

Cruz Gamada (Suástica): A suástica representa a energia do cosmo em movimento, o que lhe confere dois sentidos distintos: o destrógiro, onde seus "braços" movem-se para a direita e representam o movimento evolutivo do universo, e o sinistrógiro, onde ao mover-se para a esquerda nos remete a uma dinâmica involutiva. No século passado, essa cruz adquiriu má reputação ao ser associada ao movimento político-ideoló gico do nazismo.

Cruz Patriarcal: Também conhecida como Cruz de Lorena e Cruz de Caravaca possui um "braço" menor que representa a inscrição colocada pelos romanos na cruz de Jesus. Foi muito utilizada por bispos e príncipes da igreja cristã antiga e por jesuítas nas missões no sul do Brasil.

Cruz de Jerusalém: Formada por um conjunto de cruzes, possui uma cruz principal ao centro, representando a lei do Antigo Testamento, e quatro menores dispostas em cantos distintos, representando o cumprimento desta lei no evangelho de Cristo. Tal cruz foi adotada pelos cruzados graças a Godofredo de Bulhão, primeiro rei cristão a pisar em Jerusalém, representando a expansão do evangelho pelos quatro cantos da terra.

Cruz da Páscoa: Chamada por alguns de Cruz Eslava, possui um "braço" superior representando a inscrição INRI, colocada durante a crucificação de Cristo, e outro inferior e inclinado, que traz um significado dúbio, dos quais se destaca a crença de que um terremoto ocorrido durante a crucificação causou sua inclinação.

Cruz do Calvário: Firmada sobre três degraus que representam a subida de Jesus ao calvário, essa cruz exalta a fé, a esperança e o amor em sua simbologia.

Cruz Rosa-Cruz: Os membros da Rosa Cruz costumam explicar seu significado interpretando- a como o corpo de um homem, que com os braços abertos saúda o Sol e com a rosa em seu peito permite que a luz ajude seu espírito a desenvolver- se e florescer. Quando colocada no centro da cruz a rosa representa um ponto de unidade.

Cruz de Malta: Emblema dos Cavaleiros de São João, que foram levados pelos turcos para a ilha de Malta. A força de seu significado vem de suas oito pontas, que expressam as forças centrípetas do espírito e a regeneração. Até hoje a Cruz de Malta é muito utilizada em condecorações militares.

Por Guss de LuccaFonte: "Dictionary of Symbols", J.E. Cirlot - Madrid - 196

A ACÁCIA - SIMBOLISMO DAS PLANTAS

A ACÁCIA - SIMBOLISMO DAS PLANTAS

Sob a denominação de Acácia são conhecidas diversas espécies de árvores e arbustos de diferentes gêneros, todos incluídos na família das leguminosas. São encontradas na África, Ásia e América. São muito usadas para fins ornamentais.
O que efetivamente nos interessa é a ligação dela com a Maçonaria.
A Acácia, hodiernamente, é consagrada como símbolo nas cerimônias da Maçonaria, o que não acontecia em outros tempos. Não tinha qualquer significação mística nem caráter sagrado. Seu uso era meramente ornamental, na confecção de grinaldas, juntamente com outras plantas odoríficas como a Canela, a Alfazema a até mesmo o Alecrim.
Ao tempo de Moisés a madeira da Acácia já era tida como sagrada entre os hebreus. Tanto é que ele recebeu ordem de fazer o Tabernáculo, A Arca da Aliança, a mesa para colocar os pães e o resto do mobiliário sagrado, com esse tipo de madeira. Isaías, ao enumerar as graças que haveria de outorgar aos israelitas, ao voltarem do cativeiro, disse que plantaria no deserto, para seu descanso e gozo, o Cedro, a Acácia, o Abeto entre outras árvores. Observamos, ao estudar o simbolismo da Acácia, que essa árvore é escolhida entre as espécies dos bosques, para fins sagrados. A Acácia era tida, entre os judeus, como a árvore mais sagrada. Por tais motivos os primitivos mestres, conhecedores da história de Israel, adotaram-na como símbolo de uma importante verdade.
Um dos símbolos de maior interesse para os estudiosos da Maçonaria é a Acácia, não somente pelo seu significado peculiar, mas também porque lhe abre um campo extenso e belo de investigações: o simbolismo das plantas sagradas.
Nos antigos rituais iniciáticos e religiosos sempre houve o simbolismo de uma determinada planta, a ser venerada como emblema sagrado. Nos Mistérios de Dionísio se empregava a Hera; nos de Ceres, o Myrto; nos de Osiris, a Urze e nos de Adônis, a Alface.
No sistema místico da Maçonaria, a Acácia é o símbolo da imortalidade da alma, uma importante doutrina que constitui objeto fundamental da Instituição.
A natureza evanescente das flores, que florescem e murcham, nos recorda quão transitória é a vida humana enquanto matéria. Já, a renovação da planta, que parece sempre jovem e vigorosa (a Acácia), lembra-nos a vida espiritual, na qual a alma goza de terna primavera e juventude imortal, uma vez liberta da carga da matéria.
Nas pompas fúnebres da Maçonaria diz-se “ Estes ramos verdejantes simbolizam a nova vida, que tem na morte o seu ponto de partida “ ou “ Esta planta perene é o símbolo da nossa crença na imortalidade da alma. Ela nos lembra que, em nosso íntimo, existe uma parte imortal que sobreviverá ao túmulo e que jamais perecerá”. Nos funerais antigos, ramos de plantas perenes eram depositadas nos túmulos. Os hebreus plantavam, à cabeceira dos túmulos, um ramo de Acácia. Os gregos adornavam os túmulos com ervas e flores, sendo as mais empregadas, o Amaranto e o Myrto. O Amaranto pretendia indicar a verdade simbólica nesse antigo costume, embora arqueólogos afirmem que ele expressava, tão somente, o amor dos vivos para com os mortos. No decorrer dos tempos, nas cerimônias fúnebres, as diversas plantas então usadas, foram sendo substituídas pela Acácia. Acreditavam ser ela incorruptível e inatacável pelos insetos, simbolizando com isso a natureza incorruptível da alma.
A Acácia é, também, o símbolo da Inocência. O vocábulo Akakia significa, ao mesmo tempo, a planta em questão e a qualidade moral de Inocência ou Pureza de Vida. Nesse sentido o simbolismo se refere aquele Homem sobre cuja cova se plantou um ramo de Acácia e que, por sua conduta virtuosa se converteu em modelo de Maçom.
Outras plantas simbolizavam as “virtudes e qualidades” da alma. A Oliveira, tipicamente mediterrânea, simbolizava a Pureza, a Liberdade e ainda hoje é usada como símbolo da Paz. O Marmeleiro, entre os gregos, era símbolo de Felicidade e Amor e, por essa razão, as Leis de Solon ordenavam que, nos matrimônios atenienses, os noivos comessem, juntos, um marmelo. A Palma era o símbolo da vitória: o Alecrim, da Memória, da Recordação; o Perrexil, símbolo da dor. Assim, quando a Maçonaria adotou a Acácia como símbolo da Inocência, não o fez senão adotar o costume universal de consagrar determinadas plantas à certas virtudes.
Como já citamos, todos os rituais antigos utilizavam-se de uma determinada planta, consagrada por sua significação esotérica e que desempenhava papel importante na representação nos ritos, principalmente nas cerimônias de Iniciação. Nos mistérios de Adônis, oriundos da Fenícia e transferidos para a Grécia, representava-se sua morte e ressurreição; diz a lenda que Adônis foi morto por um javalí. Afrodite, que o amava tanto quanto Perséfone, que o criara, depositou seu corpo num leito de alfaces. Para reverenciar seu amado, Afrodite instituiu, anualmente, uma cerimônia, quando os iniciados deveriam conduzir vasos de barro plantados com alface. Por isso a alface foi consagrada nos mistérios Adonisíacos.
Segundo Lachatrê, a Maçonaria Moderna substituiu o Lótus na Maçonaria Egípcia, o Myrto na Maçonaria grega, o Salgueiro na Maçonaria caldáica, o Carvalho na Maçonaria druídica, e outras plantas, pela Acácia.
O Lótus, planta sagrada nos ritos brahamânicos, simboliza a trindade elementar (terra, água e ar), Na qualidade de planta aquática, se nutre de todos esses elementos. Os egípcios adotaram o Lótus como planta mística para simbolizar a iniciação e o nascimento na luz celestial. Costumavam representar em seus monumentos, o Sol, nascendo em um cálice de Lótus. De maneira geral, as plantas sagradas eram, em todos os antigos mistérios, um símbolo iniciático. A Iniciação sempre simbolizou, como agora simboliza, a ressurreição para uma vida futura. A imortalidade da alma.
A lição de Sabedoria é semelhante. Muda somente a forma de ensiná-la. Assim, podemos dar à Acácia, três simbolismos: a Iniciação, a Inocência e a Imortalidade. São três interpretações, intimamente unidas, que podem ser observadas quando encontramos, no devido tempo, a verdadeira interpretação maçônica.
Pelo exposto, observamos quão acertada é a colocação da Acácia entre os símbolos maçônicos, cujo ensinamento prega a grande verdade de que a vida do homem, regulada pela fé, pela moral e pela justiça, será recompensada, na hora da morte, com a bem-aventurança da vida eterna.
Lembremo-nos de que Jesus foi crucificado em uma cruz feita de madeira da
Acácia.

Nota – Este trabalho é fruto de andanças entre publicações maçônicas e profanas. O assunto é muito polêmico e admite interpretações das mais variadas. Não o tome como expressão da verdade, mas tão somente como um entendimento pessoal de quem pretendeu adquirir algum conhecimento e dividi-lo contigo.

Colaboração: Gilberto Girardello m\m\ ARLS Amigos do Interior 073 / GOP –PR
Contatos: girardellog@brturbo.com
Bibliografia – A Simbólica Maçônica – Jules Boucher
O Pelicano – Órgão de Divulgação Maçônica
Enciclopédia Britânica – BARSA
Bíblia Sagrada